10
Um novo sentimento
Sophie foi despertada antes do meio-dia, em pleno domingo.
Primeiro, foi Flávia quem ligou, falando que Fernando havia ficado chateado porque a jovem havia cortado o “lance” dele com a Jenny. Em seguida quis saber se Sophie realmente estava tendo algum envolvimento com a “tal” mulher. Antes mesmo de obter uma resposta, se sentiu à vontade para aconselhar: “ela parece ser muito legal, fez amizade rapidinho conosco, mas, não acho que é uma boa ideia vocês se envolverem, falo isso pelo tipo de vida que você tem, ela não parece ser alguém que aceitará isso, acho que você deveria deixar o caminho livre para o Fernando poder investir.“
Sophie não se deu ao trabalho de responder, apenas desligou o celular. Sempre soube que Flávia tinha uma quedinha por ela, e todo aquele discurso não era por preocupação com a Jenny ou o Fernando. Mas, a Flávia já deveria saber que Sophie jamais deixaria que a relação delas ultrapassasse a “linha da amizade”. Antes mesmo de concluir o pensamento, recebeu uma mensagem com pedidos de desculpas: “foi mal, havia esquecido que aos domingos você só passa a existir após as 13:00. Beijinho, Flávia. “
Sorriu com a mensagem e já estava colocando o celular de lado para tentar voltar a dormir, e o Fernando ligou querendo saber mais a respeito de Jenny, e o mais importante, se elas tinham algo. Sophie se cansou, falou que sim, e apesar de saber que não havia nada entre elas, dizer aquilo lhe não pareceu uma mentira. Do outro lado, Fernando ficou em silencio, em seguida, despediu-se.
Qual era o problema daquelas pessoas, perguntou-se.
Parecia que não tinham muito o que fazer em pleno domingo e por isso decidiram que iriam inferniza-la. Virou de um lado para o outro na cama, cobriu-se e os olhos começava a pesar novamente quando recebeu uma mensagem de Helena, avisando que estava prestes a marcar a data da viagem e que gostaria de encontrá-la para acertar os detalhes.
Obviamente, aquele encontro era uma desculpa para ver Sophie, que por sua vez sabia exatamente o que Helena queria, e sentia que nem podia culpa-la, até porque, toda vez que ela disse que daria fim naquela relação, que já nem parecia mais tão profissional assim, de alguma forma acaba voltando atrás, e marcava um encontro, uma coisa levava a outra e no final, estavam em um quarto de motel qualquer. Mas não, daquela vez era realmente diferente, desde que conheceu Jenny, a jovem passou a repensar sobre seu trabalho, sobre os planos que deixou de lado. Talvez, estivesse na hora de conversar com Carol, e pedir para que sua lista de clientes fosse rasgada ou passada para outra, e depois que fizesse o que havia combinado com Helena, nunca mais a veria.
Com certeza, aqueles novos pensamentos devia-se a Jenny, já que antes do aparecimento daquela mulher em sua vida, ela nunca se incomodou ou cogitou a possibilidade de mudar as coisas, porém, sabia que para ter uma chance de ficar com Jenny, precisaria ser alguém melhor do que era. E para começar a ser essa pessoa melhor, tinha que contar a verdade, não dava mais para esperar ou ficar escolhendo o melhor momento.
Sophie praticamente deu um pulo da cama, estava decidida. Quase tropeçou no James que estava deitado aos “pés” da cama, e como sempre, a parede lhe salvou de uma queda.
Daquela vez foi mais rápida, em menos de uma hora estava pronta, olhou o James e era como se tivessem trocando palavras silenciosas, até que ele latiu, fazendo-a despertar, ela até sorriu, imaginando-o dizer: acorda e vai logo atrás da tua felicidade!
Ainda estava saindo com o carro da garagem, quando seu celular enlouquecera com tantos bips de notificações, eram mensagens; do Fernando, provavelmente de ressaca e reclamando que Sophie sempre se dava bem. Da Flávia, se lamentando e avisando que estava triste e chorando, pois, Sophie nunca a olhou como mulher. De Helena, recordando a última transa, confessando que nunca imaginou que ia gostar de ser dominada, mas que elas precisam repetir aquilo o quanto antes.
Sophie ficara tão irritada, que pensou por vezes seguidas em atirar o aparelho janela a fora. Dirigia tão rápido, e mesmo assim, aquele percurso para casa de Jenny nunca lhe pareceu tão lento.
Quando Jenny acordou já passava do meio-dia, mal tinha terminado de fazer sua higiene pessoal e seu celular vibrava desesperadamente, era o Carlos querendo saber quando poderia pegar ir até a casa para pegar o restante de suas coisas. Enquanto falavam, e Jenny insistia que não havia volta, houve batidas firmes na porta, por alguns instantes ela até pensou que poderia ser o Carlos, mas olhando pela janela, reconheceu a silhueta feminina. Abriu a porta sorridente pela visita, mas logo notara que Sophie não estava com cara de bons amigos, o Carlos disse o dia em que iria pegar as coisas, e ela nem prestou atenção, apenas confirmou e tratou de desligar o mais rápido que podia, sentia extrema necessidade de dar atenção para a moça que estava parada a sua frente.
– Era o Carlos…
– Ah! Vocês estão se acertando?
– Não, isso não vai acontecer!
– Sei…
– Sério, não vai. Ele só quer vir buscar o restante das coisas que ficaram aqui.
– Jenny, você não tem que me explicar nada.
– Nossa, você está brava!
– Estou!
– O que eu fiz?
– Você acha que fez alguma coisa? __ além de estar bagunçando toda a minha racionalidade e despertando esses sentimentos.
– Ou posso deixar de ter feito, as vezes minha memória não é muito boa. Então…?
