O resto das aulas passou lenta e irritantemente. Os olhares que eu recebia continuaram pelo resto do dia ficando cada vez piores a cada hora. A maioria apenas me encarava diretamente, alguns com curiosidade, outros com dúvida e grande parte apenas com interesse. A cada vez que tinha de trocar de sala para outra aula era uma irritação maior porque, apesar de não estarem vindo falar comigo ainda, os alunos paravam para me ver. Quando me sentei sozinho numa mesa esperando meus amigos foi que eu tive a exata dimensão da repercussão da mídia.
O refeitório inteiro olhava para mim. A maioria dos alunos não parecia querer se aproximar, talvez surpresos demais com a notícia ou intimidados com a novidade. Mas os ‘populares’ pareciam divididos entre desgostosos e interessados. Antes que meus amigos surgissem um grupo dos companheiros de time de James se aproximou de mim. Eu podia ver meu melhor amigo do outro lado do refeitório caminhando na minha direção, mas os outros não o notaram.
– Hey – disse o primeiro deles, não me dei ao trabalho de tentar lembrar o nome, mas era alguém de uma das minhas turmas – Arthur não é? Porque não se senta com a gente, daqui a pouco o James chega também. Vocês são melhores amigos não são?
Ele tinha um sorriso de dentes brancos, o cabelo bem aparado de cor castanho claro, talvez um pouco maior do que eu. Tentava parecer amigável assim como a maioria dos que estavam com ele, mas notei dois mais atrás que estavam com expressões irritadas e contrariadas.
– Não acho que seja necessário, não costumo me sentar com James – falei dando de ombros, mas continuando a manter meu olhar direcionado ao dele – E tenho outros amigos que devem estar chegando. Pretendo me sentar com eles como sempre.
Eles pareceram um tanto incomodados com minha recusa inicial, mas logo o que havia falado comigo tentou me convencer.
– Sério cara – ele disse rindo – Tenho certeza que sentar com a gente será muito melhor pra você.
– Não tenho ideia do que lhe fez acreditar nisso – respondi com um meio sorriso, mas não achando graça nenhuma já que minha paciência estava no zero – Prefiro ficar com meus amigos que me conhecem do que com um grupo de caras cujos nomes eu nem tenho ideia de qual sejam – falei apoiando um cotovelo na mesa ao encara-los.
– Você está de brincadeira – respondeu o mesmo com um sorriso forçado enquanto se movia desconfortável da mesma forma que todos os outros, alguns começando a me encarar com irritação.
– Na verdade ele não está brincando não – falou a voz forte e grave de James, ele passou pelos cinco que estavam em pé perto da mesa e se sentou logo a minha frente – Primeiro porque Arthur realmente não sabe o nome de nenhum de vocês, afinal, não é como se ele se importasse com quem vocês são – disse meu amigo com um largo sorriso – Segundo porque não faz mesmo diferença – ele completou dando de ombros.
Eu continuei com meu sorriso, agora um pouco mais divertido, vendo os cinco caras olharem uns para os outros com expressões nada agradáveis e saírem de perto da mesa para seja lá qual fosse a mesa deles. Depois disso não demorou muito para que o resto dos meus amigos chegassem. Algumas outras pessoas também tentaram se aproximar de nós. Alguns até sentaram nos lugares vagos da nossa mesa, mas fazíamos questão de ignorá-los.
Antes do sinal de retorno às aulas tocar falei para Carlos e Lillian me esperarem depois da aula e avisarem aos pais ou quem os estivesse esperando em casa que iriam se atrasar. Ela ainda tentou me questionar o porque, mas fui firme em me manter calado. Tudo o que soltei é que eu os levaria até um lugar interessante que ambos iriam gostar de conhecer. Quando as aulas acabaram eles entraram no carro de James conosco e eu pedi para meu melhor amigo nos levar até o lugar onde eu queria que eles conhecessem.
James já estava sabendo o que eu pretendia e achou uma ideia incrível. A imagem do Carlos acertando Mattheus em cheio e jogando o jogador para longe ainda me surpreendia ao se repetir em minha mente. Corbb era, pelo menos, uns 20kg mais pesado que Carlos que, além de não ser muito alto, era bem magro. Mesmo assim meu amigo foi capaz de desestabilizar o jogador com apenas um soco. Não era qualquer um que conseguia fazer isso e eu tenho certeza de que minha mãe concordaria comigo.
Sair da escola não foi tarefa fácil. Os repórteres cercaram o carro de James, mesmo não sabendo que eu estava ali, mas logo descobrindo. Os seguranças demoraram alguns instantes para conseguir afastá-los do carro e, só então, pudemos sair. No caminho mandei uma mensagem para minha mãe perguntando como estavam as coisas e ela me respondeu que, depois dela ameaçar chamar a polícia os repórteres desocuparam a frente do prédio.
Quando chegamos foi incrivelmente engraçado ver a reação dos meus amigos sentados no banco de trás. Os dois olhavam pelos vidros com expressões surpresas e maravilhadas. Os chamei para entrar e James também veio junto, mas quando entramos ele disse que iria pegar alguns materiais que havia deixado aqui da última vez. Enquanto isso eu levei Carlos e Lillian para a parte de trás onde ficava o escritório. Erika estava lá e abriu a porta nos abraçando antes de entrarmos.
James apareceu logo depois e ela mandou-o mostrar toda a academia aos outros dois. Eu fiquei com ela no escritório e contei um resumo da confusão no corredor e o que tinha acontecido quando Carlos reagiu. Ganhei uma bronca por não ter tentado sair dali, mas ela entendeu que o idiota não deixaria isso acontecer facilmente. Não falei exatamente as ofensas que ele disse, mas algo na expressão dela me disse que minha mãe tinha uma boa ideia do que eu havia escutado.
– Então, acha que ele tem talento pra ser um lutador? – minha mãe me perguntou depois de todo o meu relato.
– Sei que ele acredita não ter – disse olhando para ela que estava sentada na ponta da mesa e eu na cadeira ao lado – Sei também que pode ter sido apenas sorte ou que ele tenha sido capaz de fazer aquilo apenas por Mattheus não ser lá um adversário difícil de se desestabilizar ou até que possa ter sido algo que ele conseguiu aprender apenas observando lutas já que é um fã do esporte. Mas eu acredito que pode ter algo mais nisso, mãe. Não te pediria para dar uma chance a ele se não sentisse que era a cosia certa a se fazer.
– Bom, vamos fazer um teste com ele então, mas sem que ele saiba que está sendo testado – disse ela olhando pelo vidro da janela para meus amigos voltando para perto do escritório – Por experiência própria descobri que testar um aluno sem dizer a ele que é um teste me dá resultados mais fidedignos da realidade.
Concordei com um sorriso largo. Tinha uma ideia do que minha mãe faria, mas decidi não me pronunciar e deixar que ela fizesse o que pretendia fazer. Conforme eles se aproximavam eu via o sorriso no rosto dela aumentar e soube, naquele momento, que fiz a coisa mais certa do mundo em trazer Carlos até aqui.