Um olhar do destino

18 – Consequências ou destino? II

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Consequências ou destino? II
 

Era inverno, as noites já eram mais frias, o vento uivava, e às vezes, até chovia. Haviam passado semanas desde o último encontro entre Sophie e Jenny.

Fernando não sabia o que havia acontecido, todas as vezes que se encontrou com Sophie, fosse no barzinho do Joe em um encontro entre amigos ou ao acaso, era tratado com indiferença. Ligava sempre para Jenny, mas a mesma nunca o atendia ou retornava as ligações. O mesmo que a Jenny fazia com o Fernando, Sophie fazia com ela, não atendia as ligações e evitava todas as possibilidades de se encontrar com ela.

Sophie estava decida a usar todas as armas que tinha para poder esquecer Jenny, por isso decidiu que procuraria Helena, precisava vê-la, para dizer que aceitava o convite de ir embora daquela cidade. Também precisava dizer quais eram as suas condições para embarcar em tal aventura, talvez, ir embora com Helena fosse o melhor remédio e um recomeço necessário. Não conseguia mais continuar naquele lugar, ninguém lhe despertava mais desejo, nenhuma das suas clientes, que já nem eram mais clientes, bom, nenhuma delas lhe pareciam interessantes o suficiente, nem mesmo para arrancar-lhe um sorriso sincero.

Ligou para Helena, falou que queria vê-la, marcaram no restaurante de sempre. E por ironia do destino, aquele dia parecia o primeiro dia: O vizinho fechara seu carro na garagem, tomou um táxi, e percebeu que aquele era o mesmo motorista, ainda brincou perguntando se o carro havia sido consertado ou se corriam o risco de morrerem sufocados pela fumaça. Daquela vez não foi a fumaça, mas o transito muito lento na principal avenida, que a fez ter a ideia de sair do táxi e apenas atravessar o parque. E enquanto atravessava o parque, não com a pressa que houve naquele dia, mas com a tranquilidade de quem começava a criar algum tipo de paz para si mesma, sentiu um pequeno tombo, não era a Jenny, e sim uma criança que brincava de correr. Notou que tudo tinha ar de despedida, era a de fato a despedida de algo que foi incrivelmente bom, mas que também ainda causava muita tristeza. Atravessou o parque!

Logo alcançou o restaurante, entrou e sentou na mesa de sempre. Reconheceu um rosto em uma das mesas, era o Carlos, o ex-marido da Jenny… viveu os últimos dias fugindo dela para esbarrar justamente com o ex-marido, o motivo pelo qual elas se conheceram. Pareceu-lhe que naquele dia, os fantasmas a perseguiam.
Carlos também reconheceu Sophie, na verdade, assim que a moça adentrou o restaurante, tudo à sua volta parou de tanto que era a raiva que ele sentia por ela. Queria culpar alguém pelo fim do seu casamento, e jamais iria reconhecer que a culpa havia sido dele ou da Jenny, mas seria para sempre daquela mulher. Precisava dizer a ela algumas verdades e reforçar as palavras que havia dito para Jenny, elas jamais seriam felizes juntas, pois ele não deixaria. Levantou da mesa aonde estava e caminhou seguro de si até a mesa onde Sophie estava sentada, olhou-a furioso, e tentou disfarçar.

– Posso sentar aqui?
– Já sentou. Olha Carlos, estou aguardando uma pessoa.
– É a Jênnifer? Vocês não têm vergonha? Vocês sabem que eu não vou deixar essa história barata né?
– Ei, primeiro, fala baixo! Segundo, eu não tenho que te dar nenhuma satisfação. Terceiro, qual o seu problema? Foi você que traiu ela, deve estar com a amante até hoje ou ficando com outras mulheres, você a desrespeitou e não a ama, então, me diz o porquê de todo esse teatro?

Carlos não gostou nem um pouco das palavras de Sophie, a raiva que tentava disfarçar, para manter a conversa em um tom suave, porém ameaçador, foi embora. Passou o braço sobre a mesa e logo sua mão estava segurando o braço da Sophie com força, e de nada adiantou ela olhar para ele como quem nada temesse ou ordenasse que ele a soltasse pois estava machucando-a!

