Os Estranhos Casos de Evernood & Blindwar

13 – Sexto Caso: Gavetas, olhos, puxadores e lábios – Parte 4

 

Os Estranhos Casos de Elizabeth Evernood e Margareth Blindwar

Sexto Caso: Gavetas, olhos, puxadores e lábios – Parte 4

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustração: Táttah Nacimento


 

No episódio anterior…

— Falou com Rob hoje, Clarence?

— Não. Liguei para ele, mas o mordomo falou que tinha viajado. Não me falou para onde tinha ido. – Clarence baixou a cabeça, entristecida. – Creio que, afinal, Edward ter contado sobre o meu problema, tenha o afetado. Quem quer uma esposa que já vem com uma certa bagagem, não é?

As detetives findaram o interrogatório. Despediram-se de Clarence Taylor e saíram. Foram para a mansão Evernood. Margareth queria muito falar com Edwin, para ver o que ele descobrira do paradeiro dos Hall. Sentia-se mais confiante nas informações dele do que as do próprio departamento.

 

Parte 4 — 

— Edwin chegou, Tristan?

O jovem aprendiz da casa recepcionou as duas, pegando seus “trent coach”. Ele respondeu, alegre.

— Ainda não, senhorita. Disse que, talvez, chegasse tarde hoje e me pediu para recebê-las, como se fosse ele próprio.

— Então, leve à biblioteca um “scotch” com gelo para nós duas e… bata na porta, antes de entrar. Isso é o que ele faria.

Evernood ordenou, com um sorriso maroto, indicando ao jovem que ele carecia dessa atitude. Ele baixou a cabeça, um tanto constrangido, pois sabia que, algumas vezes, era afoito.

— Sim, senhorita. Nada é tão urgente que não possa esperar as batidas de uma porta.

Evernood parou o passo e se voltou para o garoto sorridente.

— Edwin lhe disse isso?

— Sim, senhorita. Ele disse que uma pessoa elegante, nunca invade o espaço do outro, sem ser chamado.

Evernood riu mais largamente e estendeu a mão para atiçar o cabelo do jovem, antes de continuar seu trajeto até a biblioteca. Entrou e deu espaço para que Margareth entrasse. Sem que a detetive de polícia percebesse, ela travou a fechadura. Ainda parada próxima à porta, reparou nos gestos da namorada, retirando as luvas, graciosamente, jogando-as distraída sobre o sofá. 

Margareth era uma mulher de atitude, assim como ela. Por isso a admirava e a encantava tanto. Qualquer outra mulher, sobrecarregada com as demandas sociais que lhe imputavam, estaria jogada, chorando e na defensiva. Não que a detetive de polícia, não pudesse chorar. Se o fizesse, Elizabeth estaria lá, para ela.

Viu-a retirar os sapatos com os pés e apoiar sobre a mesinha de centro, recostando-se nas macias almofadas do encosto do sofá. Elevou os braços e espreguiçou-se. 

Evernood se encantava com a forma leve que Blindwar havia assumido quando estavam à sós. Mesmo no esforço que fez para tirar os modernos sapatos fechados, a detetive de polícia era graciosa.  

— Vai ficar só me olhando ou me dará um beijo?

Ela estava de olhos fechados, contudo a fala não etou a detetive particular. No pouco tempo em que se tornaram mais íntimas, pôde ver que a atividade da mente de Margareth se assimilava com a dela. Mesmo em momentos que tentava espairecer, os sons, os gestos, os cheiros do ambiente, sempre estavam presentes. 

— Não darei um beijo. – Aproximou-se. – Farei amor com você, nesse exato momento!

Evernood se encaixou no colo da namorada e beijou-a lentamente, deliciando-se com o gosto da boca e o eto que provocou com suas palavras. Embora a surpresa, não havia nada mais que Margareth quisesse. Deixou que os lábios experientes de Elizabeth envolvessem os seus e a língua, macia como o veludo, a consumisse. Seu corpo aqueceu meteórico. 

— Que loucura, Beth! – Falou entre os lábios. – Você é uma cafajeste…

Ela arfava entre o beijo e os carinhos que recebia das mãos amadas, deslizando suaves sobre suas laterais.

— Sou uma cafajeste, por que te amo?

Elizabeth falou entre os beijos, também. Margareth arfou, ao receber os lábios da amante em seu pescoço.

— Ah!!

