O dia passou arrastado. Eu estava irritada, tentei falar duas vezes com Adele, mas ela não me atendeu. E me mandou mensagem dizendo para ficar calma e deixar as coisas acontecerem. Avisa que só vai falar comigo no dia seguinte.
Luana chegou mais cedo lá em casa e ficou conversando com a Carlinha. Não sei se eu estou muito estressada com o jantar, mas senti um clima meio estranho entre elas. Depois vou pegar as duas para conversar.
Fui me arrumar. Coloquei um jeans, all star preto e camiseta com a bandeira da Inglaterra e uma jaqueta. Passei um perfume, um batom cor de boca. Como o cabelo é curto, não precisa de muita coisa para ficar bonito.
Chego à sala e vou em direção ao bar tomar uma dose grande de Baileys para ver se consigo dar uma anestesiada nos nervos.
– Querem beber alguma coisa? – Eu pergunto.
– Não, você já tá bebendo por nós duas, pelo tanto que você colocou no copo. – Luana responde.
– Não enche Lua.
– Você já quer chegar lá doidona?
– Eu não quero nem ir.
– Não vá então minha filha. – Minha mãe se mete. – Não creio que essa moça mereça toda essa consideração sua. Diz que se sentiu mal.
– Ah mamãe, uma hora eu vou ter que encarar. Melhor ir logo. Até porque Adele ia ficar me enchendo o saco se eu desse para trás.
– Essa Adele parece doida de ficar te empurrando para cima da Fernanda.
– Eu entendo, ela só quer que eu deixe isso definitivamente para trás mamãe. Vamos logo Luana. Ficar enrolando não vai me deixar mais tranquila, então vamos logo.
– Vamos sim. Vou pela praia assim você se distrai.
– Onde ela está morando?
– No Leblon.
– Pelo menos não é na distante Barra.
Entramos no carro.
– Tá estressada, né amiga? Medo de cair em tentação?
– Quase certeza de que vou cair em tentação Lua.
– Oi?
– A Fernanda me beijou ontem no escritório.
– O quê?
– E eu correspondi! Que droga Lua. Eu não queria, mas ela mexe demais comigo. E eu contei para Adele.
– Caramba. Por isso que ela viajou?
– Ela tinha a proposta para um show amanhã. Já havia decidido ir, mas só me falou ontem. Acho que ela queria que esse encontro acontecesse logo de uma vez. Aí uniu o útil ao agradável. Se é que tem algo de agradável nisso tudo.
– Ai, eu não teria essa coragem que ela tem. Eu te levaria para bem longe da Fernanda, nunca te colocaria próxima dela.
– Eu acho que também não teria esse desprendimento todo Lua. Por isso minha inglesinha é tão especial. Ela me quer inteira e feliz ao lado dela.
– Estamos chegando.
– Nossa, nem percebi.
– Força amiga. E se precisar de ajuda para fugir, conta comigo.
– Sei, você tá toda amiguinha da Fernanda. Vai é fugir e me deixar lá.
– Ah, para Mari. Antes de ser amiga de qualquer uma, eu sou sua amiga e quero sua felicidade. Independente se com Adele ou Nanda. Eu consigo entender Adele. Acredito que estar com uma pessoa que pensa em outra não deve ser fácil.
– Também não é assim Lua. Eu já não estava mais pensando nela. Eu não devia era ter vindo nessas férias para cá.
– Talvez seja melhor você resolver logo isso. Confesso que tava morrendo de saudades amiga. E queria muito que você ficasse aqui e não voltasse mais pra Londres.
– Ah, Lua! eu também tava com muitas saudades, de você, da família, do Brasil. Confesso que não sei se quero voltar, mas eu quero estar perto da minha inglesinha linda.
Estacionamos e seguimos em direção ao prédio da Fernanda. Luana fala com o porteiro, que autoriza a nossa subida.
– Força amiga! Qualquer coisa a gente foge! – Luana diz rindo. – Se bem que você é uma mulher de atitude amiga. Então enfrenta a fera logo.
– Na frente da Fernanda eu me sinto uma fracote. Quando ela me encara com aquele olhar de “vou te devorar”, me derreto toda.
– Não queria estar na sua pele, Mari.
– Eu também não, Luana. – Falo rindo.
A porta do elevador se abre e Fernanda já está à porta nos aguardado. Parece estar ansiosa.
– Boa noite meninas. – Se aproxima para nos beijar.
– Boa noite Nanda. – Luana responde.
– Boa noite Fernanda. – Ela me dá dois beijos. Um bem próximo da boca.
– Você tá linda Mari.
Levanto minha sobrancelha.
– Você também está muito bonita Fernanda. – Na verdade ela está linda, mas não quero dar o braço a torcer. Veste calça jeans justíssima, havaianas, blusa de alcinha fina preta, pelo visto sem sutiã. Aff, como é que eu presto atenção nessas coisas?
