Os Estranhos Casos de Elizabeth Evernood e Margareth Blindwar
Sexto Caso: Gavetas, olhos, puxadores e lábios – Parte 5
Texto: Carolina Bivard
Revisão: Naty Souza e Nefer
Ilustração: Táttah Nacimento
No episódio anterior…
— O que achou, Blindwar?
— Não sei o que pensar, Dash. – Ela chamou o colega detetive pelo apelido. – O que você achou? Falei para vocês tudo que levantamos.
— Nada faz sentido. A verdade é que, nada nos leva a lugar algum e também nos leva a muitos lugares. Continuo achando que foi algo pessoal, mesmo tendo provas do contrário.
— Como assim? Alguém que viu o modo de um assassinato operar e fez parecer igual, por alguma desavença pessoal?
— Não, não é isso, Meg. Ah, me desculpe…
— Pode me chamar de Meg, Dashwood, contanto que me permita lhe chamar de Dash.
Margareth sorriu e ele retribuiu.
— Bem, pelo que vejo, já está me chamando assim. – Sorriu novamente e voltou a falar do caso. – Parece mais que há um lunático que cisma com alguém e o mata.
— Devo questionar Clarence, novamente. Ela mentiu para mim e para Evernood.
— Deixe que eu e Reynold conversemos com os outros que vocês interrogaram. Talvez consigamos furos nas respostas.
— Perfeito.
— Falarei com Evernood. Será melhor assim.
— Talvez ela consiga, com os meios dela, descobrir outras coisas.
Dashwood falou, fazendo Margareth entender que eles sabiam que a detetive particular atuava mais solta do sistema.
— Certo.
Blindwar meneou a cabeça, afirmativamente.
Parte 5 —
— Como foi?
— Está cada vez mais complicado, Beth.
Assim que Margareth se encontrou com a namorada, contou-lhe todo o interrogatório.
— Bom, esperaremos os resultados do novo interrogatório, que Dashwood e Reynold farão. Tenho outra notícia. Edwin continuou investigando algumas coisas para nós… umas pontas soltas.
— Que pontas soltas?
— Os outros assassinatos que estavam na Crimes Gerais.
— Nós vimos os relatórios anteriores, Beth. Eles não nos apontam para nada, além de talvez, um assassino de aluguel, ou mesmo um lunático que resolve matar a esmo. As datas são muito dispersas.
— E por que descartar lunáticos de nossa lista? Se a gente imaginar por que o senhor Tarth do caso “Extirpador de Olhos” matava…
— … Não pode comparar. Encontramos um padrão entre as vítimas dele.
— Sim, encontramos. O problema é esse, Meg. Ainda não encontramos uma relação entre as vítimas, mas não quer dizer que não esteja lá.
— O que Edwin conseguiu entre as outras vítimas, além do assassino retirar partes da face?
— Deixe-me chamá-lo. Ele irá relatar tudo que levantou com as famílias. Pedi para que ele se identificasse como meu assistente. As famílias não se incomodaram em nos dar informações. Querem justiça para os seus mortos.
Elizabeth tocou a sineta para chamar o mordomo.
— Eu o acompanhei em algumas entrevistas, depois dele localizar as famílias. Verá que é interessante, Meg.
Edwin chegou. Estava trajado como mordomo e se portava como tal.
— Edwin, por favor, relaxe. Não é porque está com essa roupa, que lhe vejo diferente do que vi ontem. Nos conte logo tudo.
Margareth falou ansiosa e impaciente.
— Bem, senhorita Blindwar…
— Meg! Me chame de Meg, Edwin!
Falou irritada, com toda aquela mesura. Queria conversar com “o investigador” e não com “o mordomo”. Edwin baixou a cabeça enrubescendo e Elizabeth riu do arroubo de Margareth.
— Vamos, Edwin! Fale logo, antes que Meg tire à força as informações de você.
Ela colocou um pouco de chá em uma xícara e serviu ao mordomo-amigo, para tranquilizá-lo. Era incrível como ele se transformava nas atitudes, quando estava na função de mordomo da casa.
— Nada parecia igual, nas vítimas. Elas não pareciam ter relações entre si, principalmente porque uma delas era uma criança de nove anos. Tentei averiguar a vida dos pais, para saber se eles tinham dívidas, ou mesmo, pendengas pessoais. Não tive sucesso até que algo me chamou atenção: Todas as vítimas foram abordadas por estranhos no dia da morte.
