Outra semana se passou, quinta-feira, Adriana saiu direto de sua última aula para a academia, fazia frio, caminhava pelo campus enquanto verificava suas mensagens no celular, teve a mesma sensação do outro dia, de estar sendo observada. Olhou a sua volta e percebeu um rapaz parado embaixo de uma árvore olhando em sua direção, ele usava jeans e um casaco escuro com o capuz cobrindo a cabeça.
Ela ficou amedrontada, não sabia se ele estava ali apenas a observando ou esperando alguém, mas ela achou suspeito, começou a andar mais rápido, já estava se aproximando do ginásio, sentiu um grande alívio ao passar pela porta do vestiário feminino. Sentou no banco da sala de armários e encostou-se na parede, estava ofegante, não sabia se era pela corrida até o ginásio ou se era pela ansiedade de estar sendo observada.
Após se acalmar, Adriana trocou de roupas e foi cumprir o seu circuito nos aparelhos. Malhou com os instrutores e para voltar ao quarto, pediu a um dos colegas que a acompanhasse, explicou o motivo e o rapaz a aconselhou a não andar sozinha pelo campus. Para não perder a carona, ela deixou para tomar banho no quarto.
Durante o trajeto Adriana ficou observando as pessoas caminhando pelo campus, tentando identificar o rapaz que ela havia visto mais cedo, mas não o viu por perto, já estava intrigada, pensava se não estaria exagerando, mas por que esse medo e essa angústia estavam habitando o seu peito?
Agradeceu ao seu colega de treino e entrou no prédio do alojamento feminino, chegando no quarto, Renata estava se preparando para sair.
— Oi. – sorria animada –
— Oi Renata, você vai sair? – deixava a bolsa no chão —
— Sim, me convidaram para tocar em uma festa que vai ter no outro bloco. Vem comigo. – colocava o all star nos pés.
— Eu acho que eu não vou não. Mas você tome cuidado ao andar por aqui sozinha a noite, não é totalmente seguro.
— Pode deixar, os meninos me trazem de volta por causa do equipamento.
— Achei que você só tinha a guitarra.
— Eu tenho um amplificador também. – mostrou no canto do quarto –
— E isso estava onde que eu não vi? – retirava os tênis –
— Embaixo da minha cama. – ria –
— Entendi. – seu olhar se perdeu –
— Então? Não vai comigo?
— Não eu vou ficar por aqui, eu vou tomar um banho, e descansar, o mestrado está sugando minhas forças.
— Tudo bem então, não precisa me esperar.
— Eu não ia. – riu –
Renata pegou o case da guitarra e colocou nas costas e segurou o amplificador por uma alça e saiu deixando Adriana sozinha no quarto, a morena correu para a porta para se certificar que estava devidamente trancada. Foi até a janela e observou os arredores do prédio, como não viu nada fechou a persiana. Mais calma entrou para tomar seu banho para relaxar.
Ao voltar para o quarto, pegou um biscoito para comer e sentou na cama para ligar o Notebook. Encontrou Viviane e Mariana on line, ao que foi chamada pelas duas amigas. Viviane estava no Skype e Mariana logada pelo celular.
— Oi Dri. Que saudades! Você está bem? – sorria na câmera –
— Oi Vivi, eu estou bem sim, e você?
— Eu estou ótima. Eu vi o seu e-mail. Eu tenho novidades para você. – pulava na frente do computador –
— Então me conta. – sorria –
— Amiga, eu estou namorando a Isa. Eu queria te contar pessoalmente, não queria que você soubesse por outra pessoa.
— Obrigada pela consideração Vivi, mas você não precisa se preocupar com isso, eu fico muito feliz por vocês, Isadora é uma boa pessoa, eu acho que vocês vão se dar muito bem.
— Eu também estou achando isso. Ela é tão linda, tão carinhosa e companheira sabe. Ela me lembra você as vezes quando dá uma de mandona.
— Eu sou mandona agora?
— É, mas eu adoro isso em você, deve ser por isso que eu adoro nela também. – ria –
— Entendi, mas e ai, cadê a namorada?
— Ela vai vir me pegar, nós vamos a um restaurante que ela falou que é muito bom aqui em Copa, eu estou esperando ela chegar.
— E as meninas? Não estão em casa?
— Não, elas esticaram direto do escritório, foram para Lapa.
