“Quando Ana se preparava para sair de casa para encontrar Drica, Gisele apareceu em pé na porta do seu quarto”.
— ”Oi meu amor.”.
— Gisele, o que você está fazendo aqui? – Ana arregalou os olhos espantada–
–Eu vim te ver, você não gostou? – Gisele cruzou os braços mostrando frustração com a recepção da namorada–
— Você disse que ia jantar com Bruno.
— Eu desisti, ele disse que ia chegar tarde, eu resolvi vir te ver.
— Você só veio porque eu falei que ia sair.
— E pelo visto o pessoal da faculdade deve ser muito interessante, você está usando o perfume que eu adoro. – Gisele se aproximou de Ana e respirou perto do pescoço da loira–
Ana Paula estava muito bem arrumada, ela queria impressionar Adriana, mas pelo visto sua noite foi boicotada pela chegada repentina de Gisele.
— O que você quer Gisele? – Ana falava com a voz falhada sentindo o efeito da provocação–
— Vamos jantar.
— Não, eu tenho um compromisso. Você me dispensou agora chega aqui como se nada tivesse acontecido, eu marquei com os meus amigos.
— Então desmarca.
— Não é assim.
— É assim mesmo, eu não sei quando será a próxima oportunidade que eu vou ter de vir te ver.
Gisele com seus joguinhos, mais uma vez manipulava Ana para que ela fizesse o que ela queria, chegou perto de Aninha, beijou seu pescoço e sussurrava em seu ouvido, Ana Paula se arrepiava inteira, e acabou cedendo mais uma vez aos caprichos da namorada.
As duas saíram e Ana até esqueceu que deveria desmarcar o encontro com Drica. Esqueceu o celular carregando no quarto e foi jantar com a mulher que comandava seus atos quando estavam juntas.
****************
Adriana estava sentada no Fragatas há meia hora esperando Ana Paula, a loira já estava atrasada, ela ligou para saber se ela estava a caminho e o celular só chamava. Adriana já estava começando a pensar que tinha levado um bolo. Ainda deu um crédito pois o transito poderia estar ruim, foi bebendo e quando se deu conta estava esperando por Ana há duas horas, pagou a conta e foi pra casa meio bêbada, e arrasada, começava a achar que Ana Paula estava brincando com seus sentimentos.
Chegando em casa trocou de roupas e deitou-se, chorou em silencio por mais uma decepção, e acabou adormecendo sem nem tirar a maquiagem.
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Gisele deixou Ana Paula em casa quase meia noite e não quis ficar com a loira, preferiu voltar pra casa para dormir com o marido.
— Gisele já está tarde, dorme aqui.
— Não meu amor, eu preciso ir, Bruno está em casa.
— Você já conversou com Bruno?
— Vou conversar essa semana, ele não vai viajar, eu vou sentar e conversar com ele.
— Tudo bem.
Despediram-se e Ana entrou em casa, chegando ao quarto, viu o celular na escrivaninha, e lembrou-se de Adriana.
— Puta que pariu! Deixei Adriana plantada. Que merda!
Correu até o aparelho e viu as inúmeras ligações de Drica, sentiu um aperto no peito, pois percebeu que perdera a oportunidade que teria de aproximar-se da morena.
Tentou ligar pra Drica, mas o celular estava na caixa postal, entrou na internet e nada da morena, olhou no relógio da cabeceira, este marcava meia noite, mesmo que ela ainda fosse ao local marcado, ela sabia que não a encontraria mais esperando.
Ana sentou-se na cama com o olhar perdido, pensando que mais uma vez magoara Drica, e se tinha alguma chance de conhecê-la melhor, ela perdeu naquela noite.
Ouviu o barulho do MSN no note, e correu para a escrivaninha pensando ser Drica, quando olhou era sua amiga Isadora.
— Oi amiga, você está ai?
— Oi Isa, Estou sim.
— E ai amiga, na internet até essa hora? Tem audiência amanhã?
— Não.
— Você está bem?
— Não.
— O que houve? Você está monossilábica hoje.
— Amiga eu fiz uma merda das grandes hoje.
— O que aconteceu Ana?
— Eu marquei de me encontrar com Adriana, aí em Icaraí, mas na hora que ia sair, Gisele apareceu aqui em casa e na confusão eu acabei saindo com ela para jantar e não desmarquei com Adriana, esqueci o celular em casa.
— Ih, Ana, por que você fez isso?
— Ai Isa, não fala assim, parece até que foi proposital, eu sai e esqueci completamente do telefone, quando eu cheguei agora a pouco, eu vi as inúmeras ligações da Adriana.
