A televisão da sala estava ligada no noticiário internacional e minha cabeça confusa diante da afirmativa de Lúcia. A constatação de que começava a nutrir por Eva, algo de um sentimento maior que sempre repudiei em meu coração, fazia latejar minhas têmporas. Ao longe, escutei as palavras do locutor do telejornal.
“Morre aos 73 anos, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, o empresário Abelardo Ávila. Dono de uma das maiores redes atacadistas da área alimentícia, construiu seu império após chegar no Brasil, na década de sessenta…”
E por aí seguia a notícia. Senti uma enorme vertigem me acometer e minhas pernas fraquejarem. Lúcia me amparou, pois via que eu desfalecia na frente dela. Hoje era o dia dos desmaios, pelo visto.
– Olívia… Olívia!
Sentia alguém me bater levemente na face e uma desorientação nos pensamentos. O que tinha acontecido? A lembrança da notícia veio como um raio a minha mente e senti uma onda de enjoo me acometer. Nunca pensei que receberia esta notícia deste jeito. Ou melhor, acho que nunca me permiti pensar em algo mais concreto relacionado à minha família, depois que me desvencilhei. Não pensei duas vezes. Voltaria ao Brasil o mais rápido possível, pois queria ver minha mãe.
Querendo ou não, as marcas deixadas por meu avô foram muitas. Uma delas foi que eu caí no mundo e, em determinado momento, perdi o contato com minha mãe. Um dia, quando tentei falar com ela, ligando para a minha antiga casa, dei o azar de meu avô atender e reconhecer minha voz. Ele falou que ela não morava mais lá e que eu me virasse para saber o destino dela. Desligou na minha cara. Na época, apesar de já existir redes sociais, não era o mesmo que nos tempos atuais. Eu também não era muito descolada quanto a buscas pela internet e perdi, completamente, o contato.
Larguei tudo e, simplesmente, voltei. Eu estava com meu coração doendo, apesar de Abelardo Ávila ter marcado nossas vidas com seu ódio pela minha orientação sexual.
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– Quem era aquele rapaz que lhe acompanhou, hoje mais cedo, até a portaria?
– Mãe, tá me vigiando agora?
– Lógico que não, Pepa. Só tinha terminado minha aula e, quando saí, a vi na alameda do clube. Aliás, nem vi hoje a sua professora…
– A Olívia? Ela não deu aula hoje. Deixou o Carlito no lugar. Aquele menino que ganhou o regional e é faixa preta.
Eva estreitou os olhos. Pensou se o nosso encontro havia me abalado. Tomada pela curiosidade, sondou sua filha. Só que ela não poderia ser direta. Jogou um grande sarcasmo na pergunta, atacando, mais uma vez, a minha imagem.
– O que houve? Pelo visto já está dando sinais da sua grande responsabilidade…
– Ah, mãe, para com seu veneno! O avô dela morreu no Brasil. Pegou um avião para lá. Acho que foi para o enterro.
Acredito que a senhora Gallardo não esperava por essa. Baixou sua cabeça, desconcertada diante da filha.
– Desculpa, Pepa. Realmente, é uma situação triste para uma neta encarar. Você tem razão, tenho prevenções demais contra ela.
Pepa olhou para a mãe e percebeu que as palavras eram sinceras. Reparou o constrangimento de Eva e resolveu travar uma conversa descontraída, para colocar a sua opinião.
– Os alunos que estiveram com ela ontem, disseram que estava bem abalada. Não esperou nada, pois pegou um avião ontem à noite mesmo. Já deve ter chegado no Brasil a essa hora.
– Espero que ela consiga chegar a tempo. Não deve ser fácil estar longe, numa hora dessas. Vou até a vinícola, seu avô está impossível hoje. Brigou com o administrador, por conta de uma exportação que deu problema na alfândega.
– Mãe.
Eva se voltou para a filha.
– Por que a senhora não me mostra o trabalho que faz aqui? Eu quero fazer faculdade de administração e queria poder entender mais.
