Na semana do casamento de Felipe, Adriana estava aflita, não tinha escolhido vestido ainda , nem sapatos, o irmão a convidou para ser madrinha de seu casamento junto com um de seus amigos, mas a morena sentia medo da reação de sua mãe na porta da igreja, Felipe afirmava que Catarina não faria nada.
Ana e as amigas tentavam acalmar a contadora, mas todo esforço era em vão. Na sexta-feira, véspera do casamento, o rapaz pegou a irmã no apartamento antes de Adriana sair para trabalhar.
— Felipe, o que você está fazendo aqui? – reclamava na porta –
— Eu vim te buscar para escolher o seu vestido, o casamento é amanhã e você não resolveu nada. – entrava atrás da irmã –
— Felipe, eu resolvi sim, eu liguei para Luana e avisei a ela que eu não vou ao casamento. – sentou à mesa para terminar o café da manhã – Quer suco? – levantou a caixa –
— Eu quero. – sentou também – Ela me falou, por isso que eu resolvi te encontrar antes de você sair. – colocou o suco no copo –
— Se ela te falou, por que você está insistindo? Eu não vou provocar um escândalo no seu casamento. – comeu um pedaço de pão –
— Adriana, se você não for eu não caso. – bebeu o suco –
— Você enlouqueceu? Como não vai casar? – levantou da mesa – Luana te mata se você não entrar bonitinho na igreja Felipe.
— Eu sei, mas sem você eu não caso, e isso não é uma especulação, é uma afirmação. – terminou de beber o suco – Isso aqui está bom! – pegou mais –
— Felipe isso vai dar merda. – foi para a cozinha –
— Maninha, se tudo der certo, amanhã vai dar merda. – riu – E eu já avisei isso a Luana.
— Vocês dois são loucos. – balançou a cabeça negativamente –
Os dois saíram juntos e rodaram algumas lojas escolhendo vestidos, finalmente Adriana se decidiu por um dos modelos que vestiu, com a aprovação de Felipe. O rapaz estava animado e ao mesmo tempo nervoso.
Depois de um longo dia procurando vestidos, e trabalhando, Drica chegou em casa tarde e cansada, Ana passou no apartamento da morena depois da aula da pós graduação.
— Oi meu amor. – beijou a morena –
— Oi Ana. – estava desanimada –
— O que houve? Você parece preocupada. – deixou a bolsa no sofá –
— Ai, Felipe esteve aqui hoje e me levou para escolher um vestido, mesmo eu dizendo que eu não vou ao casamento. – se jogou no sofá –
— E você escolheu algum? – sentou-se ao seu lado –
— Sim. – olhou para a namorada –
— Eu quero ver. – levantou e puxou a namorada pelos braços –
— Ai, Ana, eu não quero colocar. – fazia manha –
— Ah meu amor, coloca pra mim! – abraçou a cintura da morena – Eu quero tanto te ver no vestido longo, de salto alto. – cheirava o pescoço da namorada – Hum, você está tão cheirosa!
Adriana se derretia inteira com a forma como Ana Paula falava, fazia seu corpo arrepiar inteiro.
— Ai Ana, você me derrete. – estava de olhos fechados –
— Coloca o vestido, vai? – sussurrava no ouvido da contadora –
— Eu não quero colocar Ana. – soltou-se dos braços da loira— Eu só aluguei o vestido para satisfazer o Felipe, eu não vou ao casamento. – caminhou até a janela –
Ana percebeu que a morena estava nervosa com a situação, e entendeu sua inquietação. Resolveu tentar acalmar a namorada. Caminhou até Adriana e a abraçou por trás. Pousou o seu queixo no ombro da morena e tentou confortá-la.
— Drica, você é uma mulher forte, decidida, prática, eu sei que seu relacionamento com sua mãe é complicado, mas seu irmão quer que você esteja lá. Ele sabe o risco que está correndo e resolveu pagar para ver, vamos, eu já comprei o meu vestido, e nós vamos nos divertir muito junto com ele.
— Ela vai fazer um escândalo se me vir na igreja. – dizia triste –
— É um risco que ele está assumindo e pelo visto ele não está nem ai pra isso.
Adriana pensou um pouco, e virou-se ficando de frente para a namorada, olhou nos olhos de Ana Paula, seu receio era grande, sabia que Catarina estaria pronta para uma guerra, mas ela não, ela não queria participar de um barraco no casamento do irmão. Sentia-se confusa, mais uma vez, e a tristeza tomava conta de seu peito.
— Nós podemos só dormir hoje? Fica aqui comigo, me abraça? – uma lágrima escorreu –
— Claro meu amor, eu fico para dormir com você. – beijou a namorada –
***********
No sábado, Ana, Paula e Alessandra estavam com Adriana em seu apartamento tentando convencer a contadora a ir ao casamento do próprio irmão.
A morena estava deitada na cama enrolada em uma toalha, sem querer sair para ir ao salão. Insistia em dizer que não sairia de casa.
— Drica, é o seu irmão, ele quer que você esteja lá, ele não viria aqui se não fosse o caso. – Paula ponderava –
— Mas isso não vai dar certo Paula, Catarina vai fazer um escândalo, eu não quero estragar o dia de Luana. – recebia um carinho de Ana –
— Meu amor, levanta daí, vamos ao salão, você se arruma e nós vamos para a igreja, nós ficaremos em um cantinho escondidas e quando sua mãe perceber ela já vai ter entrado e você já estará no altar. – mexia nos cabelos da namorada — Ela não vai poder fazer mais nada dentro da igreja.
— Eu ainda não estou segura disso.
— Ai Adriana, levanta essa bunda daí, nós vamos para o salão e a senhora vai ao casamento do seu irmão, depois nós vamos beber várias taças de pro seco e voltar para casa carregadas pelas nossas mulheres. – Alessandra gesticulava –
— Ei mocinha, quem disse que você vai voltar carregada por mim? Eu não estou aqui pra servir de reboque não, você toma jeito hein garota! – Paula ralhou –
— Acho que eu falei besteira. – Ale fez uma careta –
— Olha, levanta e vamos ao salão, você vai se arrumar e nós vamos para a igreja, se ela chegar e ameaçar esse escândalo todo, nós voltamos pra casa, tudo bem assim? – Ana ponderava –
Adriana ficou olhando para as amigas, pensando, olhou para a namorada, Ana a olhava com ternura, passando a segurança que a morena precisava. Depois de suspirar profundamente, Adriana concordou com a proposta da promotora.
— Tudo bem, eu vou com vocês.
— Aeeee. – um coro se formou no quarto –
— Então vamos meu amor, você já está atrasada.