— Sei. Como eu tenho saudades de vocês! – sentiu um aperto no peito enorme e seus olhos marejaram –
— Ei, não fica assim, já passou praticamente um mês, é rápido, daqui a pouco você está de volta. – sorria –
— Vivi, eu estou com medo. – uma lágrima escorreu –
— De que? – ficou assustada –
— Eu estou com a nítida sensação de que eu estou sendo observada, ou seguida, eu não sei direito.
— Como assim Dri? O que aconteceu? – ficou apreensiva —
— Não aconteceu nada, é que eu vi um rapaz estranho parado no caminho da academia hoje, e semana passada eu tive a mesma impressão, de ter alguém me acompanhando sabe.
— Eu hein Dri, fala com alguém ai, algum segurança, cuidado, não fica sozinha, não volta tarde pro quarto, você e essa mania de ficar na biblioteca até dez, onze horas da noite, não faz isso. – dava uma bronca com vontade na amiga –
— O que eu vou falar com o segurança Vivi? Eu estou com um pressentimento ruim? Não vão fazer nada.
— Então se cuida hein, não fica andando sozinha por ai não.
— Pode deixar. Vivi, não fala nada para Paula não tá.
— Por que?
— Eu não quero preocupar ninguém, eu só te contei por que você viveu aqui também, eu queria saber se você também acha que eu estou viajando com essas ideias.
— Não, eu não acho viagem, você lembra o que fizeram comigo e as outras meninas, eu não duvido de nada.
— Eu lembro bem. Eu vou tentar ter cuidado.
Mariana começou a chamar Adriana no msn.
— Mari está me chamando no msn. – observou a expressão de Viviane ao ouvir o nome de Mariana –
Antes a ruiva fazia uma careta, mas já estava mais aberta às novas emoções que vivia e esquecia pouco a pouco daquele amor que nutria por Adriana. Não esboçou nenhuma reação de ciúmes, e Adriana ficou aliviada com isso.
— Vai lá falar com ela então, eu vou me trocar para esperar Isadora.
— Vai lá, eu estou morrendo de saudades, um grande beijo minha amiga.
— Pra você também. Beijos.
Viviane deu um tchauzinho na câmera, e desligou. Adriana foi atender Mariana.
Mari — Oi Drica, você está ai?
Drica – Oi Mari, eu estou sim, você está bem?
Mari — Sim ,eu estou bem.
Drica — Você está em casa?
Mari — Não, eu estou em Copa, em um bar com o pessoal do escritório.
Drica – Ah sim, eu vi você on line, achei que estava em casa de molho.
Mari – Não, hoje não. Eu estou on line pelo celular. Como estão as coisas por ai?
Drica – Está tudo bem, uma correria só, estudando, malhando, fazendo trabalho.
Mari – Eu imagino. Eu estou com saudades de você. Já fez praticamente um mês.
Drica – Eu sei, eu também estou com saudades. Eu queria muito estar ai no Rio, na minha casa. – dizia com melancolia –
Mari – Vai passar rápido minha linda. Eu estou doida para te reencontrar e sentir seu beijo novamente.
Drica – Rsrsrs, Eu confesso que também sinto falta do seu beijo. Da sua companhia.
Drica – Bom, eu vou deixar você se divertir.
Mari – Conversar com você é mais divertido do que o papo sobre arquitetura moderna que está rolando aqui na mesa.
Drica – kkkkkkkkkk. Então tá, quer falar sobre o que?
Mari – Sobre nós.
Drica – Nós?
Mari – Sim. Do quanto eu queria ter você nos meus braços agora .
Drica – Nossa, assim eu gamo. Rsrs.
Mari – Eu já gamei. Rsrs.
Drica – Como está o céu aí?
Mari – Limpo e com uma lua cheia linda.
Drica – Então olha para a lua e pensa em mim, estaremos conectadas pela energia dela. É a mesma lua que eu estou olhando aqui agora.
Adriana levantou com o notebook nas mãos e foi até a janela, abriu as persianas e sentou no parapeito, ela podia ver a lua cheia também, era incrível a sensação de conexão entre ela e Mariana naquele momento.
Drica – Está sentindo minha presença?
Mari – Como se você estivesse aqui ao meu lado.
