CRISTIANE

Rick me olhou incrédulo, estava boquiaberto. Sentou-se na beira da cama e passou a mão na cabeça, um gesto que lhe era comum e se repetia sempre que algo o surpreendia.

— Não posso acreditar! — Repetiu pela terceira vez consecutiva.

— Quer parar de repetir isso? Está me deixando nervosa.

— Desculpe, mas é que nunca imaginei que a Hellena… Que a Hellena… Ela e… Você… Vocês…

O problema dele com as palavras estava ficando pior e ri de sua expressão confusa.

— Nós nos amamos e desta vez não vou fugir. Vou lutar por ela, contra tudo e todos e que a droga dessa cidade se exploda se não gostar!

Ele ficou ainda mais sério e surpreso.

— Olho para você e me pergunto onde está aquela garotinha que era minha amiga na escola e que eu protegia quando as outras crianças resolviam implicar com ela. Onde está a adolescente que se escondia por trás de um diário?

— Roubaram o diário dela, então ela teve que aprender a não guardar seus sentimentos em folhas de papel e que se quer algo tem que ir à luta e que se dane o resto do mundo se não aceita isso.

— Você me surpreende cada vez mais.

— Acha isso ruim?

— Não, mas é que ontem você estava com medo de que as pessoas te reconhecessem na rua e hoje diz que quer que elas se explodam se não aceitarem o seu amor por Hellena. Estou confuso.

— Não fique. Realmente, não sou mais aquela garota. Acho que o que aconteceu ontem foi pela emoção de estar de volta a um lugar que me trazia as lembranças mais amargas da minha vida e, não só isso, as lembranças do meu primeiro amor, do meu primeiro e único amor. — Revelei.

Havia pensado sobre isso, enquanto me dirigia para sua casa. Ele baixou a cabeça.

— Acho que compreendo. Na verdade, não havia notado esse seu lado nas poucas vezes em que nos encontramos nestes últimos anos. Havia notado a mudança que ocorreu fisicamente, mas não imaginava que tivesse se tornado esta mulher tão decidida.

Voltou a fixar seu olhar em mim.

— Estou feliz por isso. De verdade. — Completou.

Sorri para ele, agradecida por seu carinho e amizade. Ele, apesar de sempre dizer que o amava, jamais saberia o quanto era importante para mim. O amor e carinho que lhe dedicava não tinha limites.

— Meu amado amigo, acho que esta mulher sempre esteve dentro de mim à espera do momento certo para sair. Quando fui embora daqui, não vi mais motivos para aprisiona-la em meu ser, afinal, todos já sabiam da minha condição, incluindo, minha família. Então, para que fingir?

Me recostei na cômoda próxima a porta do quarto.

— A menina que você defendia na escola, a garota que revelava seus sentimentos a um diário, morreu no dia em que saí daqui. Não espero que entenda, de fato, é complicado. O ser humano é complicado e eu não sou uma exceção a isso. Só espero que fique feliz por mim e nada mais. Peço muito?

Ele sorriu, se ergueu da cama onde estivera sentado e veio me abraçar sussurrando em meu ouvido:

— Eu te amo, e não há nada no mundo que deseje mais para ti do que a sua felicidade. Estarei sempre contigo, meu anjo.

A porta do quarto, que estava entreaberta, abriu-se completamente dando passagem a uma linda loirinha. A reconheci imediatamente, pois o Rick me mostrava a foto dela sempre que tinha uma oportunidade. Pela expressão que se formou em seu rosto, supus corretamente que ela havia interpretado aquela cena erroneamente.

— Mas o que é que está acontecendo aqui? Quem é essa mulher?

Rick levou dez longos minutos tentando convencê-la de que éramos apenas amigos.

— Eu não acredito! Você estava me traindo na sua própria casa, na casa dos seus pais. Nem se importou em se esconder!

Cansada de assistir aquela confusão resolvi me intrometer.

— Calada! — Berrei.

Normalmente, não me importaria com esse tipo de coisa. Sairia e deixaria que o casal conversasse e se entendesse, mas como era o Rick resolvi intervir. Aline, este era seu nome, me olhou surpresa, pois até o momento havia me mantido calada e aparte da conversa.

— Como é que é? — Perguntou.