Ana levantou Adriana pelas mãos e a morena se vestiu para sair com as amigas, no fim da tarde, todas estavam de volta ao apartamento, cabelo feito e vestidos a postos, as meninas terminavam de se maquiar.
Adriana surgiu na sala ao lado de Ana, lindas, vestidos longos, justos modelando os corpos bem definidos.
Drica usava um vestido azul turquesa, sandálias prata salto agulha, com acessórios na mesma cor. Verde escuro era o vestido de Ana, também usava os acessórios prata, sandálias de salto fino prateada, e um coque no cabelo.
Paula e Alessandra bateram palmas para brincar com a timidez da amiga. Todas prontas, dirigiram-se para a Igreja situada em Niterói.
Chegando ao local, Felipe estava do lado de fora, vestindo um meio fraque preto, muito elegante ao lado de Antero. Ao ver a irmã chegando abriu um lindo sorriso e foi cumprimenta-la.
— Drica! – abraçou a morena – Eu fiquei com medo de você desistir de vir, já estava quase te ligando pra ir te buscar. – segurava as mãos da contadora –
— Elas me convenceram. – apontou para as amigas e para Ana –
— Obrigado. – sorriu –
— Ela já chegou? – Drica se mostrava nervosa –
— Não.
Adriana caminhou para cumprimentar Antero e enquanto abraçava seu pai Catarina chegava com Marina de carro. As duas não se perceberam, até que os olhares se cruzaram quando a mais velha começou a subir as escadas.
Adriana paralisou, sentiu o coração pular na boca com medo de um escândalo em pleno casamento de seu irmão. Antero segurou sua mão e a abraçou em forma de proteção.
Catarina subiu os degraus, furiosa com a presença de Adriana na igreja e foi confrontar o filho.
— Felipe o que ela está fazendo aqui? – segurou o braço do filho –
— Adriana é minha madrinha mãe. – respondeu com naturalidade –
— Eu te falei que se ela estivesse naquele altar eu não iria entrar na igreja com você. – disse entre os dentes –
— Então não entra, eu não vou renegar minha irmã só porque você quer, Adriana fica, e sem escândalos, ou eu vou ser o primeiro a contar pra todo mundo por que você saiu de casa. — sussurrou –
— Mas eu sou sua mãe! Você não pode me trocar por ela. – Catarina estava ficando vermelha –
— Eu não estou trocando ninguém, eu só estou te dando opção, ou você entra comigo ou você pode ir embora, eu não vou concordar com essa sua atitude infantil e preconceituosa. – ajeitou a gravata – Até porque você não pode ter preconceito com Drica, vocês são iguais, até na escolha do sexo.
Catarina exibiu o dedo indicador no rosto de Felipe, irritada com a afirmação do rapaz.
— Felipe, me respeite, isso não é jeito de falar com a sua mãe, eu não admito isso.
— A escolha é sua. Vai ou fica?
— Eu vou, não vou ficar assistindo a esse circo. – gesticulava –
— Circo? É o meu casamento, você que torna tudo um circo com essa mania de querer parecer superior a todo mundo, cresce mamãe, e só depois aparece, nem viver com a sua mulher está fazendo você entender o que significa a palavra amor?
— Felipe você não sabe de nada.
— Não mamãe, você que não sabe de nada, você não conhece a filha maravilhosa que a senhora tem, uma guerreira, que sempre se virou sozinha, estudou por conta própria, fez faculdade e se formou com as melhores notas do curso inteiro, passou para uma pós graduação em Harvard, e foi convidada, eu vou repetir, convidada afazer o mestrado no mesmo lugar. – Felipe enumerava as conquistas de Adriana – Sobreviveu a um sequestro, e você nem ligou, é a pessoa mais correta que eu já conheci em toda a minha vida, e sabe quem ensinou ela a ser assim? Meu pai.
Catarina e Marina ouviam estupefatas com a atitude do rapaz, Felipe que sempre ficava omisso resolveu surpreender a todos novamente.
— Então a senhora tem duas opções, deixar o orgulho de lado e subir no altar comigo e tentar aprender a enxergar o lado bom da sua filha, ou ir embora e continuar se enganando, fingindo que a odeia, porque você sabe que ela não tem culpa de nada que aconteceu com você.
— Você nunca mais vai saber de mim. Vocês dois morreram pra mim.
— Eu sou só mais um na sua lista.
Adriana olhava assustada ao diálogo dos dois, percebeu que Felipe disse algo que Catarina não gostou, a mulher colocou o dedo no rosto de Felipe e saiu fuzilando a filha com o olhar.
— Você me paga Adriana.
Desceu as escadas como uma bala, chamou Marina e as duas foram embora.
Adriana não entendeu nada e viu Felipe se aproximando, olhou curiosa para o irmão.
— Felipe, aonde ela vai? O que aconteceu?
— Embora, ela não quer entrar comigo, sobrou pra você maninha, será que Paula se importa de entrar como madrinha com meu amigo? – olhava em volta —
Adriana estava sem ação, viu sua mãe abandonar o casamento do próprio filho por causa da sua presença e se surpreendeu com a atitude firme de Felipe ao manter sua posição com Catarina.
— Felipe, como assim? – olhava incrédula – O que você falou para ela?
— Pois é, ela não quis ficar, eu vou fazer o que? – deu de ombros – Nada além da verdade.
— Eu que vou entrar com você? Mas eu não vim arrumada para isso. – olhou para o próprio vestido –
Felipe abraçou a irmã e beijou sua testa. – Você está ótima!
Ana que ouvia o diálogo ao lado da morena se aproximou e beijou o rosto da namorada.
— Viu, se você não tivesse vindo, ele ia ficar muito chateado.
— Eu ainda não estou acreditando nisso.
— Vai dar tudo certo, entra com o seu irmão e arrasa meu amor. – sorria —
Luana chegou à igreja e os organizadores começaram a arrumar a entrada dos padrinhos e do noivo, Adriana conduziu Felipe até o altar, emocionados os dois caminhavam lentamente, Paula entrou no lugar de Adriana e ao final, Luana apareceu linda em seu vestido de noiva.
O casamento aconteceu tranquilamente, sem escândalos, depois da cerimônia todos seguiram para a festa em uma casa de eventos no mesmo bairro.
Alessandra se uniu a irmã de Luana e começaram uma pequena competição para ver quem bebia mais. Paula já esperava por algum papelão da esposa.
Adriana ainda estava incomodada com o que aconteceu, não acreditava que sua mãe tinha deixado o que Felipe fez passar tão barato. Sabia que teria alguma volta.