Mariana admirava a lua e pensava no que Adriana havia dito, elas estavam ligadas através da lua, a mesma lua que iluminava o céu que elas olhavam. A morena alheia às pessoas que estavam animadas na mesa, fechou os olhos, no momento que a cantora que estava tocando no bar começou a embalar os sonhos de Mariana.https://www.youtube.com/embed/i0apOwqlNiY?feature=oembed&wmode=transparent
Aonde quer que eu vá- Paralamas do Sucesso
Olhos fechados
Pra te encontrar
Não estou ao seu lado
Mas posso sonhar
Aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá
Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
Aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá
Longe daqui
Longe de tudo
Meus sonhos vão te buscar
Volta pra mim
Vem pro meu mundo
Eu sempre vou te esperar
Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
Aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá
CHORUS
Longe daqui
Longe de tudo
Meus sonhos vão te buscar
Volta pra mim
Vem pro meu mundo
Eu sempre vou te esperar
Adriana voltou a escrever, chamando a atenção da arquiteta novamente.
Drica – Então, gostou da ideia? Agora sempre que você olhar para a lua lembre-se de mim.
Mari – Sempre, a lua será nossa confidente.
Drica – Lindo isso.
Mari – O pessoal está me perguntando por que eu estou com cara de boba. Rsrsrs.
Drica – Você está com cara de boba?
Mari – É o efeito que você tem sobre mim.
Drica – Ai Mari. Você é linda sabia. Alguém já te disse isso hoje?
Mari – Não.
Drica – Então, você é linda!
Mari – Você que é. A galera quer tomar o celular da minha mão, é mole.
Drica – Vai se divertir, eu vou deixar você beber o seu chope em paz.
Mari – Eu não quero parar de falar com você.
Drica – Eu sei, mas vai lá, você precisa se distrair.
Mari – Ok, eu vou, um beijo minha linda.
Drica – Beijo.
Mariana saiu do aplicativo e Adriana ficou olhando o notebook, suspirou e olhou novamente para a lua, ao levantar desviou o seu olhar e reparou em um vulto de uma pessoa parada em frente ao seu prédio e se assustou, se afastou da janela rapidamente e fechou a persiana como pôde, o coração batia forte, ela colocou o computador na cama e apagou as luzes do quarto. Voltou para a persiana e abriu uma fresta para olhar a rua. Para sua surpresa, não tinha ninguém em pé do lado de fora.
— Minha nossa! – colocava a mão no peito – Será que eu estou ficando maluca?
Olhou novamente e não viu mais ninguém, depois de outro susto desses, o que lhe restou foi desligar tudo e tentar dormir, o que não foi nada fácil.
**********************
Ana levantava cedo, tinha mais uma sessão com a terapeuta, estava ansiosa, esperava se encontrar dentro daquele consultório. A verdade é que ela sabia que tinha que se encontrar dentro de si mesma. Tarefa que não seria muito fácil.
Dirigia desligada de seus pensamentos, apenas prestando atenção no trânsito. Chegou mais cedo no shopping, passou no escritório deixou uma pasta de um processo que estava estudando e se dirigiu para o consultório.
Chegando na sala da terapeuta, sua recepcionista já estava presente, diferente de sua primeira visita.
— Bom dia senhora Ana. – seu sorriso era cordial —
— Bom dia.
— Sente-se por favor, eu vou avisar a doutora.
Ana sentou na sala de espera e na televisão passava um programa de variedades que não a prendeu por muito tempo.
A recepcionista saiu e autorizou a sua entrada.
— Pode entrar. – abriu passagem –
— Obrigada.
Ao entrar, avistou Marta sentada em sua mesa fazendo anotações. A mulher mais velha levantou os olhos e sorriu ao ver Ana em pé.
— Bom dia querida.
— Bom dia. – estava sem graça –
— Sente-se onde você preferir, — apontou para o outro lado do consultório –
Ana olhou e escolheu se acomodar no sofá, muito confortável por sinal. Colocou sua bolsa ao lado e se encolheu. Marta levantou e sentou-se na cadeira em sua frente.
— Bom, esteja à vontade. Quando quiser começar. – retirava os óculos e pousava na cabeça –
Ana segurava as mãos entrelaçadas sobre o colo, não sabia por onde começar. O que precisava dizer para a terapeuta entender suas dúvidas? Quais as perguntas que ela queria respostas? Ela só queria entender por que deixou Adriana ir embora, por que ela não disse que a amava? Sentindo o desconforto da paciente, Marta se fez presente.
