– Quem é a puta dessa vez?
– Não faço a menor ideia, meu amor. Só sei que Otário me pediu pra comprar a joia mais bonita e te levar pra jantar naquele francês que você tanto gosta. Disse pra não me preocupar com preços. Comprei a mais cara. Ah, claro, ditou um bilhete emocionado em que implora perdão, mas terá que ficar na empresa até mais tarde e blá blá blá. Na real, está fora desde a hora do almoço.
– Vagabundo!
Esmurra a mesinha de café que há entre elas, depois estende a mão querendo ver seu prêmio de consolação. Otávio era um canalha, mas um canalha generoso.
– A piranha deve ser boa de cama, isso aqui custou os tubos!
– Disse pra não economizar, frisou bem. Não sei se ela é boa de cama. Pelo que o ouvi dizendo ao Alcântara é uma vagabundinha difícil. Uma piranha que há meses ele sonhava comer.
– Que faça bom proveito, disse distraidamente erguendo o colar e observando o brilho translúcido de ametistas, diamantes e jades.
– Combina com seu colo.
– Você acha?
– Claro. Você tem um colo lindo. Quer ver? Deixe-me colocá-lo em você.
Ivana levantou-se, passou por trás da cadeira de Denise, deixou o colar pousar delicadamente na pele da outra, trancou o fecho e correu seus dedos ao colo apalpando a joia para que assentasse corretamente.
– Ficou divino. As cores contrastam com sua pele. Onde quer que você vá todos os olhos vão te seguir.
– Assim espero. Isso deixará Otário realmente bravo, respondeu enquanto entrelaçava seus dedos aos da secretaria de seu marido. Ele acha que sou sua propriedade particular, completou. Olharam-se cumplices e riram. Com um sorriso Ivana depositou um terno beijo nos lábios da amante.
– Sei que o que vou dizer é profundamente egoísta, mas agradeço a deus por seu marido ser um calhorda. Porque assim tive a oportunidade de conhecê-la. E eu te amo tanto, Denise!
A mulher mais velha acariciou delicadamente o rosto da bela menina morena que trabalhava na empresa de seu marido. Era mesmo irônico que as escapadas sexuais de seu cônjuge tivessem lhe dado essa tranquilidade afetiva. Levantou-se e tomou nos braços a garota que, sendo um pouco mais baixa, encaixava de um jeito agradável em seu corpo. Trocaram um longo beijo. O lado ruim desse relacionamento era estar condicionado às conquistas de Otávio. E ultimamente o infame vinha se dedicando mais aos negócios do que às aventuras amorosas. Fazia quase três meses que não se viam. Por isso Ivana amoleceu nos braços de sua amada, o corpo aquecendo a ponto de parecer febril, e foi facilmente arrastada ao quarto.
– Você insiste em usar essa cama? Sabe que prefiro a de hóspedes.
– Sinto mais tesão nessa, você sabe muito bem disso. Esse prazer o calhorda jamais terá. Posso trai-lo em nossa cama sem que Otário nem desconfie. À noite vai se jogar no travesseiro sem ter ideia de que devorei sua secretária executiva exatamente aqui.
– Você fala de um jeito que às vezes acho que transa comigo só porque sou a secretária dele.
– No início foi só isso, você sabe. Mas atualmente esse é só um ingrediente a mais. Você é maravilhosa. Em tudo. Na cumplicidade que me oferece, no amor que tem por mim e, principalmente, nesse jeito estrondoso de comer uma mulher. Adoro dar pra você, Ivana.
– Mas não me am
A língua de Denise interrompeu a fala e os pensamentos da garota. A esposa de Otávio tinha um poderio natural, um jeito próprio de domar pessoas, especialmente as mulheres. A essa altura já estavam deitadas, as pedras preciosas lambendo a pele morena da menina.
– Te amo sim, e muito, não seja ingrata. No início era só vingança, mesmo. E fui honesta com você. Não sou uma conquistadora barata.
A língua de Denise varreu a concha da orelha direita de Ivana que soltou um longo suspiro.
– Eu sei, amor, me perdoe. Você é sensacional… em tudo… Não sei como seu marido pode te tratar desse jeito. Mas me sinto tão insegura às vezes! Fico tentando entender o que você viu em mim.
As mãos habilidosas da milionária livraram os botões da camisa de Ivana de suas respectivas casas. Os seios da garota apareceram apertados em um sutiã rendado de cor bege. Ficariam mais sensuais em lingerie preta, mas a jovem era obrigada a usar aquele uniforme insosso. Denise desceu pelo corpo da amante distribuindo pequenos beijos enquanto afastava os panos. Então pressionou o queixo contra a calça jeans, em um ponto bem específico, e olhou com malícia a reação fisionômica que aquilo provocava em Ivana.
