– Art, quem estava na porta? – a voz de Erika ecoou da cozinha.
Segurei meu riso ao notar as expressões que Jill fazia, passando de total surpresa para completo desespero. Dude, o gatinho, também notou que algo não estava certo e saltou no colo dela tentando chegar ao seu pescoço numa tentativa falha de “acordá-la” daquele transe temporário. Aparentemente ela tinha se esquecido completamente de que minhas mães estavam em casa. Controlei-me para não rir enquanto respondia.
– Uma amiga, mãe – gritei de volta para que ela não viesse até a sala atrás de mim – Vem – disse me levantando e dando um leve chute nos pés de Jill para que ela reagisse – Não precisa de tudo isso, ela é uma pessoa como outra qualquer.
– Caralho Arthur! Eu sou uma pessoa qualquer, ela é Erika Fucking Anderson, a maior lutadora de todos os tempos do UFC Feminino!! – ela disse em um sussurro quase desesperado segurando o gato com uma das mãos enquanto a outra era passada por seus cabelos ao mesmo tempo em que ela levantava e encarava o caminho para a cozinha com os olhos ainda arregalados.
Eu não consegui evitar soltar uma baixa gargalhada com isso, o que me rendeu um soco no ombro que me fez querer rir mais, no entanto me controlei. Dei um leve empurrão no ombro de Jill e ela se moveu começando a caminhar ao meu lado em direção a cozinha enquanto segurava o gato com a mão esquerda. Quando entrei na cozinha notei que ela parou na porta de entrada assim que viu Erika.
Minha mãe estava de costas para nós, de frente para os armários guardando as louças que tinha usado. Jill até segurou a respiração enquanto olhava para Erika sem realmente acreditar que estava vendo-a tão de perto. Minha mãe estava usando uma calça de moletom cinza e um top preto que aparecia pelas laterais da regata larga dos Lakers. Caminhei até a bancada deixando Jill para trás, no mesmo instante ela nos ouviu e se virou.
– Nossa – disse ela sorrindo enquanto fechava o armário enquanto nos olhava – Vejo um rosto novo por aqui – Erika falou realmente surpresa e eu rolei os olhos, as duas sempre implicam comigo por não me permitir fazer mais amigos, mas eu não tenho culpa de quase a totalidade das pessoas que eu conheço não serem confiáveis.
– Realmente, primeira vez na história – a voz de Alex surgiu logo atrás de Jill.
– Caralho! – ouvi a voz de Jill ao mesmo tempo e girei meu rosto.
Me virei a tempo de ver minha nova amiga quase saltar de susto enquanto minha outra mãe passava ao lado dela dando um sorriso. O filhote em sua mão tinha uma expressão quase tão assustada quanto a dela depois disso e eu me controlei muito para não rir. Os olhos dela estavam mais arregalados do que eu achava ser fisicamente possível e Jill também tinha a boca meio aberta.
Alex andou até Erika como se não tivesse acabado de quase provocar um ataque cardíaco na nossa visita. Minhas mães estavam sorrindo uma para a outra e eu pude notar que ambas estavam se divertindo com as reações da minha amiga. A guitarrista e cantora se aproximou da lutadora e as duas trocaram um selinho antes de Alex passar por Erika e abrir a geladeira pegando uma das garrafas de água. Ela se serviu calmamente com o copo que Erika alcançou para ela.
– Uou – falou Alex quando se virou para nós outra vez, virei meu rosto para olhar Jill e tive que me esforçar mais para não rir – Ela está com aquela expressão – concluiu Alex se impulsionando do chão para sentar na bancada ao lado da pia, logo ao lado de onde Erika estava.
– Você fala daquela expressão de fãs que não se sabe se vão começar a falar interminavelmente nos elogiando, quase nos atacar, simplesmente surtar ou apenas desmaiar por nos ver? – perguntou Erika rindo e se colocando entre as pernas de Alex, mas de frente para nós.
– Essa mesma – respondeu minha mãe rindo discretamente enquanto bebia um pouco da sua água e envolvia o tronco de Erika com o braço esquerdo.
Por estar na bancada Alex ficou alguns centímetros mais alta que Erika. Eu tentava a todo o custo não começar a gargalhar porque sabia exatamente que as duas estavam se divertindo as custas de Jill. Elas sempre faziam isso quando encontravam com alguns fãs juntas. Era hilário de assistir e eu estava quase caindo sobre a bancada a minha frente tentando não rir.
– Eu estou começando a me preocupar com o gatinho – falou Erika sorrindo e virando o rosto para poder olhar Alex nos olhos enquanto colocava sua mão direita sobre o braço de Alex e a mão esquerda na perna da cantora – Talvez devêssemos fazer algo a respeito.
– Eu acho que seria divertido esperar para ver a reação dela naturalmente – respondeu Alex soltando o copo e dando mais um selinho em Erika.
– Você não merece os fãs que tem – falou a lutadora rindo e se afastando.
Ela deu a volta no balcão que separa a cozinha da mesa de jantar e eu rapidamente fui até Jill.
– Melhor eu segurar esse pequeno por enquanto – disse pegando Dude da mão dela, mesmo com o filhote tentando se segurar na regata que Jill usava.