— Mandei você calar a boca, é tão difícil assim de entender? Escuta aqui, Rick está falando a verdade. Somos amigos de infância e você só deveria ficar preocupada em relação a mim se ele fosse uma mulher.

— O quê?

— Não curto homem, tá? — Fui curta e grossa.

Houve um longo minuto de silêncio, no qual seus olhos me avaliaram de alto a baixo como um objeto em exposição.

— Sério? — Questionou com uma sobrancelha arqueada.

Encolhi os ombros em um gesto cansado.

— Por que todo mundo faz essa pergunta quando digo que sou gay? — Perguntei para ninguém em especial, mas ela resolveu responder.

— Você não aparenta ser lésbica.

Cocei a cabeça indignada com alguns estereótipos.

— E que aparência uma lésbica deveria ter? — Questionei um pouco zangada, mas a raiva se tornou em divertimento ao vê-la ficar vermelha e sem graça. Acabou se enrolando toda com a resposta e, por fim, caiu numa risada cheia de constrangimento.

Depois de me pedir inúmeras desculpas e ao Rick também, acabamos por ter uma conversa agradável. Até ficamos um pouco amigas.

— Por favor, me desculpe. O ciúme me cegou. Rick me falou muito de você e até mostrou algumas fotos, mas você em nada se parece com a garota das fotos.

— É compreensível. — Dei de ombros e me voltei para Henrique recordando que ainda tínhamos algo a tratar. — Nossa conversa ainda não acabou.

Seu olhar interrogador pousou em mim.

— Por que não me falou da festa?

Arregalou os olhos negros como breu e passou a mão na cabeça.

— Que festa? — Tentou desconversar.

— Não se faça de desentendido. Insistiu tanto para que eu viesse porque queria que fosse a esta festa idiota com você, não é mesmo?

Baixou a cabeça por um instante e a ergueu para me mirar com sobriedade.

— Sim, este era um dos motivos. Desculpe. — Admitiu deixando um suspiro longo escapar.

— Como pôde mentir para mim?

— Não fique brava, mas pensei que já estava na hora de você voltar e pôr fim aos seus medos.

Me ergui da cadeira em que estivera sentada na última hora e o mirei com gravidade.

— Às vezes penso que, com um amigo assim, não preciso de inimigos. — Fui dura, mas queria que ele soubesse o quanto havia me irritado com sua atitude.

Vi o choque que minhas palavras lhe causaram, mas não voltaria atrás com elas.

— Não tenho medo deles. — Afirmei.

— Agora sei disso. Por favor, me desculpe.

Abrandei minha expressão. Nunca consegui ficar com raiva dele por muito tempo mesmo.

— Está tudo bem — declarei olhando para o vazio por alguns instantes. — No fim, sou grata por sua mentira, afinal, é por causa dela que o meu maior sonho está se realizando.

Sorri para ele de forma cumplice.

— No fim das contas, tenho mesmo de ir nessa festa. — Informei dando de ombros.

— Você vai? — Estava surpreso.

— Sim, Hellena me convenceu a acompanha-la.

Ele me dirigiu um sorriso satisfeito.

— Acho que estou meio perdida — Aline informou e Rick explicou para ela sobre o que estávamos falando.

Aline pareceu extremamente chateada com a minha história, não morava na cidade na época, portanto, não tinha ideia do que havia se passado.

— Que horrível! — falou. — Confesso, que estou surpresa que tenha resolvido ir nessa festa. No seu lugar, jamais voltaria a pôr os pés aqui.

Ri do seu comentário, ela era uma graça. Tinha um ar de menina mulher e uma doçura no olhar amendoado que dava vontade de pô-la no colo.

— Pode agradecer o meu retorno ao seu noivo — informei e ri quando ela beliscou o braço de Rick o repreendendo pela mentira mesmo que bem-intencionada. — Não posso ficar com raiva dele por isso, Aline. Se não tivesse mentido e me trazido aqui, jamais descobriria que sou correspondida.

Via meu reflexo no espelho sobre a cômoda e, pela primeira vez na vida, soube como era a face de uma pessoa apaixonada. Mal reconheci meu sorriso e o brilho em meus olhos.

— Sério? — ela me questionou surpresa.

— Muito sério! Hoje, descobri que sou a mulher dos sonhos da mulher dos meus sonhos!

