Valência

Capítulo 11 – Nossos mundos

Eu falava entre os nossos lábios, tentando afastá-la, porém ela colou seu corpo no meu, deslizando suas mãos pelas minhas costas nuas, num carinho excitante. Levou uma das mãos até o cabelo, retirando a presilha e desfazendo o penteado, deixando as mechas caírem pelo ombro. Engoli em seco. Eu começava a arfar e reprimi um gemido, quando ela pegou minha mão e levou até a nuca, pousando-a ali, pedindo silente que eu a agarrasse. Não resisti. Segurei seus cabelos e sua cintura, conduzindo-a para o sofá entre beijos calorosos. Naquele momento, eu não conseguia pensar em mais nada do que passamos e conversamos anteriormente. Só imaginava o gozo dela entre meus dedos ou lábios. Deslizei o vestido de Eva pelos ombros e com ele, deslizei meus lábios sobre a pele, até chegar aos seios, que arrepiaram ao contato com a minha língua.

– Vai, Olívia. Toma… É pra você.

O som da voz rouca, pedindo para que eu sugasse, me alucinou de tal forma que eu tomei tudo que eu podia em minha boca. Ela se contorceu num espasmo tão forte, que quase me livrou de seu corpo. Um urro solto ganhou o ar, fazendo com que eu olhasse o belo rosto transformado em puro prazer. Ela era linda assim. Livre de qualquer amarra.

Segurou meu rosto com as duas mãos, trazendo-o de encontro ao seu para me beijar. Empurrou meu corpo, até que eu sentasse e me apoiasse no encosto do sofá, se encaixando em meu colo. Retirou o vestido que ainda cingia sua cintura e voltou a me beijar, passando suas mãos pelos meus braços. Senti as alças do meu vestido resvalarem pelos meus ombros. Os lábios de Eva passearam pelo meu pescoço, seios e abdômen, num carinho delicioso e sutil, enquanto se esforçava para retirar minha veste. Levantei meu quadril para auxiliá-la e pude reparar o corpo sedoso, completamente à mostra, restando apenas a calcinha negra, exibindo toda a sensualidade que ela trazia consigo. Os gestos de Eva eram delicados, se contrapondo a musculatura que eu percebia mover sob a pele.

– Eva, o que a gente está fazendo?

Falei com a voz embargada pelo prazer; tentei trazer razão para a situação que nos encontrávamos.

– Shhh. Não pensa nisso. Faz amor gostoso comigo, Olívia.

Fez o pedido, arfando em meu ouvido, enquanto retirava a calcinha e, logo após, sentava em meu colo de costas. Recostou em meu dorso, apoiando a cabeça em meu ombro. Não pensei em mais nada. Senti os glúteos dela movendo em contato com meu sexo e as mãos aferradas em minha coxa. Levei minhas mãos, uma em direção a seus seios e a outra, procurou abrigo entre as dobras molhadas.

– Céus, Eva! Você me enlouquece… é gostosa demais…

Esta foi a única frase que veio à minha mente, ao sentir o líquido molhando meus dedos em abundância. A excitação dela me deixava num estado tal que eu mal raciocinava. Nunca uma mulher fez com que tivesse tanto prazer apenas em senti-la entregue. Não sei se ela imaginava o que fazia comigo. Os gemidos cada vez mais fortes, faziam com que eu escorresse meu líquido. Eu a queria. Eu queria o gosto dela. Beijei seu pescoço e a conduzi para que deixasse meu colo e apoiasse seus cotovelos no encosto do sofá. Não sei se tinha pudores, mas naquele momento, eu a queria ali, de costas, me ofertando tudo que poderia me dar.

Coloquei-me sobre ela, deslizando minha língua ao longo de sua coluna, sentindo Eva mover seus glúteos, colada a mim. Uma dor aguda correu através de minhas entranhas, anunciando que eu não conseguiria resistir muito. Passei uma de minhas mãos pela frente de seu corpo, burilando o clitóris túrgido, enquanto a outra seguia por trás, buscando o líquido viscoso, trazendo-o para a abertura rugosa, exposta para mim. Ela percebeu minha intenção. Elevou o tronco, colando-o ao meu.

– Não faz…

A fala entrecortada, me deu a certeza que eu poderia consumar, mas lhe perguntei, sem deixar de mover os dedos sobre suas dobras.

