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Nas garras da paixão
Sabe quando dizem que um beijo pode mudar tudo? Pois bem…
É verdade que elas combinaram em continuar apenas amigas e deixar que as coisas ocorressem de forma natural. Sem as ilusões dos planos ou expectativas. Mas vamos ser realistas, é inevitável não planejar ou pensar na pessoa que nos desperta encanto. Se torna impossível não imaginar em como seria estar com aquela pessoa nas situações mais corriqueiras.
Jenny ainda não conseguia entender o porquê do medo de Sophie, acabou por supor que era trauma de algum relacionamento passado, e que por isso a garota não se sentia pronta para um novo envolvimento, ou talvez, porque Sophie achava que a sua história com Carlos não tivesse realmente chegado ao fim.
Mas o que Jenny não sabia, era que aqueles beijos haviam despertado um vulcão que estava adormecido há tempos. Se soubesse que desde o encontro no parque, seu segundo lar era nos pensamentos de Sophie. A jovem estava enfeitiçada, era como se estivesse morando dentro da canção diz: “um beijo seu, e eu vou só, pensar em você.” Se soubesse o quanto Sophie desejava ficar com ela, mas sabia que não poderia começar nada antes de contar toda a verdade, antes de “consertar” sua vida. E o quanto a jovem lamentava ao pensar que, assim que toda a verdade fosse posta a mesa, Jenny jamais iria querer continuar com aquele envolvimento. E por isso, insistia em dizer que deveriam deixar as coisas como estavam, afinal, o que tivesse que ser, seria. De um jeito ou de outro!
Ora… não vamos nos enganar. Sophie sabia que Jenny já havia entrado em sua vida, e mais, em seu coração. Sabia o quanto tudo aquilo acabaria lhe machucando e pior, sabia que por mais que tentasse fazer as coisas da forma certa, também magoaria a Jenny.
Seu trabalho a perseguia, quando não era Carol querendo que ela fosse a algum encontro, era Helena para falar sobre a tal viagem, cuja data estava cada vez mais próxima. Muitas vezes, pareciam adivinhar, mal Sophie chegava na casa de Jenny e recebia uma ligação. A bem verdade, a única vez que esse tipo de imprevisto prestou para algo, foi em uma sexta-feira, Sophie e Jenny haviam marcado uma noite de filmes regados a brigadeiro de panela, mas não deu certo, pois precisou ir atender um chamado de Carol.
– Isso não é justo, Sophie. Você mal chegou!
– Eu sei, Jenny… eu também não gosto. Juro que estou tentando resolver tudo isso.
– Por que você não trabalha com outra coisa? Essas pessoas desta empresa de eventos te exploram, porque eu conheço pessoas que trabalham também com eventos, mas conseguem ter uma vida além do trabalho. Sabe, poderia falar com eles, te conseguiria uma entrevista.
– Viu, é exatamente por isso que não posso te oferecer mais que minha amizade, pelo menos não ainda. Desde que moro aqui, poucas foram as pessoas que realmente se importaram comigo e vice-versa, então, trabalhar, independente de horários nunca foi um problema. Olha, prometo te compensar, amanhã será sábado, e poderei ficar até o domingo se você quiser.
– Promete?
– Prometido!
– Vou esperar.
– Farei o bendito brigadeiro! É uma questão de honra.
– Só por isso?
– Não, para ter a sua companhia também. Agora, preciso mesmo ir.
– Hum… certo. Se cuida, Sophie.
– Cuide-se também!
Se querem saber, Sophie poderia tentar disfarçar, mas estava mesmo era apaixonada, e Jenny não lhe era indiferente. Até Helena já notava as mudanças no comportamento de Sophie e começava a sondar, muitas vezes fazendo perguntas nada sutis. Jenny não sabia, mas tinha o poder de abalar o mundo inteirinho de Sophie. E como foi prometido, no dia seguinte, lá estava Sophie e James, preciso ressaltar que o cãozinho se sentiu muito à vontade, pulou em Jenny, fez a festa e saiu pela casa, xeretando.
– O James realmente gosta de mim, já está sentindo-se em casa.
– Desculpa, eu pedi para ele se comportar, mas quando se trata de você, ele fica assim.
– Tudo bem, eu o acho um fofo!
– Ah, pode ter certeza que ele é louco por você!
– Eu sei que é…
– Então, trouxe umas músicas e vídeos, está no pen drive.
– Posso colocar?
– Claro!
– E escolher o que eu quiser?
– Uhum…
– Enquanto faço isso, pode apoderar-se da cozinha. Fique à vontade chef Sophie.
– Olha só você sendo piadista. Acho que está apenas interessada no brigadeiro.
– Também, você fez muita propaganda.
– Mas, é muito gostoso! Será o melhor brigadeiro de panela que você provará. Pena que eu não goste tanto.
– Que sacrilégio, por outro lado, é bom que sobra mais para mim.
