7
À flor da pele III
Sophie já deveria ter aprendido que nem sempre as coisas saem conforme o planejado.
Havia passado algumas semanas, provavelmente um mês, e ela sentia como se tudo dentro de si, estivesse bagunçado.
Helena continuava etando as suas clientes, e as poucas que não haviam se intimidado por ela, Sophie tratava de inventar desculpas para não ir aos “encontros”. Verdade seja dita, a jovem estava furiosa, uma mistura de raiva e preocupação, que não conseguia entender, muito menos conciliar, e tudo por conta de uma mulher que ela tinha encontrado apenas duas vezes.
Por mais que tentasse encontrar distrações, sempre acabava lembrando daqueles olhos, do sorriso e de como a Jenny estava desolada da última vez que estiveram juntas. Tentava acreditar que ela havia se acertado com o esposo, e que deveria parar de se torturar tanto por não ter notícias. Mas, aquele silencio era angustiante demais para ela, ao mesmo tempo que tentava se convencer de que tudo estava bem, pensava que algo poderia ter acontecido com Jenny, já que nem mesmo as ligações ela retornara. Sua aflição apenas foi sanada no dia que, passando em frente a um restaurante e por acaso ao olhar pela janela, viu uma fisionomia conhecida, e sim, era a Jenny, ao que parecia, almoçando com alguns colegas de trabalho, Sophie até pensou em entrar e cumprimenta-la, mas acabou sentindo raiva, deu de ombros e foi embora, jurando para si mesma que aquela mulher havia morrido para ela. Seria como se ela nunca tivesse a conhecido.
No mesmo dia, Helena ligou e Sophie atendeu.
Helena desejava ter um encontro com ela, e Sophie aceitou.
Marcaram no restaurante de sempre, mas não houve muita conversa.
Não tardou para estarem em um quarto de motel, jogadas na cama, tentando respirar com o pouco de ar que ainda tinham.
– Nossa, com toda certeza, essa transa superou todas as nossas outras! ___ falava uma Helena ainda arfante.
– Pois é…
– Isso tudo foi saudade? ___ e fez carinha de quem sabia que a resposta seria negativa.
– Talvez, mas não quero ficar conversando, Helena. Será que você já recuperou seu fôlego?
– Você não está falando sér …
Não houve tempo para que a frase fosse concluída.
Pensou Sophie que se Helena conseguia falar, significava que ainda tinha fôlego.
Em um movimento rápido, já estava sobre Helena e prendendo suas mãos acima da cabeça, beijando-lhe e mordendo o queijo, pescoço… ora mordidas leves, ora mordidas mais fortes, e quando Helena soltava gemidos que misturavam dor e prazer, despertava em Sophie mais vontade de transar, não de forma suave, e sim ao estilo Christian Grey: “Eu não faço amor, eu fodo com força” (Cinquenta Tons de Cinza) *
E foi exatamente o que aconteceu.
Naquele dia, Sophie não quis aceitar o pagamento que Helena insistia em pagar, a jovem sabia que não tinha ido por trabalho, mas para esquecer. Precisava esquecer.
Helena não insistiu em um reencontro, mas informou que precisaria da ajuda de Sophie em uma viagem. Seria uma rápida viagem de negócios e a missão de Sophie: Seduzir e deixar a esposa de um dos associados de Helena fora da sala de reuniões tempo suficiente para que Helena conseguisse manipular o pobre moço e finalmente fechar uma transação.
– Será fácil, muito fácil!
– Nada é tão fácil quanto parece, Helena.
– Existem vários comentários de que a esposa do Celso gosta de passear pelo arco íris de vez em quando. Dizem que ela não resiste a uma bela mulher.
– Uhum sei, mas, não seria mais fácil encontrar esse tal de Celso fora da empresa, tentar negociar com ele em um lugar onde ela não os encontrasse?
– Não meu amor, já tentei isso. Já tentei outras coisas, mas ela parece um cão que não quer largar o osso. Parece que colocou um GPS nele, preciso que você faça ela perder a noção do tempo e só apareça na sala de reuniões, depois do Celso ter assinado aqueles benditos papeis.
– Hum, não sei…
– Ah, vamos! Será uma viagem divertida, a cidade é bem bonitinha. E vou te pagar bem!
– Acho que não terei nada mesmo para fazer, tudo bem! Mas, consiga para mim algumas informações sobre essa mulher, é bom estar preparada. Quando as tiver, entra em contato comigo que vou buscar, esteja com metade do dinheiro também.
Sophie foi embora, sem olhar para trás e sem se arrepender de ter decido enganar alguém. A única coisa que queria era chegar em seu apartamento, tomar um banho e cair na cama.
