Passado um mês, Adriana e Ana Paula continuavam conversando pelo MSN, a morena cada dia mais encantada pela advogada, e Gisele ainda enrolava para conversar com o marido. A amizade das duas chegou ao ponto de Adriana suportar ouvir o desabafo de Ana Paula sobre a namorada, apenas para estar perto da amiga, sentindo o sentimento crescer dentro de si, e sabendo que deveria sufoca-lo pois não via espaço para outra pessoa na vida de Ana.
— Oi Ana.
— Oi Drica, tudo bem? Que bom que você ligou. – dizia desanimada–
— O que houve? Aconteceu alguma coisa?
— Ai o de sempre, eu estou tão chateada, mais um fim de semana que eu fiquei sozinha.
— Ana, por que você não me ligou? Poderíamos ter ido a algum lugar.
— Eu não estava bem para isso, eu fiquei chateada, ai não sou boa companhia.
— Não fala assim, você sempre é uma ótima companhia.
— Obrigada, só você mesmo para melhorar o meu astral.
— Eu faço qualquer coisa para te ver feliz, me diga o que você quer?
Adriana falava a verdade, queria ver Ana Paula bem e feliz, pois isso a fazia feliz também, mas Ana só tinha olhos para Gisele, não enxergava além da amizade de Drica que as brincadeiras e o flerte que para ela eram excitantes mas nada além disso, eram verdades implícitas nos comentários da morena.
— Você é um amor, sabia? – Ana abriu um pequeno sorriso– Você já está fazendo algo muito bom pra mim, está conversando comigo.
— Você quem sabe, se quiser eu vou até ai. –diz que quer–
— Não precisa, eu vou ficar bem.
E entre um assunto e outro, Ana Paula seguia com sua cruz, e Adriana sufocando o seu sentimento.
*********
Sábado, e Adriana estava na casa de Paula em Copacabana, elas resolveram descer para ficar em um quiosque na praia tomando um chope, Nathalia ligou para Alessandra para convidá-las para sair e acabaram encontrando as meninas no quiosque.
— Oi gente.
— E ai meninas. Tudo bem?
— Tudo certo. Só aproveitando a vista de Copacabana hein!
— É menina, está muito quente, não dá para ficar dentro de casa não. Resolvemos descer para tomar um chope e pegar a fresquinha na beira da praia.
— Foi uma ótima ideia ligar para vocês, nós também estávamos lá em casa quase assando. – dizia Nathalia—
Adriana estava doida para perguntar sobre Ana Paula mas estava com vergonha, até que o assunto surgiu na mesa casualmente.
— Eu estava doida para viajar esse fim de semana, mas Nathalia trabalhou hoje, nem deu pra ir para Cabo Frio.
— Alessandra inventou um curso aos sábados, agora eu estou presa em casa também.
— E você Adriana? Você está tão quieta hoje! –Isadora perguntava enquanto sorvia um gole do chope —
— Está tudo bem.
— Ah essa ai agora deve estar fazendo teologia, está virando freira, não quer sair para lugar nenhum mais.
— Então está igual a Ana Paula, não sai para lugar nenhum mais se não for com aquele encosto. – Nathalia levou um cutucão de Isadora— Ai.
O clima ficou estranho com o comentário sobre Gisele e Ana.
— Eu não estou virando freira, estou só querendo ficar quieta, ué, não pode não?
— Com vinte e três anos? Não pode não, tem que sair e beijar muito!
— Quem te ver falando assim até pensa que você badalou a vida inteira Alessandra.
— Eu namorei bastante. Não tenho do que reclamar.
— Então sossega o rabo ai porque você é uma mulher casada agora. – dizia Paula dando um tapa no braço de Ale –
A noite seguia tranquilamente quando o garçom trouxe um drinque para Adriana acompanhado de um cartão com um telefone anotado a mão.
— Com licença. – o rapaz acomodava o copo na mesa—
— Espera um pouco, eu não pedi isso.