Eva nunca exigira que sua filha pensasse em algo relacionado a administração da vinícola e do haras. Travava duras discussões com seu pai a esse respeito, pois sabia o quão penoso havia sido para ela. Desfez-se de tudo de seu marido, aplicando em investimentos de longo prazo para, um dia, dar à filha a liberdade de atuar onde quisesse. Permaneceu apenas com um iate, que nem seu pai sabia que existia e algumas terras nos arredores da cidade. Suportou a raiva do pai, para que seu plano de libertar a filha do jugo do avô desse certo. Se algum dia acontecesse algo à ela, Pepa estaria amparada, financeiramente, para seguir seus próprios planos de vida. Sorriu.
– Se quiser eu lhe mostro, filha. Não há problema nenhum, mas saiba que a decisão é sua. Não é minha e nem de seu avô.
Pepa lhe sorriu, contente com as palavras da mãe. Assentiu com a cabeça e Eva, voltou-se para caminhar em direção à porta.
****
– Não me diga para calar a boca, Eva!
– Pai, não estou falando para o senhor se calar, apenas para escutar o que Ramirez tem a dizer. Não é sensato manda-lo embora. Ele está há anos conosco e conhece todo o processo. Desde a produção até o destino final. Ele não tira férias tem dois anos e dá o sangue por “Tierra Roja”.
O homem se enfureceu mais, batendo forte no rosto de Eva, com uma pequena toalha que trazia na mão. Viu a filha com o rosto virado pela força que imprimiu no golpe. Se aprumou e virou de costas.
– Saia. Não quero mais ouvir sua voz por hoje.
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Rio de Janeiro, 16:34h, hora local
– Por favor, minha mãe não responderá mais perguntas por agora. Procurem a assessoria de imprensa da Ávila S.A.
Irritei-me com a quantidade de repórteres que nos cercaram na saída do cemitério. Minha mãe e eu estávamos abaladas. Depois de anos, nos encontramos no velório de meu avô. Quando desci do avião, bastou uma busca rápida pela internet para descobrir onde ele seria enterrado e me dirigi para lá. Não havíamos conversado muito, pois o enterro estava prestes a sair. Vi que ela estava cansada e com o semblante pesado. Ela estava mal. Fiz um sinal arrogante, para os seguranças, para que afastassem os sanguessugas. Apesar de não me conhecerem, quando minha mãe me abraçou, chorando por muito tempo e me agarrou para que não me desgrudasse dela, eles souberam quem eu era. Entramos no carro dela e o chofer tocou o carro, sem esperar qualquer ordem.
– Olívia, tudo está tão confuso. Ah, meu amor, como estou feliz de ter você aqui…
E assim seguimos para o apartamento dela. Não imaginava que minha mãe fosse uma executiva da área de importações e exportações. Oito anos sem nos ver e muito a conversar… muito a nos reconhecer.
Valência, 20:33h, hora local (Fuso horário local corrigido para o mesmo momento)
Eva tinha se recolhido mais cedo e havia pedido para levarem um lanche no seu quarto. Seu pai, cada vez se impacientava mais com ela e se descontrolava. Os anos haviam se passado e as agressões continuavam. Ele não amainava em nada os ímpetos agressivos e parecia que ainda pioravam. Ligou a televisão e foi até o frigobar de seu quarto, pegando um saco de gel, que mantinha ali congelado. Colocou sobre o rosto para aliviar a ardência e dissipar qualquer marca que pudesse se formar, pela açoitada da toalha em seu rosto. Deitou-se na cama, vendo o noticiário, sem dar muita importância. Seu sangue borbulhava. Suas mãos trêmulas expunham o esforço que fazia para não desmoronar.
“A empresa Ávila Produtos Alimentícios fecha hoje um ciclo. Abelardo Ávila, fundador da Empresa Ávila Produtos Alimentícios S.A, acaba de ser enterrado no jazigo da família, no cemitério São João Batista, na cidade do Rio de Janeiro. Vamos às imagens locais, ao vivo.”
A notícia chamou a atenção de Eva, pois a exportação que havia dado problema na granja “Tierra Roja”, tinha sido feita, diretamente, para a Empresa Ávila do Brasil. Uma imagem apareceu. Repórteres cercando duas mulheres: uma com cerca de cinquenta anos e outra por volta dos trinta, que a abraçava.
“- Senhora Ávila, assumirá a presidência da Ávila Produtos Alimentícios?
