Capítulo 6: ” E cada vez que eu fujo , eu me aproximo mais…”
( Ana Carolina – Quem de nós dois)
Dominick adentrou o portão de casa com o humor péssimo. Para piorar seu dia , que estava apenas começando, deu de cara logo com o Fabio.
__Bom dia maninha! Humm… Dormindo fora de casa… As coisas estão mudando de figura nessa família.
Nick não cedeu às provocações do irmão. Passou direto para o quarto e se trancou. Deitou-se na cama para programar o decorrer do seu dia, mas nada lhe vinha a cabeça a não ser a imagem de Lorena. Lorena molhada, Lorena iluminada pela lua, o beijo de Lorena…
“ Ai meu Deus! Desse jeito eu vou pirar”- Ouviu a porta bater, pulou da cama e foi atender…
__Fabio vai procurar…. Ah, oi Ti… É você …Entra.
__Oi Nick. Nossa seu humor tá péssimo, jurava que ia te encontrar com um sorriso que nem caberia no rosto. O que aconteceu?
E Dominick passou a relatar todo o acontecido…
__Poxa! Eis que Dominick Castelli, a dilaceradora de corações, da uma trégua pra os garotos e se estende ao alvo feminino – Brincou tentando melhorar o humor da amiga.
__Ha! Há! Há!…Engraçadinho. To com o maior problemão e você aí… Não perde uma oportunidade de zuar com minha cara! Mas eu não quero falar mais desse assunto não. Vem cá, você não deveria estar na faculdade agora?
__É deveria, mas hoje acordei tarde pra caramba, ah! Pra você não falar que é sempre a ultima a saber, tô namorando sério com a Aninha.
__Ah tá é?… E eu deveria ficar feliz?
__Ô minha amiguinha ciumenta. – Falou abraçando Nick e sapecando um monte de beijinhos em sua face.
__Tá tá tá… Nem vem seu falso! Você sabe que me esquece quando começa a namorar sério.
__E você sabe que isso não é verdade. Bem amada amiga, eu já vou indo, tenho que pegar o carro que está no conserto. Hoje você vai ter aquela reunião não é? – Nick confirmou com a cabeça.__Então me liga que te pego lá.
__Tudo bem. – despediram-se
O dia passou insuportavelmente devagar. Nick só saiu do quarto quando sua mãe chegou em casa. Dona Helena e Dominick tinham um relacionamento super aberto, eram verdadeiras amigas. Fabio vivia dramatizando, se fazendo de rejeitado, quando na verdade era tratado com o dobro da atenção, justamente para que não se sentisse excluído e para evitar que o gênio ruim de seu pai viesse a tona. Dominick achava desnecessária tamanha proteção para um homem de 27 anos. As vezes tentava entender o lado da mãe por tudo que ela passou com o pai de Fabio e outras vezes sentia vontade de ir embora, pois não suportava conviver ao lado de um ser tão asqueroso.
No almoço…
__Nick minha filha, já que você vai sair dessa banda, por que não volta pra faculdade? Eu até hoje não entendo como deixei você trancar a faculdade.
__Porque a princesinha sempre consegue tudo o que quer mãe…Só por isso!
__Meta-se com sua inútil vida, Fabio! – O clima pesou. Dominick mantinha seus olhos fixos em Fabio, este a olhava com sarcasmo, adorava irritar a irmã.
__Ei, ei, ei!! Vamos parar?- Apaziguou a matriarca.
__Mãe eu não sei… Andei pensando em voltar sim, mas não quero fazer administração para cuidar dos negócios da chácara… Pelo menos não diretamente.
__Filha, seu pai gostaria tanto que tocasse os negócios… E você leva tanto jeito pra isso – Falou uma Helena com um pouco de desapontamento.
__Mãe, vamos fazer assim… Amanhã cedo vou resolver minha volta a faculdade e no decorrer do curso, vou ajudando como puder lá na chácara, mas não é isso que quero pra mim tá? Não serei uma empresária do ramo agropecuário. Tudo bem mãe?- Dona Helena tinha orgulho de Dominick, sua filha era tão decidida e dona de si, tinha muito do pai, mas era a ela que Dominick lembrava, a indiazinha guerreira de infancia sofrida.
__Tuuudo bem Nick. Agora lembro o porquê deixei que trancasse a faculdade… Esses seus argumentos dignos de uma advogada poem qualquer um no bolso… Já pensou em tentar Direito? – Disse com um risinho nos rosto.
__Ah mãe! – Sorriu.
O almoço seguiu em paz. Fabio não mais se intrometeu na conversa, pois estudo e trabalho não eram seus assuntos preferidos. Era um encostado, vivia pescando com os amigos, não durava um mês em qualquer que fosse o trabalho, logo arranjava uma doença. Dona Helena falava muito no começo, mas foi deixando de lado, pra ela era melhor a pescaria do que coisas erradas.
O Teatro
Dominick saiu cedo de casa, o caminho era longo e ela aproveitou para ir pensando sobre a reunião durante o trajeto. Pensou em jogar tudo pro ar e tocar a banda sozinha, pensou que teria que controlar sua vontade de pular no pescoço do Daniel e pensou em Lorena. Encontraria novamente com a Lore e só de pensar sentia um frio no estômago.
Ao chegar, avistou de imediato o carro de Lorena no estacionamento. O teatro não tinha uma estrutura magnifica, era um casarão antigo, desses que toda pequena cidade tem. Logo na entrada se encontravam as poltronas num semicirculo e o modesto palco logo adiante. Um corredor dava para escadaria que levariam as salas na parte superior do teatro. Enormes portas ficavam de um lado a outro do salão principal, uma delas levavam ao porão, onde a Rosa de Gaia fazia seus ensaios.
Ao entrar no salão principal, Nick deparou-se com a professora. Ela estava de frente para o palco, onde pelo menos umas dez crianças iniciavam um exercício de respiração. A loira não notou sua presença, pois estava de costas para a entrada. Dominick tentou ser mais sutil que uma gata, não queria ser notada pela professora, com o dedo nos lábios pediu silêncio para as crianças que não delataram a intrusa. Sentou-se na poltrona e passou a observar aquela animada aula. Sabia que havia chegado cedo de mais para sua reunião, não teria problema dar uma espiadinha, é claro, sem atrapalhar a aula. Lembrou do tempo que Lorena a ensinava, sempre tinha um engraçadinho querendo ser o centro das atenções, e só aí via a Lore virar uma fera! Não queria correr esse risco.
Lorena estava linda! Vestia uma jardineira jeans com uma camiseta branca por baixo, usava tênis com meias rosa. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo que vinha até o meio das costas, parecia tão criança quanto as que estavam no palco. Era lindo vê-la daquela forma.
Em um dos exercícios de respiração, as crianças tinham que respirar fundo e prender como se elas tivessem um grande peso em seus pequeninos ombros e depois soltar tudo de vez e relaxar. Muitas delas ficavam muito vermelhinhas com sua buchechas brilhando de tanto que se espremiam, e outras , no momento de se soltar e relaxar, até se jogavam no chão do palco. Era hilário! E a Nick se prendia pra não rir, mas sorria por dentro e seus olhos já estavam molhados. Tinha um garotinho em especial, que fazia umas caretinhas fofas e ficava vesgo, Dominick não tirava os olhos dele, mantinha suas duas mãos na boca para não explodir numa gargalhada.
__Ah! Tia, eu não vou mais fazer isso não!!- Falou o menino já todo enfezadinho.
__Ô Pedro, é necessário meu anjo, só mais um pouquinho… Já estamos terminando essa parte.
__Aquela moça ali não para de rir de mim – Falou apontando Dominick, que “engoliu” o riso na hora, seguida da expressão surpresa de Lorena.
__Ops! – Foi só o que Dominick conseguiu pronunciar. Tinha sido pêga, sentia-se como uma garotinha fazendo traquinagem. Seus encontros com Lorena seguiam cheios de cenas constrangedoras.