– Não quer? – Perguntei, colada a seu ouvido, estimulando mais o bulbo de nervos e mexendo na pequena abertura, com os dedos da outra mão. – Se não quiser, eu não faço. – A voz saía rouca pelo desejo, denunciando a minha vontade. – Deixa, Eva. – Engoli em seco. – Deixa.

Ela virou a cabeça para trás. Vi os olhos dela semicerrados e a respiração acelerada, deixando o ar escapar pelos lábios entreabertos. O rosto de Eva transbordava desejo. Puxei um bocado de ar entre os dentes e mordi meus lábios tentando, sem muito sucesso, segurar minha vontade. Ela meneou a cabeça, dando a permissão que eu tanto almejava. Quando passeei meu dedo molhado, pressionando, levemente, ela deixou escapar um forte gemido, jogando a cabeça para trás, se apoiando em mim. Pressionei mais um pouco, entrando nela. Acelerei os movimentos no clitóris e, neste momento, ela se empurrou de encontro a minha mão, fazendo com que eu penetrasse mais. Pensei que morreria, de tão grande que era a minha excitação. Gememos alto, juntas. Movi mais rápido e mais forte sobre o bulbo hirto e senti o corpo dela contrair e escorrer o gozo. Retirei o dedo que a penetrava por trás, mantendo a outra mão em seu sexo. Amparei-a, apreciando cada tremor que o corpo de Eva apresentava, colado ao meu.

Deixamos nossos corpos caírem sobre o sofá. Ela de bruços e eu sobre ela. Ainda estava agitada e meu ventre contraía. Muitas vezes, escutei falar da dor do prazer não satisfeito e não compreendia. Como eu disse antes, nunca senti tanto tesão ao dar prazer a outra pessoa, mas com Eva meu corpo clamava pela satisfação. Fiquei tão excitada, que chegava a ponto do insuportável. Eu continuava com a respiração descompassada. E comecei a me esfregar nela, mesmo sabendo que, talvez, ainda não estivesse recuperada. Eva olhou sobre o ombro, quando me sentiu mover. Novamente, vi seu rosto transformar. Outra vez, seus olhos se espremiam e deixava seus lábios ligeiramente abertos me mostrando seu desejo.

– Deixa eu me virar, Olívia. – Sussurrou.

Dei espaço para seu corpo e quando achei que ela se encaixaria por baixo de mim, pediu para que sentasse. Saiu do sofá, ficando de pé na minha frente. Me olhava como se fosse me devorar. Agachou-se, afastando minhas pernas. Vi os lábios rubros se aproximando de meu sexo, exposto para ela, e meu coração acelerou mais ainda, bem como a minha respiração, antecipando a sensação. Cerrei meus olhos, no exato momento que senti a língua quente, resvalar ao longo do meu sexo. Um lamento qualquer brotou de minha garganta, traduzindo o prazer que senti com a boca de Eva em contato com a minha vulva. A deliciosa percepção da ponta da língua, cinzelando meu clitóris, somado ao estado em que me encontrava, fez meu corpo vibrar. Senti o alívio pela forte descarga, mas Eva mantinha minha agonia. Continuava sugando meu gozo e me fez suplicar para que parasse.

– Eva, não aguento mais. Para, por favor.

Ela se afastou e galgou o espaço ao meu lado, me abraçando e deslizando a mão pelo meu corpo num carinho suave. Eu não conseguia me acalmar, pois o simples toque da mão dela, sobre meu abdômen, irradiava o que pareciam correntes elétricas, correndo sob a minha pele. Encostou o rosto em meu pescoço e aspirou ali, na intercessão da nuca e minha orelha.

– Sua pele tem um aroma delicioso.

Sussurrou em meu ouvido.  Mais um suspiro forte saiu de minha boca. Estava completamente entregue, de olhos fechados e gemi alto, outra vez, quando ela desceu sua mão pela minha coxa, e depois, até minha vulva, me pegando desprevenida.

– Adorei sentir seu gosto. – Continuava a sussurrar em meu ouvido, inclemente. – Mas preciso te sentir por dentro. Não sabe o quanto tenho sonhado com você, Olívia.

A minha debilidade de pensamentos retornou. A minha cabeça entrava numa bruma erótica e, mal consegui distinguir o que sentia, quando ela entrou em mim e escutei seu gemido de prazer ao fazê-lo. Olhei para ela. Seu rosto evidenciava deleite ao me penetrar. Enlouqueci. Meu ventre contraiu num espasmo insano.  Ela urrou no frenesi de mexer seus dedos em mim… vigorosa e intensamente. Virei-me de frente para ela e a penetrei também. Nossas bocas se uniram numa busca insana para extrair tudo uma da outra, até que atingimos o auge de nossa loucura.