No final da festa, Alessandra estava sentada abraçada à cunhada de Felipe dormindo em um canto do salão.
— Adriana, olha aquilo ali, o que eu faço com essa mulher? – Paula segurava um copo de refrigerante –
— Paulinha, ela não tem mais jeito, relaxa e deixa Ale curtir. – Drica ria –
— Minha amiga, ela não curte mais nada hoje, olha o estado dela, está babando na cunhada de Felipe. – apontou para Alessandra –
Ana voltava do banheiro e se juntou às duas.
— O que houve? – beijou Drica no rosto –
— Olha Alessandra. – apontou para a amiga –
— Nossa, amanhã ela não será ninguém. – pegou um salgadinho –
— Cadê Isadora e Viviane?
— Elas estavam na mesa. – Ana olhou em volta – Ali, estão sentadas conversando com Luana.
— Ana, eu acho que já deu de festa pra mim, eu estou louca pra ir embora. – Drica pediu —
— Vamos pra casa meu amor. Paula e Alessandra vão dormir com você não vão?
— Comigo não, no quarto de hóspedes, Alessandra vai dar um trabalhão hoje. – riu –
— Eu que sei. – Paula revirou os olhos – Eu vou acordar essa pessoa, ou o que sobrou dela, minha nossa! – balançou a cabeça negativamente —
Paula foi chamar Alessandra e Ana e Drica foram falar com Viviane e Isadora, para se despedir dos noivos.
— Meninas, nós já estamos de partida. – Drica falou –
— Mas já? É cedo ainda! – Luana reclamou –
— Luana, já são quase duas da manhã. Você e Felipe não deveriam estar descansando para viajar cedo?
— Não, nossa passagem é para depois do almoço, estamos tranquilos.
— Drica, Paula está nos chamando. – Viviane observou –
Paula pedia ajuda para carregar Alessandra que não conseguia acordar, as meninas foram ajudar e carregaram Ale, Felipe viu a dificuldade e se ofereceu para ajudar. Carregou
Alessandra no colo até o carro e a colocou no banco de trás dormindo.
— Prontinho, resolvido. – Felipe fechou a porta do carro –
— Obrigada Felipe. Vou levar esse pacote pra casa. – Paula reclamava envergonhada — Desculpe por esse papelão, sua cunhada vai precisar de ajuda também.
— Ah, dela o namorado cuida. – deu de ombros —
— Lipe, eu vou embora também, — abraçou o irmão – cuidado na volta pra casa agora e divirtam-se na viagem, muitas felicidades para vocês. – beijou seu rosto –
— Obrigado Drica. Vai com cuidado também.
— Pode deixar. – piscou para Felipe –
Todos se despediram, Luana e Felipe voltaram para o final da festa e as amigas foram para casa.
Adriana e Ana ajudaram Paula a carregar Alessandra para o apartamento da morena, a contadora estava completamente apagada, as amigas só tiraram o vestido e deixaram Alessandra dormindo enquanto todas foram tomar banho.
— Obrigada amiga, eu já vi que vai ser um dia daqueles amanhã quando ela acordar. – Paula revirou os olhos –
— De nada amiga, de manhã nós cuidamos dela. Vai descansar. – Drica beijou o rosto de Paula –
— Boa noite meninas.
As duas acenaram e foram para o quarto dormir, descansar do dia tenso, Adriana ficou surpresa com a atitude de Felipe e a reação de Catarina, estava deitada abraçada a Ana, pensando no que acontecera, a loira já dormia pesado, estava cansada.
Adriana admirava sua mulher, seus traços delicados, os cabelos loiros caindo sobre o rosto, o semblante tranquilo enquanto dormia, transmitia uma calma que contagiava a morena. Aos poucos os pensamentos iam dando espaço ao sono e Adriana adormeceu no abraço de sua amada.
Durante a madrugada, as amigas acordaram com um barulho no banheiro, Alessandra chamava Paula, e podia-se ouvir o som da água do chuveiro.
No corredor, Adriana e Ana Paula encontraram Paulinha que saía do quarto sem entender nada.
— Mas o que está acontecendo aqui? – Ana esfregava os olhos –
— Eu não sei, eu acordei com Alessandra me chamando, mas olhei na cama e ela não estava. Segui os gritos.
— Paula! Abre a porta! – Alessandra chamava do banheiro – Está chovendo pra caralho!
— Chovendo? – Adriana não entendeu –
Quando as meninas abriram a porta do banheiro, Alessandra estava sentada no box, com o chuveiro ligado, de calcinha e soutien, totalmente molhada, reclamando da água.
— Alessandra o que é isso? – Paula colocou as mãos na cintura –
— Ai meu amor. – falava arrastado ainda – Eu sai pra ir ao banheiro, mas acho que errei a porta, e está chovendo pra caralho. – olhou para as amigas – Por que só está chovendo aqui?
— Ai meu pai. –Paula colocou as mãos na cabeça –
Adriana não aguentou e acabou rindo. – Desculpa Paula, mas você tem que concordar que Ale sempre faz a nossa noite mais divertida. – ria —
— Eu sei amiga, pior que eu sei. – revirou os olhos —
— Vamos sair daí Alessandra. – Paula fechou o chuveiro –
— Ih, a chuva parou. – tinha os olhos fechados –
Paula entrou no box com Drica e Ana foi para a cozinha preparar um café bem forte.
— Eu vou fazer um café para ver se ela melhora. – beijou a cabeça de Adriana –
As duas levantaram Alessandra que não conseguia se manter em pé sozinha. Paula a amparou e Drica pegou toalhas limpas no armário para a amiga. As duas enrolaram Alessandra e a enxugaram do jeito que deu. Paula retirou a lingerie molhada da esposa e Drica emprestou um roupão para leva-la para o quarto.
As duas levaram Alessandra para o quarto, e a sentaram na cama, Alessandra acariciava Paula e dizia que a amava. Parecia que o porre estava no auge.
— Gente, mas eu nunca vi disso, a pessoa enche a cara, dorme e o porre vem depois que ela acorda. – Drica comentava –
— Primeira vez que eu vejo ela fazendo isso. –enxugava os cabelos da esposa—Ela deve ter misturado de tudo.
Ana chegou com uma xícara de café para a amiga. – Aqui, está bem forte. – entregou para Paula.
— Obrigada Ana. – pegou a xícara – Alessandra, bebe isso. – puxou a esposa – Está quente, cuidado.
— É vodca? Eu quero mais um copo daqueles com energético. – tentava abrir os olhos –
— Que vodca, é café, para você melhorar.