– Eu estou mesmo conhecendo elas – Jill sussurrou enquanto eu ainda estava em sua frente, mas seus olhos estavam por cima do meu ombro por onde viam Erika se aproximar.
– Sim, você está – respondeu minha mãe e eu me afastei alguns passos.
Erika se aproximou dela e Jill começou a esfregar as mãos em seus jeans como se tentando secá-las. Minha mãe sorriu e Jill não conseguiu não devolver o sorriso, mesmo que o dela parecesse completamente surpreso. Ela estendeu a mão e Jill, nervosamente, esfregou mais uma vez a palma em seus jeans antes de estende-la para cumprimentar Erika. Mas a lutadora sorriu mais largamente e a puxou para um meio abraço enquanto ainda mantinha seu aperto firme na mão direita da minha amiga.
– Meu Deus – ela murmurou encarando Erika de olhos arregalados e depois se virando para mim o que me fez rir, mas ela logo voltou a olhar para a mais alta – Eu te acho tão incrível – ela falou para minha mãe e eu pude ver que ela tentava achar mais palavras, mas não conseguia.
– Certo, certo. Minha vez – disse Alex passando um braço em volta da cintura de Erika antes de se colocar em frente a esposa e abraçar Jill sem avisar, tendo alguma dificuldade porque minha amiga tinha minha altura e ela tentou passar um braço por cima dos ombros dela – É um prazer conhecer você e saber que Arthur não desistiu de fazer novos amigos.
– Bom – falei chegando perto delas, Dude tinha se acalmado comigo fazendo carinho atrás de suas orelhas – Jill, essas são minhas mães. Mães, essa é Jill Laars. Temos algumas aulas juntos e ela é uma grande fã de vocês duas.
– Nós notamos isso – falou Erika sorrindo.
Minha amiga, agora, tinha um olhar de admiração para as duas enquanto sorria de forma boba. Eu quis rir novamente, mas me controlei porque achei que já bastava de brincadeiras com ela por hoje. Afinal, eu poderia usar os últimos acontecimentos para implicar com ela por muito tempo.
– Eu…eu sou…Deus – Jill tentou começar a falar, mas ainda estava admirada demais para realmente conseguir juntar as palavras, ela deu um sorriso desconcertado e levou as mãos ao cabelo antes de finalmente respirar fundo e voltar a falar – Eu realmente sou uma grande fã de vocês duas. Eu admiro muito as carreiras de vocês e as coisas que fazem.
– Até que enfim ela saiu do estado catatônico – falou Alex jogando as mãos para cima e rindo.
Acabei rindo também porque nessa hora o rosto de Jill corou tanto que ela colocou as costas da mão direita a frente dele enquanto olhava para baixo. Acabei gargalhando ainda mais quando Erika, que ainda estava um passo atrás de Alex, acertou um tapa forte contra a parte de trás da cabeça dela.
– Pra que isso? – ela perguntou olhando para os olhos azuis da minha mãe assustada e com uma das mãos sobre o lugar do tapa.
Não consegui me controlar e realmente gargalhei principalmente quando notei a expressão indignada de Alex. Mas talvez eu devesse ter me controlado. Logo em seguida senti um belo tapa me acertar no topo da cabeça e me calei erguendo o olhar e vendo Erika bem na minha frente e Alex sem saber se ria ou se mantinha o olhar irritado. Jill finalmente tinha erguido o rosto e ria baixinho.
– Desculpa, mãe – falei suspirando por saber que no fundo não deveria ter achado graça, mas ela continuou me olhando com aqueles olhos azuis inquisidores e sérios, suspirei de novo antes de continuar falando – Desculpa, mãe. Eu não deveria ter rido da mãe por você ter acertado ela – completei olhando para baixo.
Ela sorriu pra mim e depois disso fez nós três irmos até a bancada. Nos sentamos, eu devolvi Dude para Jill e Erika nos serviu sorvete e alguns doces. Comemos enquanto conversávamos. Contamos as minhas mães sobre o pequeno filhote e falamos sobre elas e suas carreiras. Jill realmente conhecia tudo o que era possível sobre elas e as duas adoraram conversar com minha nova amiga. No fim eu tirei várias fotos das três juntas para que Jill pudesse guardar.
Antes de sair deixando o pequeno gato comigo ela me prometeu que não mostraria as fotos para ninguém enquanto ainda estivéssemos na escola. Disse que não me importava, que ela poderia falar pra quem quisesse que conheceu as duas se apenas não falasse sobre mim. Insisti que ela não precisaria esperar dois anos até poder dizer aos outros uma das coisas mais legais que já ocorreram na vida dela (em suas palavras). No fim ela apenas sorriu pra mim e disse que não faria isso e que apenas poder deitar e dormir pensando que as conhecia já era perfeito pra ela e que não precisava se vangloriar disso para ninguém.
Ela foi embora e eu fiquei com Dude que já parecia bem mais calmo apenas comigo. Minhas mães tinham se sentado no sofá para verem um filme qualquer juntas e eu disse que iria sair por alguns minutos. Erika me olhou e eu dei um pequeno sorriso apontando para o gato na minha mão. Ela logo entendeu e eu as deixei sozinhas para ir comprar algumas coisas que achava que o pequeno animal fosse precisar. Sabia que Jill não aceitaria levar isso com ela quando viesse busca-lo, mas eu daria um jeito dela aceitar.