— Foi oferecido pela moça de camisa branca sentada naquela mesa. – o rapaz indicava a mulher que havia enviado o mimo para Adriana.—
A mulher olhava ardentemente para a morena, sentada a três mesas das meninas com alguns amigos, percebia-se que a maioria era gay, Adriana não conseguiu não se encantar com a mulher linda que estava lhe oferecendo a bebida, a pele bem bronzeada, os cabelos pretos assim como os seus, parecia uma índia, ela levantou o seu copo em direção à nossa morena e Drica ficou completamente vermelha não sabia o que fazer.
— Eu não posso aceitar.
— Claro que pode! – Alessandra já foi pegando o copo e colocando na mesa—
— Alessandra!
O rapaz entregou o cartão nas mãos de Adriana e ao ler viu que a morena é arquiteta com escritório ali em Copacabana, atrás anotado a caneta havia um celular.
–Qual o nome dela?
— Mariana Santos, ela é arquiteta aqui em Copa. – Adriana lia o cartão –
— Drica tem um número atrás a caneta. – Isadora observou –
Adriana olhou na direção da arquiteta que ainda a encarava e sorriu sem graça. Quando virou o cartão estava escrito a caneta o celular particular da moça e uma frase: “Me liga”.
— Ai gente, que vergonha, ela não para de olhar para cá.
— Relaxa Adriana, aja naturalmente.
— Não dá para agir naturalmente com alguém te olhando daquele jeito.
Alessandra não se conteve e gargalhou com a expressão assustada de Adriana.
— Calma Drica, você está com uma cara de apavorada!
— É que eu nunca passei por isso antes, pelo menos eu nunca recebi uma cantada de uma mulher com aquela cara que ela está agora, parece que está me despindo só com o olhar.
— Essa é das boas hein! –mais um tapa de Paula— Ai! Isso dói sabia!
As meninas achavam engraçada a reação de Adriana. Ela ficou tão incomodada com o flerte descarado que pediu para saírem dali.
— Ai gente, nós podemos ir embora para outro lugar? Isso está me incomodando.
— Tudo bem minha rosadinha das Sendas, vamos dar uma volta por ai.
Pediram a conta e foram para outro lugar, antes de saírem a arquiteta ainda deu um tchauzinho para Adriana que não conseguiu responder, apenas sorriu amarelo.
*****************************
Em uma conversa com Isadora, Ana Paula comentava a amizade que criara com Drica.
— Ai Isa, a Drica é um amor não é? Tem sido uma ótima amiga.
— É sim, e você dando condição para aquela insuportável.
— Não fala assim, eu sei que eu estou deixando as coisas correrem frouxas, mas eu gosto dela.
— Ana, você está perdendo tempo com essa mulher, e não está enxergando o obvio, o amor está ao seu lado, mas você não vê.
— O que você está falando?
— Eu não vou me meter, mas quando você acordar para a vida e ver que perdeu tempo demais, já vai ter perdido todas as oportunidades que poderia ter aproveitado.
— Eu não estou te entendendo.
— E aquela atração que você sentia por Adriana? Acabou?
— Não, eu sinto uma atração forte por ela, mas nos tornamos tão amigas que não a vejo mais com esses olhos, entende?
— Eu até te entendo, eu só não aceito que você prefira continuar sofrendo nas mãos de Gisele a tentar ser feliz com outra pessoa.
Aquela afirmação deixou Ana pensativa, qual seria o seu pecado? O que estava debaixo dos seus olhos mas que ela não conseguia enxergar? Sentia que Adriana nutria um carinho muito grande por ela, mas não acreditava que a morena estava apaixonada.
Isadora estava quieta naquele momento e não voltara mais ao assunto, Ana também o deixou morrer, mas ainda estava intrigada com a amiga.
— Nós saímos com ela e as meninas no sábado, você não quis ir para ficar esperando Gisele, viu no que deu?
— É eu sei, se eu soubesse teria ido. Gisele não apareceu.
— Você tinha que ver a morena que ficou caidinha pela Drica! Um mulherão!
— Como assim?
