UM AMOR SURREAL

7. Das canções de amor que quis cantar pra você – Da entrega para um amor mais novo

Sem Fantasia

Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer

De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus

CHICO BUARQUE

Sou agrônoma formada há menos de um ano e

minha orientadora me indicou para uma vaga

em uma fazenda de porte médio, aqui em

Ribeirão Preto. A cidade é bonita, muito grande,

movimentada e extremamente quente. De cara

sinto que vou me adaptar rápido.

Chego no dia da entrevista e preciso descobrir

como faço pra chegar à fazenda a tempo de falar

com o administrador, que marcou a entrevista

para as 16 horas. Problemas técnicos

resolvidos, chego 20 minutos antes do horário. O

lugar é muito bonito e me parece bem

organizado. Saio do carro e vou até a casa onde

me indicam, lá me pedem para aguardar que o

administrador estava ao telefone e logo me

chamaria. Acendo um cigarro e me encosto na

velha e fiel companheira, minha caminhonete

Chevrolet 63 vermelha.

É quando a vejo, uma mulher pouco mais alta

que eu, de óculos escuros, corpo magro, mas

com lindos contornos, cabelos até os ombros cor

de chocolate, boca linda e com batom cor de

terra, a pele é morena clara, está com roupa

típica de quem vive numa fazenda, a boa e velha

calça jeans, camisa azul com as mangas

dobradas até os cotovelos e bota preta. Ela vem

na direção da casa, seu caminhar é um tanto

imponente e quando se aproxima um pouco

mais, dá pra ver que deve ter uns 45 anos. Passa

por mim e me olha, logo vira o rosto e entra na

casa. Depois de uns quinze minutos, me chamam

para conversar com o administrador.

Entro na sala e vejo que a mulher que vi

caminhando está lá.

– Boa tarde, sou o Jorge administrador da

fazendo Santa Clara. – diz com simpatia já

estendendo a mão para me cumprimentar.

– Boa tarde senhor Jorge, sou a Clara e vim para

a entrevista de emprego. – apertamos as mãos e

ele faz um gesto para que me sente na cadeira

em frente a ele.

A tal mulher está sentada na outra cadeira com

as pernas cruzadas, um braço apoiado na perna

e outro no encosto da cadeira, meio que de lado

pra mim. Confesso que sua presença me deixa

um pouco tímida, acho que por sua postura um

tanto esnobe.

Enquanto respondo tudo o que o Jorge me

pergunta e também questiono alguns pontos,

noto que a tal mulher não diz absolutamente

nada, apenas continua me avaliando.

– Bom Clara gostei do seu currículo e você foi

indicada por uma grande amiga minha da época

de faculdade, até amanhã a tarde te ligo para dar

uma resposta ok?

– Obrigada!

Nos levantamos e apertamos as mãos, olho pra

tal mulher e digo boa tarde, ela apenas balança a

cabeça. Se for contratada, rezo que nunca tenha

que trabalhar diretamente com ela, seja ela

quem for.

Resolvo dar uma volta pela cidade e decido

jantar num restaurante japonês, depois vou para

o hotel descansar. Apesar da expectativa,

consigo dormir bem e acordo lá pelas 9, tomo

banho e vou caminhar pela cidade.

Quando é umas 16 horas, meu celular toca e é o

Jorge me dizendo que fui aprovada e se posso ir

até lá para resolvermos problemas como onde

vou morar etc. Chego lá e está apenas o Jorge,

conversamos e ele me instrui de quais as

atividades pertinentes ao meu trabalho e como

são algumas regras da fazenda. Me diz que tem

uma espécie de alojamento na fazenda onde

algumas pessoas preferem morar, digo que

prefiro um canto meu, longe de onde trabalho e

ele diz que tem uma casa pequena fechada e que

poderia me alugar. Vamos até a casa, que está

conservada, mas que precisa de uma pintura

para dar um tom mais alegre. Fechamos o

acordo de aluguel e ele me indica alguns lugares

onde posso achar alguns móveis baratos.

Chegando ao hotel ligo e combino com minha

irmã de mandar minhas coisas para meu novo

endereço. Hoje é sábado e como vou começar

segunda, resolvo ir até uma loja de materiais de

construção comprar tudo para poder pintá-la.