— Abordadas por estranhos? Como assim?
— Bem, na verdade, só me atinei a esse detalhe, por conta da menina de nove anos. Um dia antes, e também no dia de sua morte, estava brincando no parque público de seu bairro. No dia anterior, uma mulher se aproximou, e comentou algo, como: “segure-se bem na alça da gangorra, você pode cair”. A mãe se aproximou, estranhando a proximidade da mulher e retirou a filha do brinquedo. No dia específico da morte, foi um homem que se aproximou, falando a mesma coisa para a garota.
— Estão me dizendo que podem ser dois assassinos?
— Não temos dados para isso, Meg. – Evernood respondeu. – Mas diante de tal acontecimento, interroguei as famílias, depois que Edwin falou do ocorrido. Em quase todos os casos, as vítimas falaram de fatos estranhos ocorridos na semana, como uma mulher puxando assunto a esmo, e depois, um homem.
— Mas isso não ocorreu com Edward e nem com o verdureiro, Beth.
— Aí é onde está nosso engano, Meg. O verdureiro pode não ter comentado para a família, mas tiveram duas pessoas, uma mulher e depois um homem, a lhe abordar na tenda.
— Não houve tempo suficiente para que o verdureiro falasse com alguém. Morreu no dia… E Edward, Beth? Não achamos nada parecido com relação a ele.
— Pode não ter havido tempo de comentar com alguém, também, ou mesmo, pode ter sido um fato corriqueiro para ele.
— Diga-me o que as famílias das outras vítimas falaram.
— Bem, quase todos disseram que seus entes queridos foram abordados por uma mulher bem vestida e que, de alguma forma, se aproximou para puxar assunto a esmo.
— Que tipo de assunto, Beth?
— Nada específico. Por exemplo: o dono da estação onde as charretes que circulam na cidade são guardadas, recebeu uma mulher que perguntou se era possível alugar uma baia para colocar a sua charrete particular. Ele respondeu que não. Que aquela garagem era para as charretes cadastradas na prefeitura e que circulavam na cidade para transporte público. Disse para ela procurar um local para charretes particulares. Ela se enfezou, dizendo que havia brigado com o dono da estação de charretes particulares.
— Se enfezou, como?
— O dono da estação contou à esposa que a mulher estava alterada e raivosa e falava que não poderia “perder” a sua charrete.
— Perder a sua charrete? Como assim?
— Ele não compreendeu o que ela quis dizer, mas diante do destempero, pediu para que ela se retirasse. Naquela mesma semana, um homem com uma cicatriz no rosto o abordou, perguntando a mesma coisa. O dono da estação estranhou, pois era a segunda pessoa a lhe pedir para alugar um espaço para guardar a charrete. A resposta foi a mesma.
— Isso é um padrão.
— Foi o que pensei, Meg. Por isso fui atrás das outras famílias. O jornaleiro de High Street teve uma desavença com uma cliente e, um dia depois, um homem com uma cicatriz lhe abordou com as mesma palavras que a cliente havia utilizado na pendenga. A mulher tinha os cabelos presos em um coque e eram castanhos claros.
— Mesmas características dos dois que abordaram o senhor Cook, o verdureiro.
— Exato, Meg! E não para por aí. Outro padrão que observei é que não importava o dia em que esses sujeitos abordassem as vítimas, mas invariavelmente elas eram mortas aos domingos.
Margareth ouviu com atenção o relato, silenciando por um tempo para pensar. Estreitou os olhos e depois, encarou Evernood seriamente.
— Deixe-me ligar para o departamento e ver se os rapazes já foram interrogar meus amigos, novamente.
Margareth saiu para o lobby para telefonar e, em poucos minutos, retornou à biblioteca.
— Os rapazes já saíram, mas não quero perder tempo. Vamos à casa de meus tios. Quero falar com Cedric, novamente.
Elizabeth fitou a namorada, tentando saber se ela alcançara o que imaginou.
— Edwin, troque de roupa e venha conosco. Ficará na parte externa, enquanto conversamos com o mordomo dos Sander.
Elizabeth ordenou e o mordomo saiu, logo a seguir.
— Está pensando o mesmo que eu, Meg?
— Veremos, Beth. Há características que estão bem disfarçadas…
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Chegaram.
— Ficarei aqui fora com Edwin, enquanto você interroga, novamente, Cedric.