— Você quer água ou café? Para tentar relaxar?
— Não obrigada.
— Ana o tempo é seu, você tem a palavra.
— Eu não sei por onde começar.
— Por que não tenta do começo?
— Meus pais? – seus olhos eram de interrogação —
— Se você preferir.
— Eles não são muito presentes. Meu pai é diplomata, e minha mãe bagagem de mão dele.
Marta riu – Como assim bagagem de mão?
— Ela não trabalha, só fica acompanhando aonde ele vai.
— Entendi. – riu novamente – E isso incomoda você bastante.
— Sim. – olhou para o chão –
— Quando começou isso?
— Desde que eu me entendo por gente. Nós sempre ficamos com babás e em creches, Eu só tive minha mãe em casa nos primeiros anos das minhas irmãs. Era só a gente ter idade para ficar em creche que ela voltava a correr atrás do meu pai.
— Entendo.
— Meu pai, quando não estava trabalhando estava estudando, eu nem sei como ele conseguiu fazer três filhas. – riu da própria piada –
Marta riu também. – É um caso a investigar.
— Ele fixou residência no Canadá por um tempo, mas eu e minha irmã do meio detestamos morar lá, é muito frio, Alana é a mais nova, foi praticamente criada por lá, ela tinha dois anos nessa época, agora ela resolveu morar lá de vez, vai fazer faculdade em Montreal.
— Entendo, então você e sua outra irmã quiseram voltar a morar no Brasil.
— Sim, com quinze anos eu voltei para cá, e não quis mais acompanhar meu pai, nem Camila. Então eles decidiram que nós ficaríamos aqui e quando eles pudessem nos visitariam.
— Você considera isso um abandono, não é?
— E não é? – Ana foi mais enfática – Que mãe deixa duas filhas adolescentes sozinhas para vigiar o marido? Alana herdou o espírito aventureiro dele, ela acompanhava, mas eu e Camila queríamos criar raízes, ter amigos, não mudar de escola todo ano.
— Mas você esperava que ela decidisse ficar com vocês?
— No fundo eu queria que ela ficasse, mas eu sabia que ela prefere meu pai a nós três. Ficar em casa cuidando das filhas nunca foi prioridade. – dizia magoada –
— E você acha que isso influenciou no fato de você não conseguir se relacionar com alguém?
Ana pensou e não imaginava que isso poderia ter alguma ligação, mas depois da pergunta ela não descartou a possibilidade.
— Eu não sei. – uma pausa — Doutora, eu preciso te avisar que meus relacionamentos não são do tipo: “convencionais”. – fez sinal de aspas na ultima palavra –
— O que você quer dizer com isso?
— Eu sou lésbica.
— Entendi. E onde está o problema nisso? Seus relacionamentos podem ser convencionais.
— É o que a sociedade diz.
— Você não é o que a sociedade diz, e sim, o que você faz e as atitudes que você toma. Se você é feliz namorando mulheres, é assim que você deve viver, faça o que te faz feliz.
— Que bom saber que a senhora não é preconceituosa.
— Eu não estou aqui para te julgar minha filha. Isso te deixa mais confortável?
— Sim.
— Bom saber.
Ana conseguiu falar algumas coisas que a incomodavam, e o papo foi fluindo normalmente, até o horário do término da sessão.
— Bom Ana, o nosso tempo terminou, agenda o seu retorno com Mirella e na próxima seção você me conta sobre a sua dificuldade com relacionamentos.
— Tudo bem. Até mais.
— Até mais Ana.
Ana Paula saiu do consultório e foi para o escritório, pensava que não foi tão difícil colocar seus fantasmas para fora, estava até gostando da conversa com a terapeuta. Estava esperançosa quanto a espantar seus fantasmas. Sorriu ao pensar que poderia viver mais feliz.
*****************
Viviane conversava com Isadora ao celular, marcavam de se encontrar a noite para jantar.
— Não Isa. Eu não gostei desse restaurante que nós fomos da ultima vez, a carne estava passada.
— Eu também achei, vamos fazer o seguinte, eu vou para Copacabana e pego você e jantamos por ai.
— Depois podemos esticar? — Vivi sorriu marota –
— Claro, nós devemos esticar – sorriu também – eu estou em uma fase que eu não quero desgrudar de você.