***

Estacionei o carro na garagem ao lado do carro de Hellena e levei minhas malas para dentro da casa. A chuva ainda caía lá fora, dessa vez, não passava de uma garoa. Procurei por Hellena sentindo a saudade se apertando em volta do meu coração.

Na sala de jantar a mesa estava posta. Um jantar à luz de velas. Sorri recostada à parede por alguns instantes e continuei em busca dela que estava no banho. Linda em toda a sua nudez. A observei por longos instantes, admirando suas formas, seus gestos. Foi assim que me apaixonei por ela, de tanto observá-la, ela se tornou parte de mim, a parte que considerava mais bela.

Não havia percebido minha presença e não resisti a tirar minhas roupas e juntar–me a ela no box.

— Há lugar para mais uma? — Perguntei tentando fixar meu olhar no seu, coisa que estava bem difícil de fazer já que meus olhos insistiam em percorrer todo o seu corpo.

Ela puxou-me para si, me sufocando com um abraço apertado. Mergulhando em meus lábios com voracidade, percorrendo meu corpo com mãos cheias de desejos até encontrar o que buscava. Gemi com o prazer de seu toque e com o desejo em seus olhos, deixei que descobrisse meus caminhos e sussurrei seu nome em meio ao delírio que seu amor me trouxe.

Ficamos abraçadas por um longo tempo em baixo do chuveiro e, outra vez, chorei em seu ombro. Nada poderia ser mais perfeito, nenhum sonho jamais foi.

Uma hora mais tarde, encontrávamos na sala de jantar degustando o maravilhoso jantar que ela fizera. Perdia-me entre o encanto de observá-la e o desejo de fazer dela minha mulher para sempre, mas, para isso, era necessário que fossemos devagar, embora tenhamos perdido tanto tempo de nossas vidas separadas, isso era o mais lógico e certo a se fazer.

— Parece preocupada. — Segurou minha mão por sobre a mesa.

Tomei um gole do vinho para diminuir a tensão que se formava em meu interior.

— Na verdade, nervosa.

Apertou minha mão, enquanto arqueava a sobrancelha, preocupada.

— Algum problema?

— Não.

— Então, o que é?

Fechei os olhos por um instante para, logo em seguida, abri-los e deparar-me com o cinza intenso dos seus.

— Quer ser minha namorada? — Perguntei.

Ela sorriu e me dei conta de que morreria por aquele sorriso se fosse necessário.

— Era esta a razão do seu nervosismo?

Confirmei com um balançar de cabeça.

— E, então? — Questionei ansiosa.

— E então o quê?

Minha mão tremia na sua.

— Ah é, o pedido. Pode repetir? — Sorriu e quase derreti.

Pigarreei.

— Hellena, quer ser minha namorada?

Olhou-me com doçura.

— Sim.

Beijou-me e este foi o princípio dos muitos beijos e carícias que trocamos durante toda a noite. Perdemo-nos em um mundo de prazer e êxtase guiadas por nosso desejo e pelo amor em nossos corações.

Repousava minha cabeça em seu seio, enquanto ela brincava com meus cabelos.

— Amor, você disse que o meu diário está com você. Como o conseguiu?

Ela riu alto e gostoso. Seu riso era música para mim.

— Ameacei bater na Vitória para que ela o entregasse a mim, mas ela disse que não, então ameacei contar ao pai dela quem havia invadido o colégio e espalhado aqueles papéis.

— Sério?

— Sim. Me desculpe.

— Pelo quê?

— Estava indo entrega-lo a você, mas a curiosidade foi mais forte e não resisti. O li quase todo àquela tarde. Perdão.

A abracei dizendo que tinha que agradecer por isso, pois foi a companhia do meu diário durante todos aqueles anos que fez com que estivéssemos vivendo aquele momento.

Dormi um sono que, apesar de feliz por ser compartilhado com a mulher amada, me trazia pressentimentos ruins a respeito da festa que ocorreria em breve. Definitivamente, não queria ir, mas seguiria Hellena até o fim do mundo se preciso fosse.

HELLENA

Cada minuto ao lado da Cris era uma aventura no mundo projetado pelo amor, depois de conhecer este mundo em seus braços passei a me questionar se havia outro além deste.