Riram, Sophie foi para cozinha, estava escolhendo uma panela quando Jenny escolheu sua pasta de músicas preferidas para tocar, uma coletânea interessante, onde havia a sensualidade do jazz, mas com vozes com uma timbragem bem diferente das que normalmente são os cantores de jazz. As batidas relaxadas e envolventes invadiram a casa. Isso fez com que Sophie deixasse a panela escapar-lhe entre os dedos e cair. É verdade que a moça sempre tentou entender porque era tão desastrada, quando Jenny retornou para cozinha, a jovem já tinha conseguido fazer uma certa bagunça, e até na testa havia vestígios de chocolate. Jenny apenas ria, e Sophie morria um pouco mais de vergonha, tentando justificar inutilmente que aquela cozinha era diferente da dela, que não estava habituada. E quanto mais justificativas encontrava, mas engraçado ficava, desistiu de explicar e permitiu-se cair no riso também.
Jenny aproveitou-se da distração de Sophie para aproximar-se.
Quando os risos cessaram, elas já estavam muito próximas. Nenhuma palavra foi dita, Sophie quis pagar para ver e saber o que Jenny iria fazer, esta, por sua vez, ergueu a mão e limpou a testa da outra. Mostrou o chocolate, talvez, em uma atitude impensável, Sophie segurou o pulso de Jenny, aproximou a mão de sua boca, e passou a língua pela extensão do dedo, melado de chocolate. Mais um ato impensável, e elas acabariam agarrando-se ali mesmo, felizmente ou infelizmente, batidas na porta, interromperam o momento.
Era o Carlos, Jenny havia esquecido, melhor, nem prestara mesmo atenção no dia em que ele falou que passaria para pegar o restante de seus objetos. E ela sentiu muita raiva do ex marido, não pelas lembranças amargas, mas, por ele ter interferido naquele momento. Ele a cumprimentou, comentou sobre a música e sobre Jenny aparentar estar mais bonita.
– Aham, certo. Entre, pegue as coisas que você precisa o mais rápido possível e vá embora. __ deu as costas e voltou para a cozinha, e avisou a Sophie que elas tinham companhia, e adorou notar a expressão de ciúmes antes que a jovem conseguisse disfarçar. Ficaram conversando sobre trivialidades do dia, sobre a temperatura que estava amena, e o brigadeiro que estava ficando pronto.
Carlos fora rápido, como Jenny havia pediu e não tardou para aparecer na cozinha com duas caixas, uma sobre a outra, avisando que tinha pegado tudo. Só então, ele se deu conta de que havia um cãozinho rosnando para ele, e uma moça em frente ao fogão. Ele colocou as caixas no chão e disse “oi” para Sophie. Jenny fez as apresentações e notou que o ex marido olhava para Sophie com um certo ar de desejo, aquilo lhe incomodou bastante, e finalmente deu-se conta de que estava com ciúmes, mas não do Carlos…
– Isso é brigadeiro de panela? __ ele fez a pergunta para Sophie.
E antes mesmo que a jovem tivesse a oportunidade de responder, Jenny já havia confirmado. Carlos ainda insistiu, falando que a irmã costumava fazer quando eles eram criança, e que havia até sentindo saudade, para o desconforto de Sophie, ele ainda a “comia” com os olhos. Aquilo era realmente desrespeitoso e sem noção. Por sorte, e para evitar maiores danos, Jenny tratou de dispensa-lo rapidinho.
– Ah querida, quero muito conversar contigo…
– Você está sendo inoportuno, Carlos!
– Entendi, hoje é noite das meninas. Foi um prazer conhece-la Sophie.
Sophie apenas assentiu com a cabeça e sorriu amarelo.
Carlos ainda torrou um pouco paciência de Jenny querendo marcar um encontro para conversarem, então, ela comunicou que a única conversa que gostaria de ter com ele, seria para assinar o divórcio. Ele foi embora afirmando que jamais aceitaria aquilo.
Naquela altura do campeonato, quem realmente poderia entender o Carlos?
Ele mesmo admitiu certa feita, depois de sair de casa, após Jenny descobrir a traição, que nunca fora feliz naquele casamento. O mesmo, acabara de olhar de forma respeitosa para Sophie, na frente de Jenny, não fez questão de disfarçar, e mesmo assim, continuava incapaz de aceitar o fim. Continuava incapaz de aceitar que cada um poderia ser feliz seguindo caminhos diferentes.
O clima havia ficado meio tenso, quando Jenny voltou para cozinha, Sophie já tinha terminado de preparar o brigadeiro e claro, não perdeu a oportunidade de chamar a Jenny de “querida”, uma forma até mesmo de descontrair um pouco.
– Isso não foi legal, hein?!
– Você foi tão grossa com ele.
– Ele pediu por isso, Sophie!
– Ele estava tentando ser educado!
– Ah vá… ele estava prestes a dar em cima de você!
