17
Consequências ou destino?
“- Ah Jenny, por favor, você sabe que me apaixonei por você. Sabe que não quero apenas tua amizade, mas também sei que por mais que eu tente, você nunca vai conseguir me aceitar, ou me perdoar por eu não ter contado tudo isso antes…
– Sophie, eu…
– Eu já sei Jenny, você não pode, não consegue… não faz parte do seu mundo, e eu sou a pessoa que conseguiu ser pior que seu ex-marido, não é isso? Não foi isso que você me disse? Eu sabia que você não conseguiria passar por isso, talvez por isso, apesar de ter sentido vontade de te contar tudo desde o primeiro dia, eu não contei, porque sabia que seria assim. E foi por isso que quando a Helena me convidou para ir embora com ela, fiquei muito tentada a aceitar, talvez seja o melhor para a gente.
– Então é isso? Você só sabe fugir? Você vive fugindo… porque não fica, encara a vida de frente, muda de vida… você é tão inteligente, talentosa e não precisa manter esse tipo de vida. E sempre terá a minha amizade, não precisa sair da minha vida!
– Acho que você não me ouviu Jenny… tudo bem. Acho melhor você ir embora, talvez, nem deveria ter vindo, tenho compromissos, preciso me arrumar e sair.
– O que eu não ouvi?
– Que não sei ficar ao teu lado fingindo não sentir nada, fazendo esse papel de amiguinha.
– (silencio absoluto)
– É … não tem o que falar. Jenny, vai embora. Preciso sair.
– Quer saber, faz o que você quiser. Vai embora com a Helena, se cuida!
– Cuide-se também! ”
Sophie abriu a porta e Jenny passou por ela, nitidamente abalada, não pensou que uma conversa para amenizar as coisas, acabaria piorando tudo. As palavras ditas, faziam festa em sua mente e ainda se misturavam a raiva, sim, raiva ao imaginar que o compromisso que Sophie teria, era estar nos braços de alguma outra pessoa.
Jenny desejava pensar diferente da forma qual lhe ensinaram a pensar, mandar o preconceito às favas e jogar-se nos braços da amada, mas tudo aquilo parecia ser demais para ela. Por isso acreditou que deveria beber, precisava assimilar todas aquelas informações. Sophie gostava mesmo dela e não apenas como amiga, ela a queria. Mas tinha a Helena e o maldito convite para levar sua a garota para longe, e talvez fosse uma boa ideia ficar afastada da Sophie, poderia fazer com que os sentimentos morressem. Entrou no primeiro barzinho que encontrou, sentou no banco de frente para o bar, e pediu a primeira dose de tequila.
Em casa, Sophie passava pela pior crise insônia que já tivera, acompanhada do seu cão e amigo mais fiel e uma garrafa de whisky. No barzinho, Jenny já embriagada, contava toda sua história para o barman. Sentado em um dos outros bancos estava Fernando, que mal acreditava em tudo que ouvia, mas se tudo aquilo era verdade, o mais certo era sentar ao lado de Jenny e cuidar dela, pois a mesma bebia como se o dia seguinte não fosse mais existir, porém, existiu.
Pela manhã, Jenny acordou sem lembrar de quase nada da noite passada. Passou a mão pelo rosto e antes mesmo de abrir os olhos, fez esforço para recordar o que havia acontecido. Conseguiu visualizar flashs, apenas flashs. Aos poucos lembrou da conversa com Sophie, do carro em alta velocidade, a música alta, lagrimas escorrendo, a vontade de beber para poder esquecer tudo que foi dito. E as lembranças acabaram de repente.
Ela abriu os olhos rápido, de susto. Sentiu um peso sobre as pernas, e quando olhou quase que rezando, implorando aos céus que não tivesse feito a besteira que achava que havia feito, era tarde demais, reconheceu aquele rosto, Fernando. Quase surtou, não podia acreditar naquilo, empurrou a perna do rapaz, com cuidado para que ele não acordasse, não queria ser vista, e saiu em direção ao banheiro. Olhou-se no espelho e tentava encaixar as lembranças, como em um jogo de quebra-cabeças. Lembrava que havia saído do apartamento da Sophie, que entrou no primeiro barzinho que encontrou, ficou sentada em um dos bancos do balcão e pediu tequila. E as imagens começaram a se encaixar, o Fernando sentou ao seu lado, surgiu do nada e começaram a conversar, beberam e riram das próprias desgraças… era isso, ela acabou indo para cama com ele!