Nos deixamos relaxar na maciez do sofá e, quietas, escutávamos somente as respirações voltar ao normal. Permanecemos assim durante algum tempo e, pensei que, estava mais encrencada do que antes. Ela nada me explicara e, de novo, permiti que ela me conduzisse nessa complicação que eram as ações dela. Abri meus olhos para ver seu rosto. Ela me fitava e seu semblante transmitia calma, mas seus olhos eram tristes.

– Não vai me falar nada do que se passa com você… com a gente, não é mesmo?

– As coisas, na minha vida, não são tão simples. Você me perturba, Olívia.

Falou num tom baixo, quase um balbuciar, como se estivesse constatando na hora, aquele fato. Ela levantou, procurando o vestido dela, que fora jogado a um canto qualquer. Abaixou-se para pegá-lo e permaneceu calada, enquanto se vestia. Minha vontade era berrar para que ela falasse o que se passava em sua cabeça, mas não o fiz. Fiquei observando, ela pegar o meu vestido e o levar até o rosto, aspirando o perfume.

– Que perfume é este? – Perguntou.

– Eu não acredito que você está querendo falar sobre perfumes e cheiros! Eva, será que não vê que existe algo forte entre nós? – Falei impaciente.

Ela continuava com meu vestido nas mãos e voltou seu olhar para mim.

– Eu não posso dar o que você quer, Olívia. Você é sozinha e dona de si. A minha vida é cercada de pessoas e coisas e… – a voz continha uma carga forte de desespero. – Eu nunca poderei fazer parte do mundo que você faz!

– E que mundo é esse de que fala, senão o mesmo que o seu?!

– Por Deus, Olívia! Eu sou uma empresária, cuja família vive aqui há mais de seis séculos! Se você escutar o nome Gallardo em qualquer esquina dessa cidade, pode apostar que estarão falando de mim, minha filha, meu pai ou no máximo de alguns primos distantes. Você veio do outro lado do mundo e mesmo que seu nome, hoje, esteja nas bocas pela cidade, foi apenas por descobrirem que você era neta de um empresário que morreu no Brasil. Não faz parte disso aqui e não sabe como a minha sociedade funciona!

Eu levantei e me aproximei dela. Peguei meu vestido sem nada falar, me vesti, procurei minha calcinha.

– O que está fazendo?

– Indo embora. Entendi o que passa pela sua cabeça e tomei minha decisão.

– Que decisão?

Coloquei a calcinha, peguei minha bolsa e tirei um pequeno pente que trazia nela. Fui até o espelho que compunha a ornamentação da estante de livros e me penteei. Eu não poderia sair descabelada para não levantar suspeitas sobre as “virtudes” da senhora Gallardo. Isto era o que passava por meus pensamentos. Claro que não eram pensamentos pacíficos. Eu sentia raiva. Muita raiva, ao pensar sobre isso.

– A decisão de deixar você seguir com a sua vida, dentro do que está determinando para si.

Ela foi de encontro a mim, tentando me abraçar por trás.

– Me solta, Eva. – Falei baixo, mas me desprendendo do abraço dela.

– Não precisa ser assim, Olívia!

Sua fala era desesperada. Encarei-a e compreendi o que ela insinuava com aquela frase. Baixei a cabeça, balançando-a e sorrindo cínica.

– Tem que ser assim, Eva. Como eu disse antes, não vou ser alguém para apenas satisfazer sua necessidade. Nunca tive ninguém pela metade e nunca fui pela metade na vida de alguém. Isso acabaria comigo. – Inspirei tomando ar e tentando arrumar meus pensamentos. – O que eu sinto com você, nunca, em minha vida, nem mesmo com minha primeira namorada, eu senti. Saiba que você seria alguém especial, dentro do meu mundo. Mas não vou ser alguém pela metade e o que está me propondo, entrelinhas, é que nós tenhamos uma vida pela metade.

Eu estava, de verdade, ficando demente ao pensar que procurá-la pudesse fazer com que nos resolvêssemos. Imagina se algum dia na minha vida, iria me permitir viver na loucura de outra pessoa?! Eva tinha sérios problemas de aceitação e, naquela noite ficou muito claro; no entanto, me vi capturada pelo sentimento que surgiu, do nada, e crescia dentro de mim como uma erva daninha. Virei para sair e estava arrasada por dentro. Ainda vi Eva terminar de se vestir e se pentear, vindo a meu encontro para me acompanhar, andando de volta pelos corredores da casa. Quando ela me alcançou, já estávamos na sala que antecedia a porta de saída e nos deparamos com Pepa, chegando em casa.