– O que está acontecendo aqui?
– Helena?! __ era Carlos surpreso, ao reconhecer aquela voz.
– Helena! __ era Sophie agradecida e aliviada por ela finalmente chegar.
– Carlos, solte o braço da Sophie, o que está acontecendo?!
– Helena, você conhece esse cara?
– Sim Sophie, o Carlos é o arquiteto chefe de uma das minhas empresas e meu cunhado!
– Ela não precisa saber disso, Helena. Você não tem que contar tudo para as pessoas desconhecidas.
– O que eu ainda não entendi, é porque você estava segurando o braço da Sophie, quem vai me explicar?
– Não tem o que explicar, Helena! Certo, Sophie? __ tentava assim, Carlos fugir do assunto.
– O Carlos estava tentando me ameaçar para que eu me afaste da Jenny… a esposa dele. Que o pegou transando com alguém, e ele não quer dar o divórcio a ela. Mas, Helena, se você é cunhada do Carlos, você é irmã da Jenny? Então, porque não me falou na festa?
– O Carlos tem uma relação de quase cinco anos com a minha irmã, eles têm dois filhos, e a minha irmã se chama Sandra, não Jenny! Eles não são casados Sophie, acontece que esse cretino vem enrolando minha irmã por anos, falando que vai largar a esposa, mas sempre que isto está prestes a acontecer, a esposa fica doente, entra em depressão, tenta se matar, as desculpas são muitas! Mas, a Jenny que eu vi no evento em minha casa, não tem perfil de uma pessoa que tenta cometer suicido!

Helena sentou, e começou a contar toda a história para Sophie, que ouvia atentamente para que não perdesse nenhum detalhe, já Carlos, tentava encontrar desculpas ou alguma explicação plausível. Quando ouviu a Helena falar que iria contar tudo aquilo para irmã, e que ele nunca mais veria os filhos, parece que algum momento de lucidez tocou o Carlos, que falou insistentemente que faria qualquer coisa, mas que não poderia ficar sem ver os filhos. Foi então que Sophie teve a ideia, sabia que manipular Helena seria fácil, e que a convenceria de não contar nada para a irmã. Então fez sua proposta.

– Assine o divórcio. Deixe a Jenny livre, para que ela possa retomar a vida dela, com quem ela quiser, da forma que achar melhor. E vá tentar ser um bom pai e marido com a … Sandra? Isso, com a Sandra!
– Tudo bem, eu aceito. __ não, o Carlos não aceitou tão rápido como parece, mas ele acabou aceitando sim. Não via uma saída melhor. Aceitou e saiu da mesa, passou pela mesa onde estava com alguns amigos e despediu-se, foi embora.

– Sophie, não sei se isso é o certo.
– Sua irmã ama ele?
– Sim!
– Ele gosta dos filhos, não posso afirmar sobre o que ele sente pela irmã. Deixe que ele se divorcie e tente, se não der certo, talvez, até a sua irmã coloque ele para fora de casa. Deixe que ela decida isso, por favor.
– Você ama mesmo essa Jenny!
– Só acho que se posso fazer algo de bom, depois de tantas coisas, porque não? Mas, esqueça eles, te chamei aqui porque quero contar algo.
– O que…?
– Você não faz ideia?
– Tomara que seja o que estou pensando.
– Eu aceito. Aceito ir contigo para o Sul.
– Aí como é bom ouvir isso!
– Mas, Helena…
– Eu sei… eu sei, não vais como minha namorada, apenas como uma amiga. Tudo bem, posso aceitar. Mas, eu vou tentar te conquistar, vou tentar o máximo que eu puder, até minhas ultimas forças, fazer você se apaixonar por mim.
– Na verdade, eu ia falar que não vou trabalhar mais como garota de programa, e que por isso, você vai ter que me arranjar um emprego. E quanto a nós, eu amo a Jenny, mas estou disposta a esquece-la, então, não te prometo nada, mas se você souber ser paciente, quem sabe, nós podemos nos acertar!

….

