Recomeçar

2. Ainda no aeroporto…

Eu queria, mesmo, me convencer de que não precisava mais de você para ser feliz. Porém, assim que me afastei do abraço, percebi que não era assim tão simples…

Você parecia ainda mais linda. Sempre foi uma mulher que chama a atenção de todos a sua volta. É alta, magra. Possui um rosto de traços marcantes, com expressivos olhos castanhos claros. Uma vasta cabeleira castanha escura. Uma boquinha linda, com lábios finos, que sempre tive vontade de provar e, quando ela sorri, o mundo todo parece parar só para ver.

Sossega, Mariana! Você não pode ter esse tipo de pensamento, mas aí sinto o seu perfume, que sempre me deixou baratinada. E o pior, ele não mudou nadinha, continua exatamente igual.

Percebo que você está falando comigo e me obrigo a sair desse torpor que me tomou ao sentir seu perfume.

– Me desculpa ter feito você sofrer.

Uma lágrima solitária marca seu rosto e eu interrompo seu trajeto com meu polegar.

– Isso é passado, Fernanda. Vamos deixar isso pra lá.

– Como eu posso deixar isso tudo que eu tô sentindo pra lá?

Dou um sorriso irônico e respondo.

– Da mesma maneira que eu deixei. Se afastando. Indo viver a sua vida.

– Me dá pelo menos uma chance pra eu…

Não a deixo terminar de falar.

– É engraçado, quando eu quis falar, você não quis ouvir, me cortou. E cortou de uma maneira que doeu demais. E agora que eu estou bem e feliz, você quer conversar?

– Naquele momento, eu não podia, eu não tava preparada. Por favor, Mariana, só uma conversa, que seja a última. Eu juro que depois disso te deixo em paz.

– Desculpa, Fernanda, mas eu acho que conversar não vai mudar nada. Eu segui em frente. Estou namorando. Trouxe até a Adele para conhecer minha família. Não vou deixá-la pra ter uma conversa com você.

– Eu não posso, eu não quero acreditar que você me esqueceu! – Falou Fernanda com a voz falhando.

 – Vamos conversar, quando e a hora que você quiser Mari! Por favor!

– Melhor não, Fernanda.

– Meu número continua o mesmo – Insiste Fernanda.

– Eu tenho que ir. Já demorei demais aqui.

Viro para ir embora, ela segura meu braço e pede.

– Me dá um abraço?

Desgraçada, golpe baixo! Mas eu não consigo dizer não. Volto e a envolvo em meus braços. Ela está tensa. Respira fundo como se só precisasse sentir o meu perfume. Então, ela finalmente relaxa e apoia o queixo no alto da minha cabeça. Aperta ainda mais o abraço. Apesar de ser mais alta, ela consegue encaixar a cabeça no meu pescoço e dá um beijo. Me fazendo estremecer da cabeça aos pés. Afinal de contas, ela atingiu meu ponto fraco. Ela percebe todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Sinto ela sorrir. Dou um beijo em seu rosto e vou embora, sem olhar pra trás. Ao mesmo tempo, tentando me acalmar até chegar perto do pessoal.

– Desculpa a demora. – Falo segurando na mão de Adele, mas evitando seus olhos, seguimos em direção ao estacionamento.

Meus irmãos vão contando sobre as últimas fofocas da família e amigos.  Mesmo com os pensamentos perdidos, me dou conta que Adele estava mais calada que o normal.

– Anjo, você ficou chateada por que fui falar com a minha amiga?

– Não, respondeu Adele. Fiquei chateada por ela ter vindo ao aeroporto. E mesmo sabendo que você está comigo, a cara de pau se aproveitou e beijou seu pescoço. Isso sim, me deixou chateada!  – Ressaltou Adele, dando um sorrisinho de deboche e me encarando. – Você é inocente de achar que eu não ia perceber que aquela abusada é a Fernanda?

Faço uma bela cara de espanto, por não esperar que ela tivesse percebido que era a Fernanda.

E ela continua.

– Se ela acha, mesmo, que vai ser fácil tirar você de mim. Pode deixá-la bem avisada que sou boa de briga, viu?

Dou um sorrisinho de lado. Sabia que ela não ia gostar, nada, de saber que a Fernanda me procurou. E ficaria uma fera se soubesse que ela quer me encontrar para conversar.

– Anjo, confesso que ela me pegou de surpresa. Nunca passou pela minha cabeça, que depois de todo esse tempo, ela viesse atrás de mim. Muito menos, que ela ia fazer isso hoje. Desculpa, você sabe que eu ia te contar depois.

– Você não precisa me pedir desculpas, baby. Eu sei que você não sabia que ela ia aparecer aqui. Você não seria leviana, assim, comigo.

Adele dá um longo suspiro e me pergunta:

– Ela mexeu com você, né?

– Você sabe que se eu disser que não, estarei mentindo. Mexeu sim. Talvez não da maneira que eu imaginava que mexeria. Droga! Confesso que não sei. Juro que eu não queria sentir absolutamente nada, com a presença dela, mas mexeu. Desculpa.

– Mari para de pedir desculpas. Eu sei bem onde estava me metendo quando a gente começou. Só fique ciente de que vou lutar por você! Não vou mentir ou trapacear, mas vou lutar com todas as armas que possuo.

E ela dá aquele sorrisinho safado, que me conquistou na primeira noite em que nos vimos.

Nem percebi que já estávamos no estacionamento. E meu irmão já estava guardando as malas.

– Depois a gente continua, meu anjo.

Julio abre a porta para Adele entrar no carro. E eu não perco a chance de provocá-lo.

– Não sabia que você tinha ficado tão educado, depois que parti para Londres, maninho. Prefiro acreditar que você virou um cavalheiro, a imaginar que você está cortejando minha mulher.

Ele fica vermelho e me olha sem graça. 

– E nem adianta negar. Porque você nunca abriu a porta do carro para ninguém, a não ser pra mamãe.

Começo a rir .

– Relaxa, maninho.  Ah, e desiste também, pois Adele só tem olhos pra mim. E se fosse diferente disso, no máximo ela ia ter olhos para a mana Carla.

– Epa, me deixem fora dessa brincadeira de vocês aí, porque continuo preferindo os meninos, viu? – Carla responde a brincadeira.

Adele me empurra com os ombros e ri da cara de bobo que meu irmão fez.

Julio tenta mudar de assunto e diz:

– Mamãe está ansiosa pra encontrar vocês. Fora que está doida para apertar muito a filhinha mais velha.

– Também estou morrendo de saudades da coroa!

Partimos, então, rumo ao Grajaú, bairro nobre da Zona Norte carioca, onde mamãe mora e ficaremos hospedadas.

No caminho, tento apagar a imagem de Fernanda me esperando no aeroporto…



Notas:



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