– Não! __ sim, claro que estava, mas ela não iria confirmar isso, até porque se a Jenny ainda gostasse do Carlos, não seria ela quem iria ficar entre eles. – Ele parece ainda ser apaixonado por você, e disposto a voltar para você.
– Sei…
– Por que o ciúmes, então?
– Te garanto que não foi por ele! Sophie, você ainda não entendeu que eu não o amo mais, que nunca o amei e o que ainda tinha se gostar, já acabou?!
Sophie não esperava por uma direta daquelas, até perdeu um pouco da postura. Preferiu mudar o ritmo da conversa. Mas, a verdade é que sentiu muita vontade de beijar Jenny naquele momento.
– Hum, vamos atacar esse brigadeiro?
– Você falou que não gostava!
– Não, eu disse que não gosto muito. Ou seja, eu gosto um pouco.
– Me iludiu. Vem, vamos para sala, assistir e comer!
– Ok… “querida”!
Jenny gargalhou e depois tentou firmar expressões de alguém que ficara brava com a brincadeira, sem muito sucesso. Foram para sala, escolheram alguns filmes, mas acabaram desistindo e optaram por continuar ouvindo as músicas. Engataram uma conversa animada, até o James interferiu, aparentemente querendo brigadeiro também.
– Ele não pode!
– Sério?
– Foi o que a veterinária disse.
– Veja só, James, que veterinária má. Mas, para sua sorte, eu tenho algo aqui.
Jenny foi até a dispensa e voltou com uma caixa de coisas para cães, de brinquedos a comidinhas. Um ossinho de brinquedo fez a alegria do cãozinho, que o pegou com todo o cuidado que poderia ter e foi para perto da porta brincar e morder o osso.
Sophie ficou ainda mais encantada ao ouvir Jenny confessar que havia ido até um pet shop comprar aqueles objetos para James.
– Você é uma fofa!
– Vai me deixar tímida, Sophie!
– Não sei porque, mas gosto de como soa meu nome, quando você o diz!
– É?
– Sim.
– Sophie!
– Para!
– Sophie! Sophie! Sophie! …
– Louca.
– Estou…
O silencio que se instalou foi angustiante, e para quebrar aquele clima, Jenny passou os dedos melados de brigadeiro no rosto de Sophie, que por sua vez, encarou a mulher a sua frente, tentando fazer sua melhor performance de indignada e sorriu maliciosamente. É certo que Jenny leu os pensamentos da jovem, e antes mesmo a execução do ato, ela já gritava “não”, “nem pense, Sophie”, entre risos e uma tentativa frustrada de parecer séria. Tarde demais, a jovem melou o rosto de Jenny com brigadeiro.
– Ah Sophie, agora você terá que limpar!
A jovem colou a panela de lado. – Tem certeza?
– Tenho!
Sophie puxou Jenny um pouco mais para junto de si, e passeou os lábios rente ao rosto dela, retirou o brigadeiro entre beijos e delicadas lambidas. Mas, é verdade, que aquele ato a fez sentir o corpo arrepiar e a face esquentar, sorriu com a boca ainda colada ao rosto da mulher de olhos azuis brilhantes. Jenny segurou o rosto de Sophie e afastou-se um pouco.
– Você é muito bonita!
– Você também é Jenny, e está apertando meu rosto!
– Uhum…
– Sério, está apertando mesmo!
– Quero te beijar, Sophie!
– Jenny…
– Preciso…
Jenny a beijou…
Tomou Sophie em seus braços e a abraçou.
Sentiu o corpo da moça amolecer em seus braços, como quem deixa a defesas ruírem. E aquele beijo de saudade, logo ganhou retribuição. Os dedos de Sophie, ainda melados de brigadeiro, lambuzaram a boca de Jenny. O beijo teve o sabor acentuado do chocolate, e o gemido despertado pela leve mordida de lábios.
Jenny jogou-se sobre Sophie, e não houve resistências…
Retomaram um beijo que já não era mais de saudade e sim, tesão.
Os corpos ardiam, as carias e os beijos eram mais intensos, com mais paixão. As coisas estavam tomando outros ritmos, quando Sophie interrompeu, falando que não podia, que não estava pronta e talvez, fosse melhor ir para casa. Jenny insistiu para que ela ficasse, ressaltou que nada precisava acontecer, aos poucos e entre beijos mais calmos, Sophie acabou ficando.
(Com a palavra, Jenny) … foi uma sensação indescritível dormir abraçado com ela. Acordei no dia seguinte me sentindo uma adolescente, fiquei olhando-a, fazendo carinho nos cabelos e percebi que ela já estava acordada e nada disse no intuito de que eu continuasse a fazer-lhe carinhos. E quando meus dedos escorregavam para sua nuca, seu corpo estremecia e a pele arrepiava. Sinceramente, era difícil manter o controle. Aquela garota estava mudando a minha vida, me fazia ter pensamentos e atitudes que até então, me eram desconhecidas. Uma coisa era fato, eu estava perdidamente apaixonada.