– Fiquem à vontade. O Ricardo e a Renata já devem estar chegando. Querem beber alguma coisa?
– Por enquanto não quero nada. – Respondo.
– Cadê as meninas Nanda? – Luana pergunta. – Acho que vou de água mesmo.
– Elas foram dormir na casa de uma amiguinha. Elas têm um trabalho do colégio para fazer. E a mãe da Julia vai levá-las para fazer a pesquisa amanhã. Aí pediram para ir logo hoje e estão fazendo uma festa do pijama. Deixaram beijos para vocês, em especial para você Mari e disseram que querem te ver.
Não respondo nada.
– Vou para a cozinha finalizar o jantar. Mais uma vez, fiquem à vontade e abram a porta para o Ric quando ele chegar.
Fernanda vai em direção a um corredor.
– Você tinha que ver a sua cara olhando para ela Mari. Pior que ao mesmo tempo você foi tão fria.
– Ela que não pense que é só estalar os dedos, e eu vou correndo. – Falo meio revoltada.
– Onde você está mesmo, hein?! – Luana me provoca.
– Ah Luana, não enche meu saco.
A campainha toca e Luana vai atender a porta. Vou em direção à varanda, respirar um pouco de ar puro, porque estou me sentindo sufocada. Fico um tempo e sinto a presença de alguém.
– Você não está muito feliz em estar aqui né Mari? – Ouço a pergunta feita pela razão do meu mau humor.
– Estou me sentindo pressionada Fernanda. E sinceramente não gosto de me sentir assim. Você puxa de um lado, Adele empurra do outro.
– Acho que estou no lucro. Se te puxo e Adele está te empurrando, tudo me leva a crer que você vai vir para o meu lado. – Sorri.
– Não pense que eu gosto disso não. Muito menos que as coisas são simples.
– Eu sei que as coisas não são nada simples Mari, mas a gente pode tentar simplificar.
– Eu não sei…
– Então é aqui que vocês estão se escondendo. – Ricardo chega brincando.
– Ric! Saudades de você chefinho! – Dou um abraço apertado. – Senti muito sua falta, viu?!
– Sentiu nada. Quase não falava comigo. Já estou sabendo que tá pensando em voltar definitivamente pra Londres.
– Não é bem assim, não.
– Mas vamos deixar isso para outro momento. Vamos lá pra dentro, quero que você conheça minha namorada.
– Renata finalmente você vai conhecer a Mariana. – Deus tá me zoando, só pode!
– Como vai Renata? – Percebo que ela está tão surpresa quanto eu.
– Mari! Que surpresa! Jamais imaginei que a Mari do Ricardo era você!
– O mundo é uma ervilha minha querida!
Nos abraçamos. E percebemos que estão nos olhando sem entender.
– Ai gente é isso aí. Eu e Renata nos conhecemos. Ah! E também já ficamos, quando entramos na universidade, nada sério. – O queixo do pessoal caiu de vez.
– Como assim? Conta isso direito. – Luana, que não vale nada, já coloca pilha.
– Não tem o que contar, éramos jovens. Me senti atraída pela Mariana. Ficamos em algumas festas da faculdade, mas nada sério. Acabamos nos distanciando com o passar do tempo. Nossos cursos eram diferentes. Normal isso acontecer. – Percebo que ninguém fala nada. – Ricardo desfaz essa cara, eu já te contei que na época da faculdade eu gostava de ficar com meninas, então, sem essa cara de surpresa!
– Tudo bem. Só nunca imaginei que a Mari estaria entre essas pessoas. Enfim, como foi que você disse mesmo Mariana?! O mundo é uma ervilha.
– Eu vou trazer umas entradinhas para gente comer. Tem também vinho, suco, refrigerante e outras bebidas no bar. Luana, você pode providenciar bebida para o pessoal? Eu quero vinho tinto.
– Claro, Nanda.
– Mari, você pode me ajudar a trazer as coisas da cozinha?
– Claro. Luana eu quero refri.
– O vício continua.
– Larga do meu pé vai.
O jantar foi melhor do que eu esperava. Apesar de Fernanda aproveitar toda oportunidade que aparecia para me tocar, roçar o seio nas minhas costas ou no meu braço sempre que ia me servir alguma coisa. O que acontecia o tempo todo, já que ela fazia questão de me servir tudo. E meu corpo reagia a cada toque. Não podia negar que ela me atraia muito.
Já passava das onze quando Ricardo e Renata se levantam dizendo que iam embora, pois tinham compromisso no dia seguinte bem cedo.
Luana diz que também está cansada e Fernanda protesta.
– Ah sacanagem. Tão cedo ainda. Nem deu meia-noite. Fica mais um pouco Luana!
– Eu estou cansada, mas vamos fazer o seguinte, se a Mariana quiser ficar deixo meu carro com ela e vou de carona com o Ric.
Fernanda me olha entre ansiosa e triste. Provavelmente imagina que eu não vou querer ficar.
– Não vai precisar deixar seu carro não Lua.