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _
No dia seguinte, a raiva ainda dominava Sophie, mas ela sentia raiva de si mesma por deixar que uma mulher, ainda por cima casada, mexer tanto com ela e bagunçar sua vida daquele jeito. Relembrava toda selvageria do sexo com Helena, e por que? Por raiva da Jenny. Marcou com outras clientes, estava disposta a esquecer que um dia passou por aquele parque e esbarrou naquela mulher.
O primeiro encontro fora na parte da tarde, com Celina. Uma mulher de meia idade, cabelos louros, maquiagem discreta, andar elegante e sorriso radiante. O encontro foi dentro de um provador, em uma loja no shopping, dessas que vende roupas de grife famosas. Sophie deveria se apresentar a Celina como se fosse uma das vendedoras, até mesmo sugerir qual roupa ela deveria experimentar, o que combinava ou não. Celina escolhia a peça e ia para o provador, Sophie entrava logo em seguida, nada era dito, só havia um olhar, o beijo, a mão de Sophie vencia o obstáculo das vestes e com facilidade os dedos escorregavam para dentro de Celina.
Era assim que Celina gostava, nada de palavras, de joguinho barato de sedução, enquanto Sophie muitas vezes pensava, que ela era quem deveria pagar a cliente por aqueles momentos, ver uma mulher aparentemente tão recatada transformando-se em uma devassa, gemendo e rebolando em seus dedos, esquecendo-se de que estava em um provador de roupas, e muitas vezes, obrigando Sophie a abafar seus gemidos com beijos, para que não fossem descobertas. Era excitante e divertido!
Quando saiu do provador, foi direto para casa, tomou um banho e ligou para Carol, confirmando o segundo “encontro”, ao menos aquele seria a noite. Sophie começava a se empolgar, Scarlet estava de volta e não havia vestígios de Jenny em seu cabeça, nada de olhos azuis penetrantes, e então sentiu o corpo arrepiar ao lembrar de como Jenny a olhava nos olhos. E praguejou por deixar-se lembrar, praguejou por entender que aquela mulher ainda estava em sua mente. Balançou a cabeça e afastou aquela imagem, aproveitou o resto da tarde para passear com a James.
Às vinte horas, como combinado, Sophie apresentou-se na recepção do Brumas Palace Hotel, o hotel mais famoso e caro da cidade, estava curiosa para saber quem a contratou e marcou para encontrá-la em um lugar onde até mesmo, presidentes e bandas famosas, empresários e artistas se hospedavam.
– Boa noite, meu nome é Scarlet e a senhora Mi …
– Scarlet?
Sophie virou-se para ver quem pronunciava seu nome com certo ar de surpresa! E a visão que teve foi, porque não dizer que quase divina: uma ruiva de olhos esverdeados, altura mediana, dentro de um vestido preto não tão curto, mas que deixavam um pouco as coxas amostra, e o decote dando destaque ao colo, que fizeram os olhos de Sophie seguirem um caminho até onde foi permitido.
– Sim, sou a Scarlet! ___ e desejou profundamente que aquela fosse a sua cliente.
– Você é pontual, e muito bonita! Vamos?
– Você é a senhora Miranda?
– Em pessoa, mas vamos parar com o tal “senhora”, e pode me chamar de Rafaela.
Minutos depois, estava Sophie e Rafaela no restaurante do hotel, embarcando em uma conversa trivial. Tomaram algumas taças de vinho, e Sophie logo percebeu um certo nervosismo da parte da cliente, decerto era a primeira vez que fazia aquilo, e estava na hora de Scarlet entrar em ação.
– Podemos terminar esse vinho em outro lugar?
– Outro lugar?
– Se você quiser, um lugar onde possamos ficar mais à vontade!
Rafaela apenas pagou a conta, pegou outra garrafa de vinho, taças e seguiram para o quarto onde ela estava instalada. Abriu a porta, e esperou que Sophie passasse por ela, para assim poder puxá-la e beijar. Num repente, a garrafa e as taças estavam de lado, Sophie estava sentada em um balcão, com as pernas enlaçadas na cintura da ruiva e o beijo ganhava intensidade e gemidos. O beijo foi pausado, Rafaela conduziu Sophie até a cama, e não deixou que qualquer palavra fosse pronunciada. Sophie piscou os olhos e a ruiva deu lugar para Jenny, talvez estivesse tendo uma alucinação, mas sorriu e entregou-se, permitiu que a ruiva fizesse o que bem entendesse, e fez questão de retribuir cada sensação, cada orgasmo, e quando Rafaela fez ecoar o nome Scarlet pelo quarto, foi como se Sophie despertasse de um sonho erótico e finalmente percebeu que não era Jenny e sim a ruiva quem estava ali.