– Oi! – O olhar dela era confuso. – O que faz aqui, Olívia? – Ela abanou a cabeça e passou a mão pelos olhos. – Desculpa, não é por nada, é que…

Eu ri do desconforto da garota em inquirir e, logo depois, se explicar daquela forma. Na certa, se sentiu rude em fazer a pergunta daquele jeito. Vi que Eva tinha paralisado e estava mais branca do que papel. Ela não sairia da catatonia. Não sabia se achava engraçado ou triste, por vê-la apavorada.

– Nada demais. Eu enguicei na estrada, com um pneu furado, e sua mãe passou. Apesar dela não colocar a “mão na massa”, – sorri cinicamente, descontraída –  me fez companhia e eu quis acompanha-la até aqui, por cortesia e, para que não viesse sozinha. – Abanei as mãos, mostrando-as limpas. – Me beneficiei, pois pude me lavar.

Era uma mentira, que se Pepa questionasse algum funcionário da granja, poderia descobrir que cheguei mais cedo do que Eva à casa. No entanto, daria tempo para que Eva formulasse alguma desculpa qualquer.

– Ah, legal! Que bom que estão se entendendo. Ficava tão chateada com as brigas de vocês… Aproveita e dorme aí. Outro dia, você dormiu e acho que minha mãe ficou na boa. Eu falo para ela que precisa ter amigas de verdade. Ela fica tão enfurnada na administração aqui da granja e nos problemas do clube…

– Pepa!

Eva enrubesceu, chamando a atenção da filha e eu só consegui rir com a simplicidade com que a garota enxergava a vida.

– Não dá, Pepa. Amanhã vou ter que acordar cedo, pois fiquei de fazer uma “videoconferência” com minha mãe e ver alguns assuntos que ficaram pendentes lá no Rio. Outro dia, quem sabe.

– Que pena! Mas você poderia vir almoçar com a gente. Vovô ainda não está conseguindo sair da cama e aí, amanhã, vamos almoçar somente eu e ela.

Aquela situação que Pepa apresentava, do cotidiano delas, era algo estranho à mim. Eu não conseguia alcançar a dimensão que era duas pessoas terem o compromisso de almoçarem juntas, num dia de domingo. Eu não tive isso. Ou melhor, só tive até minha adolescência e fiz questão de apagar de minha memória. O fato é que a garota não falava com pesar, era apenas algo que “era”. Simples e nada de extravagante ou tedioso à ela. Eva trazia no semblante um misto de satisfação e pesar, pois me olhou diretamente, como se pedisse para que eu aceitasse. Eu não podia. Eu não queria dar essa abertura para o meu coração, que já se encontrava oprimido e em conflito.

– Quem sabe outro dia, mas amanhã, acho que não vai dar. A gente marca. – Falei, deixando vago, para não prolongar a conversa. – Boa noite, Pepa. – Virei-me para Eva. – Boa noite, Eva, e obrigada. Nossa conversa foi muito esclarecedora.

Caminhei para fora e que irritação ao sair! Meu carro não estava estacionado na frente da casa. Não sei como eles viviam desta forma, pois assim que cheguei, ao último degrau da escada da varanda, um rapaz me abordou.

– Já estamos trazendo seu carro, senhora Ávila.

Como assim? Eu não havia pedido para guardarem meu carro, apenas deixei a chave, achando que eles moveriam o carro, caso alguém chegasse. Muito menos, anunciei minha saída. Será que esse garoto ficava de prontidão só para fazer essas coisas? Que vida extravagante era essa que a família Gallardo levava!

– Obrigada.

*****

Era uma hora da tarde quando meu celular tocou. Ainda não havia me levantado e não pretendia fazê-lo. Demorei a dormir, mas quando consegui, derrubada pelo cansaço, meu sono foi superficial e agitado. Acordei com a sensação de não ter dormido. Meu corpo doía e lembrava da noite anterior. Repassava na mente, tudo que tive com Eva e tudo que falamos, desde a festa até o sexo e as palavras trocadas. Um verdadeiro desastre de emoções.

– Olá!

– Oi, Lúcia!

– Hoje me dei folga. Ontem estava linda, no salto, mas trabalhei que nem um burro de carga! Quer almoçar comigo?

– Hoje não, Lúcia. Não tô legal. Vou ser uma merda de companhia para você.