— Presumo que não ficará parada aqui na frente. Disse que queria entrevistar Cedric comigo.
— Presumo que não quererá saber onde vou.
Evernood lhe respondeu, com um sorriso cínico.
— Não, não quero.
Margareth respondeu, com o mesmo tom jocoso.
— Ótimo! Assim não haverá problemas com a integridade da investigação.
Margareth subiu as escadas da entrada da mansão Sander e tocou a sineta. Esperou, não mais que um minuto, e o mordomo Cedric atendeu.
— Senhorita Blindwar…
O mordomo fez o cumprimento formal, acenando com a cabeça para a visita. Margareth não se ateve, entrando sem cerimônia.
— Deseja falar com seus tios? Eles estão na prefeitura. Querem ver se conseguem a liberação do corpo do senhor Edward.
— Provavelmente conseguirão, já que a liberação estava marcada para hoje. A doutora Lister avisou para o departamento. Mas não estou aqui para falar com eles. Quero conversar com você, novamente.
— Comigo? Seus colegas de trabalho já estiveram aqui hoje e conversei com eles.
— Sim, falaram que viriam, mas não estive ainda com eles. Não se importa de conversar comigo, não é? É que surgiu uma dúvida e ainda tenho algumas pessoas para ver, então não quero perder tempo.
— Certamente, senhorita Blindwar. Posso lhe atender. O senhor Sander pediu que nós cooperássemos com a polícia, incondicionalmente.
— Ótimo, Cedric. Vamos à sala de visitas e peça para trazerem um brandy.
— Sim, senhorita.
O mordomo saiu, deixando a detetive de polícia na sala de visitas. Ela se aproximou da janela, olhando para fora. Não avistou mais Evernood e seu fiel empregado. Um barulho chamou a sua atenção e voltou-se para a porta. Cedric havia retornado.
— Podemos conversar, senhorita. A copeira trará seu brandy.
— Obrigada, Cedric. Sente-se, por favor.
Ela foi até a poltrona, que sabia ser destinada ao seu tio. Sentou-se. Era uma atitude de efeito, pois sabia que ninguém além de seu tio sentava-se ali.
— Cedric, desde quando conhece a senhorita Taylor?
— Hã… desde a infância, senhorita Blindwar. Eu nasci aqui na propriedade.
— O que acha dela?
— Não entendi a pergunta.
O mordomo estava um pouco desnorteado. As perguntas que a sobrinha de seus patrões fazia eram de cunho pessoal.
— Só gostaria de saber sua opinião sobre ela. Em nossa investigação, várias vezes apareceu o nome dela.
— Não sei por que o nome dela tem surgido, pois a senhorita Taylor é uma mulher muito delicada e íntegra. A polícia não pode acreditar que ela tenha cometido tal ato!
Cedric respondeu um tanto transtornado.
— A polícia não está tirando conclusões ainda… Mas nada pode ser descartado, e como o nome dela surgiu, temos que investigar. Por isso estou aqui.
O mordomo se apaziguou e suspirou, demonstrando cansaço.
— Conheço a senhorita Taylor desde a infância, assim como a conheço, senhorita Blindwar.
— Mas a senhorita Taylor não frequentava a casa de meus tios na infância. Não tive convivência estreita com ela.
— Ela não costumava estar frequentemente aqui na casa, mas a família dela era próxima a dos Sander. Eles têm uma residência fixa em Hamptonbury, onde ela cresceu, mas sempre que vinham a cidade, era aqui que ficavam hospedados.
— Então, cresceu com ela… Quando os Taylor se fixaram aqui?
— Há mais ou menos uns quinze anos.
— Foi quando a conheci. Tínhamos uns treze… quatorze anos.
Margareth se lembrou da época.
— Exatamente. Foi quando ela começou a frequentar o grupo de vocês e o jovem Sander se aproximou mais dela. De qualquer forma, eu a conheço desde a infância. É uma moça muito doce e tenho certeza que seria incapaz de cometer um crime.
Margareth olhou para a janela, pensando sobre a outra pergunta que faria. Voltou-se para o mordomo, que estava sentado no sofá, à frente.
— Você tem uma cicatriz no queixo da qual não me lembrava. Você a mantém escondida, sobre uma grossa camada de maquiagem. Como a adquiriu e por que a esconde?
