Sem Fantasia
Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu
Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus
CHICO BUARQUE
Sou agrônoma formada há menos de um ano e
minha orientadora me indicou para uma vaga
em uma fazenda de porte médio, aqui em
Ribeirão Preto. A cidade é bonita, muito grande,
movimentada e extremamente quente. De cara
sinto que vou me adaptar rápido.
Chego no dia da entrevista e preciso descobrir
como faço pra chegar à fazenda a tempo de falar
com o administrador, que marcou a entrevista
para as 16 horas. Problemas técnicos
resolvidos, chego 20 minutos antes do horário. O
lugar é muito bonito e me parece bem
organizado. Saio do carro e vou até a casa onde
me indicam, lá me pedem para aguardar que o
administrador estava ao telefone e logo me
chamaria. Acendo um cigarro e me encosto na
velha e fiel companheira, minha caminhonete
Chevrolet 63 vermelha.
É quando a vejo, uma mulher pouco mais alta
que eu, de óculos escuros, corpo magro, mas
com lindos contornos, cabelos até os ombros cor
de chocolate, boca linda e com batom cor de
terra, a pele é morena clara, está com roupa
típica de quem vive numa fazenda, a boa e velha
calça jeans, camisa azul com as mangas
dobradas até os cotovelos e bota preta. Ela vem
na direção da casa, seu caminhar é um tanto
imponente e quando se aproxima um pouco
mais, dá pra ver que deve ter uns 45 anos. Passa
por mim e me olha, logo vira o rosto e entra na
casa. Depois de uns quinze minutos, me chamam
para conversar com o administrador.
Entro na sala e vejo que a mulher que vi
caminhando está lá.
– Boa tarde, sou o Jorge administrador da
fazendo Santa Clara. – diz com simpatia já
estendendo a mão para me cumprimentar.
– Boa tarde senhor Jorge, sou a Clara e vim para
a entrevista de emprego. – apertamos as mãos e
ele faz um gesto para que me sente na cadeira
em frente a ele.
A tal mulher está sentada na outra cadeira com
as pernas cruzadas, um braço apoiado na perna
e outro no encosto da cadeira, meio que de lado
pra mim. Confesso que sua presença me deixa
um pouco tímida, acho que por sua postura um
tanto esnobe.
Enquanto respondo tudo o que o Jorge me
pergunta e também questiono alguns pontos,
noto que a tal mulher não diz absolutamente
nada, apenas continua me avaliando.
– Bom Clara gostei do seu currículo e você foi
indicada por uma grande amiga minha da época
de faculdade, até amanhã a tarde te ligo para dar
uma resposta ok?
– Obrigada!
Nos levantamos e apertamos as mãos, olho pra
tal mulher e digo boa tarde, ela apenas balança a
cabeça. Se for contratada, rezo que nunca tenha
que trabalhar diretamente com ela, seja ela
quem for.
Resolvo dar uma volta pela cidade e decido
jantar num restaurante japonês, depois vou para
o hotel descansar. Apesar da expectativa,
consigo dormir bem e acordo lá pelas 9, tomo
banho e vou caminhar pela cidade.
Quando é umas 16 horas, meu celular toca e é o
Jorge me dizendo que fui aprovada e se posso ir
até lá para resolvermos problemas como onde
vou morar etc. Chego lá e está apenas o Jorge,
conversamos e ele me instrui de quais as
atividades pertinentes ao meu trabalho e como
são algumas regras da fazenda. Me diz que tem
uma espécie de alojamento na fazenda onde
algumas pessoas preferem morar, digo que
prefiro um canto meu, longe de onde trabalho e
ele diz que tem uma casa pequena fechada e que
poderia me alugar. Vamos até a casa, que está
conservada, mas que precisa de uma pintura
para dar um tom mais alegre. Fechamos o
acordo de aluguel e ele me indica alguns lugares
onde posso achar alguns móveis baratos.
Chegando ao hotel ligo e combino com minha
irmã de mandar minhas coisas para meu novo
endereço. Hoje é sábado e como vou começar
segunda, resolvo ir até uma loja de materiais de
construção comprar tudo para poder pintá-la.
Eis que quando saio da loja, dou de cara com a
tal mulher esnobe que encontrei na fazenda.
