Havíamos esperado um pouco para sair das arquibancadas, eu bem sabia que os primeiros minutos após o final do jogo deixava as saídas do estacionamento tumultuadas. Ficamos, nós três, sentados conversando sobre o jogo. Eu e Lillian explicávamos melhor a Carlos as regras e outros detalhes do esporte. Quando percebi que haviam muito poucas pessoas ainda nas arquibancadas decidi chama-los para ir embora. A maioria dos que ficaram estavam esperando os jogadores por serem amigos ou parentes, então pegamos o resto de nossos refrigerantes e fomos na direção do estacionamento.
Havia uma quantidade muito menor de carros e já não havia muito movimento. Como tínhamos chegado quase em cima da hora eu tive que estacionar quase nas ultimas vagas e por isso teríamos que atravessar todo o estacionamento. Íamos conversando tranquilamente quando, perto da metade do percurso, reparei que havia um carro estacionado a umas 15 vagas do meu. Parados em volta da frente do veículo estavam cinco rapazes que eu reconheci serem dos times de basquete e de natação da escola porque usavam suas jaquetas.
Não estranhei porque os atletas dos vários times costumavam fazer amigos entre as outras modalidades e sempre compareciam aos eventos uns dos outros. Eles provavelmente estariam esperando algum dos jogadores para irem até a tal festa pós-jogo. Continuamos nosso caminho numa agradável conversa sobre livros que havia surgido quando Lillian comentou sobre um projeto de sua aula sobre um livro clássico. Quando íamos passando em frente ao pequeno grupo eles se desencostaram do carro e pararam na nossa frente.
– Seu amigo Hozter estava imbatível hoje, não estava? – falou um deles que parou em minha frente, era do time de natação pela jaqueta que usava, tinha mais ou menos 180cm de altura e o cabelo escuro, mas não saberia dizer de que cor porque o estacionamento naquela parte tinha menos iluminação.
– Sim, ele costuma sempre estar – falei ficando atento e sério, aquilo não estava me cheirando a coisa boa e ficou pior quando os outros quatro começaram a se posicionar em volta de nós.
– Eu não acho que ele é tudo isso – falou um outro que também tinha a jaqueta do time de natação, esse deveria ter por volta de 175cm de altura e o cabelo loiro.
– Realmente – falou um terceiro que era do time de basquete e deveria ter em torno de 180cm de altura também – Tem outros jogadores muito melhores que não conseguem uma boa chance.
Me perguntei de qual jogador em específico eles poderiam estar falando e a ideia que me ocorreu não me agradou em nada. Optei por não responder e apenas encará-los esperando para saber o que fariam. Não demorou muito senti a mão de Lillian segurar meu braço e me virei para encará-la. Então vi que ela olhava para trás e que, a alguns passos de nós, Mattheus se aproximava com um sorriso convencido e com a bolsa pendurada no ombro. Então entendi o que estava acontecendo.
– Vi que conheceu alguns amigos meus, Anderson – falou o jogador se aproximando do grupo e dando a volta até estar ao lado do nadador a minha frente.
– Aparentemente sim – eu respondi calmamente, senti Carlos tentar se aproximar mais do meu lado direito e eu quis encerrar tudo aquilo logo, não estava afim de entrar em outra confusão com ele – Vou tentar garantir meu ingresso para as competições deles também – falei com um sorriso discreto tentando mostrar que estava calmo e nada intimidado – Agora, se nos derem licença, ainda tenho que levar meus amigos em casa.
Quando terminei de falar dei um passo na intenção de desviar do nadador e seguir meu caminho, mas Corbb colocou a mão no meu peito me empurrando para trás e soltando a sua bolsa no chão. Recuei o passo que havia tentado dar e ajeitei meus óculos que tinham saído do lugar.
– Você não vai a merda de lugar nenhum – disse ele tirando também a jaqueta que usava e jogando para um de seus ‘amigos’ – Agora não vai ter nenhum professorzinho pra salvar a sua cara e nem James pra te ajudar.
Suspirei, realmente não parecia haver nenhum jeito de evitar aquele embate. Mas não pretendia deixar Carlos e Lillian se envolverem naquela confusão também. Por isso coloquei a mão no bolso da calça que usava e peguei a chave do meu carro estendendo para trás, na direção de Carlos.
– Vocês dois podem ir para o carro – disse colocando a chave em frente a ele que me olhou indignado.
– Eu não vou largar você aqui sozinho contra esses seis – disse o rapaz para mim com toda a contrariedade que alguém poderia colocar em uma frase.
– Nem eu – falou Lillian concordando com o irmão.
– Como se vocês dois pudessem impedir alguma coisa – falou Mattheus rindo – Aliás, depois que eu acabar com você, Anderson, sua amiguinha vai ter que me dar o pedido de desculpas que está me devendo.
– Carlos, pegue a chave e se afaste com a Lillian – falei e minha voz não saiu no tom calmo que geralmente uso para pedir algo, raramente eu digo alguma coisa como se desse uma ordem, mas naquele caso foi necessário e ele percebeu, quando os dois recuaram alguns passos me deixando sozinho no meio do semicírculo que eles haviam formado eu me virei para Mattheus – Eu não quero uma confusão, Corbb. Nós dois sabemos que quem vai sair mais prejudicado disso será você.