– Por favor, minha mãe não responderá mais perguntas por agora. Procurem a assessoria de imprensa da Ávila S.A.”
– Deus! Não é possível!
Eva exclamou atônita no silêncio de seu quarto. ““- Olívia Ávila, senhora Eva Gallardo.” “- Ah, mãe, para com seu veneno! O avô dela morreu no Brasil. Pegou um avião. Acho que foi para o enterro. ”” As informações chegavam à sua mente, ligando os pontos das conversas com a imagem de Olívia, conduzindo uma mulher mais velha para um carro. A consciência a atormentava e o medo se apoderava de seu corpo. Enquanto isso, no Brasil, quando chegamos ao apartamento de minha mãe, dei-lhe um sedativo e tomei outro. Eu precisava, desesperadamente, sair do mundo e apagar minha realidade, pelo menos, por algumas horas.
Rio de Janeiro, cinco dias depois
– Eu não acredito que vovô fez isso! O que ele queria com essa atitude?
– Eu não sei, Olívia. Papai foi o homem mais conservador que conheci e, sinceramente, quando me colocou para fora de casa, porque descobriu que havia lhe ajudado financeiramente para que se formasse, tempos mais tarde, eu agradeci a Deus. Pena que não consegui lhe encontrar. Eu sangrava sem saber o que aconteceu com você.
– Eu não vou assumir vice-presidência da Ávila, coisa nenhuma! Esse testamento é ridículo. Ele me bateu, me colocou para fora e me falou coisas horríveis. Um dia era amada por ele, para no dia seguinte ser jogada no lixo! Tenho meu comércio e minha vida pacata agora e do jeito que tracei, ao longo dos anos, tentando superar essa dor. Não quero mais que isso.
– E acha que quero assumir a presidência? Não esqueça que ele fez o mesmo comigo. Eu também não entendo, Olívia.
Não falava com ela há anos e só abrimos o testamento, pois os acionistas exigiram e o conselho da empresa e a assessoria jurídica moveram os pauzinhos.
– Agora sou dona do meu próprio negócio. – Eu suspirei cansada e a olhei. – Ele era terrível e como doeu vê-lo morto. Não me entendi. Tinha tudo para não sofrer pela morte dele…
– Eu sinto o mesmo, minha filha. – Minha mãe falou pesarosa. – Conhece síndrome de Estocolmo? Acho que a gente tem esse negócio… Nunca dei importância à essas coisas, mas agora começo a acreditar.
– Que seja. Talvez você não possa assumir a presidência da Ávila. Conflito de interesses. Você é dona de uma importadora e poderia privilegiar transações. Vamos sair dessa armadilha de Abelardo Ávila, mãe. A senhora topa? Saiba só de uma coisa: não vou mais ficar sem vê-la, ou sumir, mas volto ainda essa semana para Valência. – Decretei.
Valência, os mesmos cinco dias depois
– Mãe, o que a senhora tem? Está com febre.
– Nada, Pepa. É só uma indisposição. Vou levantar.
Eva tentou sair da cama. Tolinha! Ela se achava a princesa guerreira e caiu, novamente, na cama, igual a um saco de batatas.
– Eu vi, mãe. Por que ele faz isso?
– Viu o que?
– Para, mãe! Eu estava preocupada com a senhora ontem à noite. Vim lhe ver e escutei gritos dele vindos do seu quarto. Ele não pode ser tão mau…
Pepa começou a chorar e Eva, apesar de sua fraqueza provocada pela febre, recostou no espaldar da cama e abraçou a filha.
– Ele não é mau. Apenas não entende coisas que ocorreram e muitas outras que acontecem no mundo, sem a autorização dele.
– Mãe! Eu não acredito que a senhora está desculpando meu avô. Eu vi ele batendo na senhora com aquela toalhinha ridícula que carrega, mandando a senhora levantar da cama. Chamando a senhora de vagabunda e inútil. Se isso daqui existe, é porque a senhora não deixa ele fazer maluquices. Já vi discussões entre vocês antes. Não sou cega e surda.
Eva tentava se controlar para não chorar e contornar a situação. Apertou a filha entre os braços, novamente.