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Evernood se embrenhava pelos corredores da construção onde os empregados da mansão Sander dormiam, enquanto Edwin vigiava para que ela não fosse pega de surpresa. Era uma edificação bem feita, mais afastada da casa principal. Os quartos eram identificados com os nomes dos empregados por uma plaqueta. Elizabeth regozijou-se pela família Sander ser tão adepta do tradicionalismo.
Chegou até uma porta, em que o nome que lhe interessava estava escrito. Olhou para trás, antes de abrir, para verificar se tinha mais alguém no corredor. Girou a maçaneta, tranquilizando-se ao vê-la destravada. Entrou.
Reparou em todo o quarto, vislumbrando a simplicidade.
— Sem fotos, sem espelho… Só uma cômoda, um armário e uma cama. O que há para mim aqui?
Perguntou-se em voz alta e se dirigiu à cômoda. Abriu-a percebendo todo o esmero em que o dono deixava seus pertences. Tentou vasculhar tudo, sem mexer na arrumação. Nada encontrou na cômoda e partiu para o armário.
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— Como?
Blindwar havia pegado o mordomo desprevenido e ele a olhou intrigado, diante da pergunta.
— Eu perguntei por que você disfarça a sua cicatriz. Onde a conseguiu?
— O que isso tem a ver com a investigação…?
— … Responda, Cedric! Não importa o que tem a ver para você.
— Adquiri numa queda de uma árvore na infância.
— Por que a disfarça?
— É… Tenho que estar bem apresentado para receber as pessoas.
O mordomo estava desestabilizado emocionalmente, e era visível para a detetive de polícia.
— Como caiu da árvore, Cedric?
— O que importa?
— Responda, simplesmente.
Margareth foi impositiva, não deixando margem para o mordomo retrucar.
— Um dia, brincando com Edward e com a senhorita Taylor em minha infância, Clarence subiu em uma árvore. – O mordomo esboçou um pequeno sorriso. – Não conseguiu descer. Ela era intrépida. Edward nunca havia subido em uma árvore antes e se apavorou. Decidi que eu tinha que tirá-la de lá, mas quando a auxiliei a descer, me desequilibrei e caí. Havia um vidro quebrado no sopé da árvore e finquei meu queixo nele.
— E depois?…
Margareth era inclemente nas perguntas, mesmo vendo que o pensamento do mordomo viajava para tempos distantes. Olhou para fora da sala, além da visão da janela. Evernood estava fazendo sinais para ela, do lado de fora, como se a mandasse sair da sala, mostrando algo na mão que não identificava. Ignorou, pois estava muito perto de conseguir uma confissão.
— O que aconteceu depois, Cedric? Diga-me. – Perguntou suavemente.
— Eu perdi minha consciência e, quando acordei, dois dias haviam se passado. Minha primeira visão foi o rosto de Clarence.
Ele pausou novamente, sorrindo, como se perdesse em lembranças.
— Meu pai disse que ela foi me visitar nos dois dias.
— Você acha que deve gratidão à senhorita Clarence?
— Não. Ela não quer gratidão de ninguém. É uma boa moça. Todos deveriam ver isso. Ninguém deveria maltratá-la!
— Alguém a maltratou?
Finalmente, Blindwar compreendia o que aconteceu com as vítimas. A senhorita Taylor tinha um justiceiro particular.
— Todos eles! Eles mereceram o que tiveram. Eram coisas. Monstros horrendos que fariam mal à ela.
— Monstros?! O que quer dizer?
Blindwar se levantou da poltrona, pois o mordomo havia levantado de súbito, olhando-a com raiva.
— Você é como eles!
— Eu sou como eles?! O que quer dizer, Cedric?
— Você é como todos eles!
O mordomo gritou, enfurecido.
Cedric retirou algo do bolso interno da casaca, partindo para cima da detetive, que teve somente tempo de se esquivar do ataque iminente. Algo a perfurou-a no ombro, causando uma dor aguda. Empurrou-o com força, com o outro braço e se lembrou, num estalo, das lições de seu mestre. Atacou diretamente uma das articulações do joelho do seu agressor, com uma pisada forte. Ele rugiu de dor, desequilibrando-se.
Afastou-se para dar tempo de se recuperar do golpe dele, entretanto, ainda se mantinha em alerta, mesmo vendo o sangue encharcar seu casaco. Estava assustada, porém não poderia se apavorar. O mordomo parecia possuído por uma força descomunal e continuou avançando para cima dela, mesmo mancando.
— Você é como todos eles!