— Eu não quero isso. – virou o rosto –
— Mas vai tomar sim. Olha para cá. – Drica tentava ajudar —
— Alessandra, deixa de ser teimosa, uma mulher de quase quarenta anos, se comportando como uma adolescente? – Paula perdia a paciência –
— Paula, se acalma. Não adianta falar nada agora. Ela não vai se lembrar. – Adriana tentava ponderar –
— Adriana, eu não aguento mais esse comportamento de Alessandra, eu amo minha mulher, mas desse jeito não dá mais. – levantou da cama e entregou a xícara para Adriana –
— Paula. Volta aqui. – Alessandra pedia –
Paula saiu do quarto e foi para a sala.
— Fica quieta Ale. – Adriana pedia – Ana, vai falar com ela por favor.
Ana foi atrás de Paula e Drica ficou com Alessandra.
— Alessandra bebe o café. Por favor. Você já fez muita besteira hoje. E amanhã Paula vai te cobrar esse papelão de hoje. – uma pausa – Alessandra, você pode se divertir, mas precisa se policiar, você não é mais uma garotinha, já está quase fazendo quarenta anos, e Paula tem razão, você está se comportando como uma adolescente. Isso não está certo, Ale. Paula está muito chateada com você.
Alessandra começou a chorar, sentiu um aperto no peito e o porre ajudava com o sentimento de culpa.
— Eu não faço isso por que eu quero, quando eu vejo eu já estou bebendo e não consigo parar até cair, amiga. Eu virei uma alcóolatra? – deitou no ombro de Drica –
— Se você está com um problema, você precisa procurar ajuda, o que não pode é sempre que você for a alguma festa voltar pra casa desse jeito. – estendeu a mão com a xícara – Bebe o café.
Alessandra pegou a xicara e bebeu o café, devagar, mas foi bebendo. Em silencio, como se estivesse pensando nas besteiras que tem feito.
Na sala, Ana conversava com Paula, tentando acalmar a contadora.
— Ana, eu não aguento mais esses papelões que Alessandra faz, isso é vergonhoso, carregar a minha mulher nas costas na saída de uma festa. É ridículo. – caminhava pela sala –
— Calma Paula, ficar assim também não resolve. Não adianta nada ficar reclamando agora. Ela não vai se lembrar de nada amanhã.
— Ana Paula, olha o que ela faz, você sabe, você já cansou de ver os porres que ela toma, e isso é frequente, toda vez que vamos às festas, é uma ressaca diferente no dia seguinte. – sentou no sofá ao lado da promotora — Passa mal, fica bêbada, e eu carregando de um lado para o outro. –começou a chorar –
Ana a abraçou e tentava consolar a amiga, Adriana veio do quarto e viu a amiga chorando, sentiu pena de Paula, colocou a xícara sobre a mesa e foi até as duas. Sentou-se na mesinha de centro de frente para a amiga.
— Paula, não fica assim. – segurou a mão da contadora –
— E Alessandra?
— Dormiu depois de chorar um pouco, coisa de bêbado.
— Ai Drica, eu não aguento mais. Ela já passou dos limites aceitáveis, ela está doente, só pode. – limpou o rosto com as mãos –
— Paula eu sei que ela não deve lembrar o que eu falei para ela lá no quarto, mas eu disse que ela precisa procurar ajuda, pois esses porres estão se tornando mais frequentes, e ela precisa se cuidar.
— Obrigada minha amiga, está tão difícil cuidar dela, cada dia que passa Alessandra parece que está regredindo, eu nunca vi disso. Ao invés de amadurecer está só fazendo merda.
— Eu imagino, mas agora você precisa descansar, de manhã quando ela acordar nós vamos dar um sermão nela, ela vai melhorar. – Adriana fazia carinho em sua amiga –
— Eu estou cansada mesmo, e toda molhada, olha isso. – levantou –
— Vem comigo, pega uma camiseta e um short seco. – Drica levantou da mesinha –
As três caminharam para o quarto e depois de pegar as roupas secas Paula foi para o quarto tentar dormir, Adriana e Ana ainda ficaram conversando pois ficaram agitadas com a movimentação de Alessandra.
— Caramba, Alessandra só está fazendo merda, ela vai arrumar ideia de Paula terminar com ela. – Drica arrumou o travesseiro –
— Mas que foi engraçado foi, reclamando que estava chovendo, sentada debaixo do chuveiro.
— Nem me fala, eu não aguentei e tive que rir, mas coitada de Paula, está cortando um dobrado com ela.
As duas deitaram e depois de um carinho acabaram adormecendo.
******************
Na manhã seguinte, as amigas conversavam na sala do apartamento, enquanto tomavam café da manhã, Alessandra passou pelo corredor como uma bala para o banheiro. Adriana viu a amiga e levantou para ver se ela estava bem. Paula estava muito chateada e nem saiu da mesa.
— Paula, pega leve com ela, o dia não vai ser nada bom hoje. – Ana pedia –
— Fica tranquila, ela não ouvirá nenhuma palavra minha hoje, e eu digo isso de verdade. – levantou para colocar o copo na pia –
No banheiro, Alessandra vomitava no vaso sanitário, Adriana tentava ajudar.
— Alessandra, senta ai. – deu descarga –
— Ai, Drica minha cabeça está me matando. – segurava a cabeça – Eu dormi de cabelo molhado? – sentia os fios úmidos –
— Dormiu. Estão molhados ainda? – fazia carinho na amiga –
— Sim, então choveu mesmo? Eu achei que tinha sonhado, mas a noite estava tão bonita ontem! – parecia desorientada ainda –
Adriana não conseguiu conter o riso, e Alessandra não entendeu nada.
— Alessandra, você não se lembra de nada mesmo não é? – ria –
— Não, o que eu tenho que lembrar? Que eu peguei chuva? – foi lavar a boca na pia –
— Ale, você não pegou chuva, você abriu o chuveiro e depois ficou gritando Paula achando que estava na chuva.
— Jura?
— Juro. Pergunta a Ana Paula, não pergunta a Paulinha não, ela está muito brava com você.
— Eu fiz muita merda?
— Não, mas Paula está querendo te matar.
— Puta que pariu, ela deve estar fula da vida comigo. – segurava a cabeça –
— Quer um analgésico? – abriu o armário do banheiro e pegou o remédio –
— Eu vou querer sim. Tenho que voltar para o quarto, não estou me aguentando em pé.
— Eu vou pegar água para você. – Drica foi para a cozinha –
Alessandra caminhou pelo corredor e antes de entrar no quarto foi até a porta da sala, olhou para as amigas conversando, Ana afagava as costas de Paula na janela, e a ruiva percebeu o quanto estava em apuros, o seu estômago revoltou, e ela saiu correndo de novo para o banheiro.