– Calma, minha filha. Só tenho uma gripe forte e já vou sarar. Com seu avô, eu me entendo. Ele não vai conseguir atingir você. Não vai, não vai! Eu não vou deixar…
Eva desacordou e resvalou para um sono febril e delirante.
– Mãe… Mãe!
****
Mais cinco dias e estava de volta a Valência. Respirei fundo quando saí pelas portas do aeroporto, tomando o ar nos pulmões. Aquela cidade havia me presenteado com calor na alma, há um ano e meio, e eu não desprezaria este carinho. Os acionistas da Ávila S.A, ficaram estupefatos com a solução que demos, mas radiantes pela mesma. Não sabiam o que esperar das herdeiras e quando cedemos a presidência para voto dos acionistas e eu dei uma procuração para minha mãe tomar decisões por mim, eles avaliaram as vantagens desse arranjo. Teriam alguém no comando votado por eles, mas estariam sob o escrutínio de minha mãe. Com minhas ações em mãos, ela teria que participar de todas as decisões importantes e não deixaria nenhuma arbitrariedade ocorrer.
Peguei um táxi e estava ansiosa para chegar em meu apartamento. Não parei na “tienda”, entrando direto na portaria e subindo as escadas com a pequena mala que trazia. Nada mais seria como antes, eu sei. Independente de qualquer coisa, agora teria muito dinheiro em minha conta, mas este era meu lar e eu o amava. Conquista minha. Piegas? Talvez. Mas a verdade é que eu sentia uma liberdade conquistada aqui. Tudo bem, não vou ser hipócrita. Poderia comprar em pouco tempo o prédio inteiro que morava… Fazer umas viagens, talvez… Que seja… Larguei a mala na sala e olhei em volta. Suspirei de alívio. Estava feliz por estar ali. A angústia pela morte de meu avô permanecia, mas estava me sentindo menos sufocada por estar no meu espaço. Estava com tanta saudade da cidade que resolvi passar no apartamento de Lúcia.
****
– Lúcia! Lúcia!
Chamei, subindo pelas escadas de seu prédio. Quando cheguei à porta, Lito abriu, com a cara amuada.
– Iiih! Já tive recepções melhores.
Ele escancarou a porta e vi sentada no sofá, com a roupa meio amassada, quem? Quem? Quem?! Isso mesmo. Pepa! A filha querida de Eva, se pegando “nuns amassos” com Lito!
Apesar de saber que não era uma coisa de outro mundo, que adolescentes na idade deles se pegam, olhei-o fuzilando. Algo do tipo: “Se vacilar com a garota, te capo!” Ele olhou para o teto e eu entrei, descontraindo o ambiente.
– Oi, Pepa! Tudo beleza com você? – Fui dando dois beijinhos e continuei como se nada estivesse acontecendo. – Cadê sua tia? Estou com saudades. – Falei, me voltando para Lito.
– Acabou de sair para conferir, pessoalmente, uns lances que não entregaram da sua “tienda”.
– A gente deve ter se desencontrado. Vou ligar para ela me esperar lá. – Me voltei para a garota. – Tudo bem contigo? – Perguntei novamente.
– Tudo, Olívia. – Falou sorrindo um pouco sem graça.
Tive um comichão. Não sei porque, vendo Pepa ali, Eva veio com força em meus pensamentos e não consegui segurar minha boca.
– E sua mãe? Tudo bem com ela?
Na mesma hora, o sorriso da menina se desfez e quase fiz um “haraquiri”1.
– Ela não está muito bem. Esteve alguns dias adoentada e, quando estava um pouco melhor, meu avô caiu do cavalo e está no hospital. Ela está lá. – Baixou a cabeça. – Você pode visitar, se quiser…
– Acho que sua mãe não gostaria de me ver numa hora dessas, Pepa. – Falei com pesar, pois meu coração se apertava.
– Que nada! Vai por mim. Minha mãe parece brava, mas muita coisa é por conta de meu avô. Ele não tem amigos. Tem interesseiros comerciais. Minha mãe segura a maioria das pontas, lá em casa. Acho que, se ver que alguém se importa, sem interesses, ela vai se sentir um pouco melhor. – Encolheu os ombros.
