Primavera de 50' - Jullie Veiga e Mohine Yamir

Primavera de 50′ – Jullie Veiga e Mohine Yamir

Aquele dia estava mais tedioso que o comum, foi então que surgiu a ideia: piquenique no parque, talvez tivéssemos a sorte de encontrar um lugar perto do lago.
Mas a verdade é que o tédio do nosso dia estava dentro de mim, os últimos acontecimentos abalaram tanto que estava difícil decidir por roupas, cores, lugar. Era dentro que o tédio morava. Ir ao parque talvez não modificasse nada, mas não podia simplesmente descartar aquela ideia, pois depois de dois anos, a família estava reunida novamente.

A Thamyres vibrou quando eu disse sim, levantou do sofá sorrindo e tratou de ir avisar as crianças, tudo bem que a mais velha já tinha vinte e três anos, o do meio tinha dezesseis e o caçula sete, mas sempre seriam nossos bebês. Eu ainda estava me esforçando para sair do sofá quando ela reapareceu, radiante, dentro do seu vestido de flores. Como ela fazia isso? Eu não sei. Mas as crianças já se movimentavam pela casa e ela organizava as coisas que julgava ser necessárias.

Os sorrisos dela coloriam o dia e tudo dentro de mim. O ânimo surgiu instantaneamente, vê-la feliz me dava forças. Olhando o movimento dela e das crianças, vi um filme de nós. E agradeci, pois, aquilo tudo me bastava.

Não fomos direto para o parque, primeiro passeamos pela cidade, a mais velha amava registrar os momentos com sua Polaroid amarela e os meninos aproveitavam para fazer poses engraçadas. Ríamos, eis que o tédio nos fez felizes. E quando finalmente chegamos ao parque, tivemos a sorte de encontrar um espaço à beira do lado, tive ainda mais certeza de quão tradicional era a minha esposa. Tradicional e exagerada. A toalha quadriculada foi estendida sobre o chão, cesta posta em um espaço detalhadamente escolhido: frutas, pães, frios, doces e suco. Tudo carinhosamente arrumado.

Sob um suave sol de primavera, as crianças corriam e brincavam. Nossa filha mais velha, também feliz, fotografava os detalhes do nosso dia. Detalhes de nós, dos bichos, das outras pessoas… ela não perdia nenhum instante e isso, mais tarde, seria motivo de muitos outros sorrisos entre nós. Algumas fotografias não entendíamos a razão de estarem ali, mas aquilo tudo parecia tão importante para ela que mesmo sem entendermos se tornava importante para nós.

Estava sentada, recostada em uma arvore e a Tham, jeito carinhoso e apaixonado qual eu a chamava, deitou-se. Pôs a cabeça sobre minhas pernas e eu acarinhava seu rosto, os cabelos. Bem à nossa frente, ao alcance de nossos olhos, as nossas crianças viviam, se permitiam novas descobertas. A minha Tham observava tudo, seus olhos brilhavam encantados. Não havia dúvidas de que aquele era um dos momentos mais lindos da minha vida, vivido ao lado dela e de nossos filhos.

Quando o dia começou a dar sinais de despedida carregava consigo um pouco de nossa alegria. Vimos o sol se esconder com os nossos sorrisos lá no horizonte. Anoitecemos todos juntos.



Amoras, tudo bem?

Então, esse texto é de minha autoria e da minha madre Jullie Veiga.

Fizemos esse conto e eu o amei tanto, que achei justo partilhar com vocês.

Espero que gostem!

Beijinhos,

Mohine Yamir.

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