Adriana foi atrás da amiga de novo, tinha um copo com água nas mãos e esperou Alessandra sair do banheiro, a ruiva pegou a água e o remédio e tomou, voltou para o quarto e deitou na cama, a morena sentou-se ao seu lado e começou a conversar com a contadora.
— Alessandra, é hora de você começar a repensar a sua vida, você não é mais uma garotinha para ficar se comportando como tal. Adolescentes que fazem esse tipo de coisa, beber até cair, voltar para casa carregados, e nunca tem limites.
— Eu sei Drica, mas eu começo a beber e não consigo parar, quanto mais eu bebo, mais vontade de beber eu tenho. – seus olhos encheram de lágrimas –
— Alessandra, eu sugiro que você busque ajuda, Paula está ficando sem paciência e eu tenho que dar razão a ela, essa sua bebedeira vai te levar a um problema de saúde sério. Está na hora de você parar.
— Eu sei Drica, eu estou perdendo a Paula de novo não estou? – segurou a mão da amiga – Ela vai me deixar. – uma lágrima escorreu –
Adriana fazia carinho na amiga, enxugou seu rosto e beijou sua testa.
— Ela não vai te deixar, mas se você continuar desse jeito, pode mudar a forma que ela te vê. O amor não é suficiente Ale, as atitudes são primordiais para um relacionamento durar, e Paula está cansando de sempre ser ela a ser a responsável por vocês duas.
Alessandra apenas ouvia enquanto chorava, sua cabeça doía, não mais que sua consciência, ela tinha noção que nos últimos tempos estava deixando a desejar com Paula.
— Meu amor, Alessandra, pelo amor de Deus, você precisa parar com isso, olha quantos dias da sua vida você tem perdido por causa de ressaca, por estar se sentindo mal, ou quantas festas você não vê o final.
— Eu sei. – chorava com mais intensidade –
— Então pensa um pouco antes de voltar a se comportar desse jeito, se você não consegue parar, não começa, para de beber, se você bebesse para ficar alegre, mas você sempre bebe para cair, isso que está errado, a falta de limite.
— Se você não consegue controlar os seus impulsos, você precisa procurar ajuda. Está se tornando uma doença. Alessandra não joga a sua vida fora.
— Eu preciso conversar com Paula Drica, eu preciso pedir desculpas. – ameaçou levantar-se –
— Espera, fica ai, se você levantar vai acabar vomitando de novo. Eu vou ver se ela quer conversar com você. – beijou sua testa e saiu –
Na sala, Ana e Paula assistiam televisão, Drica sentou-se ao lado da amiga e a abraçou. Paula recebeu o carinho com os olhos marejados.
— Paulinha ela quer falar com você. – disse baixinho –
— Eu não quero falar com ela. – disse magoada –
— Ela precisa de apoio Paula, e o seu será fundamental para ela entender que está errada. Eu já conversei bastante, e acho que é a hora de você falar também.
— Drica ela não está merecendo nada, Alessandra só tem feito besteira.
— Mas o seu amor é mais forte que seu orgulho não é minha amiga? – fez carinho em seus cabelos –
— Você sabe como convencer as pessoas não é?
— Quem disse que eu precisei convencer? Você não iria deixar de falar com ela.
— Ah, eu iria sim. – levantou – Mas eu vou falar com ela.
Paula caminhou até o quarto e deixou Adriana abraçando a promotora na sala. Caminhou hesitante pelo corredor, sentia o amor por Alessandra pulsar em seu peito, mas estava tão decepcionada e magoada que não queria conversar naquele momento, pensou em voltar, mas Alessandra chegou na porta e a viu parada.
— Desculpa. – disse arrependida –
— Entra ai. – Paula disse secamente –
As duas entraram no quarto e Paula fechou a porta para conversarem com privacidade. Não que queria esconder algo das amigas, mas não queria incomodá-las.
— Paula, eu sei que você não deve nem querer falar comigo, mas eu tenho noção que eu vacilei.
— Então por que você sempre faz a mesma coisa Alessandra? Por que toda festa que eu vou com você, mesmo eu te pedindo para maneirar com a bebida, você sempre volta para casa carregada?
Alessandra ouvia atentamente, sabia que Paula dizia a verdade, sabia que estava exagerando na bebida.
— Alessandra, eu não aguento mais essa vida, eu tenho trinta e cinco anos, e você vai fazer quarenta esse ano, parece que eu sou sua mãe, eu não quero uma esposa que se comporta como minha filha, que eu tenho que cuidar, que eu tenho que me preocupar, eu nunca vou para as festas e me divirto como os outros, eu fico vigiando você, e mesmo assim, não consigo fazer você parar de beber.
— Paula, me perdoa. Eu estou sendo infantil e agindo como uma leviana com você, você tem toda razão. – lágrimas caíam em seu rosto – Eu não tenho motivos nem explicações, eu simplesmente estou errada e pronto. Eu prometo que vou melhorar, eu vou mudar, agir diferente.
— Quantas vezes você vai me prometer isso esse ano Alessandra? Quantas vezes? – levantou da cama – Toda vez é a mesma coisa, você promete que não vai beber, e quando voltamos para casa você não consegue nem abrir os olhos. – colocou as mãos na cintura – Até quando vai ser assim?
— Acabou, não vai mais acontecer. Eu juro. – levantou também –
— Não jure o que você não pode cumprir. – Paula levantou o indicador para a esposa –
— Paula. – Alessandra se assustou com a afirmação –
— Alessandra você ontem não conseguiu nem caminhar até o carro, Felipe teve que te carregar no colo, você acha isso bonito? O noivo ao invés de carregar a noiva dele, fez isso com você.
Alessandra abaixou a cabeça envergonhada.
— E de madrugada, nós tivemos que te resgatar debaixo do chuveiro, gritando que estava chovendo, você nem sabia onde estava. Alessandra, eu te amo, mas se você continuar desse jeito, eu não vou pensar duas vezes em me separar de você.
— Não Paula, por favor, eu te amo, eu não posso mais viver sem você, não me deixa de novo.
— Pois é, Alessandra, ainda bem que você sabe que é de novo, e tudo por sua culpa mesmo.
— Eu sei, mas eu prometo que não vou mais beber desse jeito, nunca mais vou fazer você passar por isso de novo.
— Você tinha que prometer que nunca mais iria beber de novo, isso sim. – levantou e foi até a porta – Agora dorme mais um pouco para ver se você melhora para almoçar, nós vamos embora depois do almoço.
