Um rapaz de linho antigo avança pelo rio…
És tu, minha amada?
Convoco-te
No incauto exercício da Memória:
Sabores de suor
A pele transida na fímbria do universo
A vida e a língua equilibrando-se no gume da lucidez
Transbordando as nossas águas já quase sem terra para humedecer
Meu corpo desidratado no teu
E tu em mim quase exígua de desejo
As línguas loucas no sexo
Mãos como mapas de abril
Abrindo territórios selvagens
Por entre todos os membros
Pés, joelhos, pernas
E a vida toda desmembrada, passo a passo, naquele quarto.
Uma romã…
Queria eu recordar
Como o fruto mais difícil de comer
Demorado
E o suco
Escorrendo entre seus seios
Na noite negra da cidade
Os teus cabelos húmidos que me sufocavam
Como me sufoca agora a garganta seca da memória.
Comi o deserto para poder recordar-te
Quando toda a água já se evaporou dos nossos corpos.
E agora fico aqui,
Com um nó intocável
Em parte nenhuma do corpo
Que já não existe
Ana Horta
“Meu corpo desidratado no teu
E tu em mim quase exígua de desejo”
Simplesmente, amei!
Ana Horta,
sinta-se sempre à vontade para nos presentar com textos maravilhosos como este.
Abs
Muito, muito obrigada!! <3
Que texto mais lindo!!!!
Ana Horta está sempre me surpreendendo e dando presentes à minha alma.
Que bom ter vc escrevendo para o LW, Ana.
Que venham mais e mais textos para nos maravilhar e enternecer.
tão bom de ler isso 🙂