Estava na cozinha e tinha acabado de desligar o celular quando a vi entrar sorrindo. Me deu um beijo rápido, acho que devia estar com uma expressão preocupada, pois ela perguntou ao se afastar de mim e sentar à mesa:

— Algum problema? — Olhou para o celular em minha mão. — Um paciente? É uma emergência?

— Não. — Sorri e fui sentar-me em seu colo. — Era a minha mãe. Almoço de domingo com toda a família. Bem que tentei ser liberada, mas não teve jeito. Espero que não se importe, pedi para pôr um lugar a mais na mesa.

Olhou-me séria.

— Quer que eu a acompanhe?

— Sim. Cedo ou tarde eles terão que saber que amo você, então que seja mais cedo. Isso te incomoda? Se quiser posso desmarcar. Invento uma desculpa para a minha mãe e…

— Não, amor. De modo algum. Irei adorar ir nesse almoço contigo e estou muito feliz em saber que quer me apresentar como sua namorada para sua família.

A abracei forte, mas não pude deixar de notar que algo a preocupava quando me afastei.

— Algo te preocupa? — Perguntei.

— Na verdade, sim. E se eles não aceitarem nosso relacionamento?

— Por que pergunta isso?

— Amor, nem todo mundo tem a mente aberta, a família mais carinhosa e unida pode ser também a mais preconceituosa. Só quero saber se você se sente preparada para encarar essa situação caso ela venha a acontecer.

Definitivamente, não havia cogitado esta possibilidade. Ela tinha razão, minha família poderia não aceitar nosso relacionamento, mas, por outro lado, confiava muito no julgamento deles e tinha quase certeza de que não se oporiam ao nosso namoro. No entanto, não respondi sua pergunta com palavras, pois não as tinha naquele instante. Respondi-lhe apenas com um sorriso nos lábios na tentativa de mascarar o medo que começava a se formar em meu peito.

***

Um beijo tímido no rosto e uma pressão maior de sua mão na minha, foi a forma que Cris encontrou de me passar forças e coragem para seguir adiante antes de entrarmos na casa de meus pais.

Ela parou um pouco antes do portão.

— Que foi? — Perguntei.

Ela sorriu.

— Estava apenas lembrando da última vez em que estivemos diante desse portão juntas.

Entendi o que queria dizer. Naquela noite, não houveram palavras entre nós, mas jamais esqueci do calor dos seus braços ao acalentar meu pranto.

Chegamos no exato momento em que todos se sentavam à mesa. Trazia a mão da Cris na minha, enquanto sentia toda a calma e confiança que emanava de seu ser. Realmente, pouco havia dos medos e temores daquela menina do diário e esse contraste com a mulher que se tornara me encantava mais a cada minuto.

Minha mãe veio nos cumprimentar e apresentei Cris como uma amiga. Logo, ela foi apresentada a todos que ali estavam, meu pai, irmãos, cunhados, todos com seus filhos a tiracolo.

Sentamo-nos à mesa para saborear a deliciosa comida da minha mãe, a qual recebeu muitos elogios da minha namorada.

Malu, como era de se esperar, ao ouvir o nome de Cris passou a lhe observar descarada e insistentemente. Não se dava sequer ao trabalho de disfarçar. Tive de lhe chutar a canela por baixo da mesa para que parasse com aquilo, pois todos já estavam notando.

Cris lhe sorria e não parecia estar incomodada.

— Você está bem diferente. — Malu falou olhando para Cris e chamando a atenção de todos, pois falara um pouco alto demais.

Cris, mais uma vez, lhe sorriu.

— De fato. — Respondeu, enquanto tomava uma taça de vinho e me enviava uma piscadela.

Malu, fazendo jus ao seu hábito de nunca se contentar com uma resposta curta, continuou:

— O que você fez? Plástica?

Tive vontade de esganar a minha irmã inconveniente após ouvir essa pergunta indiscreta e idiota, mas ao ouvir a risada sonora e cristalina de Cris a raiva se dissipou. Nunca antes a havia ouvido gargalhar daquela maneira, a espontaneidade de seu riso me encantou tanto que qualquer palavra que estivesse pensando em dizer a Malu, em reprovação a sua pergunta, morreu em meus lábios.

Ainda tentando conter o riso, ela respondeu:

— Não, claro que não!