— Nós as encontramos em um quiosque lá em Copa, teve uma hora que o garçom levou um drinque para ela com um cartão de uma arquiteta com o telefone anotado a caneta, e eu vou te falar, que mulher!
— Do jeito que você está falando, ela deve ser linda. – Ana falava se remoendo de ciúmes—
— É mesmo, uma morena alta, parecia uma índia. – Isadora falava com ênfase para provocar Ana – Eu quase caí da cadeira com o olhar que ela estava lançando para Drica, imagino ela como estava.
— E Adriana fez o que? – Ana já estava impaciente—
— Coitada ficou super sem graça, mas ela não ficou totalmente indiferente não. Se ela chegasse junto, eu não sei não hein!
— Ai Isa, vamos mudar de assunto.
Isadora ficou rindo, Ana ficou balançada com o que a amiga contou, não queria imaginar a morena nos braços de outra pessoa, mas começou a pensar no que Isadora vinha lhe dizendo que ela ainda perderia a chance de ser feliz com outra pessoa, e no final poderia ficar sozinha. Ela estava ficando confusa com os seus sentimentos, não sabia o que fazer.
**************
Adriana já não aguentava mais guardar o sentimento que nutria por Ana Paula, mas ao mesmo tempo sentia medo de falar algo com a loira e perder sua amizade, pelo menos sendo sua amiga a mantinha por perto, cada minuto em companhia da amiga era como se fosse uma eternidade, ela adorava, estava viciada em MSN, sempre entrava para ver se Ana estava on line. Paula e Alessandra se perguntavam por que a amiga não saia mais de casa, quase não queria ir para a boate, ou algum programa comum mesmo, Adriana não tinha vontade de ir a lugar nenhum, já que não estaria com Ana.
— Drica, nós vamos sair sábado, vem conosco.
— Ah Ale, eu não quero não, eu vou ficar em casa.
— Adriana, como é que é? – colocava as mãos na cintura — Tem um mês que você recusa os programas que nós estamos fazendo, já passou da hora de sair do casulo menina.
— O que houve aqui gente? – Paula saia do banheiro fechando a calça–
— Adriana não quer ir com a gente na boate no sábado.
— Poxa amiga, tem um tempão que você não sai com a gente.
— Ai Paulinha, eu estou em uma fase zen, não tenho vontade de ir para a balada.
— Drica, você só vai esquecer a Ana Paula conhecendo outra pessoa.
— Eu não tenho que esquecer a Ana, até porque não tenho o que esquecer, eu não tenho nada com ela. – olhou pra baixo para esconder que mentia–
— Porque ela não quer, não é!
— Ale!
Adriana olhou para as amigas e resolveu abrir o coração.
— Ela tem razão Paula, eu estou fantasiando uma historia que não existe e nunca existirá, ela é apaixonada por aquele boneco de Olinda e eu não tenho a menor chance.
Paula lembrou que Isadora usou o mesmo termo para descrever Gisele, e acabou rindo dessa memória.
— Você já falou para ela que você está apaixonada?
— Não, eu não tive coragem.
— Então fala amiga, quem sabe ela não sente algo por você também?
— Eu tenho medo de perder a amizade dela.
— Eu não acho que ela faria isso. Liga para ela e marca um chope.
— Acho que eu não consigo falar.
— Então manda um e-mail.
— Será que ela não ira se afastar se meu sentimento for só meu?
— Experimenta, se não rolar é até bom, pois você se liberta dessa prisão e vai viver sua vida.
Adriana ficou pensativa e resolveu seguir o conselho das amigas, dizer para Ana Paula que estava apaixonada.
Mas não sabia como faria isso, pensou em marcar um encontro, mas a vergonha falou mais alto, acabou ficando com a opção do e-mail.
Redigiu o e-mail e ficou olhando para o computador, hesitou várias vezes em enviá-lo, pois tinha medo da reação da advogada. Depois de muito pensar finalmente enviou o e-mail para Ana Paula, com a esperança de a advogada sentir algo parecido com os seus sentimentos, e esperou receber alguma resposta ou ligação da amada.