Ela está sendo irônica? Está me provocando? Isso é sério mesmo? suspirou o mais fundo que podia. – Jenny, eu estou brava com os meus amigos, com a vida, com algumas outras pessoas, e, principalmente comigo, mas com você, não. Eu não estou, nem tenho motivos para estar brava com você!
– Sophie…
E Sophie sentiu seu corpo arrepiar ao ouvir seu nome sendo pronunciado quase que em um sussurro. Quis até pedir para que Jenny não falasse seu nome com aquele tom de voz, mas sabia que teria que se explicar se fizesse isso.
– Hum…?
– Você também fica bonita assim, bravinha!
Ah, Sophie chamou pelos deuses.
Decerto, aquela mulher estava querendo brincar com ela, era a única explicação! Talvez, fosse um plano para deixa-la louca. Respirou fundo outra vez, e começou a rir. Jenny acompanhou seu riso, deixando uma gargalhada escapar.
Num repente, Jenny estava tão próxima de Sophie, que os risos se misturaram.
Jenny inalava aquele perfume e desenhava o contorno dos lábios da jovem com os olhos.
Sophie flagrou aquele olhar lascivo em direção a sua boca, respirou fundo, teve certeza de que aquela mulher estava tentando, melhor, conseguindo a enlouquecer.
Jenny sabia que não podia mais evitar aquilo.
A vontade de ter aquele beijo, lhe queimava a pele. Aproximou-se com cuidado, e tocou o rosto de Sophie, que fechou os olhos para poder sentir melhor aquele contato. E quando os abriu, o rosto de Jenny estava ainda mais próximo ao dela, houve um sorriso tímido, enquanto os dedos ainda acarinhavam o rosto. Sophie sentiu a respiração tremer, a alma tremer… o coração tremer! Jenny sentiu, e fechou os olhos em alegria ao saber que era quem estava causando aquelas reações. Não podia mais resistir, e a beijou.
O “Big Bang”
A grande explosão… foi o efeito daquele beijo. Mais que fogos de artifícios ou sinos a tocar, foi a terra que pareceu tremer.
Um entorpecer devastador, não havia dúvidas do quanto aquele era um beijo apaixonado, que precisava ser sentido e aproveitado em cada segundo.
E naquela troca, línguas se encontravam…
Sophie se perdia na certeza de que ninguém nunca havia a beijado daquela forma, com uma paixão calma, um carinho delicado e a vontade ainda maior de que aquele momento não acabasse.
Naquele beijo, bocas se devoravam…
E Jenny concluía que nunca tinha provado de lábios tão delicados, macios e quentes. Que nunca esteve tão extasiada em um único beijo. Talvez, por isso, pelas certezas e pelo medo de que aquele momento chegasse ao fim, ela puxou Sophie contra o seu corpo, e a beijou com maior intensidade, passou a mãos pela cintura da jovem e segurou firme, sentiu o corpo em suas mãos tremer.
Num repente, estavam deitadas no sofá, o beijo ainda não havia cessado.
As mãos passeavam por corpos com delicadeza, explorando, conhecendo e até mesmo reconhecendo pedaços, lugares e espaços. Arrepios explodiam fortemente ao ter nuca ou costas acarinhadas…
O ar estava a faltar quando o beijo foi se tornando mais calmo, devagar e com beijinhos estalados, Jenny afastou-se de Sophie, apenas para que pudesse olha-la e ter certeza de que não estava sonhando. A olhou e sorriu, em troca, ganhou o sorriso mais bobo, lindo e sem folego que a jovem tinha. Abraçaram-se e ficaram ali, trocando carinho em silencio.
– Preciso confessar que desejei fazer isso desde o primeiro momento em que te vi.
– Eu ia te achar uma maluca!
– Ora, Jenny. Você já acha, esqueceu?
– Hum, é mesmo!
– Mas, não sei se deveríamos ter feito isso, Jenny!
– Por que?
– Acho que de alguma forma te influenciei a fazer isso…
– Também, mas fiz porque queria. E eu nem sabia se deveria mesmo continuar até você retribuir.
– Não sou a primeira garota que você beija, né?
– Não… você não é! Mas, é a única que me deixou em êxtase com apenas um beijo.
– Hum… sei.
– Eu já beijei outras garotas, antes de me casar. Acontece, Sophie, que eu nem recordo de como foi, mas posso te garantir uma coisa, esse beijo. Ah, eu nunca vou esquecer desse beijo.
– Acho que vai.
– Claro que não!
– Vai sim…
– Por que?
– Porque você vai lembrar deste…
Sophie passou a mão pela nuca de Jenny e segurou com delicadeza, mas sem deixar de ser firme. Puxou-a para que uma boca pudesse encontrar a outra e iniciou outro beijo.
Um beijo mais ávido, intenso e demorado.
Um beijo provocativo e dolorosamente excitante, deixando Jenny sem folego e com as pernas tremulas.
E assim, passaram o domingo.
Algumas conversas…
O desfrute de beijos e carícias. E se alguém exigisse de ambas alguma explicação lógica para o que era sentindo, nenhuma iria saber responder.
Talvez, Jenny tentaria começar dizendo que ninguém nunca havia lhe despertado tamanhas sensações com apenas beijos e carinhos. E concluiria, afirmando que aquela garota estava fazendo seu mundo girar em desalinho e mais, ela estava gostando daquele fato.
Talvez, Sophie começasse um pouco negativa, afirmando que provavelmente nunca teria aquela mulher, mas logo confessaria que, por mais que tentasse recordar, sabia que em nenhum outro momento da sua vida, sentiu algo tão forte por alguém. Ainda acrescentaria, dizendo que aquele era um sentimento novo, e que não tinha ideia de como seria lidar com ele.