Paula saiu e bateu a porta, Alessandra ficou no quarto arrependida e chorando, Paula passou pelas namoradas na sala e avisou que iria andar um pouco na praia. Ana e Drica ficaram em cassa vigiando Alessandra.
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Cinco meses passaram-se, Adriana não teve mais notícias de sua mãe, nem com Felipe Catarina estava falando, sabia que isso acabaria acontecendo, então seguiu sua vida tentando se libertar de seus fantasmas.
Drica continua a terapia com Martha, já se sentia mais a vontade com a terapeuta, já conseguia falar mais abertamente sobre seu íntimo, seus medos e dificuldades.
Saía de mais uma sessão com Martha quando encontrou Ana na recepção.
— Ana, que surpresa! – Martha a cumprimentou –
— Oi Martha, tudo bem? Eu vim buscar Drica.
A loira beijou o rosto da namorada que sorriu com o carinho.
— Que bom, assim eu consigo te encontrar, você não quis mais saber de terapia. – riu –
— Pois é, eu estou deixando você para Drica, eu quero que ela fique bem. – segurou a mão da morena –
— Ela vai ficar bem, já está não é?
— Sim. – respondeu sem graça –
Despediram-se e Ana saiu com Drica do consultório.
— Então meu amor, quer comer aqui no shopping? Podemos lanchar e depois ir embora.
— Pode ser, eu não quero fazer comida hoje não.
Adriana e Ana comiam na praça de alimentação do shopping em Itaipú, perto da casa da promotora, conversavam animadas, distraídas.
— Como está a terapia meu amor? – mordeu o sanduiche –
— Ah, está indo bem, Martha está mexendo em feridas muito doloridas, você sabe, mas eu estou me adaptando. – comeu uma batata frita –
— Eu imagino como é ruim, mas você vai ver que será muito bom para você.
— Mudando de assunto, você se lembra de Renata? Minha colega de quarto lá em Harvard? – bebeu refrigerante –
— Sim, lembro. – mexia o suco com o canudinho – O que tem ela?
— Ela me mandou um e-mail, disse que está congelando em Boston, e que esse fim de ano ela virá para o Brasil visitar a mãe em São Paulo. Eu pensei que nós poderíamos tirar nossas férias e de repente ir a Sampa uns dias para visita-la.
— Hum, férias! Gostei da ideia. – balançou a cabeça positivamente – Podemos sim.
— Eu queria muito viajar para Fernando de Noronha, tem uns passeios de barco com mergulho que eu estou louca para fazer. – limpou a boca com um guardanapo –
— Ai, eu sabia que teria alguma aventura nesse meio, e o que mais? Vai dizendo ai. – ria –
— Calma, não tem nada demais, é só um mergulho, — uma pausa – com tubarões. – mordeu o sanduiche —
— O que? – deixou o copo de suco na mesa – Você enlouqueceu não é? Eu que não vou entrar em uma água repleta de tubarões. Adriana eu te amo, mas isso é demais. – gesticulava —
Adriana soltou uma gargalhada contida, e terminou de mastigar para voltar a falar.
— Relaxa Ana, eu não vou fazer isso com você, eu estava brincando. Eu sabia que você ia ficar com medo. – ria –
— Acho bom, porque nem eu ia mergulhar e nem ia deixar você fazer isso, eu hein! Perder minha mulher para um peixe qualquer.
Adriana ria. – Meu amor, você não vai me perder para um peixe qualquer. – uma pausa — É um tubarão!
— Ai, nem pensa nisso, eu não sei o que faria se visse algo assim, ai, não gosto nem de pensar. – fechou os olhos –
— Ana, deixa de bobeira, eu estou colocando pilha, lá a cadeia alimentar é regular, os bichos não atacam os humanos, eles tem comida suficiente para não querer comer a perna de alguém como aperitivo. É só não ataca-los. – deu de ombros —
— Mesmo assim, eu estou muito bem aqui na terra, faço até uma trilha com você, mas não me leva pra nadar com tubarão não.
Adriana continuava rindo muito com a reação da namorada. – Eu prometo que você não vai nadar com tubarão, pode relaxar. – segurou a mão de Ana sobre a mesa –
O celular de Ana tocou e ela atendeu sem olhar o visor.
— Alô. Oi Duda, tudo bem sim. – olhou para Drica –
— O que ela quer? – sussurrou para a loira –
Ana deu de ombros e continuou na ligação. Adriana sentia-se incomodada com a colega de Ana, Duda era a única pessoa que ainda conseguia tirar o seu sono.
— Lembro sim, o caso do garoto que matou o primo. Caiu na sua mesa?
Adriana observava a conversa, até aquele momento era apenas sobre trabalho.
— Eu sei, eu fiz um caso parecido, mas esse não caiu na mídia, eu vou olhar os meus arquivos e te ajudo a montar a acusação amanhã, já tem todos os relatórios da perícia?
Adriana terminou de comer o seu lanche, e ficou esperando Ana terminar a ligação. Comia suas batatas fritas enquanto via Ana ao celular.
— Amor, que horas são? – Ana perguntou –
Adriana virou o pulso para ver as horas, mas esqueceu que segurava o saquinho de batatas na mesma mão do relógio, todas as batatinhas caíram na bandeja, Drica se assustou e tentou resgatar as que ficaram no fundo, mas só piorou a situação, estas voaram para fora da mesa.
Completamente vermelha de vergonha, ela disse as horas para Ana que prendia o riso, estava vermelha também, mas de rir.
— São sete horas. – catava as batatas sobre a bandeja –
— Eu estou no shopping com Adriana, daqui a pouco eu vou para casa. – ria contidamente – Tudo bem, beijos.
Ana desligou e olhou para Drica que começou a rir junto com Ana Paula, a loira roubou umas batatinhas que estavam caídas.
— Ai Adriana, eu quase não acreditei no que você fez, e a vontade de rir no telefone? – balançou a cabeça negativamente –
— Ai Ana, eu sou super desastrada, e às vezes dou umas pataquadas que nem a Alessandra.
— Eu tinha que ter filmado isso.
— Ainda bem que não filmou. O que ela queria? – Drica perguntou –
— Ela pegou o caso do rapaz que matou o primo de quatro anos a facadas, você viu isso?
— Eu vi no jornal, uma brutalidade não é? Eu fico imaginando, esse é o futuro do nosso país, crianças se perdendo cada dia mais cedo em bebida, drogas, crimes. Onde isso vai parar?
— É meu amor, as pessoas estão precisando de mais amor no coração, procurar Deus, viu o garotinho que a madrasta matou no sul? Outra covardia, uma criança indefesa, enterrada em uma cova rasa. Essas coisas me deixam desnorteada. – Ana juntava os papéis dentro da caixinha do sanduiche –
— O mundo está muito violento, todo dia é só notícia ruim na televisão, eu nem vejo mais. Não tenho mais paciência, nem coragem de ver tanta desgraça.