Malu estava muito intrigada e, mais uma vez, ligou sua metralhadora de perguntas:

— Então o que você fez? E os óculos de grau? Como ficou com esse corpaço? E…

Resolvi intervir:

— Malu, por favor, larga de ser inconveniente!

Ela olhou-me e fez uma careta irritada:

— Não vejo onde está a inconveniência em querer saber por onde ela andou todos estes anos e o que fez para mudar tanto fisicamente!

— Malu… — Comecei a falar em tom de reprovação, mas parei ao sentir o toque da mão de Cris na minha sobre a mesa.

Óbvio que esse simples gesto foi o suficiente para fazer minha irmã híper curiosa arquear uma sobrancelha em sinal de desconfiança.

— Hellena, está tudo bem. Irei responder as perguntas dela. Relaxe, sim? — Falou-me tranquilamente e deixei um suspiro resignado escapar, enquanto enviava um olhar colérico para minha irmã.

A esta altura, o resto da família se fazia muito atenta a nossa conversa, principalmente, porque começavam a reconhecer na mulher ao meu lado a adolescente que um dia segredou a um diário que me amava e teve a infelicidade de ter esse diário roubado e seus segredos revelados.

Malu mantinha-se calada. Nos avaliava. Seus olhos fixos na mão que Cris depositara sobre a minha e não fizera questão alguma de retirar.

— Malu, — ela começou a falar — não fiz plástica ou me utilizei de qualquer desses tratamentos artificiais para mudar minha aparência. Na universidade, tomei gosto pela prática de esportes, mais como uma forma de descarregar o estresse acumulado pelos estudos do que por uma questão de aparência. As espinhas sumiram após meus vinte anos de idade. E quanto aos óculos, fiz uma cirurgia de correção nos olhos. Enfim, nada de mais. O que vê diante de si é o resultado de doze anos de corridas, trilhas, um pouco de rapel e o fato de ter aprendido a cuidar mais da minha aparência em respeito a mim mesma.

Malu pareceu um pouco decepcionada. Tenho certeza de que, no fundo, ela esperava que Cris tivesse mesmo feito uma plástica. Apoiou o queixo na mão em um gesto entediado.

— Hum… E por onde andou todos estes anos?

— Passei oito anos no Rio de Janeiro e regressei ao Nordeste há quatro anos.

— Se faz tanto tempo que está por aqui, porque só resolveu aparecer aqui agora?

Ela não parava de perguntar e eu já estava para lá de nervosa, mas a mão de Cris na minha me passava um pouco da sua calma aparente.

— Por que não para de rodeios e pergunta de uma vez o que realmente quer saber? — Foi a resposta de Cris para meu total e completo eto.

Malu sorriu e fez um gesto afirmativo com a cabeça.

— Está bem! O que você faz aqui, nesta casa, com a minha irmã e por que está segurando a mão dela desta maneira?

Olhei para Cris e vi um sorriso divertido tomar conta de sua face. Ela me devolveu o olhar e entendi que aquela era a minha vez de responder a pergunta. Apertei sua mão.

Pigarreei um pouco e Malu desviou seu olhar de Cris, o pousando sobre mim. Dei uma olhada rápida para os lados e percebi que todos haviam parado de comer e estavam totalmente atentos a nossa conversa.

— Acho… Acho que eu é que devo responder essa pergunta.

Olhei, mais uma vez, para Cris e senti toda a sua força sendo repassada para mim através de um intenso brilho castanho de seus olhos. Amava aquela mulher, a amei em silêncio por anos, alimentando meu amor com suas palavras, com seus segredos mais íntimos, não queria chegar àquele momento e me esconder. Não queria fazê-la sofrer por meu silêncio e nem queria que tivéssemos que bancar as “amigas” diante da sociedade para ocultar nosso relacionamento.

Desejava ser dela completamente e, sendo assim, poder demonstrar meu carinho e amor sem medo de que alguém nos visse ou me ocultar da minha família.

— Na verdade, não há muito o que dizer. Então, não vou fazer rodeios. A Cris está aqui porque a convidei, pois desejava apresenta-la a vocês. A razão para isto é que não quero esperar mais para viver o que sinto por ela e, sendo assim, não gostaria de ocultar nada sobre isso de vocês que são a minha família. E… Ela está segurando minha mão dessa maneira porque a noite passada ela me pediu em namoro e eu aceitei.



Notas:



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