Gemeu, incapaz de responder. Sentia a intimidade pulsar, quente. Margareth ficava em brasa, sob os toques de Elizabeth, deixando a razão escapulir, sem entender por quê. Evernood se desencaixou de sua amada, deitando-se no sofá e puxando a namorada para cima de si.  Segurou firme a cintura, trazendo-a para que ela se deitasse ao longo de seu corpo. Fitaram-se, sorvendo o amor que derramava do olhar de cada uma. 

Evernood estendeu a mão, acariciando em contemplação a face macia da detetive de polícia. Seu corpo sentia o calor morno que pesava sobre o seu, e apreciava sobejamente a ternura ingênua, todavia repleta de desejos para descobrir novos horizontes.

— Nunca imaginei que o amor pudesse ser tão…  maravilhoso. – Margareth confidenciou, enlevada. – Quando pensava em todos os pretendentes que se aproximavam de mim, tinha vontade de me esconder, pois nenhum deles me despertava qualquer coisa que se assemelhasse aos romances que lia.

— E eu lhe desperto algo parecido?

Elizabeth não sorriu ao fazer a pergunta. Trazia no semblante a expectativa da resposta, como se a verdade daquela declaração, fosse a “ambrosia” de sua vida.

— Você não me desperta nada… é simplesmente a maravilha da minha existência.

A frase dita com tanto querer, encheu o coração de Elizabeth de alegria. Eram poucas vezes que ficava sem fala e, aquela era uma delas. A única resposta que conseguiu expressar foi através do beijo afável, vertendo seu próprio amor.

Escutaram batidas na porta, interrompendo o momento de adoração mútua.

— Tristan…

Falaram juntas, rindo da situação. 

— Você disse para ele bater à porta.

— Acredito que seja melhor do que ele entrar atabalhoado e nos encontrar nessa posição…

Evernood retrucou a galhofa da namorada e ambas riram. Levantaram-se do sofá e se recompuseram, antes da dona da casa atender ao empregado. Abriu a porta.

— O “scotch” das senhoritas.

— Obrigada, Tristan. Coloque sobre a mesinha.

Viram o rapaz colocar a bandeja com a bebida e os copos. Ele parecia eufórico por estar exercendo a função de seu “mentor”. Andou até a porta e inclinou levemente o tronco, em reverência.

— Tristan, se quer ser um bom mordomo, aprenda que apenas um aceno de cabeça é o suficiente. Não somos “a rainha”, para prestar nenhum cumprimento mais acentuado.

— Sim, senhorita. Ah! – O rapaz se lembrou de algo. – A senhora Blister está colocando o jantar. 

Ele saiu e as mulheres se entreolharam, rindo divertidas.

— Ele é um bom garoto, Beth.

— Um bom garoto a quem pretendo dar uma aula de etiqueta.

— Se importa com isso?

— Nem tanto quanto alguém que ele possa vir a trabalhar futuramente. Se quiser essa profissão para ele, terá que entrar nos moldes.

Evernood respondeu brejeira e se aproximou da mesinha. Pegou os dois copos, entregando um deles para Margareth.

— Não tenho motivos para brindar. 

Blindwar falou, voltando ao estado de preocupação. Bebeu um gole da bebida, perdendo seu olhar, logo a seguir, no fundo do copo. Evernood se sentou ao lado dela, bebericando também.

 — Não vai dormir aqui, não é?

— Não… Não vou deixar minha família por esses dias. Pode não parecer, mas eles não são tão fortes quanto aparentam. Meu pai é do tipo que acredita que “chefe de família” serve para segurar as arestas quando estão soltas. Entretanto, o conheço e sei que está arrasado.

— Eu entendo. 

Margareth a olhou de lado.

— Entende mesmo?

— Sim.

Elizabeth respondeu convicta.

— Meu corpo que está em chamas e não minha mente. – Sorriu. – Consigo lhe entender completamente, mesmo que “ele” – apontou o próprio corpo. – não queira lhe deixar ir embora. 

Evernood gargalhou, explicando a ansiedade que tinha ao querer a namorada por perto. 

— Eu poderia dizer que estou chocada com você por estar tão estimulada, por assim dizer. – Margareth riu. – Mas, também sei, que me encontro da mesma forma. – Virou-se para Evernood e bateu de leve em seu braço. – Você que me faz isso e me sinto culpada. Está me deixando culpada por querer você, em vez de querer resolver logo o assassinato de meu primo!