— Eu vejo isso todo dia meu amor, e ao vivo, todos os dias eu lido com todo tipo de gente, dos inocentes injustiçados aos piores marginais.
— Ai Ana, esse seu trabalho é perigoso, eu não gosto de pensar que você pode correr algum risco por causa de algum bandido.
As duas levantaram e jogaram o lixo dentro da lixeira e foram embora, caminhavam pelo estacionamento para pegar o carro, ainda conversando.
— Eu não tenho medo, eu estou fazendo o meu trabalho. Eu estou pegando muitos casos antigos para diminuir a fila de espera, faço o possível para agilizar processos engavetados, onde muitas vezes o prazo já está extrapolado.
— Esse caso está dando o que falar, ela precisa tomar cuidado. – chegaram à porta do carro de Adriana — Você então é uma espécie de “cold case”. – beijou o rosto da namorada de surpresa –
— Isso ai. – sorriu –
— Onde está o seu carro? – abriu o carro –
— Eu vim de taxi, eu sabia que você estaria de carro. – entrou no carona –
— Ah, espertinha. – entrou no carro – É para eu te deixar em casa, ou você vai para o meu apartamento?
— Eu não sei. – passeou com o indicador na perna da namorada — Eu acho que no seu apartamento nós ficamos mais a vontade.
— Só se for agora! – sorriu –
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O namoro de Viviane e Isadora corria muito bem, as duas já pensavam em morar juntas, a ruiva não aguentava mais dividir o espaço com Vanessa.
— Não vou demorar meu amor, pode vir para cá, que nós vamos para o cinema daqui. – Viviane falava ao celular com Isadora – Tchau.
— Amiga, esse namoro de vocês engatou firme mesmo! Vai dar em casamento. – Alessandra provocava –
— Tomara, porque eu não aguento mais Vanessa, meu apartamento está tomado por ela. – revirou os olhos –
As amigas riam, estavam no escritório, trabalhando. Adriana e Viviane estavam apenas com a parte de consultoria e análises, Paula e Alessandra continuavam com a contabilidade junto com duas estagiárias.
— Vocês vão ver qual filme? – Drica perguntou—
— Ainda não sei, foi Isa que escolheu, eu nem perguntei. – escrevia em um documento –
— Poxa Paula, tem um tempão que a gente não vai ao cinema. Nós poderíamos ir também. – levantou da mesa –
— Verdade Ale, tem um tempão mesmo, a última vez que nós fomos ao cinema, você me levou para ver uma carnificina em terceira dimensão. – digitava no computador –
Alessandra caminhou até sua mesa e beijou sua cabeça. – Meu amor, era o último filme da série do “Jigsaw”, foi o último filme de Jogos Mortais! –dizia animada –
— Eu percebi quando vi uma serra, vindo em minha direção na primeira cena. – olhou para a esposa—Eu quase morri do coração, passei o filme inteiro arrancando aqueles óculos do rosto e fechando os olhos.
— Ai, eu imagino. Que gosto horroroso para filmes Ale. – Drica ria –
— Você não sabe de nada minha amiga. – Paula reclamava –
— Por que não vamos todas ao cinema? Liga para Ana Paula e chama ela também Drica. – Viviane convidou –
— Sabe que é uma boa Vivi? Eu vou ligar para ela.
Adriana pegou o celular e ligou para a namorada, conversou com Ana por alguns minutos e combinaram de se encontrar no shopping, as amigas escolheram o filme que viriam e passaram uma noite agradável, depois do filme , sentaram na praça de alimentação para fazer um lanche antes de ir para casa.
Na esquina do prédio de Adriana a morena chegava com Ana, Viviane e Isadora no carro, enquanto paravam em um cruzamento, quatro homens em duas motos abordaram as amigas com armas em punho.
— PERDEU! PERDEU! – o carona pulava da moto já abrindo a porta do motorista –
— O que é isso? – Adriana se assustou –
O rapaz segurou em seu braço e a puxou do carro. – Sai todo mundo! – ordenava para as amigas descerem do carro –
Ana e as amigas se assustaram, Ana não conseguia soltar o cinto. Viviane e Isadora saíram do carro e Adriana se desesperou ao ver a loira presa.
— Ana sai daí! – Drica pedia –
— SAI PATRICINHA! — o rapaz acelerava o carro –
— Eu não consigo soltar. – tentava abrir o cinto —
O outro na moto apontava a arma para a cabeça de Adriana. Foram segundos de terror. Ana finalmente conseguiu se soltar e abriu a porta, enquanto saía do carro o bandido arrancou derrubando a promotora no chão.
Adriana foi até a namorada e a segurou pelos braços ajudando a levantá-la, Ana estava com as mãos raladas, e parecia muito assustada, Adriana a abraçou e as quatro viram o carro de Adriana sumir de forma desordenada no final da rua.
— Ana, você está bem? – olhava as mãos da namorada –
— Sim, eu estou bem. O que foi isso? – limpava a areia da calça – Gente, os caras chegaram feito loucos. – olhava para os lados –
— Foi muito rápido, quando eu vi tinha uma arma apontada para minha cabeça. – Adriana dizia –
— Você vai ter que dar queixa Drica. Seu carro tem seguro? –Viviane perguntou –
–Tem sim, vamos subir logo, eu tenho que ir à delegacia.
— Nós vamos com você Drica. – Isadora afirmou –
— Não precisa gente, já é tarde, vai demorar muito. – entravam no prédio –
— Mas nós somos testemunhas, nós vamos com você. – Viviane completou –
— Boa noite Ramon. – Adriana cumprimentou o porteiro –
— Boa noite Dona Adriana, senhoras! — cumprimentou as outras moças –
— Boa noite Ramon. – todas o cumprimentaram –
Entrando no elevador, Adriana se deu conta que estava sem bolsa. Quando pensou em pegar as chaves do apartamento.
— Caramba, minha bolsa, foi no carro. – apalpava os bolsos –
— Não amiga, nossas bolsas estão aqui, a sua estava do meu lado, quando mandaram sair do carro, passei a mão nela e trouxe comigo, é que na hora da correria eu esqueci de te dar. – Viviane entregou a bolsa de Adriana –
— Ainda bem, você é um anjo Vivi. – beijou o rosto da amiga –
Entraram no apartamento da morena e Ana foi lavar as mãos e o rosto, parecia confusa com o susto. Adriana bebeu água com açúcar, ficou nervosa com a situação, as amigas recolheram alguns documentos e saíram no carro de Viviane para a delegacia.