Eis que quando saio da loja, dou de cara com a

tal mulher esnobe que encontrei na fazenda.

Dou uma disfarçada, coloco as coisas na

caçamba e finjo que não a vi.

Ela se aproxima de mim, tira os óculos escuros e

diz:

– Boa tarde.

– Oi, boa tarde.

– Parabéns, conseguiu o emprego. Meu nome é

Isabelle.

– Ah obrigada, estou bem feliz. Prazer, sou a

Clara.

– Já começa segunda.

Acho estranho ela saber que consegui o

emprego e ainda mais o dia que começo, deve

ser íntima do Jorge. Nessa hora paro e olho pra

ela.

– Desculpa a pergunta, mas como sabe?

– Hum, talvez porque eu sou a dona da fazenda?

– diz com um tom provocativo.

– Ah…

– Vai pintar a casa?

– Sim, aproveitar que está vazia ainda.

– Por acaso é a casa do Jorge que fica aqui perto

da matriz?

– Nossa você deve ter uma bola de cristal

infalível! Acerta tudo! – digo e dou risada.

– Sei onde fica. – e dá um sorriso simplesmente

encantador.

– Bom tenho que voltar para dar tempo de

terminar tudo até amanhã. Até segunda.

– Até.

Vou pra casa e começo a arrumar tudo. Lá pelas

oito da noite, já cansada e louca por um banho e

cama, vou me arrastando ao hotel. Domingo

acordo toda dolorida, mas resolvo terminar tudo

na casa. Como minhas coisas chegarão terçafeira,

decido comprar ao menos um colchão para

dormir no meu novo lar. Vou até uma loja e

compro um colchão de solteiro, que depois

usarei quando receber alguma visita. Estou

colocando o colchão na caminhonete e escuto:

– Nossa toda vez que te encontro você está

carregando essa caminhonete, é algum tipo de

obsessão?? – Isabelle diz com tom de

inconformismo.

– Ahh é uma obsessão maluca por comprar e

carregar objetos pela cidade toda, algo

paranoico!! – digo e dou uma gargalhada.

– Já almoçou?

– Sabe que não, até me esqueci desse detalhe.

– Ah que péssimo! Vou te ajudar, como ótimo ser

humano que sou a resolver esse problema.

Imagino que não tenha nada na sua casa certo?

– De novo sua bola de cristal acertou!

– Ótimo, me espera lá.

Devo ter feito uma cara de “oi???” porque ela ri e

diz:

– Apenas vou levar algo para você comer,

imagino que está muito cansada para enfrentar

um restaurante com fila quilométrica, errei?

– Acertou em cheio, prefiro comer miojo!!

– Te encontro daqui a pouco.

– Olha, só que lá não tem nada, mas nada mesmo,

nem prato, nem talher, terá agora esse colchão. –

digo dando sorriso amarelo.

– Eu imaginei, fica tranquila. – dá um sorriso e

sai.

Entro no carro e vou pra casa tentando entender

o que foi isso. Arrumo tudo que usei para pintar

e limpar a casa, coloco o colchão na mini sala de

estar e forro com uma colcha colorida. Casa

limpa com apenas um colchão, super-romântico,

só que não. A campainha toca.

– Preciso que me ajude. – ela me diz e já volta

pro carro.

Sigo até ela e vejo que trouxe algumas coisas.

Aliás, muito mais que um almoço.

– Trouxe uma mesinha e dois bancos, talheres,

prato e copo.

Levamos tudo para dentro, coloco a mesa e

bancos no canto da sala enquanto ela coloca as

outras coisas na pia.

– Espero que goste de comida simples.

Arrumamos a mesa e me toco que não comprei

nada nem para beber e muito menos de

sobremesa.

– Poxa você trouxe tudo, vou comprar um suco e

algo de sobremesa!

– Acha que faço as coisas incompletas? – pisca

para mim e tira uma garrafa de vinho, uma de

suco e um pote de doce caseiro.

– Uau, isso sim que é fazer serviço completo e de

qualidade!

Almoçamos de forma descontraída, bebemos o

suco e comemos um doce delicioso de figo.

– Bom, acho que agora para finalizar nada

melhor que um vinho. – ela pega o saca rolha e a

garrafa.

– Deixa que eu abro, é o mínimo que posso fazer.