Olhei Pepa, sem entender muito bem o que ela queria insinuar, mas meu coração ficou aflito, batendo que nem um “tarol”2 de marcha militar.
– Beleza. Beijo, Pepa, depois a gente se fala.
– Beijo, Olívia.
Tomei o rumo da saída, apressada, e Lito me acompanhou até a porta. Quando estava no corredor, segurei a gola dele, trazendo-o para fora. Ele se assustou e colou o corpo na parede do corredor. Falei séria, com o rosto colado na cara dele.
– Segura esse “piru” nas calças, se quiser só se divertir com a garota, valeu? – Rosnei e ele não respondia, com os olhos arregalados. – Valeu?! – rosnei mais alto.
– Valeu! Valeu! Eu gosto da Pepa, tá?
Larguei e acho que meu olhar era de fuzilamento. Aquele cara grandalhão, ajeitou a camisa com os olhos no chão.
– Beleza. Tô confiando em você. – Afirmei.
Desci pelas escadas e ganhei a rua, falando com Carmem pelo celular.
– Carmem, a Lúcia está indo aí resolver algumas coisas. Vocês não fizeram a entrega dela direito. Resolve.
– Você está aqui em Valência, Olívia?
– Cheguei ainda há pouco, mas tenho um assunto para tratar. Não vou aí hoje, ok?
Nem dei tempo dela responder. Desliguei e peguei o primeiro táxi que vi.
– Para onde, senhorita? – Perguntou o taxista.
“Porra! Não perguntei para Pepa o hospital que o avô dela estava.” – Pensei.
– Mmm… Para o hospital “Nossa Senhora dos Desesperados”3. Falei o nome do hospital da galera de dinheiro de Valência. Se não estivesse lá, daria um jeitinho de falar com Pepa, como quem não quer nada.
***
– Sinto muito. – Falei baixo, quase num sussurro.
Eva estava no corredor em frente a uma porta. Voltou-se para mim, olhando confusa. Tratei de esclarecer, antes que ela se compusesse.
– Cheguei hoje e estive com Pepa. Ela me falou, superficialmente, o que aconteceu. Perdi meu avô esses dias…
Ela voltou seu olhar para a porta com a placa de “UTI – Entrada Restrita”.
– E acha que temos algo em comum, por isso?
Cerrei os olhos, pois ela fazia meu sangue ferver, sempre. Em todos os sentidos. “Não, o que temos em comum é uma saliva gostosa se misturando e corpos suados para descobrir em cima de uma cama quente”. – Pensei, mas não falei. Ela não precisava de algo assim de mim, nessa hora. Eu quem tinha invadido o espaço dela. O que eu queria, neste exato momento, é que ela confiasse em mim e queria tê-la em meus braços. Não queria nada demais, a meu ver. Só abraça-la e ter seu coração batendo junto a meu peito em uníssono ao meu. Era estranho sentir isso por alguém que mal conhecia. Era estranho “eu” sentir isso. Simplesmente, calei a observando. O silêncio se fez entre nós. Depois de um tempo, ela suspirou. Deixou seus ombros relaxarem. Um gesto que percebi como cansaço ou derrota, não sei.
– Olívia, eu não tenho nada contra você, realmente. Apenas… – Exalou uma porção grande de ar e começou a andar pelo corredor, em direção a uma janela. – Apenas tenho muitas complicações e acho que exacerbei com você. Me desculpa, mas você não tem obrigação de estar aqui. Pode ficar tranquila. Não irei fazer nada contra você, no clube.
– Acha que estou aqui por isso? – Falei num tom de indignação.
Ela se voltou e viu a decepção em meus olhos.
– Quer a verdade? – Ela perguntou.
– Sim, eu quero a verdade!
Ela inspirou forte e exalou.
– Não, Olívia. Eu não acho que esteja aqui por isso, mas para mim é mais fácil achar.
Ela cerrou os olhos e ficou um grande tempo assim. Eu a olhava, sem compreender. Quando as lágrimas rolaram, silenciosas, por seu rosto, não pensei. Aproximei-me e a abracei, segurando sua nuca e trazendo sua cabeça para se aninhar em meu ombro.
– Eu vou levar você para casa.
….
….