Senti que ela suspirava do outro lado.

– Eu digo para você se está uma companhia de merda ou não. Vou levar algo para a gente comer e vamos ver no que dá.

Ela desligou, não me dando tempo de retrucar. Fiquei “puta”. Não queria ver ninguém e nem levantar da cama. Queria curtir minha “deprê” e tinha esse direito. Permanecia deitada e olhei o teto, sem qualquer finalidade. O único propósito era me perder nas manchinhas da pintura gasta. Vi que não tinha alternativa a não ser escovar os dentes e colocar uma roupa decente. Quarenta minutos depois a campainha tocava.

– Merda! Tenho que colocar um interfone nessa “porra”! – Esbravejei.

Fui até o balcão da janela da sala e olhei para baixo para ver quem era. Lúcia olhou para cima e sorriu.

– Não fica irritada, meu amor, você não tem essa opção comigo hoje.

– Vai se achando… – Respondi, contrariada.

Desci para abrir a porta e quando ela passou para o hall, me beijou na face e foi subindo as escadas. Tinha um monte de embrulhos na mão. Entramos no meu apartamento e ela se dirigiu para a cozinha. Eu me refestelei no sofá e fechei os olhos. Queria que o mundo parasse.

– Não sei o que rolou ontem, mas você nem me escutou quando passou pelo salão e chamei você. Depois, não me atendeu no celular. O que Eva fez com você? – Perguntou, lá de dentro.

Eu estava irritada, e Lúcia estava invadindo o meu espaço. Fiquei muda. Ela voltou da cozinha e me encarou.

– Olha, Olívia, não sei o que aconteceu, mas eu te conheço há mais de um ano e você nunca ficou desse jeito. Fiquei preocupada…

Nem olhei para ela, me sentindo a pior das criaturas. Ela não tinha que aturar meu mal humor; em compensação, eu não tinha a obrigação de falar tudo de mim para ela, ou tinha?

– Ai, Lúcia, eu não quero te enfiar no meu enrolo, já te falei isso e também não tô a fim de falar com ninguém, vai…

Lúcia voltou para a cozinha e, depois de um tempo, voltou com a comida em baixelas, que eu nem me lembrava que tinha, colocando-as na mesa. Depois de trazer tudo e arrumar a mesa, se apoiou nela, de cabeça baixa. Cerrou os olhos e, momentos depois, se voltou para mim.

– Que merda, Olívia! Vai ser assim? – Caminhou até a porta do balcão. – Olha, sei que não posso cobrar nada, mas… se você estivesse numa boa, não iria me incomodar tanto. Tudo bem que eu não estou achando isso legal, porque tenho meus egoísmos, mas não é só isso. Você fica estragada com essa mulher, Olívia… Não tô acreditando que você caiu nessa cilada!

Eu não conseguia falar nada. Primeiro, por estar mal pelo que estava sentindo por Eva e toda a situação e, depois, por ver que estava estragando uma relação legal com Lúcia. Mas, no fundo, achava que ela não poderia me cobrar, realmente. Por isso que a relação entre eu e ela era boa no início, ou não era assim?

– Por favor, Lúcia, também não sei o que aconteceu, mas aconteceu, ok?! Se eu pudesse me controlar, não acha que já estaria pouco me fodendo para Eva Gallardo?

Entrei no modo “carioca desbocada”, novamente. Aliás, desde ontem tinha entrado nesse modo. Parecia que só os palavrões conseguiam dar voz ao que sentia. Ela se voltou para mim, ainda próximo a porta. Se tocou do que se passava comigo, ou pelo menos, um pouco do que estava sentindo. Suspirou.

– Tudo bem. Deixa eu falar o que sinto sobre Eva e em como vejo seu estado, depois a gente conversa de forma mais tranquila, mas tenho que colocar para fora também.

– Lúcia…

– Deixa eu exorcizar, ok?! Acho que a relação que temos, me permite isso e se não permitir, aos seus olhos, então a coisa é pior do que penso e vou realmente sair da sua vida!

Ao escutar Lúcia falando que sairia da minha vida, meu coração apertou mais. Ele já estava em frangalhos e pensar em ficar sem a convivência dela, me matou. Afundei mais ainda no sofá, derrotada.



Notas:

Olívia quer sentidos e entender por que quer Eva tanto. (Primeira música).

Eva sente tanto, no entanto, o que Olivia pode lhe dar é demais para o que ela pode, no memento. O que esperar? (Música final).




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