– Vamos ver se continua achando que eu quem vou me prejudicar depois do seu rosto estar irreconhecível – falou ele me empurrando, logo depois segurou meus óculos e os jogou longe – Eu vou acabar com você Anderson!
Eu já estava ficando muito cansado daquilo tudo. Aparentemente nada que eu fizesse iria fazer o idiota me esquecer. Mattheus estava com seu orgulho ferido por não ter conseguido encostar em mim no outro dia e ele faria de tudo para se provar em frente aos amigos, como se assim pudesse reparar seu orgulho de homem. O idiota era o tipo de pessoa que não descansaria enquanto não me batesse para descontar sua raiva, mas eu não iria me sujeitar a ser saco de pancadas para que um babaca machista voltasse a se sentir bem consigo mesmo. Então só me restava uma única forma de resolver isso e era a que menos me agradava, mas eu não tinha mais escolhas.
Quando ele veio na minha direção tentando socar meu rosto eu esquivei da primeira investida. O segundo golpe foi um cruzado que ele direcionou ao meu lado direito. Corbb poderia ser muito forte, mas ele era incrivelmente lento para mim. Não foi nem um pouco difícil desviar o soco dele. Ao mesmo tempo em que desviei o golpe colocando a mão direita no cotovelo dele eu usei a minha mão esquerda para agarrar a mão que passou por mim. Apenas agarrei seu pulso e torci seu braço forçando-o a dar as costas para mim.
Fiz pressão no ombro e cotovelo e o forcei a dobrar o joelho. Nesse momento Mattheus já estava gemendo de dor, mas eu ainda não havia forçado nada o bastante para deslocar ou luxar nenhuma articulação. Estava para começar a tentar conversar com ele quando um dos outros tentou me acertar um chute no rosto. Me abaixei empurrando Mattheus para o chão e desviei. Logo depois outro chute veio na minha direção e tive que me erguer para bloqueá-lo. Mal tinha bloqueado o chute alguém tentou me socar, dessa vez tudo o que pude fazer foi tirar parte do impacto, mas ainda senti meu rosto ser acertado de raspão no lado esquerdo junto com minha boca.
Consegui girar e ficar atrás do cara que havia me socado, empurrei ele contra um que vinha na minha direção. Corbb havia se levantado e veio na minha direção socando com o outro braço, provavelmente porque o que eu torci estava doendo demais para outro soco. Tão lento como ele era me fez ser capaz de imobilizá-lo outra vez. Não o deixei cair, mantive minha mão direita segurando o pulso direito dele contra suas costas e passei meu braço esquerdo em volta do pescoço dele mantendo-o na minha frente, entre eu e os outros cinco atletas que ainda me encaravam surpresos.
– Me solta seu filho da puta – gritou Mattheus com a voz falhada por eu estar pressionando seu pescoço.
Um deles tentou vir na minha direção e tentar chegar às minhas costas, mas forcei Mattheus a girar comigo e eles entenderam que eu não os deixaria ter ângulo para me atacar sem acertar o jogador. Torci mais o pulso de Mattheus fazendo-o gritar de dor, mas não o deixei cair, mesmo quando as pernas dele pareceram ceder por conta da dor que causei em seu braço.
– Calado – disse para ele e encarei os outros – Acho que ficou bem claro que nem todos vocês juntos vão conseguir me acertar realmente. Então vamos falar sério aqui agora – disse com raiva, odiava ter que lutar, mas odiava ainda mais que alguém falasse mal das minhas mães, mas eles não precisariam saber o motivo da minha raiva – Se eu forçar mais um centímetro vou deslocar seu ombro, Corbb, e tenho certeza de que você não quer isso. Então é bom seus amigos ficarem bem quietos onde estão. Eu vou dar uma escolha bem simples para vocês cinco. Paramos por aqui e nada acontece com ninguém, vocês deixam a mim e a meus amigos em paz e avisam para qualquer outro que resolver aceitar o pedido de ajuda do Mattheus que não vão conseguir nada com isso. Ou, vamos continuar com essa estupidez, eu desloco o ombro dele para que pare de tentar me acertar e faço o mesmo com alguma outra articulação de cada um de vocês e, assim que terminar com todos, vou até a primeira delegacia que achar e acuso os seis de agressão.
– Nunca vai dar nada, não terá como provar que fomos nós – disse o único que tinha cabelo loiro.
– Errado – falei com um sorriso largo – Caso não saibam ou não se lembrem, o estacionamento pode não ter câmeras, mas os corredores, a saída do campo e a saída do estacionamento tem. Eu sei que vocês estavam nas arquibancadas, então há registro dos cinco entrando e saindo do jogo, mas ainda não vai haver registro de vocês saindo da escola. Pelos horários qualquer investigador iria descobrir que foram vocês.
– Você não vai escapar de mim, Anderson – ameaçou Mattheus, mesmo que mal conseguisse respirar.
– Sério isso? – perguntei incrédulo – Ok – falei já estressado o empurrando para longe de forma que os amigos tiveram que segurá-lo para ele não cair – Então vem, mas seja homem de verdade e vem sozinho – falei sabendo que essas palavras iriam mexer com o orgulho dele – Você é o único que tem um problema comigo, se você realmente é tudo o que diz ser então tem que ter capacidade de me enfrentar sozinho. Ou então é só mais um filhinho de papai que precisa estar em grupo para bater em alguém – disse abrindo os braços – E ai? Você é o que?