Cedric continuava gritando, descontrolado. Ela jogou um vaso que pegara sobre uma mesa de canto e o mordomo rechaçou num golpe, com o braço, ainda avançando.
As costas de Margareth tocaram a janela e por fim, o mordomo a alcançou. Lutaram.
Mesmo que a força da detetive não sobrepujasse a do mordomo, ela reagiu, dando uma joelhada entre as pernas de Cedric, enfraquecendo-o, enquanto segurava o braço que tentava lhe estocar, com o fino alfinete de cabelo.
Nos poucos instantes de fraqueza do oponente, ela alcançou a arma que havia prendido na perna, antes de ir até a casa. Sacou-a e disparou. Ouviu um segundo disparo. O homem escorregou para o chão, gemendo. Ela viu a imagem de Evernood na entrada da sala, segurando uma arma na mão. Tudo escureceu.
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— Me diz que não estou morta.
— Se o paraíso parecer com as paredes de um quarto de hospital, não quero ir para lá, tão cedo.
Evernood respondeu à pergunta da namorada, sorrindo. Estava ao lado da cama do hospital, segurando a mão da detetive de polícia.
— Seus pais não me deixaram passar a noite aqui, mas os convenci a irem para casa descansar. O médico falou que ficaria bem.
Margareth a fitou, ainda grogue; contudo, percebeu certo pesar na voz.
— Ficarei bem, ou terei que lidar com algo novo em minha condição? Não sinto minha mão…
— Bem, Cedric não foi muito delicado. Ele a atingiu com um alfinete de cabelo feminino. Pode não parecer nada, mas é bem grande e contuso. O médico disse que pode ter atingido um nervo. Atingiu uma veia também.
— Era o que tentava me mostrar através da janela?
— Exatamente, Meg. E a senhorita me ignorou. — Elizabeth respondeu contrariada. — É por isso que está nessa cama.
— Eu não poderia deixar o interrogatório pela metade. Ele estava prestes a confessar, Beth.
— É. E o fez confessar da pior forma…
— Por favor, Beth, não discuta comigo agora.
Margareth fez uma expressão de dengo e Elizabeth não resistiu ao charme da moça. Beijou-lhe rapidamente nos lábios, fazendo com que a detetive de polícia arregalasse os olhos.
— Aqui não, Beth! — Ralhou com a namorada.
— Me desculpe, mas não resisti. Quem manda fazer essa carinha tão bonita.
Evernood sorriu e Blindwar balançou a cabeça em negativa, reprovando-a.
— Continua a falar o que aconteceu. Onde você achou os alfinetes de cabelo?
—— Encontrei dentro de um saco de seda no armário dele, além de artigos de maquiagem e um pequeno espelho.
— Presumo que ele usava a maquiagem somente para trabalhar, mas quando saía, deixava a cicatriz à mostra. Foi com isso que matou meu primo?
— Seu primo e todas as outras vítimas. Você teve sorte, Meg. Ele costumava mirar diretamente no coração. Sabia que isso causava uma dor contundente nas vítimas e elas perdiam a força, dando-lhe tempo de retirar partes da face. Ele tinha uns três desses alfinetes de cabelo guardados no quarto. Eram da senhorita Taylor, que ele havia furtado.
— Ele era apaixonado por ela?
Margareth tossiu. Sentia-se fraca e com sede, talvez uma reação da sedação que haviam lhe aplicado.
— Quero água, Beth.
Evernood se apressou em colocar água de uma garrafa que havia na mesinha de cabeceira, em um copo. Levou à boca da namorada, que a sorveu com gosto.
— Você tem que descansar.
Evernood apressou-se em dizer, temerosa de que o esforço debilitasse a namorada.
— Descansei durante o dia todo. Se tiver que ficar aqui uma semana inteira sem informações, conhecerá uma senhorita Blindwar de que, talvez, não goste.
Elizabeth sorriu, diante da fala da namorada.
— Impossível. Essa atitude só me fará amá-la mais. Namorada minha não é molenga. – riu novamente. – Não ficará aqui uma semana, não exagere.
Evernood implicou e Blindwar sorriu também, porém não era a verdade, o que a detetive particular sentia. Seu coração estava apertado e se condenava por não ter entrado na mansão mais cedo, para auxiliar a detetive de polícia.
— Me conte tudo. Assim descansarei sabendo que meu primo não fez nada de errado.