— Eu também estou assim. – dizia melosa –
Paula e Alessandra riam da amiga que estava apaixonada suspirando pelos cantos.
— Então está marcado, eu te pego às nove.
— Perfeito. Um beijo.
— Beijo.
Viviane desligou o aparelho e olhou para as amigas que a fitavam.
— O que foi? – perguntava desconfiada –
— Você ai, suspirando pelos cantos. Parece até adolescente. – Ale falava implicando –
— Ai gente me erra. – ficou sem graça –
— Você já contou para Adriana? – Paula perguntou –
— Sim, eu já falei com ela pelo Skype quinta-feira passada. Ela está bem.
— Tem duas semanas que eu não falo com ela, eu estou com saudades dela. – Paula dizia –
— Ela está on line sempre à noite, são os momentos que eu consigo falar com ela.
— Eu vou tentar falar com ela hoje, senão eu ligo, tem muito tempo sem falar com minha amiga, não pode ficar assim não.
— Eu estou com saudades dela também. – Ale comentou –
— Ale, você vai direto comigo hoje? – Paula perguntou –
— Sim, eu trouxe minhas coisas para ir direto.
— Maravilha, então nós falaremos com Drica hoje à noite.
*****************
Adriana desistiu de ir à academia, terminou as aulas daquele dia e mudou o caminho que ela costumava fazer, saiu do prédio de exatas com algumas amigas, e ela seguiu com as meninas para o alojamento. Mudou o percurso, entrou no prédio pelo outro portão, nesse dia não percebeu ninguém estranho no caminho. Suspirou aliviada quando entrou no quarto. Encostou na porta e fechou os olhos. Tomou um susto quando sentiu a porta mexendo atrás de si. Se afastou e viu Renata entrando com vários livros nos braços e os fones no ouvido escutando um rock n roll.
— Oi Adriana, que cara é essa?
Adriana estava pálida, ainda tinha suas coisas nas mãos e a mochila nas costas.
— Nada, eu acabei de chegar também, me assustei com a porta.
— Ah sim. – tirava os fones do ouvido – Nossa eu estou morta, o curso está puxado.
— Você vai acostumar. – colocava os livros sobre a escrivaninha – Você vai sair hoje?
— Não, eu vou descansar, eu tenho um trabalho enorme para fazer amanhã. Você vai?
— O que?
— Sair? – Renata estava intrigada com a distração de Adriana –
— Eu não. Eu vou ficar no quarto.
— Quer tomar banho primeiro?
— Não, pode ir você, eu vou ver meus e-mails, depois eu vou.
Renata tirou a mochila das costas, e pegou suas roupas para entrar no banheiro. Adriana sentiu o celular vibrando no bolso, olhou e viu que era uma mensagem. Mariana.
— “Oi minha linda, como você está? Eu sinto saudades. Não vejo a hora de te ver de novo. Beijos.”
Adriana sorriu e respondeu. – “Oi índia. Eu também estou sentindo muitas saudades, gostaria que você estivesse aqui. Beijos.” – enviou a mensagem –
Novamente seu telefone vibrou com a resposta. – “Cuidado com o que deseja, seu sonho pode virar realidade.”
— “Seria o melhor que poderia acontecer.” — enviou a última mensagem —
Adriana ligou o computador e sentou na cama, quando entrou na internet para ler as notícias, viu um artigo sobre a universidade e parou para ler, a notícia contava sobre o desaparecimento de três mulheres no campus de Harvard, as quais foram citadas como vítimas do estupro coletivo que houve na fraternidade onde Viviane estava no último ano.
Adriana releu a notícia três vezes, não acreditava no que estava acontecendo, sentiu um calafrio terrível correndo por sua espinha, será que a pessoa que ela tem visto rondando seus passos está envolvida com esses desaparecimentos? Talvez esteja procurando por Viviane, agradeceu o fato da ruiva não ter voltado com ela. Decidiu procurar mais matérias relacionadas e encontrou as mesmas informações em outros jornais na internet, sentiu medo.
Renata saiu do banheiro e percebeu Adriana tensa, ela estava mais pálida do que na hora em que entrou no quarto.
— Adriana, você está bem? – secava os cabelos –
— Sim. – fixava os olhos na tela do computador –
— Você está pálida.