– O que nos faz amar uma pessoa? Será possível enumerar esse tipo de coisa? Seria bem mais prático pra mim se você fosse só sexo e passatempo, amor. Mas meu coração se encantou com essa sua meninice, inteligência, lealdade e esse seu jeitinho único de fazer estripulias horizontais…
– Ah, então foram meus talentos que conquistaram a senhora?
Denise cravou maliciosamente os dentes no jeans da morena que ergueu a cintura num gesto de prazer. Dali a estarem nuas nos braços uma da outra foi quase instantâneo. A esposa do banqueiro mantendo a joia em seu corpo. Que Otário se divertisse com sua puta enquanto ela esfregava o belo presente no corpo da secretária executiva… dele. Vingança melhor não tinha. Ainda mais que, ironicamente, Ivana era as grades de seu cárcere privado.
Passou de leve a ponta da língua na testa lisinha, depois naquela linha descrita pela carne que se divide em duas metades, e foi afundando lentamente a língua, abrindo devagar a menina até sentir seus sabores secretos. Ivana tinha cheiro de mato em dia de chuva. Sabor de pão caseiro. Textura de pétalas de rosas. E cada trepada parecia a primeira, jamais se saciava daquela menina. Seria isso amor? Esse querer estar sempre dentro? Essa vontade quase metafísica de permanecer grudada em sua pele? Esse jamais cansar-se do prazer que ela lhe proporcionava? Ou era só desejo? Se era só desejo porque não desejava ninguém além dessa menina que o acaso lhe trouxera de bandeja?
Suas mãos experientes afastaram as pernas e, na menina aberta, mergulhou com voracidade, varrendo tudo com seu músculo de fome. Ivana não segurou os gritos de desejo e Denise sentiu o próprio corpo queimar em febre. Quer que o mundo lá fora exploda. Que restem apenas elas, aquele quarto e o momento do sexo. Porque é só ali, no meio das pernas daquela morena de vinte e poucos anos, que se sente plena e completamente feliz.
A jovem ergue o tronco, facilita a penetração. Não sabe ao certo como tudo aquilo começou. Sentia pena da mulher enganada. Mas era paga pra dizer o que o chefe mandava. No início era apenas comprar os mimos, escrever bilhetes melosos que ele assinava. Mas quando a agência de motoboys começou a falhar, o serviço de entrega também ficou a seu encargo.
Sentiu a língua lhe comendo. Segurou a socialite pelos cabelos e forçou-lhe o rosto para baixo. Gostava assim, forte. Denise fazia tudo de um jeito… Arfou quando a língua dela se mexeu dentro e lembrou de quando sentiu aquele prazer pela primeira vez. Já tinha experimentado algumas brincadeiras amorosas com meninos e meninas. O olhar devasso e o convite indecente daquela senhora não lhe chocaram. Mas nunca tinha ido tão distante em nenhuma de suas relações. O toque sedoso de outro corpo nu contra o seu. O prazer descarado de uma língua dentro de si. O transe orgástico do corpo saciado. Tudo isso descobriu com Denise.
O rosto da mulher subiu um pouco, sugou seu clitóris. Ivana sentiu quando um dedo a invadiu. Pediu por mais.
– Não me torture, Dê!
A risada gostosa, sem lhe largar o grelo, era sinal de que o segundo dedo ainda tardaria um pouco. Mas não era daquela torturinha que ela gostava tanto? Dava uma ansiedade, o coração disparado, a sensação de que poderia morrer a qualquer momento, uma pressa, vontade de que tudo aquilo acabasse logo. Mas quando acabava queria tudo de novo. Não era sempre assim?
– Ah, sua doida, hoje você não vai me torturar, não.
Um giro no ar, posições trocadas, gargalhadas espalhadas por todos os cômodos. Ivana cumpre à risca as ordens de seu chefe: divirta minha mulher, dê-lhe atenção, não deixe nenhum homem se aproximar. Fazia um pouco além: dava-lhe amor. O amor que ele se recusava a dar. E – olha como era uma alma boa – nem cobrava a mais por esse extra! Deita-se sobre ela, a mulher de sua vida, e beija-a com tesão, paixão, amor. Enroscam-se em um abraço nu, seios conversando, sexos se tocando. Vai usar seus talentos pra fazer a mulher do chefe uivar.
No cômodo da frente a porta se abre. Em sua alegria estrondosa elas não ouvem. A vida tem lá seus imprevistos. Alguns encontros acontecem, outros fracassam. As garotas se amam, mortas de saudade. Há meses não sabem o que é isso. Ele, frustrado, acredita que a casa está vazia. Quem a pirralha pensa que é pra não querer lhe abrir as pernas? Atira ao sofá o paletó, vai arrancando a gravata pelo caminho. Ouve vozes, gemidos antes de ver qualquer coisa.
Ah, Otário, por essa você não esperava…