— Coitada, deve ter ficado te esperando até tarde.
— Eu sei, eu vou mandar uma mensagem pedindo desculpas, mas eu acho que eu vou ter que matar alguém para ter um bom motivo para esse bolo, eu não posso falar pra ela que eu estava com a outra.
— Ai Ana, pensa bem no que você está fazendo, não vai machucar a menina, ela não tem nada haver com essa sua confusão com a Gisele.
— Eu sei, eu não quero machuca-la. Mas magoei mesmo sem querer, e duas vezes. Acho que eu perdi a oportunidade de me aproximar.
— Calma, de repente ela te perdoa e vocês marcam novamente.
— É pode ser. Amiga, eu vou dormir, amanhã eu preciso chegar cedo ao escritório, depois eu te ligo.
— Tudo bem, beijos.
— Beijos.
Ana desligou o notebook pensativa, pegou o celular e mandou um sms para Drica, pedia desculpas pelo furo, pois havia ficado presa em uma audiência até tarde e não podia atender ao telefone, e que marcaria novamente para outro dia.
Tomou um banho e foi deitar, ainda tinha a consciência pesada por ter se esquecido de Drica no bar, isso a fez rolar na cama até altas horas da madrugada.
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O despertador tocou alto no quarto de Adriana, a morena o desligou e permaneceu na cama, sentia o peso do descontrole da noite anterior, a dor de cabeça anunciava uma ressaca de guerra. A luz da janela a incomodava e ela resolveu dormir mais um pouquinho. Colocou o despertador para acordá-la depois de meia hora, mas o cansaço foi tão forte que nem o barulho do aparelho a despertou pela segunda vez acordou assustada às dez horas da manhã, horário que já deveria estar trabalhando há muito tempo.
Deu um pulo da cama, e entrou no chuveiro para acordar, ainda remoía o gosto do bolo que levara na noite anterior, ligou para o escritório e avisou a Paula que iria se atrasar, e não deixou de ouvir uma piadinha da amiga.
— Amiga, por onde você andou?
— Paula eu perdi a hora, acabei de acordar, daqui a pouco eu estou chegando ai.
— Hum, à noite pelo visto foi boa hein!
— Paula, sem piadas, pois eu não estou de bom humor hoje.
— Meu amor, você nunca está de bom humor de manha.
— Hoje provavelmente será o dia inteiro.
— Ok, eu já entendi, beijo.
Desligaram e Paula já percebeu que algo deu muito errado no encontro de Drica. Essa tomou um copo de água com um comprimido para dor de cabeça e saiu de casa para trabalhar.
Durante o trajeto, Drica ligou o celular e viu que tinha mensagens na caixa postal.
Presa em um congestionamento na ponte por conta de um acidente, ela resolveu ler o conteúdo dos textos. Viu que tinha recebido ligações de Ana Paula depois que ela havia dormido, e leu o sms da loira, explicando o motivo da sua falta.
Drica não sabia se acreditava, mas não tinha muita opção, não conhecia a advogada para dizer se ela falava a verdade, isso a confortou um pouco, pois pensara que fora deixada de lado, imaginar que foi algo relacionado com trabalho tirou o peso do bolo que ela levou. Mas ainda assim estava magoada.
Depois de duas horas para chegar ao escritório, de mau humor e cheia de ressaca, ainda encarou o olhar curioso das amigas.
— Boa tarde.
— Boa tarde amiga, você está bem?
Paula perguntava sabendo qual seria a resposta, queria apenas abrir o leque para Drica desabafar.
— Não muito. – Adriana jogava a bolsa sobre a mesa —
— O que houve?
— Eu estou de ressaca, Ana Paula não foi ao bar e eu vou passar a vir de barcas trabalhar, o transito está um inferno.
— Nossa, quanta coisa!
Alessandra entrava na sala, voltava com o almoço das três, Paula imaginou que a amiga não comeria nada até chegar ao escritório e pediu para a esposa comprar algo para almoçarem ali mesmo, enquanto consolavam Drica.
— Amores, eu cheguei com o rango, Drica trouxe aquela lasanha que você adora, eu sabia que você ia precisar de algum carboidrato para curar essa ressaca. –Alessandra colocava os sacos sobre a mesa–
— Mas como você sabia que eu estou de ressaca? – olhava desconfiada–
— Eu sou expert em encontros desastrosos, e eu sei que eles sempre terminam em bebedeira.
— Como você sabia que meu encontro foi ruim?
— Com o mau humor que você estava, com certeza você não teve um tratamento de pele decente. – Alessandra passava as mãos no rosto–
— Não liga pra ela não.