— Renata, você ouviu alguma coisa nos corredores sobre o desaparecimento de algumas garotas aqui do campus? – finalmente olhou para a mais nova –
— Ouvi sim, o pessoal na minha turma de direito constitucional estava comentando, uma das meninas que desapareceu é veterana no curso de direito.
— O que falaram?
— Não falaram muita coisa, parece que foram duas ou três, eu não sei ao certo, disseram que foi à noite enquanto elas voltavam para casa, ninguém viu nada nem ouviu nada.
— Aqui na internet diz que já foram três meninas.
— Eu confesso que eu fiquei assustada, disseram que a segurança foi reforçada, aumentaram as rondas e tal, mas eu não vou dar mole por ai não.
— Eu acho que tem alguma coisa relacionada com um outro crime que houve aqui no ano passado.
— Como assim?
— Houve um estupro coletivo em uma festa de uma das fraternidades aqui do campus.
— Ah, uma fraternidade que está fechada.
— Sim, vários veteranos atraíram algumas estudantes para uma festa e quando chegou lá era uma armadilha, elas foram estupradas diversas vezes por vários rapazes.
— Nossa que horror, e o que aconteceu?
— Eles foram presos em flagrante e foram a julgamento, estão todos presos e condenados a vários anos de prisão.
— Pelo menos isso.
— É, mas as garotas que estão sumindo são as meninas que foram vítimas dos estupros, eu estou achando que é alguém ligado ao que aconteceu naquela casa. Um dos rapazes que não foi pego talvez.
— Ah agora eu entendi, você acha que o alvo são só as meninas que foram estupradas.
— Sim. Eu percebi uma movimentação estranha de umas semanas para cá, eu vi uma pessoa rondando nosso prédio e no caminho que eu faço para ir para o ginásio.
— Ai Adriana, agora eu até me arrepiei. – mostrava o braço –
— Minha amiga, a minha colega de quarto foi uma das garotas que estava nessa festa, ainda bem que ela não voltou comigo.
— Sério? Deve ter sido horrível. Eu não consigo imaginar algo assim.
— Foi sim, ela ficou muito mal, mas hoje está bem. Ela ficou no Brasil, eu acho que esse cara que está rondando aqui está procurando por ela.
— Entendi. Minha nossa, quanta informação! Eu fiquei até tonta.
— Imagina minha cabeça, eu espero que esse maluco não resolva me levar no lugar da Vivi, tem loucura para tudo.
— Ai não pensa nisso não, tenta não andar sozinha, e não vir muito tarde para o quarto.
— Eu já estou fazendo isso. Agora eu vou tomar um banho para tentar relaxar.
Adriana saiu do quarto e entrou no banheiro, tomou o seu banho bem quente para tentar relaxar e voltou ao quarto, Renata estava em sua mesa estudando, pelo menos essa moça era responsável, não seria babá novamente como havia pensado antes.
Estava caminhando para sua cama, ao passar pela janela, olhou para fora e viu o mesmo rapaz com a jaqueta de capuz parado em frente ao alojamento, ela gelou dos pés a cabeça. Ficou parada analisando a cena, os olhos bem abertos denunciavam o seu pavor. Renata notou a inércia da colega e virou em sua direção. Como não houve nenhum movimento da outra ela levantou e foi até a janela, ao olhar para a rua viu o rapaz parado encarando Adriana, ele ao perceber que foi visto por ela saiu imediatamente correndo em meio às árvores.
— Adriana.
Drica estava sem reação às suas perguntas, não respondeu nem se mexeu.
— Adriana, senta na cama. Você está gelada! Quer água?
— Não. – Drica estava paralisada de medo –
— Eu vi o cara parado lá embaixo, nós temos que avisar a segurança, esse maluco está atrás de você.
— É o mesmo cara que eu vi no outro dia. – estava tremendo –
— Nós vamos abrir uma ocorrência, eu vou ser sua testemunha, eles têm que fazer alguma coisa. – fechava as persianas —
— O que eles podem fazer? Não vão colocar segurança atrás de mim vinte e quatro horas.
— A gente dá um jeito nisso. E você não vai mais andar sozinha por ai, entendeu? Você está bem? Tem certeza que não quer nada?
— Eu estou bem, não quero nada, obrigada.
Adriana apenas assentiu com a cabeça, estava cansada, e agora assustada, Renata voltou para sua mesa. Adriana ouviu o chamado do Skype em seu notebook e foi atender, era Paula e Alessandra.
