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Segredo revelado: Coisas da vida
Ah, a vida… “um divino mistério profundo”, cantou Gonzaguinha.
E como já disse, acredito que a vida não gosta de assuntos mal resolvidos ou inacabados. Ela, a vida, sempre dará seu jeitinho (associada ao destino), de fazer com que as coisas aconteçam e nada fique mal esclarecido.
Um… dois… três meses, e nenhuma notícia. Nenhum encontro ao acaso. O celular não tocava mostrando o nome já conhecido e ansiado. As mensagens cessaram. Jenny acreditou que aquela era a melhor forma de deixar as coisas, ainda que muitas vezes a saudade lhe corroesse o peito e ela ligasse, com o número em privado, só para ouvir aquele “alô? ” em tom rouco e suave, e então desligava. Já Sophie, ela acreditou por um período que a saudade iria matá-la, até entender que não, que saudade não mata, pois tal sentimento tem fascínio pelo sadismo e por isso prefere torturar.
Era uma noite qualquer, em um barzinho também qualquer e lá estava Sophie, tomando whisky e conversando com o barman. Sentiu alguém passar a mão pelo seu ombro e sentar ao seu lado, por alguns segundos até pensou ser a Jenny, mentira, ela sabia que não era a Jenny, mas desejou que fosse.
– Oi!
– Helena…
– Sim, eu. Nossa Sophie, você está acabada!
– Obrigada pelo elogio.
– Não seja irônica, é o primeiro caso de paixão que vejo com efeitos contrários. Normalmente as pessoas costumam se arrumar, estar com brilho nos olhos e felizes, você é uma apaixonada triste e bêbada.
– Como você sabe… esquece, já desisti de tentar entender como você sempre descobre minhas coisas.
– Dessa vez eu não precisei descobrir nada, estava tão óbvio, e quando você destruiu meu plano perfeito, tive a certeza que não podia fazer mais nada em relação a você. Mas, não imaginava te encontrar assim. O que houve?
– Desculpa, eu ferrei mesmo com aquele seu contrato, mas também não era certo, né?!
– Sabe uma coisa que sempre gostei em você? É que você ainda mantém alguns valores, eu não… eu já joguei os meus fora, dá menos dor de cabeça, cada um é responsável pelo que faz, e se um homem crescido, empresário e que se diz inteligente, estava prestes a assinar um acordo onde eu ficaria mais rica, a culpa é dele e não minha. Mas, esqueça isso, me diz, o que está acontecendo com você?
Talvez, pela bebida em excesso, talvez pela tristeza, ou ainda pela carência… a jovem acabou abrindo o jogo com Helena, pareciam amigas trocando confidencias em uma mesa de bar. Sophie chorou parecendo uma criança que sentia dor, e realmente estava doendo, por isso queria mais doses de whisky, e Helena não permitiu que ela continuasse com a bebedeira.
Quando acordou no dia seguinte, estava na casa de Helena, e a mesma estava sentada em um canto da cama, observando-a.
– Não se preocupa, não te sequestrei, nem fiz nada. Só te dei um banho porque você estava horrível.
– Você passou a noite toda aí?
– Sophie… minha eterna Scarlet, apesar de morrer de amores por você e não ser um custo passar a noite te olhando, eu não o fiz, acordei a pouco e vim ver como você estava. Como você está?
– Morrendo de dor de cabeça…
– Não é para menos, queria tomar todo o whisky do bar.
– Obrigada por ter cuidado de mim, bacana da sua parte.
– Também acho, você não está merecendo. Mas, também é verdade que eu sempre vou estar aqui para você, Sophie. Entenda, sempre cuidarei de você, se assim me permitir.
– Helena…
– Não se preocupe, mas, pensa nisso. Você me conhece um pouco, eu também te conheço um pouco, temos uma estranha relação, e eu gosto tanto de você, que acho mais que merecido você me dar uma chance. Começando por hoje…
– Hoje? O que tem hoje?
– Vou fazer uma recepção, alguns colegas empresários, contatos, uns dois jornalistas, é claro. E, eu gostaria que você ficasse aqui, passasse o dia comigo. Fique para recepção, depois eu te levo em casa, se não quiser minha carona, posso mandar alguém te levar. E a outra coisa…
– Tem mais?
– Tem! Eu vou abrir uma filial da minha empresa em outro Estado, e não se assusta, mas eu quero que você vá comigo, não me importo que queria manter esse seu trabalho, nem precisa ir como minha namorada, mas eu quero você comigo, acredito que nos daríamos muito bem. Não diz nada agora, apenas pensa. Eu vou descer, se arruma, tem roupas limpas no guarda-roupas, veste e desce para tomar café comigo, sim?
– Ok…
Aquele lado doce, de Helena, até então era desconhecido para a jovem. Existia a possibilidade de ser algum jogo ou Helena estava preparando uma vingança pelo contrato perdido, mas, Sophie por alguns minutos pensou no convite para ir embora daquela cidade. De repente, aquilo não parecia uma má ideia. Não demorou para descer, tomar café com Helena e deixar-se ser convencida a ficar e até mesmo fazer companhia para a loira durante a recepção que daria.
Tudo ocorreu bem e o dia passara tranquilo, sempre que via uma oportunidade, Helena jogava um charme ou outro para Sophie, que só tinha uma pessoa na mente, as lembranças ardiam o peito, os olhos azuis que jamais esqueceria, o primeiro beijo…
A recepção também estava às mil maravilhas. Helena apresentava a jovem para algumas pessoas, quando uma mulher chegou pronunciando o nome da loira com bastante intimidade, era certo que já se conheciam. Helena fez questão de apresentar Sophie, e então a surpresa de ver que quem estava acompanhando a amiga de Helena, era Jenny.
Ora, ora… mundo pequeno, não?
Jenny havia sido convidada por uma das colegas de trabalho para ir em uma recepção, onde encontrariam bons contatos profissionais. Quando chegaram na recepção, a colega tratou de apresenta-la para a maioria das pessoas ali presentes. Porém, de acordo com a moça, a pessoa que Jenny realmente necessitava conhecer era Helena, a empresária tinha investimentos por todo o Estado e estava prestes a expandir seus negócios. Se Jenny estava buscando novos desafios, poderia começar tentando uma vaga em uma das empresas da loira. E para surpresa de Jenny, ao ser apresentada a Helena, viu Sophie ao lado da loira.
(Jenny) … como que Sophie conseguiu estar ainda mais linda, mesmo que os olhos indicassem certa tristeza! Vê-la e ser apresentada como se eu fosse uma desconhecida, me perturbou. Helena notou meu desconforto, ainda me deu um sorriso cínico e desafiador, e confesso que senti vontade de quebrar aqueles dentes com um soco, mas é claro que eu não fiz isso. Quando Sophie deu uma desculpa qualquer pedindo licença e saiu, aproveitei a oportunidade para também sair daquele lugar.
Aquela noite realmente parecia que não ia terminar, pelo menos, não para mim: quando eu cheguei em casa, me joguei na cama, não sabia muito o que pensar, queria chorar e nem isso eu conseguia. Estava me sentindo confusa, olhos de Sophie quando me viram tinha uma mistura de saudades e raiva. Se ela soubesse o quanto senti vontade de abraça-la e ao mesmo tempo dar-lhes uns tapas, afinal, quem era aquela loira aguada na vida dela, mais um cliente ou ela já tinha me substituído? Cheia de mãos e olhares para cima da minha Sophie…. As emoções já estavam começando a ficar à flor da pele quando fui despertada da minha confusão mental pelas batidas na porta.
– Já vai! __ veja se aquilo era horário de alguém bater na casa de outra pessoa! Abri a porta e era o Carlos…
– Eu já sei de tudo! Sei de tudo Jênnifer, é por isso que você quer a separação, não é?
– Carlos… de tudo, o que? Sabe, não é uma boa hora para isso.
– Você e aquela mulherzinha que estava aqui no outro dia, vocês têm um caso, eu andei olhando vocês, sabia que aquilo estava estranho, eu vi vocês se beijando. Se você acha que eu vou dar esse divorcio para você e aquela mulherzinha rirem as minhas custas, isso não vai acontecer, ah mais não vai mesmo.
– Você está é louco, Carlos. E ainda me espionando, sabia que isso é motivo para prestar uma queixa contra você?!
– Eu amo você, porra! Vamos tentar novamente, eu errei, mas eu quero você! Vai dizer que não sente falta da gente?
– Que falta, Carlos? Você esqueceu de como era o nosso casamento?
– Três anos, foram três anos, Jenny, como pode jogar assim por alto? Eu não acredito que você esteja envolvida por aquela mulher, com uma mulher? Isso é ridículo.
– E se eu estiver? Até onde sei, foi você quem jogou nosso casamento para o alto.
– Já pensou no que as pessoas vão dizer? Como vão te olhar? Os nossos amigos, família, vão dizer que você pegou trauma de mim, ou que foi por isso que nosso casamento não deu certo.
– Carlos, nosso casamento não deu certo porque você foi um cretino. E quando as pessoas perguntam porque estou sem aliança, falo que meu ex-marido estava transando com a colega de trabalho.
– Você não pode fazer isso, Jenny, ainda dá tempo de consertarmos tudo!
– Ah, cansei dessa conversa tola, não tem nada para consertar, e eu não quero voltar. E já que você não quer assinar essa porcaria de divórcio, partiremos para o litigioso. Agora, vai embora, boa noite, Carlos!
Bati a porta na cara do Carlos e ele continuou gritando, falando que tudo era culpa da Sophie, e que ela pagaria por aquilo, que eu não ficaria com ela, que faria de nossas vidas um inferno. Aquelas palavras me assustaram e fizerem tremer, abri a porta novamente, caminhei até o Carlos, abri minha mão, e de repente, ela já estava de encontro com o rosto dele, em um tapa cheio de fúria, lembro das minhas palavras: “Se você fizer alguma coisa a ela, eu acabo contigo. Você não tem ideia de como tenho coragem para isso, agora vai embora daqui! ”
O Carlos saiu perplexo, acho que ele realmente nunca esperava algo assim da minha parte, acho que eu também não esperava.
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Sophie estava trancada no banheiro, tentando respirar. Não demorou para que Helena mostrasse presença dando firmes batidas na porta e afirmando em alto e bom tom: “é ela a sua paixão! ”
– É sim. __ abriu a porta e já tinha lagrimas escorrendo pelo rosto. – Desculpe-me!
– Você gosta mesmo dela, acho que ela também gosta de você. Até pensei que ela ia me bater. Sophie, vai atrás dela, fala tudo que está sentindo. E, se mesmo assim ela não ficar com você, é porque é uma imbecil e não te merece. E então, você poderá aceitar minha proposta, sem ficar na dúvida de ter feito tudo que podia.
– Acha mesmo que devo ir atrás dela? Mas, você gosta de mim, por que está me dando esse conselho?
– Acho não, tenho certeza que você precisa ir. Eu gosto de você, na verdade, meus sentimentos por você, vão além de gostar. E é exatamente pelo que sinto, que desejo imensamente a tua felicidade, se existe chances entre você e essa moça, não sou eu quem vai ficar no caminho.
– Nossa, Helena! Tudo bem, vou atrás dela!
– Calma, não agora. Agora você vai para casa, ou se quiser, pode ficar aqui. Vai descansar, se recompor e então amanhã você fala com ela.