Muitas horas depois de conseguirem fazer o boletim de ocorrência, as quatro amigas chegaram em casa já de madrugada, cansadas e exaustas.
— Minha nossa, mas que trabalho para dar queixa de um roubo. – Viviane reclamava enquanto entravam no elevador –
— Nem me fala, eu achei que não iríamos conseguir fazer nada hoje. Viu a quantidade de gente dentro da delegacia? – Adriana comentou –
— O pior foi o riso abusado daquele policial quando dissemos que somos dois casais, aposto que ele pensou em transar com as quatro, os homens sempre pensam nisso. –Isadora pontuou –
— Quando eu falei que sou promotora ele logo mudou o tom, percebeu? A nossa polícia está cada dia mais despreparada. – balançou a cabeça negativamente –
O elevador parou no quinto andar e Ana e Drica desceram, Isadora iria dormir com Viviane.
— Tchau meninas, obrigada pela ajuda. – Drica acenou –
— De nada, amiga. – Viviane mandou um beijo no ar –
O elevador fechou e Drica caminhou de mãos dadas com Ana até seu apartamento.
— Ai, eu estou exausta, e amanhã você terá que resolver mil coisas com o seguro, tadinha da minha namorada. – Ana abraçou Drica e a beijou –
— Pois é, nem me fala. – encostou a cabeça no ombro de Ana – Mas não tem jeito, eu tenho que encarar isso. Eu vou ter que ir de carona com Vivi. – riu –
— Vamos tomar um banho para descansar? Se eu não estivesse tão cansada, eu levaria você para o banho junto comigo. – abraçou com mais força –
— Eu aceitaria com o maior prazer, mas estou exausta como você. Podemos apenas dormir? são quase quatro horas da manhã.
— Eu sei, um banho rápido para dormir.
As duas dormiram abraçadas para encarar o dia seguinte que seria longo e difícil.
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Adriana recebeu um carro reserva por uma semana até o seguro pagar o seu carro, a semana estava correndo bem, muito trabalho para todas as amigas. Na sexta-feira, as contadoras resolveram ir para Copacabana tomar um chope em algum quiosque na praia.
— Ai, ainda bem que a noite hoje está mais quente, não daria para sentar aqui na beira da praia para tomar nem uma coca cola se estivesse ventando e chovendo como na semana passada. – Paula comentava –
— Alessandra, você vai se comportar não é? – Drica perguntou —
— Eu estou comportada desde o casamento do seu irmão Drica, hoje não será diferente.
— Isso ai, assim que eu gosto de ver. – Ana encorajou –
Depois de alguns chopes e uma porção de bolinho de bacalhau, Ana avistou Lívia caminhando pelo calçadão conversando com uma moça, não conseguiu ver o rosto da outra.
— Ih, gente, é a Lívia. – apontou na direção que a professora vinha –
As amigas olharam e se espantaram ao ver que a moça que Lívia acompanhava era Mariana.
— Mas é Mariana junto com ela! – Alessandra apontou –
— Alessandra! Não aponta. – Paula repreendeu –
— É verdade, Lívia e Mariana juntas? Será que elas estão namorando? – Isadora levantou a questão –
As duas caminhavam na direção do quiosque que as amigas estavam, e foi impossível não ver aqueles rostos tão conhecidos.
Passando pelo quiosque, as duas avistaram as amigas que abriram um grande sorriso ao ver as duas. Cada uma foi falar com quem conhece.
— Olha quem apareceu! – Paula foi a primeira a se levantar –
— Oi Paula! – Mariana a cumprimentou –
— Gente, quanto tempo! – Alessandra também falou –
Ana levantou para falar com Lívia. – Lívia, que surpresa! – abraçou a professora –
— Pois é, eu vim encontrar com Mariana aqui no escritório dela e resolvemos andar um pouco para conversar. Sabe como é. – deu de ombros envergonhada –
— Hum, entendi, está rolando um clima entre vocês. – Ana falou baixinho –
Lívia só balançou a cabeça positivamente.
Adriana se preparou para falar com a índia e como sempre, Mariana estava linda, era o mesmo sorriso que ela conheceu ha anos atrás.
— Oi Mari, como você está? – abraçou a índia –
— Eu estou bem Drica, e você? Continua linda como sempre! – sorria –
— O que você está fazendo por aqui? E a Lívia?
— Você conhece a Lívia? – perguntou assustada –
— Ué, como não? – Isadora respondeu –
— Espera ai gente, vocês conhecem a Mariana? – Lívia perguntou –
— Lívia, essa é a Adriana que eu te falei. Minha ex namorada.
— Caramba, eu imaginei que era uma coincidência muito grande o mesmo nome, mas nunca imaginei que poderia ser a mesma pessoa.
— Então a Ana que você me disse é ela. – Mariana apontou para a loira –
— Sim.
— Vocês já tinham conversado sobre nós, mas nenhuma das duas fez a ligação?
— Não. – as duas responderam juntas –
— Que maneiro! – Alessandra como sempre –
Todas olharam para a contadora.
— Isso é bom, significa que o passado está importando menos para vocês duas e estão se permitindo seguir adiante, sem se importar com o que já aconteceu. – Viviane explicou –
— Vem cá, você mudou a área e está cursando psicologia sem ninguém saber? – Isadora perguntou –
As amigas riram, Mariana e Lívia caminharam para ficarem mais próximas.
— Não meu amor, eu tenho uma tia que é psicóloga, e ela adorava discutir algumas teorias comigo e com Vanessa, ela dizia que éramos o olhar prático para ela confrontar com as próprias opiniões. – deu de ombros – Enfim, aprendi muita coisa. – sorriu –
— Essa é uma faceta que eu nunca descobri que você tinha. – Drica brincou –
— Não é sempre que aflora. – ria –
— Mas vocês não querem sentar conosco? Tomem um chope para colocar o papo em dia. – Paula convidou –
— Se vocês quiserem, fiquem à vontade. – Ana reiterou o convite – Lívia, você ainda está me devendo o artigo para aquele trabalho.
— Menina, pior que é, sabe que eu lembrei? Até separei para te mandar, mas não digitalizei para te enviar por e-mail. Desculpe. Já entregou não é?
— Já, só falei pra implicar com você mesmo. – sentou-se— Senta ai gente, vamos conversar.
Mariana e Lívia resolveram aceitar o convite, já não existia mais o peso no ar, não existiam desconfianças, ciúmes ou climas pesados, apenas pessoas que se conheciam e prezavam pela amizade conversando e se conhecendo, se reconhecendo.