Mas, porque ele, justo o amigo da Sophie. Sua mente a condenava e ainda lhe alertava, dando a certeza de que ele iria contar tudo para a amiga, que por sua vez teria os piores pensamentos a respeito dela.
Se olhava no espelho e perguntava-se quem era ela naquele momento, qual moral poderia ter para julgar a Sophie ou quem quer que fosse, se na primeira oportunidade, transara com o melhor amigo da pessoa que na noite anterior abriu a vida e todos os sentimentos para ela, e ainda por cima, não conseguia lembrar da transa de tão bêbada que estava.
Jenny saiu do banheiro e não tinha coragem de acordar o Fernando, vestiu-se e tentou ir embora. Sim, tentou, pois quando a vida quer brincar com alguém, ela sempre dá um jeitinho. Jenny estava abrindo a porta, do outro lado, Sophie apontava o indicador para a campainha, a porta abriu antes que Sophie a tocasse, e para surpresa de ambas, ali estavam elas novamente, cara a cara.
Sophie não conseguiu esconder a decepção …
– Nossa!
– Sophie, eu posso explicar!
E ali estava a pior frase que poderia ser dita naquele momento. Sophie analisou, e era a mesma roupa da noite anterior, só que amassada, assim como os cabelos, além da expressão de culpa estampada no rosto de Jenny, o que ela poderia explicar?!
– Você dormiu com o Fernando?
A pergunta era tola, e ela já sabia da resposta, mas precisava ouvir. Porque ainda não podia acreditar, depois de ter perdido a noite, depois de chegar à mais óbvia conclusão de que estava amando aquela mulher, a encontra em situação suspeita na casa do seu amigo. Precisava ouvir…
– Não é exatamente assim… eu… eu posso explicar tudo.
– Não pode, já respondeu o que eu precisava. Esquece, estou cansada demais, e no final das contas, somos apenas amigas, não é?
– Sophie!
– Esquece Jenny, divirtam-se!
Sophie não mentiu, estava mesmo cansada de tudo aquilo, estava pior que jogo de gato e rato. Jenny ficou sem saber se o “esquece” era a Sophie falando para si mesma que deveria esquecê-la ou se era apenas para esquecer a parte de dar uma explicação.
Jenny voltou para cama, deitou ao lado de Fernando que ainda dormia, como alguém conseguia dormir daquele jeito? Houve barulhos, e ainda assim, ele não acordou. Jenny fazia reflexões sobre a vida, de como as coisas funcionavam e não conseguiu chegar à conclusão alguma, só sabia que o destino estava de sacanagem com ela. Continuou deitada por mais algum tempo, e quando percebeu que o Fernando ameaçava a acordar, levantou da cama às pressas e foi embora.
Era o fim, era inverno e nada podia ser tão ruim, tudo estava triste, escuro e frio.
Mas, quantas e quantas vezes, por acreditarmos que chegamos ao fundo do poço, não conseguimos ver a tão famosa luz, não conseguimos enxergar as coisas mais obvias. Quantas vezes acreditamos ter chegado ao fim, e na verdade, acabamos percebendo que aquilo não é fim, e sim o começo, a melhor parte:
Sophie voltava para casa, e pensava que nunca havia sentido uma dor como aquela, não era dor física, mas doía como tal. Como se alguém tivesse a acertado em cheio e arrancado alguma parte dela, se sentia ferida e sangrado. Declarou-se para a mulher que amava e ela dormiu com o seu amigo. Contou toda a sua vida, se expôs de uma maneira qual nunca havia feito, e foi traída das piores formas possíveis. Teria sido vingança? Já não importava mais, Sophie queria acreditar que já não se importava mais. E por isso estava decida, não haveria de se importar mais com a Jenny, daria um jeito na dor que estava sentindo, independente do quanto ou do que fosse custar, não queria saber quanto tempo levaria, mas a Jenny, a partir daquele momento não seria mais um problema seu, não era mais da sua conta. Sim, ela estava furiosa, e iria se defender ou proteger-se como todo e qualquer animal ferido faz.
Música para este capítulo: