Reféns do desejo

Capítulo 11

Texto: Táttah Nascimento

Revisão: Isie Lobo e Carolina Bivard

 

 

11.

 

— Do que você está falando, sua doida? O que quer com a minha amiga?

Rebeca tentava parecer inocente e surpresa, ansiando ganhar tempo para pensar em um meio de fugir. Contudo, sabia que suas chances eram remotas. Aquelas pessoas não estavam brincando e, se o que Adriana disse fosse verdade, estava mais encrencada do que imaginava.

Silvia aproximou-se dela com passos duros, como a expressão em sua face alva e bela. Seu olhar safira era tão gélido que Rebeca sentiu um calafrio percorrer sua coluna, desde a base até a nuca. Nunca viu alguém tão linda e, ao mesmo tempo, tão assustadora. Tudo naquela mulher lhe dava medo, desde a beleza e voz macia até os gestos brutos e violentos.

Ela amassou a foto que segurava, jogando-a sobre a mesinha de centro. Ergueu Rebeca do sofá e a encarou por um longo momento. Analisou cada detalhe do rosto bronzeado, desde os lábios rosados até o castanho brilhante dos olhos e a pintinha charmosa no nariz.

Aquela foto do crachá não fazia jus a beleza dela, mas um rosto bonito não impediria Silvia de fazer o que era necessário para encontrar a amiga. A devolveu para o sofá com um tapa violento. Repetiu o golpe mais uma vez, até que a vítima revidou. Rebeca devolveu os tapas com um soco forte no queixo e Silvia deu um passo atrás, momentaneamente desorientada e surpresa. O gesto só aumentou a raiva da ex-policial que a encarou faiscante e desviou do soco seguinte, atirando a assaltante no chão.

No sofá ao lado, Cobra esticou as pernas, tranquilamente. A simpatia que tinha sentido pela moça, já não existia. Coçou o queixo, a barba por fazer arranhando a ponta de seus dedos e fazendo ruído. Se pôs de pé, foi até a porta e por lá ficou, com a arma na mão e olhar inexpressivo, enquanto Silvia, com um dos joelhos sobre as costas de Rebeca, torcia o braço desta.

A moça mordeu o lábio para não gritar, cada vez mais ciente de que não tinha como escapar. Se por algum milagre, conseguisse fugir daqueles dois, não teria a mesma sorte com os outros três parados na frente da casa.

— Onde ela está? Onde Bianca está?! – Aumentou a pressão no braço que torcia.

— Não sei do que você está falando!

Silvia não estava com paciência para joguinhos. A pôs de pé, então a chutou e jogou no chão, novamente, quando ela a insultou. Rebeca caiu de cara no piso, sentindo o sabor de seu próprio sangue, maculando a cerâmica branca com algumas gotas que lhe escaparam entre os lábios. Encolheu-se ao receber um chute no ventre e outro na face.

— Onde ela está?

Cobra estranhou aquele momento de descontrole. Nunca a vira perder a calma daquela maneira. O jeito como o confrontou na noite anterior, foi o mais próximo da raiva que já a vira chegar.

Rebeca se encolheu ainda mais, cuspindo sangue e buscando o ar que os chutes lhe tiraram. Silvia tinha consciência de que estava passando dos limites, mas ver Bianca escolher fugir com uma criminosa, optar por salvar a vida dela em vez da sua própria, estava entalado em sua garganta, causando uma mistura de sentimentos tão intensa que jamais imaginou ser capaz de sentir.

Deu uma volta pelo cômodo, para aplacar um pouco da raiva e, com um golpe, atirou todos os porta-retratos que estavam sobre o aparador no chão. Ficou olhando para os cacos por um minuto longo demais, enquanto recuperava o sangue frio e, quando se voltou para Rebeca, era ela mesma novamente.

A colocou de joelhos, pressionando a arma em sua têmpora.

— Me diga onde ela está e poupo sua vida — a voz soou tão fria quanto o metal da arma que segurava.

A resposta de Rebeca foi um sorriso vermelho. Cuspiu seu sangue na face alva e bonita dela e disse:

— Então, puxe o gatilho, pois não sei onde ela está e, se soubesse, não contaria.

 

***

 

Lucas foi despertado com um chute e surpreendeu-se ao descobrir que foi Alex a fazê-lo. O traficante não costumava visitá-lo no quartinho escuro e úmido em que o jogou desde que o arrastou do apartamento de sua prima, três semanas antes.

— Levanta, palerma!

O rapaz choramingou, encolhido em um dos cantos. Mal conseguia abrir a boca, nem se mexer direito. Tinha os membros doloridos, maltratados após tantas surras. Fosse outro, há muito estaria morto, mas sabia que Alex só o manteve vivo para torturar a prima.

Ele caiu de gaiato naquela desavença. Nem imaginava que os dois se conheciam. Só descobriu a rixa anos depois de começarem a trabalhar juntos, quando viu Drica encher o chefe de pancadas em uma festa.

— Acabaram as surras e a tortura? — Perguntou com voz falha.

Alex acendeu um cigarro com um sorriso debochado. Fez um gesto para que os rapazes que o acompanhavam o apanhassem do chão e saiu do quarto assoviando. Então, Lucas teve certeza, morreria naquele dia.

 

***

 

Rodrigo engoliu em seco e exalou pesadamente, buscando mais firmeza para a arma em sua mão. Felizmente, a porta da cozinha, que dava acesso aos fundos da casa, não estava trancada e entraram sem problemas.

Seguiram pelo corredor com passos lentos, mas não se atreveram a entrar na sala onde a “conversa” se desenrolava. Outra vez, a sorte agiu a favor deles. Havia um espelho na entrada do corredor que lhes permitia ver o que se passava. Rodrigo quis agir assim que viu Rebeca sofrer o primeiro golpe, mas Chico o impediu, arrastando-o de volta para a cozinha.

— Qual é o seu problema? Ela precisa de ajuda!

— E nós precisamos ter cuidado ou vamos acabar todos mortos. Tem dois aqui dentro e mais três lá fora. Não podemos, simplesmente, entrar atirando. Poderíamos acertar, Beca.

— E o que faremos, ó gênio? — Escarneceu, tocando seu peito com a ponta do dedo indicador. Estava apavorado.

Chico fez uma careta.

— Calma. Primeiro, vamos cuidar do grandalhão — sorriu.

— E como faremos isso?

Chico pegou um prato, que estava sobre a pia, e o deixou cair no chão.

— Esconda-se, bonitão! A brincadeira vai começar.

Na sala, o som chamou a atenção de Silvia que, com um olhar, mandou Cobra verificar. Ele caminhou sorrateiro pelo corredor, verificando cada cômodo com cuidado, até que chegou a cozinha. Os cacos de um prato estavam espalhados pelo chão, mas não havia ninguém à vista.

Pensou em retornar e verificar os outros cômodos de novo quando o vento soprou forte fora da casa, fazendo a porta que dava para os fundos se abrir e bater.

Desconfiado, ele a escancarou e saiu com a arma em punho. O coração aos pulos, antecipando a adrenalina que o combate liberaria em seu organismo. De início, só viu a chuva, fina e constante que tocava o chão, acompanhada por um vento gelado. Era quase poético. Então a calmaria daquela cena desapareceu.

O primeiro golpe o desarmou.

Algo pesado e duro desceu rápido e forte sobre sua cabeça e ele só teve tempo de inclinar-se para trás a fim de evitar ser nocauteado. No entanto, a mão que empunhava a pistola foi atingida e a arma deslizou pelo chão molhado até afundar em uma poça de água da chuva.

Ele tentou retornar para o interior da casa, mas o segundo golpe o atingiu no estômago. Curvou-se, a dor irradiando pelo tronco, sugando o ar de seus pulmões, deixando um gemido preso em sua garganta.

O terceiro golpe, o acertou na virilha, prolongando seu tormento. Ajoelhou-se, sem conseguir discernir qual faz dores era a pior, nem enxergar seus agressores.

O quarto foi o último golpe e o nocauteou. Uma paulada certeira na cabeça. O corpanzil tombou para frente, inanimado. Metade da face enfiada na lama.

Chico recuperou a arma dele na poça e entrou na casa, enquanto Rodrigo largava o cabo de vassoura que usou para derrubar o grandalhão. A madeira se partiu com a força do último golpe.

— Esse aí vai ter uma “Senhora Dor de Cabeça” quando acordar. Do jeito que apagou, ela vai ter até nome.

 

 

***

 

— É aqui? — Bianca questionou, olhando para construção sem teto e cheia de pichações. Adriana balançou a cabeça algumas vezes, confirmando. — Que horas será?

— No fim da tarde.

A chuva ainda caía, melancólica, tornando-se cada vez mais suave. Bianca admirou o local, imaginando-o nos seus anos de ouro.

— Aqui devia ser lindo — comentou.

— E era. Na minha infância, costumávamos invadir para tomar banho na lagoa que fica atrás daquelas árvores — apontou para além da casa, onde um par de jaqueiras se sobressaia ao mato alto. — Então, o dono morreu e os filhos entraram em disputa pela herança, deixando a chácara ficar neste estado. Agora, não passa de um local para os moleques fumarem um baseado e enxerem a cara de cerveja barata.

Sua expressão denotava certo pesar.

— Beijei uma garota pela primeira vez aqui — sorriu, saudosa, e ligou o rádio baixinho, recostando a cabeça no banco. — Então, fui para casa e contei a minha tia que quase enfartou com a notícia.

— Quantos anos tinha?

— Treze, acho.

Bianca a imaginou naquela idade, perguntando-se se fora, realmente, tão confiante de contar sobre sua homossexualidade para a tia, como afirmou. Algo lhe dizia que sim. Olhou para o relógio em seu pulso, entediada. Detestava esperar.

— Logo, os outros chegarão — Drica notou sua impaciência.

— E até lá, o que faremos?

— Esperamos — respondeu, fechando os olhos, mas voltou a abri-los ao ouvir a risada dela. — Qual a graça?

— Para ser sincera, não sei. Só tive vontade de rir. De qualquer forma, não sou muito paciente, nunca foi uma de minhas qualidades.

O sorriso dela era lindo quando não havia traços de cinismo ou maldade nele, assim como o negro de seus olhos. Abriu os braços e sorriu mais. Um gesto tão espontâneo que deslumbrou sua acompanhante por um instante.

— Se tivessem me dito que um dia estaria do lado oposto a Lei, teria rido até as lágrimas com tal absurdo. No entanto, cá estou, prestes a ajudá-la a entregar uma fortuna roubada a um traficante! — Sorriu mais um pouco. Desta vez, com ar brincalhão. — Estou curiosa.

Adriana, seguindo seu exemplo, tinha voltado sua atenção para o relógio no visor do celular. A ansiedade lhe causava um leve desconforto no estômago e suor brotava de sua fronte.

— Sobre o quê?

— Você sempre sequestra as mulheres de quem fica afim?

— Não. Geralmente, um sorriso basta. Mas, se não der certo, pulo direto para o sequestro — piscou, entrando na brincadeira. — E funciona, não é mesmo?

A chuva começou a diminuir e os primeiros raios de sol daquela tarde puderam ser vistos. Bianca riu outra vez, descobrindo que era fácil fazê-lo perto dela, quando não estavam brigando.

— E, qual o passo seguinte?

— Sexo, claro! Louco, selvagem, daqueles que consomem todo o fogo do desejo, mas deixa um gostinho de quero mais. Ah, não adianta me olhar assim, você mesma admitiu que está louca para provar.

— “Louca” é um pouco de exagero. O que admiti é que você me atrai. Só isso.

— Sei ler bem nas entrelinhas, gata. Enfim, é uma pena que não vai acontecer. A não ser que queira me fazer visitas conjugais na cadeia — fez um biquinho. — Com certeza, será bem solitário por lá.

Bianca gargalhou.

— Vai estar rodeada de mulheres, sua cretina. Poderá se dar ao luxo de escolher a dedo e elas irão se matar para ganhar a atenção desses olhos verdes.

— Estou sentindo uma pontada de ciúmes?

— Vai sonhando!

Ela deu de ombros com um sorriso e deixou que o silêncio fosse sua resposta. A chuva, havia algum tempo, parara de vez, e Bianca decidiu esticar as pernas. Adriana a seguiu, saindo do carro.

— Adoro cheiro de terra molhada — comentou, olhando para o relógio novamente. Os olhos perdendo o brilho divertido de minutos antes. Bianca pousou a mão no seu ombro e os dedos longos se enroscaram nos fios acobreados de seus cabelos e ali ficaram por algum tempo.

Os olhares travaram uma conversa silenciosa, enquanto os lábios abriram sorrisos singelos. Era a primeira vez que se olhavam sem agressividade ou segundas intensões e isso foi reconfortante.

— Nervosa? — Bianca questionou, fugindo de seu olhar. Sentia-se estranhamente próxima dela. Adriana a confundia. A levava da raiva ao desejo em segundos e, agora, havia um novo sentimento, algo que ainda não conseguia nem desejava nomear.

Afastou-se, olhando para as nuvens negras que começavam a se dispersar no horizonte.

— Para ser sincera, estou ansiosa para que isso acabe logo — ela respondeu e fechou os olhos, como se isso fizesse o tempo andar mais rápido.

Bianca lhe admirou o semblante por alguns instantes, então escorregou os dedos até a face salpicada de sardas. Um toque suave, que logo foi interrompido quando deu um passo atrás, mas Drica a puxou para si.

— O que está fazendo, ninjinha?

— Não acredito que vou dizer isso, mas estou começando a me acostumar com esse apelido idiota — fez menção de se afastar, mas Drica diminuiu ainda mais a distância entre seus corpos.

— Agora sou eu que pergunto: O que está fazendo?

— Também não sou muito paciente, ninjinha. Então, pensei em passarmos o tempo de uma forma mais prazerosa.

— Nem vem! Quer ganhar outro tapa?

Drica riu alto, estava apenas brincando, mas se grudou ainda mais a ela, deixando seus lábios a meros centímetros de se tocarem e a brincadeira começou a lhe parecer uma boa ideia.

— Te avisei que o que aconteceu essa manhã não iria se repetir.

— Se eu desse ouvidos a todos os avisos que me dão, com certeza, teria evitado muita confusão em minha vida e seria uma bobona. Você é sinônimo de encrenca, Bianca, e o problema é que eu sempre corri em direção a ela.

Tomou seus lábios em um beijo sugado ao qual Bianca se rendeu sem resistência, já que o queria tanto quanto ela.

— Droga, mulher! Mal te conheço e já me enlouquece. — A atirou contra o carro, as mãos se insinuando por baixo das roupas, se desfazendo delas com uma rapidez alucinante.

Drica abriu a porta traseira do carro e deixou-se ser conduzida para o banco, divertida com o desejo e a pressa que via nos olhos dela, tão violento quanto o seu próprio. Era uma loucura, claro, mas sua vida já estava em um redemoinho insano de acontecimentos fadados a um final nada agradável. Queria, pelo menos, um momento de insanidade prazeroso com aquela mulher bela e de temperamento forte que a atraía como um imã.

Esqueceu os problemas e o medo que a tomava desde que Lis ficou doente e se intensificou quando Alex sequestrou Lucas. Esqueceu as grades que a aguardavam no fim daquele dia e os assassinos que buscavam seu sangue por ter sequestrado àquela fera em forma de mulher que devorava seus lábios e arranhava suas costas, deixando marcas que, sabia, iam muito além da superfície da sua pele.

Sem rodeios, deslizou a mão para o sexo dela, descobrindo-o encharcado, e tremeu quando ouviu seu gemido em meio ao beijo voraz que trocavam. Aquele som era mais que um convite, era uma ordem para que fosse em frente. A penetrou sem delongas e surpreendeu-se com o prazer que vê-la entregue lhe trouxe. Bianca rebolava em seu colo, devorando seus lábios, mordendo-os até lhe tirar um grito de dor. Aumentava a velocidade dos movimentos cada vez mais entregue à vontade de seu corpo, tão imersa naquele momento que não raciocinava, apenas sentia.

Enlouquecia com seus toques, beijos e calor da pele que roçava na sua causando arrepios.

De repente, Drica interrompeu o beijo e a afastou, quase deixando-a em desespero ao imaginar que faria o mesmo que na galeria. Uma sensação de abandono e perca lhe tomou, mas a ruiva sorriu sem malícia, tranquilizando-a, e deslizou por seu corpo, dizendo:

— Preciso provar o teu gosto — e um arrepio a percorreu por inteiro ao ouvir o gemido de prazer dela quando passeou a ponta da língua em seu clitóris, tão suavemente que mal o tocou. Uma última e deliciosa provocação. Então, ela a penetrou novamente, devorando seu sexo, cada vez mais excitada e envolvida no calor e suspiros daquele corpo quente e delicioso.

Adriana queria enlouquecê-la, assim como ela fazia consigo, então abusou do momento. Deliciava-se aumentando a velocidade dos movimentos, levando-a próximo ao clímax, então diminuía o ritmo só para ter o prazer de ouvi-la pedir mais, cravando as unhas em seus ombros até convulsionar em um gozo longo e desfalecer, ofegante, no banco.

Os olhos negros de Bianca brilhavam como faróis e ela ainda se encontrava envolvida no enlevo do prazer, quando Adriana percorreu seu corpo com beijos miúdos até tomar seus lábios nos seus. Um beijo longo que reascendeu seu desejo.

Agora, senhora de si, inverteu as posições com um sorriso malicioso, percorrendo seu pescoço com beijos sugados, marcando-a. Beijou, lambeu, mordiscou e sugou os seios alvos, enquanto massageava o clitóris dela, rígido e pulsante de desejo, ouvindo-a gemer a cada toque, descobrindo um prazer incrível em tê-la entregue às suas carícias. Agora, ela era a sua refém.

Encaixou seu sexo ao dela, maldizendo o pouco espaço que tinham, mas que também ajudava naquele momento e Adriana moveu-se com ela, no mesmo ritmo. Cada vez mais rápido, cada vez mais excitada. Os olhos amarelos presos aos negros, as mãos apertando os quadris, puxando-a para si. Os ouvidos atentos aos seus gemidos, o corpo em brasas. Não reprimiu o grito quando atingiu o clímax, deixando que todo aquele prazer lhe escapasse pela garganta e Bianca a acompanhou no grito e no gozo, deixando-se cair sobre ela.

Os corpos suados e arfantes, a pele ainda em chamas. Encararam-se por um longo minuto, até que uniram-se em um beijo totalmente diferente de todos que haviam trocado até aquele momento. Era suave, quase delicado. Um beijo de amantes que se prolongou, interrompido, vez ou outra por um sorriso.

— E pensar que você tinha dito que nada iria acontecer — Drica a provocou, puxando-a para mais perto.

Tinha a impressão de que ultrapassaram uma barreira que ia além do desejo físico, mas guardou o pensamento para si. Bianca estava extasiada demais para falar e limitou-se a permanecer imóvel, aguardando, com pesar, o momento em que voltariam para a realidade.

 

***

 

Furiosa, Silvia chutou o sofá repetidas vezes. Ainda tentava engolir aquela derrota. Passou a mão na testa, onde um galo cantava dolorosamente e sentiu sua raiva aumentar.

Na entrada do corredor, Cobra passeou o olhar pela sala destruída e abaixou-se para pegar o celular que estava caído em um canto de parede. A tela quebrada ainda permitia sua utilização e ele deslizou o dedo sobre ela, esfregando a nuca com a mão livre. Estava ensopado, cheio de lama e com o orgulho ferido.

Palito e os outros homens reviravam a casa em busca de algo que pudesse lhes oferecer uma pista do paradeiro de Rebeca e amigos. Vez ou outra, ouviam coisas caindo ou quebrando e móveis sendo arrastados. Mas, pela demora, a busca não ia levar a nada.

— Nossa única chance fugiu porta à fora! — Ela rosnou, apanhando o boné que estava largado junto ao sofá e reprimiu um gemido quando a cabeça latejou mais forte. Pressionou o boné contra a testa onde um corte de três centímetros ainda vertia sangue.

Uma hora antes, ela pressionava a arma na testa de Rebeca quando algo forte e grande a atirou ao chão. Quando abriu os olhos, viu-se debaixo de um rapaz musculoso e moreno que não hesitou em esmurrar sua face.

Silvia protegeu-se dos socos o melhor que pôde e revidou acertando as costelas dele e o pescoço. Rodrigo sentiu um nó se formar na garganta e, imediatamente, levou as mãos a ela. A loira o empurrou e ele rolou para o lado, sem ar, mas logo se recuperou e já se erguia, quando ela se jogou sobre ele. Rodrigo a atirou contra a parede, socando seu ventre e ela revidou com uma joelhada em sua virilha. Silvia encheu o punho, dando-lhe um soco certeiro no queixo quadrado e por barbear.

Ele perdeu o equilíbrio ao tropeçar nos próprios pés e voltou a cair. Silvia aproveitou para pegar o punhal que carregava na bota. Chutou a face dele e um jato de sangue morno escorreu do nariz até o queixo.

Se encararam por um longo segundo e o rapaz pôde sentir, por antecipação, a lâmina fria e cortante rasgando sua carne.

— Rodrigo! — Beca gritou, assumindo o controle de suas pernas, quando Chico passou por ela e saltou o sofá para ajudar o amigo. Mas, Silvia foi mais rápida e antecipou sua chegada. Se abaixou quando ele saltou em sua direção e o atirou contra o aparador.

Rodrigo começava uma reação, no exato instante em que ela descia o punhal de encontro ao coração dele. Foi ágil e rolou para o lado, mas o punhal ainda rasgou seu braço quando tentou toma-lo. Recuperado, Chico se aproximou com a pistola na mão e a loira reconheceu sua derrota, deixando a lâmina cair no chão.

— É melhor que me matem, pois vou caça-los até o inferno! — Prometeu.

Zangada, Rebeca a nocauteou com o cabo da sua própria pistola, que tinha ido parar debaixo da mesa de centro, quando o amigo derrubou Silvia pela primeira vez. A loira ainda tentou se erguer, o sangue vertendo do corte em sua testa. Recuperou o punhal e se pôs de pé, trôpega. Deu um passo em direção a Rebeca e foi a vez de Chico atingi-la, certeiro, com um soco no estômago.

Ela se dobrou sobre o próprio corpo e caiu de joelhos. Então, Rebeca a acertou de novo. Desta vez, com um chute que a levou de vez para a inconsciência.

Os três amigos se olharam por um longo segundo, em uma conversa muda onde uma única palavra ressoava: Fugir.

Silvia foi despertada por Cobra meia hora depois. Ele tinha acordado em meio a uma poça de lama e com uma forte dor de cabeça. Levou alguns minutos para conseguir se levantar e se arrastou pela casa com passos vacilantes até se deparar com ela, desmaiada, atrás do sofá. Gritou por socorro e, segundos depois, Palito e companhia invadiram a casa.

Agora, Cobra esfregava a testa olhando os contatos do aparelho que encontrou no chão, enquanto Silvia utilizava toda a sua cota de palavrões. Alguns dos quais, ele jamais tinha ouvido.

— Filhos de uma… — parou do lado dele e chutou suas botas. — E você os deixou entrar!

— Fui surpreendido, assim como você — defendeu-se.

— Pela sua incompetência! Aquela maldita Rebeca com aquele tal de Rodrigo, mais aquele outro…

— O que foi que você disse? Como se chamava o cara?

— Eram dois. Nem isso você viu?! Um cara mais velho e o outro mais jovem, não tinha mais que trinta anos. Acho que se chamava Rodrigo. A ouvi gritar, enquanto lutávamos.

Sentou no sofá, a cabeça latejava cada vez mais forte.

— Agora, sim, estamos sem opções — admitiu.

— Talvez não.

Diante do olhar confuso dela, Cobra sorriu, mostrando a tela do celular.

— Acho que sei onde encontrá-los.

 

***

 

Lucas olhou para a pistola na mão de Alex, apontada para o seu peito. Tinha chegado a hora.

Fechou os olhos, a espera da morte, mas ela não veio.

Em vez de um tiro, ouviu a risada sardônica dele e, quando voltou a abrir os olhos, Alex lhe oferecia a arma. Um dos homens que os acompanhava, soltou suas mãos e se afastou.

— Tenho uma proposta pra você, velho amigo.

Desconfiado, Lucas permaneceu em silêncio e imóvel.

— Perdoo sua dívida se fizer algo pra mim.

Lucas respirou pesadamente. Conhecia aquele sorriso nos lábios do antigo chefe e preparou-se para a resposta à sua pergunta, antecipando a maldade que ele desejava, mas surpreendeu-se.

— O que você quer que eu faça? — Sua voz saiu pastosa, estranhamente baixa e arranhou seus próprios ouvidos.

Alex riu alto e disse:

— Quero que mate sua prima!



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para Capítulo 11

  1. Olá Tathan
    Saudades!!!!
    Espero que a armadilha do Alex não der certo e no final eles que paguem pelo assalto uma troca justa.
    Bjus e até o próximo

  2. Oi Tattah
    Nossa que saudades do site, da história, de ti também kkk.
    Doida para ler o próximo capítulo para saber como a Drica vai sair da armadilha do Alex. Bjus e até o próximo

  3. Qtas saudades…
    Adorei relembrar de Reféns do Desejo…
    Agora vai… estou a mto na espera do desenrolar
    deste romance.

    • AH, lindona!
      Como sempre, a sua presença é adorável. Muito obrigada pelo carinho e companhia!
      Aquele Xêro!

Deixe uma resposta

© 2015- 2017 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.