PLÁGIO NÃO É O MESMO QUE FANFICTION

Texto: Carolina Bivard

Escrevo, postando na internet, há quinze anos mais ou menos. Quando comecei na minha lida de esboçar histórias, lia muitas fanfictions da Xena, pois havia descoberto um site especializado em fanfictions dessa série: o Fator X.

Ah! Que saudades desse site! Não era como o “Xana in box”, outro local onde líamos histórias originais que marcou muito o início da literatura lésbica na rede. Lembremos que a internet, da forma difundida que a conhecemos, tem pouco menos de quinze anos. Muitas pessoas de vinte anos já cresceram com ela.

Nos idos do ano 1995, eu mal sabia segurar um mouse e, quem tivesse PC em casa, era rico. Meu primeiro contato com um computador foi no trabalho. Que maravilha tecnológica!

Rapidamente os PCs tomaram conta das casas e eu com minha companheira, adquirimos um e assinamos um provedor. Não era a cabo e tínhamos que conectar através da linha telefônica convencional. Fazia um barulhinho de discagem quando conectávamos. Levava minutos para baixar uma única imagem e um dia inteiro para baixar um filme. Se eu tenho saudades dessa época? Com relação a lerdeza da internet, definitivamente, não! Não e não!

Mas o fato é que, com a difusão da internet, coisas mudaram. Algumas muito boas e outras, nem tanto. Será que grande parte das pessoas perderam a essência do que é real? Do que é certo e errado em determinadas situações?

Por que estou levantando estes questionamentos?

Explicarei logo a seguir, com um assunto que me preocupa muito: Plágio.

Para continuar este texto, primeiro farei uma afirmação: Fanfiction não é plágio! Não se pode copiar uma história de alguém, simplesmente trocar os nomes e falar que é fanfiction. Se qualquer um ler alguma história e ver que já leu antes, apenas com os nomes trocados e souber da autoria original, denuncie! É plágio!

Fico extremamente triste por saber que pessoas se apropriaram de um movimento literário com o intuíto de ganhar notoriedade sobre o trabalho de outras pessoas. As fanfictions nasceram com a internet, sim, porém não é nada do que muitas pessoas que se dizem autoras fazem hoje em dia. Reafirmo: Fanfictions não é plágio.

Digo isto porque meu primeiro movimento para publicar uma história, foi fazendo uma fanfiction e sei como esse movimento iniciou.

As fanfictions tem uma matriz no tempo. Não surgiram do nada. Elas nasceram da ânsia de fãs de filmes, séries, HQs e etc, imaginavam outros caminhos para os personagens que gostavam e acompanhavam. Escreviam outras narrativas para esses personagens queridos, em textos originais e, com o advento da internet, puderam partilhar as suas visões sobre aqueles personagens.

Numa verdadeira fanfiction, o autor se apropria das características físicas e psicológicas daqueles personagens e se realiza, deixando a sua imaginação voar, criando cenários, intrigas e envolvimentos, em que ele gostaria de vê-los caracterizados. Mas nunca pegar uma história pronta, feita por outro autor e trocar nomes. Isto é roubo de ideias!

Uma das coisas que o escritor mais odeia é o plágio, e isto se refere também a um escritor de fanfictions verdadeiro. Aquela pessoa, cujo ato de colocar num editor de texto, a sua ideia sobre os personagens amados e criar um mundo de fantasias, extraídos de sua mente e de sua vontade de os ovacionar, perpetuando-os em suas próprias palavras.

O autor de fanfictions se preocupa com o lugar do personagem que tanto ama. Ele cuida do personagem com carinho. Respeita a personalidade dele original, tentando sempre expressá-la na própria forma de vê-los. Contudo, ele cria um mundo novo e elaborado para aquele personagem. Não pega uma história existente e simplesmente troca nomes e se apropria, dizendo-se autor daquele mundo.

Para quem não conhece o estilo fanfiction, da forma como o gênero deve ser compreendida, descreverei apenas dois: o “clássico” e o “uber”. Existem muitos subgêneros, mas não é o mote aqui.

A fanfiction clássica é aquela que usa tudo do original. Nomes dos personagens, contexto da série, filme ou HQ… Enfim. Você estará no mesmo universo, sendo que é uma trama original idealizada pelo autor da fanfiction.

Já a fanfiction uber, o autor tentará descrever as características físicas dos personagens e captar a personalidade dele, para colocar em personagens com outros nomes e em cenários diferentes. No entanto, esses cenários são originais, retirados do mundo mágico de sua imaginação.

O importante é saber que, em todos os casos, o contexto sempre será original. Outra questão ética nessa história toda é que, e aí colocarei em caixa alta para ficar bem explícito: EM FANFICTIONS CLÁSSICAS, EM QUE SE UTILIZA O NOME ORIGINAL DOS PERSONAGENS, NÃO SE PODE GANHAR DINHEIRO. E isto, por quê? A resposta é simples: aqueles personagens foram idealizados por outra pessoa, e não por você.

Outro exemplo do que não é fanfiction:

Se alguém pega um livro, quadrinho, ou o que quer que seja, e somente trocar o nome do personagem por outro de outra história, sejam nomes de personalidades, ou de séries e filmes, não é fanfiction. É roubo de ideias e, consequentemente, plágio. É crime!

Hoje em dia, muitos falam de seus direitos, então vejamos: o direito de qualquer pessoa termina onde começa o direito de outra. Por esse motivo, quando alguém pega uma história ipsis litteris (tal como está escrito) invade o direito de outra pessoa.

Nunca mais escrevi uma fanfiction, porém vendo histórias sendo rotuladas como fanfictions, minhas e de escritoras que conheço, onde, na verdade foram copiadas, me senti impulsionada a esclarecer esse estilo, que anda sendo utilizado tão erroneamente para justificar a roubo de ideias.

Termino reafirmando, para que pessoas que não sabem a diferença possam se conscientizar:

Plágio nunca será uma fanfiction!