Daquele dia, Jenny não esqueceria. Chegou em casa do trabalho e viu que tinha recado na secretaria eletrônica. Era do Carlos, falava com voz de quem havia participado de uma guerra, dizia que tinha pensado melhor, e que não seria ele quem iria ficar no caminho da felicidade dela, que não havia necessidade de partirem para uma separação litigiosa, assinaria o divórcio e a deixaria livre dele para sempre.

Ela suspirou profundamente e comemorou aquela noticia em silencio. Estava tão cansada e triste, não daria conta de entrar em uma pequena luta judicial para separar-se do Carlos. Queria contar aquela notícia para alguém, o que ela queria mesmo era compartilhar aquela novidade com a Sophie, mas a moça não queria saber dela, e ela precisava respeitar isso. Seu celular tocou, olhou para tela e reconheceu o número, era a Sophie, logo pensou que aquilo era um sinal, não pensou mais em nada e atendeu a ligação.

– Sophie, você não vai acreditar no que aconteceu!
– Antes, eu preciso te contar algo.
– Fale, por favor!
– Olha Jenny, eu pensei muito e acabei tomando uma decisão.
– Que decisão?! __ Jenny temia o que viria naquela resposta, seu sorriso se desfez.
– Eu vou embora com a Helena.
– Não Sophie, isso não está certo. Tudo bem que o Sul é um lugar lindo, mas você não deve ir embora, ainda mais com essa mulher. Ela só vai ser mais uma para se aproveitar de você.
– Jenny, está bem. Vamos para com isso!
– Como assim, com isso o que?
– Fica toda do contra porque eu vou embora, principalmente por ser com a Helena, mas não consegue admitir o verdadeiro motivo. Não me dá um motivo para eu ficar!
– E qual motivo eu teria, Sophie, você é uma amiga, e acredito que está tomando uma decisão errada.
– Amiga? Sei… você, de uma forma perturbadora e estranha, vem me envolvendo e dando em cima de mim desde quando nos conhecemos, não negue que se apaixonou, pude sentir isso em todos os nossos beijos. Talvez você não consiga enxergar que essa paixão se tornou maior do que podíamos prever, diz que gosta de mim apenas como amiga, mas não tem segurança nas próprias palavras, apenas fica tentando se convencer disso. Vou embora com a Helena, não porque estou apaixonada por ela, mas porque preciso me afastar de você e de tudo que me faz lembrar de você, porque se você consegue fingir que não sente nada, e ainda dormir com meu melhor amigo, tudo bem. Mas eu não sou assim, e a Helena, bom, ela não tem preconceito, ela me aceita e talvez, quem sabe, possamos vir a ter uma relação no futuro. Se você quer que eu fique, me dê um motivo valido!

Jenny sabia que tudo que lhe foi dito era verdade, só não conseguia ainda admitir tais coisas. Ficou em silencio, e as vezes, o silencio pode ser um grande amigo, em outras, o pior inimigo.

– Ok Jenny, novamente seu silencio, eu já vou. E, eu viajo em dois dias, se cuida. Adeus!

Sophie não conseguiu esperar a moça do outro lado dizer ‘adeus’, talvez, não tivesse mesmo era capacidade para escutar aquela palavra, vindo da sua amada. Do outro lado, Jenny, sentia-se em choque, sentia algo pior do que quando havia colocado o Carlos para fora de casa. Ela não queria que a Sophie fosse embora, mas, também não conseguia admitir que era porque a queria consigo. Queria gritar para que ela ficasse, mas não fez. A sensação da perda ficava cada vez maior.

Passou dois dias, nessa angustia total, não dormiu, não se alimentou, e quando não via mais luz, entendeu que aquele sentimento que foi plantado e regado cada dia, a cada conversa, riso, beijo… ato de cumplicidade. Aquele sentimento que era apenas um grãozinho, cresceu, enraizou e se tornou amor. E não havia preconceito ou raiva, que fosse maior que o amor. Mas, já era tarde, naquele dia, Sophie partiria para sempre, e ela nunca mais a veria.

Sentiu que estavam arrancando um pedaço dela à navalha e sem anestesia, parecia coisa de menina mimada que quer tudo para si, mas não era. Afinal, ela compreendeu que não era tudo o que queria, e sim, a Sophie, embora naquele momento, ela percebia cada vez mais, o quanto a Sophie era o seu tudo.



Notas:



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