— Se eu ligasse já teria saído da sociedade.
Todas acabaram rindo e Alessandra fez uma careta para as amigas.
Durante o almoço elas conversaram e Adriana contou o que acontecera.
— Poxa que azar hein amiga.
–É, vida de advogado é assim mesmo. Pelo menos não foi de sacanagem.
— Ainda bem, senão eu ia pegar essa loira de porrada.
— Calma Alessandra, Drica ela anda assistindo esses campeonatos de Vale Tudo e anda violenta!
Drica não aguentou e riu.
— E agora, vocês já se falaram hoje?
— Ainda não, eu estou esperando que ela me ligue, não vou correr atrás.
— Isso aí Drica, deixa ela te procurar.
— Sim, é o que eu vou fazer.
As três voltaram à sua rotina e Drica não parava de olhar o celular, esperando receber uma ligação de Ana Paula.
**********
Do outro lado da Baia de Guanabara, Ana, esperava o mesmo, estava ansiosa aguardando uma ligação de Drica para ter oportunidade de pedir desculpas, estava envergonhada demais para fazer a ligação.
Sentada em sua mesa com um processo aberto, ela tentava concentrar-se no trabalho, mas só conseguia pensar em Adriana, Gisele e em tudo o que estava passando. Não sabia que atitude tomar.
Apaixonada por uma mulher sem atitude, e encantada com outra maravilhosa a qual não queria magoar, mas não estava vendo solução para isso.
Entrou no MSN, coisa que ela nunca fazia no trabalho, apenas para ver se encontrava Drica on line e para sua surpresa a morena estava com o sinal verde no bonequinho.
Não pensou duas vezes e chamou Drica para a conversa, afinal no MSN é tudo mais fácil.
— Oi.
Adriana, do outro lado, viu o chamado e hesitou em responder, mas acabou cedendo à vontade de falar com Ana.
— Oi.
— Desculpe-me, ontem foi um dia muito cheio, e eu acabei muito tarde no fórum em uma audiência.
— Eu recebi o seu recado hoje. – Adriana falava secamente–
— Eu tentei te ligar, mas estava desligado.
— Sim, como você não apareceu eu fui dormir cedo.
–Entendi.
— Não dava nem para me enviar um torpedo para eu não ficar plantada no bar esperando por você?
— Desculpe-me. O celular ficou na bolsa no silencioso, e eu não tinha como manusear, eu precisava estar concentrada para a defensoria não virar o caso contra mim. – Ana segurava os cabelos, nervosa pois estava mentindo descaradamente —
— Tudo bem. Deixa pra lá. Eu não entendo nada disso mesmo.
Drica não sabia bem o que estava sentindo, estava frustrada pelo encontro furado, sentia medo por se sentir tão atraída por Ana Paula e via sua vida sendo revirada pelo destino ao ter encontrado com a loira na boate aquela sexta-feira.
— Ana, eu preciso sair, eu tenho algumas coisas para fazer, podemos conversar outra hora?
— Claro, eu te ligo depois para marcar outro encontro, assim conversamos melhor.
— Tudo bem. Cuide-se Ana.
— Você também, um beijo.
— Beijo.
Drica saiu do MSN, e ficou olhando a tela do computador sem prestar atenção no que estava aparecendo, do mesmo modo que Ana ficou ao ver o MSN de Drica ficar off-line, sem perceber as duas estavam se envolvendo mais do que deveriam, um beijo em uma noite estava desencadeando em uma amizade sincera, mas perigosa, onde qualquer uma pode se machucar, ou por amar demais ou por amar de menos.
**********************
Algumas semanas depois.
Um dia à noite Drica voltava da academia, caminhando pelas ruas de Icaraí, o céu estava limpo e a lua cheia abrilhantava a noite, pensou em Ana Paula, como ela gostaria de estar com a loira à beira da praia tomando uma água de coco e conversando.
— Que isso Adriana, pensando em mulher em plena lua cheia, acho que eu estou precisando arrumar um namorado.
Pensou alto, enquanto rumava para a praia de Icaraí para realizar pelo menos um dos desejos, beber a água de coco sentada na beira da praia, contemplando a noite maravilhosa que a embalava. No MP3 tocava uma balada que parecia enfeitiçar os seus sentidos.