*********
Ana Paula passou o dia inteiro no fórum, e foi direto para casa descansar a noite, tomou um banho e comeu um lanche, sentou na cama com o lap top no colo e entrou no MSN, estava viciada em internet, sempre entrava para ver se Drica estava on line, nessa noite para sua surpresa a morena não estava disponível, entrou no e-mail e começou a ler alguns, chegou ao e-mail que Drica mandou e abriu o mesmo que continha no assunto: “particular”. Pôs-se a ler, e qual não foi sua surpresa eram as palavras de Drica dizendo que está apaixonada por ela:
“Oi Ana, eu resolvi escrever, pois é mais fácil para mim, falar cara a cara eu não conseguiria e no MSN também não daria certo, então eu resolvi mandar um e-mail, tem algo diferente em mim desde que nos tornamos amigas, na verdade desde que eu te conheci na boate naquela noite. Minhas pernas ficam bambas toda vez que eu te vejo, minha respiração muda quando eu escuto a sua voz no telefone, eu entro no MSN todo dia só para ver se você está disponível, e eu não consigo parar de pensar em você o tempo inteiro, o que eu quero dizer com isso? Eu acho que eu estou completamente apaixonada por você. Em algum momento você percebeu isso? Conhecer você mudou a minha maneira de ver o mundo e as possibilidades se abriram em um leque onde eu só vejo o seu rosto estampado. Eu sei que você ama outra pessoa, mas eu não poderia deixar de te dizer o quanto eu te adoro, e eu te admiro, e independente dos meus sentimentos, eu acho que você está perdendo tempo com esse relacionamento onde só você está cedendo, você merece o melhor, e ela não é o melhor pra você. Eu não estou dizendo que eu seja, mas eu me proponho a tentar ser a melhor pessoa do mundo para te fazer feliz.
Beijos.
Adriana”
Ana Paula leu e releu o e-mail dez vezes, e não acreditava no que estava acontecendo, Drica estava apaixonada por ela, era essa a relação que Isadora fazia quando disse que o amor estava ao seu lado e ela o estava ignorando.
Atordoada, sem saber o que fazer, levantou-se e andava pelo quarto olhando a tela do notebook, abriu a porta que dava para a pequena varanda que havia no quarto com vista para a piscina no quintal de trás e deixou a brisa fresca tocar sua pele, tentando relaxar.
Ela sentia algo por Adriana sim, mas não queria admitir, e a presença de Gisele em sua vida ocupava mais o seu espaço do que ela gostaria. Já estava ali parada ha dez minutos, alheia a qualquer movimentação em casa, quando escutou uma voz vindo de dentro do seu quarto, que a fez gelar da cabeça aos pés.
— Ana Paula, o que significa isso?
Era a voz de Gisele, e pelo tom de voz e a pergunta ela leu o e-mail que Adriana enviou declarando o seu amor.
Ana entrou no quarto, ela estava pálida, sabia que isso ia gerar uma confusão generalizada. Seria uma noite inteira para discutir a relação.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu vim ver minha namorada, que pelo visto não está sentindo minha falta, quem é Adriana?
— Gisele não é nada do que você está pensando.
— E é o que? Ela diz que te conhece, que você mudou a vida dela, ela não se apaixonou por você assim, no ar. – levantou o dedo em direção de Ana — Você me traiu.
— Gisele eu não te trai, Adriana é uma amiga, nós ficamos muito intimas, somos parecidas e como nos damos muito bem eu acho que ela se encantou comigo. Misturou as coisas.
— E você quer me convencer que foi de graça? Que você não deu nenhuma condição para que ela sentisse isso? – Gisele andava pelo quarto —
— Não Gisele, eu não fiz nada, nós somos apenas amigas. – Ana tentava despistar–
— Então acabou essa amizade a partir de agora, eu não quero mais você conversando com ela.
— Eu não vou fazer isso.
— Vai sim.
— Então vamos lá, eu também quero que você se separe do Bruno. Essa é minha condição.
— Como é? Você agora vai ficar fazendo exigências?