– abro com destreza a garrafa e sirvo.

– Que tal sentarmos no colchão?

– Fique à vontade.

Sentamos uma ao lado da outra, me lembro que

trouxe um rádio e alguns cds. Ligo o aparelho e

coloco um cd de mpb com músicas variadas.

Quando toca a música “Sem Fantasia” que o

Chico canta com a Maria Bethania, ela me olha e

diz:

– Essa música é linda!

– Também gosto muito.

– Então será nossa música!

Olho pra ela e pergunto:

– Sabe que ela se refere a uma pessoa mais velha

se declarando para alguém mais novo?

– Lógico. Acho que ela cabe perfeitamente.

Se aproxima de mim e passa suavemente a mão

no meu rosto, coloca uma mexa do meu cabelo

atrás da orelha e sorri.

– Desde o dia que te vi encostada na picape, me

senti atraída. Na entrevista percebi que apesar

de nova, passa segurança, confiança. Admiro

isso.

– Engraçado porque quando te vi indo em

direção à casa, também me senti atraída. Na

entrevista confesso que te achei esnobe.

– As pessoas acham isso à primeira vista. – e me

dá um sorriso.

Ela vem e me beija suavemente na boca, prende

meus lábios com os seus. Com a mão, vai

brincado com meu rosto. Me puxa e me coloca

sentada de frente pra ela, sobre suas pernas. Seu

beijo é delicioso, meio selvagem, suas mãos

ficam indo e vindo nas minhas costas por baixo

da blusa, as vezes de leve e outras arranhando

devagar. Ficamos assim por um bom tempo, até

que ela arranca minha blusa e beija meu colo,

ombros e seios com certa urgência. Fico cada vez

mais excitada e quando percebe, arranca o resto

da minha roupa. Coloco as mãos por baixo da

blusa, ela arrepia. Agora morde e lambe meu

pescoço, tiro sua blusa e seguro seus seios,

aperto e passo dedos nos bicos, sinto ofegar e

seu corpo mais quente ainda.

– Menina quero você desde que te vi pela

primeira vez. – sussurra deliciosamente.

– Me pegue pra você.

Isso desperta algo insano porque na mesma

hora ela coloca sua mão espalmada entre

minhas pernas, estremeço inteira e solto

gemido, minha cabeça fica fora do ar. Ela vai

passando dedos dentro de mim, pelo lado, em

tudo. E entra em mim com força, os dedos

deslizam em movimentos firmes e precisos.

Ela está tão quente e tremula quanto eu, nossos

corpos molhados de suor e um desejo louco. Nos

movimentamos cada vez mais rápido, me beija a

boca de forma ainda mais selvagem e sinto que

não consigo mais evitar. Gemendo sussurro que

vou gozar, isso desperta ainda mais a vontade e

ela me joga deitada no colchão, me invadindo

com mais rapidez enquanto me olha

intensamente.

Quando meu gozo explode, sinto como se meu

corpo todo formigasse, uma sensação deliciosa

que nunca tinha sentido. Ela goza ao me fazer

gozar, deita sobre mim, ambas com a respiração

descompassada, nos abraçamos. Ficamos

quietas até nos acalmarmos, fico acariciando

suas costas e passando a mão nos seus cabelos.

Sinto seu corpo mole, suado e sua respiração no

meu ouvido.

– Nem comecei a trabalhar e já serei demitida

por justa causa… – digo sorrindo.

– Se você for tão boa trabalhando quanto foi hoje

aqui… – e pisca pra mim.

Deita de lado pra mim, ainda abraçadas nos

beijamos ainda mais.

– Menina, não fica com medo de se entregar pra

mim. Cuidarei de você com muito carinho.

– Me assusta pensar que você é uma mulher

linda, bem sucedida e com muito mais sabedoria

que eu, e pra atrapalhar mais, minha chefe!

Ela nota em meus olhos que estou de verdade

com receio.

– Me pergunto o que viu em mim, menina boba e

sem nada pra oferecer.

– Vi sinceridade, força, boa energia e bondade.

Apenas tudo isso que quero. Apenas vamos viver

isso ok?

Olho pra ela e, apesar do medo de tudo que

consegui falar, algo me faz pular mesmo sem

rede de proteção, nesse lindo e delicioso

precipício.



Notas:



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