— E ele não fez. Seu único erro foi contrariar Clarence Taylor, quando disse à ela que contaria sobre seu problema ao namorado. Cedric agia por si só. Parece que ele adquiriu, na mente dele, um vínculo com Clarence, quando ela o acompanhou na convalescência da queda, em criança. Ele sentia que tinha que protegê-la de pessoas “más”. Mas isso não é tudo.
— Não? O que há a mais?
Margareth perguntou intrigada. Ela havia percebido essa simbiose entre Cedric e a moça, no entanto, achava que ela estava envolvida.
— Bem, os médicos ainda não sabem exatamente o que é, mas ele tem um distúrbio. Parece que ele enxerga no rosto das pessoas, coisas e nas coisas, rosto de pessoas.
— Espere, aí. Não estou entendendo. Explique.
Evernood suspirou. Era algo novo para ela também, todavia depois de conversar com a doutora Lister, colocou essa “loucura” no rol de observações do compêndio particular que fazia sobre crimes.
— Cedric tem um distúrbio da mente que é singular. Muitas vezes, quando vê uma pessoa, não enxerga seu rosto. Enxerga coisas e vice versa. Ele pode olhar você e ver seus olhos como puxadores de gaveteiros e a boca como a gaveta em si. E pode ver um relógio de parede, como tendo olhos e boca. – Evernood pausou na fala e depois continuou. Por algum motivo, ele sentia que tinha que proteger a senhorita Taylor. Ela conversava com ele sempre que ia a mansão Sander. Mantiveram um relacionamento estreito, desde crianças.
— Isso não quer dizer que ela o cortejasse. Ela era interessada por ele?
— Não, não era, Meg. Mesmo assim, ele nutria profundo sentimento por ela e, toda vez que ia à mansão e ela conversava com ele, muitas vezes, desabafava sobre coisas que haviam acontecido e a contrariavam.
— E ele ia atrás das pessoas que a aborreciam.
— Sim. Vendo monstros, ou coisas na face dessas pessoas, que de alguma forma, despertavam na mente dele, toda vez que a senhorita Taylor se queixava de alguém. Também encontrei no armário dele alguns potes em que ele colocava as sobrancelhas, lábios, nariz, orelhas de quem ele retirava. Estavam conservados em uma solução que se utiliza em anatômicos para conservação de cadáveres.
Blindwar elevou as sobrancelhas etada.
— Temos que nos preocupar com outras pessoas que tenham esse… problema?
— Não acredito. O professor da universidade, que identificou o problema, diz que é algo comum em todas as pessoas. Ver desenhos nas nuvens, por exemplo. Porém, Cedric tem algum tipo de neurose que exacerba isto.
— Cedric tem um outro distúrbio, então.
— Sim. Além de ser assassino em potencial. Pessoas enxergam rostos em objetos o tempo todo e, também, conseguem fazer analogia de objetos no rosto das pessoas.
— Ele enxergava bem mais, Beth. Disse que eu era um monstro como os outros.
— Como disse, ele tem um problema psicológico que fazia-o ver de outra forma. Cedric sabe que matar é errado.
— Beth, ele… ele está morto?
— Não.
Evernood tranquilizou a namorada. Lembrava-se de quando ela matou um suspeito e no quanto aquilo a abalou.
— Você atirou na coxa e para o azar dele, eu atirei na outra. Tenho certeza de que ele chegará mancando no julgamento. Agora descanse.
— Me responda só mais uma coisa, Beth. Que problema Clarence tem, para procurar a ajuda de Edward? Ninguém queria falar sobre isso e não soubemos ao longo da investigação.
— Ela também é viciada em jogos e estava dilapidando a fortuna da família. Seu pai descobriu cedo, e parece que pagava as dívidas dela para que ninguém soubesse. Contudo, estava ameaçando interná-la, caso ela não parasse de apostar. O problema é que ela não conseguia parar e quando soube do tratamento que Edward foi fazer em Paris, pediu para que a ajudasse, pois não queria ser jogada em um hospital psiquiátrico.
— Então Rob terminou com ela porque sabia que traria problemas financeiros para a sua família? Deus! Que loucura, Beth! Meu primo morreu por tentar ajudar alguém.
Os olhos entristecidos de Margareth apertaram o coração de Elizabeth. A detetive particular sabia que nada abrandaria a dor do luto, que somente agora Margareth permitiu tocar seu coração. Olhou para a porta, para se certificar de que estavam a sós. Beijou-a com todo o amor.