Dou uma disfarçada, coloco as coisas na
caçamba e finjo que não a vi.
Ela se aproxima de mim, tira os óculos escuros e
diz:
– Boa tarde.
– Oi, boa tarde.
– Parabéns, conseguiu o emprego. Meu nome é
Isabelle.
– Ah obrigada, estou bem feliz. Prazer, sou a
Clara.
– Já começa segunda.
Acho estranho ela saber que consegui o
emprego e ainda mais o dia que começo, deve
ser íntima do Jorge. Nessa hora paro e olho pra
ela.
– Desculpa a pergunta, mas como sabe?
– Hum, talvez porque eu sou a dona da fazenda?
– diz com um tom provocativo.
– Ah…
– Vai pintar a casa?
– Sim, aproveitar que está vazia ainda.
– Por acaso é a casa do Jorge que fica aqui perto
da matriz?
– Nossa você deve ter uma bola de cristal
infalível! Acerta tudo! – digo e dou risada.
– Sei onde fica. – e dá um sorriso simplesmente
encantador.
– Bom tenho que voltar para dar tempo de
terminar tudo até amanhã. Até segunda.
– Até.
Vou pra casa e começo a arrumar tudo. Lá pelas
oito da noite, já cansada e louca por um banho e
cama, vou me arrastando ao hotel. Domingo
acordo toda dolorida, mas resolvo terminar tudo
na casa. Como minhas coisas chegarão terçafeira,
decido comprar ao menos um colchão para
dormir no meu novo lar. Vou até uma loja e
compro um colchão de solteiro, que depois
usarei quando receber alguma visita. Estou
colocando o colchão na caminhonete e escuto:
– Nossa toda vez que te encontro você está
carregando essa caminhonete, é algum tipo de
obsessão?? – Isabelle diz com tom de
inconformismo.
– Ahh é uma obsessão maluca por comprar e
carregar objetos pela cidade toda, algo
paranoico!! – digo e dou uma gargalhada.
– Já almoçou?
– Sabe que não, até me esqueci desse detalhe.
– Ah que péssimo! Vou te ajudar, como ótimo ser
humano que sou a resolver esse problema.
Imagino que não tenha nada na sua casa certo?
– De novo sua bola de cristal acertou!
– Ótimo, me espera lá.
Devo ter feito uma cara de “oi???” porque ela ri e
diz:
– Apenas vou levar algo para você comer,
imagino que está muito cansada para enfrentar
um restaurante com fila quilométrica, errei?
– Acertou em cheio, prefiro comer miojo!!
– Te encontro daqui a pouco.
– Olha, só que lá não tem nada, mas nada mesmo,
nem prato, nem talher, terá agora esse colchão. –
digo dando sorriso amarelo.
– Eu imaginei, fica tranquila. – dá um sorriso e
sai.
Entro no carro e vou pra casa tentando entender
o que foi isso. Arrumo tudo que usei para pintar
e limpar a casa, coloco o colchão na mini sala de
estar e forro com uma colcha colorida. Casa
limpa com apenas um colchão, super-romântico,
só que não. A campainha toca.
– Preciso que me ajude. – ela me diz e já volta
pro carro.
Sigo até ela e vejo que trouxe algumas coisas.
Aliás, muito mais que um almoço.
– Trouxe uma mesinha e dois bancos, talheres,
prato e copo.
Levamos tudo para dentro, coloco a mesa e
bancos no canto da sala enquanto ela coloca as
outras coisas na pia.
– Espero que goste de comida simples.
Arrumamos a mesa e me toco que não comprei
nada nem para beber e muito menos de
sobremesa.
– Poxa você trouxe tudo, vou comprar um suco e
algo de sobremesa!
– Acha que faço as coisas incompletas? – pisca
para mim e tira uma garrafa de vinho, uma de
suco e um pote de doce caseiro.
– Uau, isso sim que é fazer serviço completo e de
qualidade!
Almoçamos de forma descontraída, bebemos o
suco e comemos um doce delicioso de figo.
– Bom, acho que agora para finalizar nada
melhor que um vinho. – ela pega o saca rolha e a
garrafa.
– Deixa que eu abro, é o mínimo que posso fazer.
– abro com destreza a garrafa e sirvo.