Apaixonados Pela Lua
Ontem tive um sonho
Caminhamos entre as nuvens do céu
Desenhamos lembranças de nós dois
Envolvidos no azul do véu
Não ficaremos juntos
Se não soubermos a arte de amar
Esse segredo tão bonito do caminho
Hieroglifos de um livro para decifrar
Na viagem desse sonho
Nossas almas eu vi flutuar
Nas delicadas linhas do infinito
Fomos filhos de um romance de um amor lunar
Apaixonados pela lua, lua, lua
Cheia de mistérios
Nos finos grão de areia, mente branca
Segredo e solidão em seus hemisférios
Ontem tive um sonho…
Pegou um coco geladinho e tirou o tênis e as meias colocando os pés na areia, a brisa batendo em seu rosto era revigorante, e em um impulso que ela não saberia explicar, pegou o celular e discou o numero de Ana Paula.
— Alo. — Ana sorriu —
— Oi Ana, desculpe te ligar assim, na verdade eu nem sei por que eu liguei, mas, tudo bem?
— Tudo bem, eu me surpreendi realmente quando eu vi o seu nome no visor, mas ao mesmo tempo eu fiquei feliz por ser você.
— Que bom.
— Mas diga, o que você manda?
— Menina, eu não mando em ninguém, nem em mim. – Ai, o que eu estou dizendo?–
As duas riam com a piada manjada, até Drica ficara sem graça depois que falou isso.
— Sei.
— Na verdade, eu estou caminhando na praia com uma água de coco geladinha e contemplando a lua, quando me dei conta havia ligado pra você.
— Hum, ótimo programa, essa ligação poderia ter vindo antes desse passeio e ser um convite para me unir a você.
— É que não foi programado, eu estava voltando da academia e vi a lua tão linda que acabei mudando o meu itinerário. Mas da próxima vez eu ligo antes.
— Eu entendo, mas me diga como você está?
— Eu estou bem. E você?
— Tudo bem também. E o seu pai, está melhor?
— Sim, está em casa, vai começar a fazer fisioterapia essa semana, acho que ele irá se recuperar bem.
— Que bom. Como está o trabalho?
— Muito corrido, nós já estamos recebendo os arquivos da empresa da Isadora e para a próxima semana já começaremos a contabilizar pra eles.
— Legal, fico feliz por vocês, eu estou com um processo que está queimando os meus neurônios.
— Caso difícil?
— Um pouco, mas eu acho que consigo reverter.
— Que bom, Ana eu posso te perguntar uma coisa?
— Pode.
— Por que você me beijou na boate naquela sexta-feira?
Ana foi pega de surpresa, não sabia responder por que ela mesma não tinha a resposta.
— Adriana, você me pegou de surpresa. – respondia sem graça–
— Desculpa, eu fui completamente indiscreta. – Adriana sentiu o rosto queimar de vergonha–
— Não é isso, é que honestamente nem eu sei te explicar. Eu nunca agi daquela forma, até eu me assustei por ter agido de maneira tão predatória.
— Não pense que eu fiquei ofendida, só depois que eu soube da sua namorada que eu fiquei chateada.
— Então você gostou. – Ana sorriu–
Agora foi Drica quem ficou envergonhada, o clima de flerte estava instalado, e a morena sentiu seu rosto queimar, sabia que estava completamente vermelha.
— Se eu não tivesse gostado você saberia na hora.
— Hum, entendi. Eu vou te dizer uma coisa, eu também adorei, e eu fiquei com gostinho de quero mais.
Adriana não sabia o que falar, ela também tinha essa sensação, queria mais da loira que lhe tirara o sono, mas não queria passar isso pra ela.
— Assim eu fico sem graça.
— Não precisa ficar assim, não precisa ficar envergonhada comigo.
— Sei. Mas eu fico com qualquer pessoa, é um ponto fraco que eu tenho.
— Eu quero te encontrar.
— Veja na sua agenda o dia que estará livre e me liga. Mas tenta encaixar em algum dia que não tenha audiência – Adriana sorria–
— Eu estou livre hoje.
Adriana olhou no relógio e se deu conta que já era tarde e ela ainda estava contemplando a lua e a paisagem enquanto se derretia toda para Ana Paula. Já estava a mais de uma hora no telefone conversando, sorte que sua operadora era a mesma e a ligação não teria custo.
— Ana olha a hora, já era pra eu estar em casa ha tempos.
— Verdade, até eu perdi a noção do tempo, eu tenho cliente cedo amanhã, eu vou terminar o artigo que eu estou fazendo e vou dormir.
— Então me liga depois para nos encontrarmos.
— Pode deixar. Bom descanso.
— Pra você também. Boa noite.
Desligaram e cada uma ficou com os seus pensamentos, Adriana voltou pra casa sentindo o corpo flutuar pelas ruas, e Ana ficou com mais vontade ainda de conhecer a morena meiga que estava invadindo seus sentimentos.