– Então vamos logo.
– Mas eu ainda não vou embora. Pode ir tranquila. Eu pego um taxi para ir pra casa.
– Ok, se você prefere assim.
– Eu e Fernanda ainda temos algumas coisas para conversar, e quanto mais rápido fizermos isso, melhor.
– Então tá bom! Amanhã a gente conversa! Beijos meninas e juízo viu! Não façam nada que eu não faria! – Dá uma piscadinha e vai em direção à porta.
– Adorei o jantar Nanda. Você está se superando na cozinha. Depois vamos marcar alguma coisa lá em casa e você leva sua namorada para gente conhecer Mari. – Fala Renata, sem saber de tudo que tá rolando.
– Vamos sim Renata!
– Vocês são muito sem graça indo embora tão cedo viu. – Reclama mais uma vez Fernanda.
– Mas você vai ficar em boa companhia Nanda. – Lua brinca.
Eles vão embora. Vou até a mesa e pego uma taça de vinho para mim.
– Você quer vinho Fernanda?
– Quero sim Mari.
Levo uma taça até ela. Sento no sofá em frente ao que ela está.
– Agora somos só nós duas. E sinceramente eu não sei por que eu fiquei.
– Será que não foi porque você queria ficar perto de mim? – Fernanda fala enquanto caminha em minha direção. Senta-se ao meu lado. – Você ficou tão quieta durante o jantar, quase não comeu. Eu não quero que você fique mal por estar perto de mim Mari.
– Sinceramente Nanda, eu não estou confortável mesmo com essa situação.
– Fala de novo.
– O que? Falar o que? – Pergunto confusa.
– Nanda. Tem tanto tempo que você não me chama assim Mari. Você tem sido tão fria e distante comigo. Menos ontem durante o beijo. – Coloca a taça dela sobre a mesa de centro e se aproxima mais de mim. Toca meu rosto, me derreto com esse carinho e fecho os olhos. – Me desculpa por te magoar. – Abro os olhos e ameaço falar, mas ela não deixa. – Eu sei que fui idiota, preconceituosa. Você não devia nem querer falar comigo, mas desde que te vi no aeroporto, não consigo te tirar da minha cabeça. Seu cheiro me persegue. E depois do beijo de ontem, só penso em grudar minha boca na sua e nunca mais largar. – Fico sem ação, porque no fundo, no fundo, nesse momento eu não queria pensar em mais nada. Só queria sentir. A pele dela na minha, o gosto dela na minha boca. Coloco minha taça ao lado da dela, sobre a mesa de centro. Levo minha mão até a sua nuca, me aproximo e colo minha boca na dela, em um beijo urgente, ardente e molhado. Só nos separamos quando o fôlego acaba. E mesmo assim minha boca ainda continua grudada nela. Beijo seu rosto, pescoço, subo para sua orelha. Ela solta um gemido o que só serve para aumentar o meu desejo.
Quando me dou conta, Fernanda já está sentada no meu colo, de frente pra mim, com as mãos no meio dos meus cabelos, me puxando como se quisesse grudar ainda mais nossos corpos. Volto a beijar sua boca e dessa vez, ela aproveita para beijar todo meu rosto, pescoço, morder minha orelha. Em meio a isso tudo minhas mãos vão passeando pelas suas costas, pernas, lateral do corpo. Até que vão parar na bunda, me fazendo puxá-la ainda mais. As mãos dela vão descendo pelos meus ombros e chegam aos meus seios. Me dou conta de para onde estamos caminhando. Vou diminuindo o ritmo dos beijos. Coloco minhas mãos sobre as dela e a afasto do meu corpo. Fernanda abre os olhos como se não entendesse o que estava acontecendo.
– Por que você parou? Você quer tanto quanto eu. – Fala tentando voltar à respiração ao normal.
– Eu quero. Quero muito Nanda. Há muito tempo que eu queria ter você assim nos meus braços, mas agora não sei se isso é certo. Se não é só um desejo que tenho por não ter tido você lá atrás.
– Não fica pensando, só sente. Sente como é tão bom ficar assim juntinho. Como é gostoso sentir a minha pele na sua. Dá uma chance pra gente.
Nanda solta as suas mãos das minhas. Faz um carinho de leve na minha bochecha e com a outra mão segue o contorno da minha testa, nariz e lábios. Se aproxima e me dá um beijo delicado, praticamente um roçar de lábios. Encosta a testa na minha, roça o nariz no meu e me abraça apertado.
– Eu quero muito uma chance com você, mas não quero que você se sinta mal por isso meu anjo. Eu sei que eu vacilei e forçar a barra não é a melhor maneira de trazer você pra mim né. Desculpa, é que quando a gente fica assim tão perto, tudo que eu mais quero é me jogar nos seus braços.
Me solta e tenta se levantar, mas não deixo. Seguro em sua cintura. Nos encaramos, olhos nos olhos e peço.
– Fica.