— Oi amiga, quantas saudades!
— Oi Paula. – estava apática –
— O que aconteceu Adriana? – Paula logo mudou o tom de voz –
— Nada não.
Renata ouvia, e se perguntava por que ela não contava sobre o homem que elas pensavam estar seguindo a morena.
— Adriana Ferreira, não minta pra mim, você está com cara de quem viu um fantasma e dos grandes!
— Oi gente! – Alessandra chegava ao lado de Paula com um pote de pipocas –
— Oi Ale. – novamente a saudação foi sem entusiasmo nem brincadeiras –
— E ai Drica você está bem? Você está com uma cara!
— Viu, até a Ale percebeu, o que está acontecendo? – pegava um punhado de pipoca –
— Ei, por que até eu? Eu não sou tão lerda quanto vocês pensam não.
— É sim meu amor. – Adriana finalmente conseguiu rir –
— Voltando ao principal, Adriana, o que está acontecendo?
Adriana suspirou e resolveu contar sobre os desaparecimentos e da pessoa que está rondando sua janela, Paula e Alessandra ficaram apavoradas, com medo de acontecer algo com Adriana.
— Adriana, larga isso aí, volta para casa. – Ale dizia –
— Não é simples assim Ale, tem muita coisa em jogo aqui.
— Sim e a maior delas é a sua vida, dessa vez eu tenho que concordar com Alessandra, deixa isso pra lá, volta pro Brasil e espera a poeira baixar, depois você volta.
— Eu não posso simplesmente ir embora. Além do mais, eu acho que ele está procurando por Viviane, ainda bem que ela não veio comigo.
— O problema é ele resolver te levar no lugar dela já que ela não está ai. – Ale falava enchendo a boca de pipoca –
— Ele deve estar rondando para tentar encontra-la, como não vai achar, pode ficar furioso e fazer algo com você.
— Nós vamos falar com a segurança do campus amanhã.
— Nós quem?
— Eu e minha nova colega de quarto.
— Ah ela está ai? Apresenta pra gente! – Alessandra sempre desfocada –
Renata acabou rindo quando ouviu o pedido da amiga de Adriana.
— Alessandra, estamos tratando de um assunto sério e você quer conhecer a amiga de Adriana?
— Ué, Paula qual o problema? Eu quero saber quem é que está cuidado da minha amiga.
— Alessandra, não tem ninguém cuidando de mim. Nós só dividimos o quarto. – sorriu –
Olhou para Renata que estava rindo.
— Ela está ai?
— Alessandra! – Adriana ralhou – Minha nossa senhora das mulheres curiosas!
Renata levantou e foi até Adriana. – Não se preocupe, me apresenta.
Adriana abriu espaço para Renata sentar e colocou o note de modo que a câmera pegasse as duas.
— Pronto, Alessandra, esta é Renata, Renata, minhas amigas Paula e Alessandra, está faltando Vivi, onde ela está?
— Saiu com Isadora. – Paula explicou –
— Muito prazer gente. – Renata falou –
— Prazer Renata. – falaram juntas –
— Você faz o que ai? – sempre Alessandra –
— Eu faço direito.
— Tudo bem, isso é o que a gente espera né. Eu estou perguntando o que você estuda?
Adriana e Renata se olharam e caíram na gargalhada, Paula estava incrédula de boca aberta olhando para a namorada.
— O que foi gente? O que eu fiz?
— Caramba, onde eu fui amarrar o meu burro? – Paula sacudia a cabeça negativamente –
— O que foi? – comia pipoca –
— Pelo amor de Deus Alessandra, você não pode estar falando sério! – Paula se desesperava –
As meninas em Harvard ainda riam de escorrer lágrimas pelos olhos.
— Eu estou sim, eu fiz uma pergunta muito séria Paula, vocês estão me deixando magoada. – cruzou os braços —
— Alessandra, ela faz Direito, o curso que ela estuda é Direito, ela será advogada! Entendeu agora?
Alessandra ameaçou abrir a boca, fechou novamente, segurou o queixo com uma das mãos e finalmente falou.
— Agora eu entendi.
Outra explosão de risos, as meninas até se esqueceram da conversa inicial sobre o desaparecimento das garotas.
— Ai Alessandra, só você mesmo. – Drica comentava rindo –