– Que tal sentarmos no colchão?
– Fique à vontade.
Sentamos uma ao lado da outra, me lembro que
trouxe um rádio e alguns cds. Ligo o aparelho e
coloco um cd de mpb com músicas variadas.
Quando toca a música “Sem Fantasia” que o
Chico canta com a Maria Bethania, ela me olha e
diz:
– Essa música é linda!
– Também gosto muito.
– Então será nossa música!
Olho pra ela e pergunto:
– Sabe que ela se refere a uma pessoa mais velha
se declarando para alguém mais novo?
– Lógico. Acho que ela cabe perfeitamente.
Se aproxima de mim e passa suavemente a mão
no meu rosto, coloca uma mexa do meu cabelo
atrás da orelha e sorri.
– Desde o dia que te vi encostada na picape, me
senti atraída. Na entrevista percebi que apesar
de nova, passa segurança, confiança. Admiro
isso.
– Engraçado porque quando te vi indo em
direção à casa, também me senti atraída. Na
entrevista confesso que te achei esnobe.
– As pessoas acham isso à primeira vista. – e me
dá um sorriso.
Ela vem e me beija suavemente na boca, prende
meus lábios com os seus. Com a mão, vai
brincado com meu rosto. Me puxa e me coloca
sentada de frente pra ela, sobre suas pernas. Seu
beijo é delicioso, meio selvagem, suas mãos
ficam indo e vindo nas minhas costas por baixo
da blusa, as vezes de leve e outras arranhando
devagar. Ficamos assim por um bom tempo, até
que ela arranca minha blusa e beija meu colo,
ombros e seios com certa urgência. Fico cada vez
mais excitada e quando percebe, arranca o resto
da minha roupa. Coloco as mãos por baixo da
blusa, ela arrepia. Agora morde e lambe meu
pescoço, tiro sua blusa e seguro seus seios,
aperto e passo dedos nos bicos, sinto ofegar e
seu corpo mais quente ainda.
– Menina quero você desde que te vi pela
primeira vez. – sussurra deliciosamente.
– Me pegue pra você.
Isso desperta algo insano porque na mesma
hora ela coloca sua mão espalmada entre
minhas pernas, estremeço inteira e solto
gemido, minha cabeça fica fora do ar. Ela vai
passando dedos dentro de mim, pelo lado, em
tudo. E entra em mim com força, os dedos
deslizam em movimentos firmes e precisos.
Ela está tão quente e tremula quanto eu, nossos
corpos molhados de suor e um desejo louco. Nos
movimentamos cada vez mais rápido, me beija a
boca de forma ainda mais selvagem e sinto que
não consigo mais evitar. Gemendo sussurro que
vou gozar, isso desperta ainda mais a vontade e
ela me joga deitada no colchão, me invadindo
com mais rapidez enquanto me olha
intensamente.
Quando meu gozo explode, sinto como se meu
corpo todo formigasse, uma sensação deliciosa
que nunca tinha sentido. Ela goza ao me fazer
gozar, deita sobre mim, ambas com a respiração
descompassada, nos abraçamos. Ficamos
quietas até nos acalmarmos, fico acariciando
suas costas e passando a mão nos seus cabelos.
Sinto seu corpo mole, suado e sua respiração no
meu ouvido.
– Nem comecei a trabalhar e já serei demitida
por justa causa… – digo sorrindo.
– Se você for tão boa trabalhando quanto foi hoje
aqui… – e pisca pra mim.
Deita de lado pra mim, ainda abraçadas nos
beijamos ainda mais.
– Menina, não fica com medo de se entregar pra
mim. Cuidarei de você com muito carinho.
– Me assusta pensar que você é uma mulher
linda, bem sucedida e com muito mais sabedoria
que eu, e pra atrapalhar mais, minha chefe!
Ela nota em meus olhos que estou de verdade
com receio.
– Me pergunto o que viu em mim, menina boba e
sem nada pra oferecer.
– Vi sinceridade, força, boa energia e bondade.
Apenas tudo isso que quero. Apenas vamos viver
isso ok?
Olho pra ela e, apesar do medo de tudo que
consegui falar, algo me faz pular mesmo sem
rede de proteção, nesse lindo e delicioso
precipício.