Um olhar do destino

16 – Noite de insônia

16
Noite de insônia
 
“Uma noite de insônia
Cheia de pensamentos sem fim
Revelam mais de mim

Muita imaginação à toa
A minha mente voa
Revelando mais de mim,
Enfim…

Eis que no mais faço menos
Provo dos meus próprios venenos
Já não creio, nem aceito
Agora anseio e devaneio
Alucinações…

E justo quando abro os olhos para dormir
O sol brilha e vejo o que não queria ver
A solução: esquecer. ”

(Fazendo da insônia poesia, Manueli Dias in Confissões na Madrugada)

 

(Sophie) … de fato, naquela noite eu não dormi. Ficamos eu, a garrafa de whisky e o James. Ele com certeza era o único que me entendia, ao menos era o que parecia. Algumas vezes, eu acreditava que ele conseguia me compreender melhor que eu mesma.

Desde momento em que eu praticamente expulsei Jenny do meu apartamento, tentanva atingir algum estado de paz, evitando reviver tudo que foi revelado, sem sucesso. Estava cansada demais, minha alma estava pesada, por isso desisti de dormir, desisti de conter as emoções que estavam afloradas. Estava simplesmente exausta de insônia e da Jenny. Lagrimas que eu nem sabia da existência ficaram escorregando pelo meu rosto.

A minha vida, apesar de badalada por conta do trabalho que eu fazia, ainda assim, era monótona demais. Sempre as mesmas coisas, os finais de semana eram iguais… frequentava os mesmos bares, assistia os mesmos programas de televisão, escutava as mesmas canções, até a conversa com meus amigos pareciam as mesmas. Mas, se tinha uma coisa qual eu sempre gostei, era da minha liberdade, da minha independência. Não precisava dar satisfações, muito menos me preocupar com os sentimentos alheios. Eu era uma mulher livre para fazer o que quisesse. Mas, então a Jenny surgiu e tudo isso mudou, ela me marcou com palavras e gestos, me fez viver durante aquele ano com tanta intensidade, provavelmente mais intensidade do que já tive em todo a minha vida, e mesmo sendo livre, acabei me prendendo a ela. Não como alguém em cárcere e sim, atada por algum laço de sentimentos e sensações, que naquela noite me tomou o sono.

Odiava quando perdia o sono, mas não era a primeira vez que a insônia me alcançava, apenas os motivos que eram novos. Os pensamentos pareciam ganhar vida e decidiram que se rebelariam, fazendo uma bagunça sem tamanho dentro da minha cabeça.
Pensava na Jenny, e ao mesmo tempo não sabia o que pensar. Já era três da madrugada, e eu ainda estava completamente abalada… pensava nela, em como alguém conseguiu entrar tão fundo no meu mundo, a ponto de fazer com que eu lhe contasse sobre o meu passado. 

Lembrei dos meus irmãos, num repente era uma saudade de tudo, da minha mãe cantarolando, dos meninos brincando ou brigando. Quando mais refletia, mais me afogava nas lembranças. Sentia que ia explodir em gritos ou choro de soluçar. Para onde ir? O que fazer? Não tinha a mínima ideia. Respirava fundo, deixando o pensamento correr. E ainda respirando parecia que o ar não chegava aos meus pulmões. A vida não andava muito fácil: tudo era tão certo e no instante seguinte, tudo parecia errado demais, até mesmo para mim.

Relembrava o passado, sentia saudade e angustia. Como eu estaria se não tivesse feito as escolhas que fiz? Talvez, se eu voltasse no tempo. A verdade é que algumas coisas eu ainda teria feito igual.
Se eu quisesse mesmo dormir e ter a minha vida de volta, precisaria deixar novamente o passado para trás, e talvez a Jenny devesse entrar na gaveta das coisas passadas.

A noite começava a ir embora, dando espaço para alguns riscos mais claro no céu, minutos depois, já tinham raios de sol invadindo o meu quarto, e o sono ainda não havia chegado. A garrafa de whisky estava vazia e até o James não aguentou meus monólogos e dormiu. Eu, decerto, estava ficando louca. O ideal era conversar com alguma outra pessoa, monólogos nunca nos levam a decisões sensatas!

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Depois da noite bagunçada, sem pregar os olhos e certa de que eu não tinha chegado à conclusão alguma, resolvi ir até o Fernando. Eu ainda não sabia se devia lutar pela Jenny ou realmente abrir mão dela. Eu nunca tive que tomar esse tipo de decisão, nenhum romance ou quase romance que tive, foi intenso o suficiente para que eu soubesse se deveria lutar por alguém, mas o Fernando já tinha passado por isso e saberia me aconselhar, assim como sabia que ele colocaria o interesse pela Jenny de lado, no final das contas, ele era meu amigo.

O que mais me pesava, era não saber se havia sido muito dura com a Jenny, se acabei a pressionando muito para uma decisão, ou se estava certa. Eu precisava mesmo conversar com alguém. Nem tive a decência de me arrumar, apenas joguei um pouco de água no rosto. Desci até a portaria, para minha sorte tinha um táxi parado em frente ao prédio, tomei e fui para casa do Fernando. Durante o percurso eu pensava em todos os sentimentos, todas as emoções que a Jenny ao longo daquele tempo havia me despertado, e que se tudo aquilo não fosse amor, eu com certeza não sabia mais o que era… então, aquilo era amor, eu estava amando!

Mas, a vida é tão engraçada, ou sacana mesmo, principalmente quando a gente está amando alguém. O destino nos prega umas peças, que às vezes eu considero realmente desnecessárias. Ou talvez, eu estava era pagando pelos meus erros, sendo testada, não sei. Fato é, que quando cheguei na casa do Fernando e estava prestes a tocar a campainha, a porta se abriu, como se já estivesse me esperando, igualzinho aos filmes de terror. E o sorriso que estava plantado em minha face por aquela coincidência, era também um pedido de ajuda ao meu amigo, mas assim como nos filmes de terror, eu não me deparei com o dono da casa. Meu sorriso foi desmanchado no  mesmo instante em que se deu conta de quem abrira a porta, foi a Jenny. 



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