— Gisele não se faça de vitima, você só fica me enrolando, eu paro de falar com ela se você se separar do Bruno. Liga para ele agora e diz que você precisa conversar. – Ana estendeu o braço entregando o celular para a namorada–
— Eu não vou fazer isso assim, eu sou casada Ana Paula, e o casamento é sagrado, não é fácil como você pensa.
— Então Gisele, vai à merda e sai da minha casa, eu não vou admitir que você venha até aqui me dizer o que eu devo fazer, com quem eu devo falar, e na hora de resolver sua vida você finge que está tudo bem, vai embora.
— Ana Paula não faz isso.
— Agora! Vai embora e só volta quando você estiver separada do Bruno.
— Ana Paula, senta aqui e vamos conversar. Eu te amo, eu não posso te deixar.
Gisele já começava a chorar, ela sabia que Ana sempre se rendia às suas cenas.
Ana também estava nervosa, a cabeça a mil por hora, Adriana apaixonada por ela, Gisele atuando novamente.
— Ana ela sabe que você tem alguém, você contou sobre nós?
— Eu contei Gisele, ela sabe que você é uma ingrata, manipuladora que fica me enrolando e eu estou cansada disso.
— Ela que está colocando essas ideias na sua cabeça não é? Quem ela pensa que é para dizer que eu não sou mulher para você?
— Fica quieta Gi, não tem ninguém colocando nada na minha cabeça, a não ser os chifres que eu levo toda vez que você deita com o seu marido.
— Isso não é assim.
— É sim Gisele, você faz o que você quer comigo e o pior é que eu deixo. A culpa é toda minha. – Ana coloca as mãos na cabeça —
— Ana, senta ai, olha para mim, — ela segurava o rosto de Ana — você acredita que eu te amo não é?
— Eu não sei mais Gisele, eu não sei onde termina o amor e começa a obsessão.
— Não fala assim.
Gisele sentou ao lado de Ana na cama e já tentava se aproximar da loira, fazendo carinhos e tentando beijá-la.
— Gisele para com isso.
Ana empurrou Gisele com as mãos, afastando a moça para evitar o beijo. Pela primeira vez em todo o relacionamento Ana estava com duvidas sobre estar com Gisele, pela primeira vez sentiu seu amor por ela balançar, Ana estava confusa, sentia algo por Adriana e queria espaço para colocar as coisas no lugar.
— O que foi Ana?
— Vá embora Gisele, por favor!
— Ana Paula! Você está me mandando embora?
— Sim, você entendeu muito bem, — Ana levantou da cama — volta para o seu marido e me deixa em paz.
— Espera um pouco, você está terminando comigo?
— Eu preciso de um tempo Gisele, se isso significa terminar, então, sim, eu estou terminando com você. Eu vou precisar desenhar?
— Não, eu não aceito isso, você não pode me dispensar.
— Eu posso sim, eu também não aceito o seu modo de vida e no entanto até hoje eu estou engolindo seu casamento, então agora chegou a hora de nós duas decidirmos o que queremos da nossa vida, você precisa se afastar de mim para ter certeza na hora de escolher com quem você quer ficar, pois eu não quero mais desse jeito.
Gisele olhava para a namorada incrédula, não queria terminar, a intenção dela era permanecer como estava até o final. Gisele manipulava a pobre Ana Paula para não perder as mordomias do marido e continuar com a vida dupla de namorada da advogada e esposa do Bruno. Começou a chorar, andava pelo quarto de um lado para o outro, já beirava o desespero.
— Ana Paula o que deu em você?
— Um pouco de senso de realidade, Gisele vá embora. Eu preciso de espaço para rever a minha vida, e com você no meu pé o dia inteiro não vai dar. Não me ligue, não apareça, simplesmente me dê um tempo.
— Quem é essa mulher que virou a sua cabeça Ana Paula? De onde ela surgiu?
— Gisele entenda uma coisa, quem está virando a minha cabeça não é outra mulher, mas sim você, você está me afastando com as suas mentiras e a sua manipulação, se você quer realmente continuar comigo, vai para sua casa e volta amanhã depois de ter conversado com o Bruno.