♠
Após algum tempo de barco e depois trem, Margareth se encantava no meio de um saguão luxuoso em um hotel, nas proximidades da catedral de Notre Dame. Estava deslumbrada. Já havia visitado Paris com seus pais, mas, na época, nada lhe pareceu muito atraente. Era adolescente e sua mãe não se cansava de apresentá-la à pessoas que, para os pais, pareciam interessantes, mas para ela, nada diziam.
Era a primeira vez que viajava sem seus pais e, também, a primeira vez que realmente apreciava o lugar. Queria ver tudo daquela cidade tão falada e ovacionada por todos.
Evernood havia feito a reserva num local, onde ela mesma dizia: “É lindo acordar e ver o rio Sena, ao som dos sinos da Catedral de Notre Dame”.
Entraram na suíte e o mensageiro deixou as malas. Evernood deu-lhe uma gorjeta, e ele saiu. Quando se voltou para a namorada, Margareth parecia maravilhada, girando no meio do quarto, para olhar todo o local.
— Gostou?
Margareth parou e a fitou, com um largo sorriso.
— É lindo demais, Beth!
Caminhou até Evernood e a abraçou forte. Aninhou-se em seu pescoço. Elizabeth sentia a fragrância do perfume de sua namorada. Inspirou fundo. Não lembrava de quando em sua vida fora tão feliz.
Quando era criança e meus pais eram vivos…
Pensou, apertando forte o corpo de Margareth contra o seu. Faria de tudo para que a sua amada sentisse tanta felicidade quanto ela.
Fim!
Pareidolia e apofenia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pareidolia
https://designculture.com.br/pareidolia-e-apofenia
Nota: Para quem não descobriu até esta última parte quem era o assassino, devo dizer somente: Por acaso não é sempre o mordomo? he he he Quis fazer uma brincadeira com esse estigma de filmes e livros antigos policiais. 😉 rsrs
Um beijão a tod@s e se cuidem bem!
kkkkkkk sempre o mordomo! Quem poderia imaginar um tão psicótico menina!
O importante é que conseguiram e vc conseguiu prender-nos admiravelmente na leitura.
Eu, pelo menos, nem imaginava ser ele. Boa féria as duas! rsrsrs
Já de você, esperando a próxima, nada de férias na escrita! Bjs e grata.
Cara, n desconfiei!! Mas foi quase kkkk. Ao menos tinha a ver com a menina! Kkkkk
Amei o caso, muito bom!!! Bela criatividade!!!
Ótima síndrome tb!!!
Tadinha de Meg, fiquei assustada!!!! Com o braço dela TB!!!
Obrigadaaa, Carol, esse casal é tudo de bom! Essas detetives me cativaram!!
Espero logo vê-la com mais uma, sei q é difícil montar, então tranquila!Tenho estado bastante ansiosa, pra variar, mas belo presente de semana santa!!! Tenho dado um tempo nas estórias, mas n podia deixar no meio, terei q esperar a outra terminar e logo tomarei um tempo, mas será bom, assim terei mais dois casos das detetives pra ler de vez !???
Um beijo de luz, cuide- se muito com sua esposa!!!!
Mas menina! Tô aqui imaginando que é essa talzinha de taylor era a assassina e voce coloca o mordomo. hahahaha fez sentido. hahahaha
Adoooro as duas. Cade o assanhamento, a safadeza? Coloca elas duas em paris. Agora quero saber o que tá acontecendo naquele hotel. hahahahah
bjs Carol
Parabéns! Mistério até o fim. ??
Nem passou por minha cabeça ser o mordomo… rs. Ainda bem que não apostei minhas fichas.
A essa altura, Clarence já sabe que tem um admirador secreto, violento e “apofênico”.
Meg foi curtir Paris com seu amor! totalmente recuperada? Voltou a sentir a mão? Espero sinceramente que sim.
Carol, tudo indica que caberia mais umas linhas finais aí. Poxa! Elas estão em Paris, cara! kkk
Beijão e se cuide também.
E Melhoras a seu pai.
A D O R E I
Espero, desejo, imagino q vá continuar nos brindando com nosso casal investigadora/detetive.
Não se demore, ler teus romances é um dos meus momentos preferidos nes-
ses dias de Isolamento Social o qual estou seguindo a risca as recomenda-
ções da OMS.
Bjs…
Mais uma x… OBRIGADA, Carol…