— Isso não vai ficar assim. Ela me paga!
Gisele pegou sua bolsa, e esbravejando deixou a casa de Ana Paula. Sua irmã foi até o quarto da advogada saber se estava tudo bem, acabara de encontrar com Gisele no corredor descendo as escadas como se fosse um furacão.
— Aninha está tudo bem? Gisele desceu as escadas soltando fogo pelas ventas.
— Eu não sei. Acho que não.
— O que houve Ana, você quer conversar?
— Ai Camila, eu não sei se é uma boa hora, eu estou com a cabeça a mil.
— Tudo bem, quando você quiser, eu estarei no meu quarto.
— Obrigada maninha, eu não sou nada sem você.
— É sim, uma mulher linda e loira. –mandou um beijo pelo ar–
Ana acabou rindo da irmã que deixava o seu quarto.
Ana Paula andava em círculos dentro do quarto, leu novamente o e-mail. – Como eu não notei isso antes? — Seus pensamentos estavam a mil, ela não parava de pensar em Adriana, na confissão que a morena fizera, e em uma ação instintiva pegou sua bolsa, as chaves do carro e saiu apressada.
No caminho para Icarai, ela ligou para Isadora.
–Alo.
— Isa, eu preciso saber onde Adriana mora. – tentava equilibrar o celular no ombro enquanto fazia uma curva–
— Boa noite para você também, Ana Paula. Vai tirar quem da forca?
— Desculpa Isa, eu estou muito nervosa, eu preciso conversar com ela.
— Aconteceu alguma coisa? Você está me assustando.
— Isa não dá para explicar agora, mas eu preciso encontrá-la você sabe onde é? Ela disse que era perto de você.
— Ana, eu a deixei em casa no dia da festinha das meninas. É na Moreira Cesar, eu não lembro o numero, mas é o prédio de esquina com a Gavião Peixoto.
— Entendi, acho que eu já sei qual é, você sabe o apartamento?
— Ai você me pediu muito amiga.
— Tudo bem, chegando lá eu dou um jeito.
— Ana, o que está acontecendo?
— Isa, Adriana me mandou um e-mail dizendo que está apaixonada por mim.
— Eu sabia!
Isadora deu um grito do outro lado da linha, Ana Paula teve que afastar o celular do ouvido.
— Isadora! Precisava gritar no meu ouvido?
— Eu sabia que ela estava caidinha por você, e você vai procura-la, está melhor do que eu esperava.
— Amiga vai com calma, eu vou conversar com ela, só isso.
— Eu sei, tudo bem, eu quero saber de tudo hein.
— Tudo bem, eu conto depois, eu vou desligar, acabei de chegar ao prédio, é um azul e branco?
— Isso mesmo, com um jardim de inverno à direita.
— Achei, eu vou lá. Beijos.
— Boa sorte amiga, beijos.
Ana Paula desligou o celular e precisou dar duas voltas no quarteirão para encontrar uma vaga para estacionar o carro, ela já estava nervosa, pois queria encontrar com Drica o quanto antes.
Quando estacionou o carro, pensou na atitude que estava tomando, nem ligara para Drica, ela poderia não estar em casa, ela poderia ter visitas, e por um momento ela sentiu medo de ir até lá e bater com a cara na porta.
Percebeu que estava vestida com roupas de dormir, quase um pijama, short curto com uma camiseta soltinha, não pensou em trocar de roupas antes de sair de casa, e para melhorar estava sem soutien.
— Droga, como você é idiota Ana Paula. Nem para trocar de roupas.
Falava sozinha sentada no carro, lembrou-se de um moletom justinho que estava no banco de trás, e foi sua salvação, colocou o casaco por cima da camiseta, encolheu as mangas e tomou coragem para encarar a portaria do prédio de Drica.
— Boa noite Senhora, em que posso ajudar?
— Boa noite, eu vim ver Adriana.
— Ah sim, Eu vou interfonar para avisar que a senhora está aqui, eu devo anunciar quem?
— Ana Paula.