— Que bom!

Quando Evernood ia troçar com ela, ouviram novamente batidas na porta. As duas riram e, antes que Elizabeth atendesse o jovem aprendiz de mordomo outra vez, encarou a namorada.

— Não estou desmerecendo a sua dor. Sabe disso, não é?

— Se não soubesse, Beth, acha que estaria aqui? 

A detetive particular acenou, compreendendo. Elas tinham uma ligação que ia além das palavras. 

— Então vamos jantar, porque poderemos esperar Edwin alimentadas. Quando ele chegar, discutiremos tudo que colhemos de indícios e interrogatórios.

Margareth estranhou as roupas que Edwin usava. Ele costumava se vestir elegantemente, porém, estava trajado como um trabalhador de fábrica. Entendeu que o lugar que ele visitara para obter informações, não devia ser frequentado pelas classes mais altas.

Elizabeth havia pedido para Tristan levar mais um copo para a biblioteca. Entraram para fazer a pequena reunião e ela esperou que Tristan retornasse com o mesmo. Assim que o ajudante saiu, serviu uma dose para cada um. 

Margareth reparou a atitude, visto que o mordomo raramente bebia com elas. Aliás, depois que se tornaram namoradas, presenciou algumas mudanças de atitude tanto da parte de Elizabeth, quanto do próprio mordomo. Pareciam ter um relacionamento mais de amigos, do que de patroa e empregado. Nada falou, somente observando a naturalidade com que Edwin pegou o copo. 

— E então, Edwin? Não nos deixe ansiosas. O que descobriu?

— Bom, parece que a família Hall está desfrutando de umas férias em um hotel, em Seawood. Levei algum tempo para tirar essa informação do motorista da família. Devo dizer que ele nem se lembrará de meu rosto, Beth.

Sorriu, tomando um gole do whisky, recebendo um sorriso de volta da patroa. Margareth observava apenas. Eles tinham uma intimidade intrigante.

Evernood se sentou no tampo da mesinha, cruzando as pernas.

— Ainda se escora ao lado de algum vaso para derramar a bebida, enquanto a sua “presa” se embebeda?

— Esse é o truque mais velho do mundo, mas todos eles caem. – Edwin riu. – Desta vez me dei mal, pois tive que pagar quase duas garrafas de scotch barato para o meu convidado, até ele soltar a língua.

— Como sabe que ele não lhe reconhecerá amanhã?

— Tenho meus truques, senhorita Blindwar. Possuo um certo elixir que um amigo boticário fez para mim, e umas gotas adicionadas no último gole, faz maravilhas nesse sentido.

— E o que mais descobriu? E quanto às marcas de morte das organizações criminosas?

Elizabeth perguntou inquieta. Os assassinatos praticados daquela forma a estavam intrigando. Eram uma colcha de retalho.

— Estava certa quanto a uma nova organização criminosa atuando. Ela começou há uns anos… mais precisamente há quatorze anos. Eles não têm uma marca específica e não atuam no ramo de apostas.  – Edwin suspirou. – São traficantes de escravos. 

— Como?

Blindwar perguntou petrificada. O que estava acontecendo com a sua cidade natal? 

— Isso mesmo, senhorita. Eles trazem gente de fora, que raptam para trabalhar somente pela comida em fazendas, fábricas… qualquer local. Basta que o interessado entre em contato com eles e requisite “a mercadoria”, por uma quantia razoável. Contudo, o dito “empregador”, consegue ter retorno do dinheiro em menos de quatro meses. 

— De onde esses traficantes são, Edwin? 

— Não são de outro país, Beth. São daqui mesmo.

— Deus! Será que nunca verei o crime diminuir nessa cidade?

Margareth expressou em voz alta, estarrecida. Ela era uma mulher que tinha esperanças e vontade de justiça, porém, ao longo do tempo que esteve atuando na polícia, via seu sonho de uma sociedade segura, cada vez mais distante.

— Você disse que eles não têm marca de morte.

— Sim, senhorita Blindwar.

— Isso quer dizer que eles nunca mataram, ou quer dizer que, quando necessário, se livram de alguém do jeito que podem?

— Ah, com certeza eles já mataram. Somente não tem um modus operandi e se livram dos corpos conforme podem. Alguns de meus contatos dizem que eles não querem chamar atenção para si. Falam que, enquanto a polícia se volta para as outras organizações, eles podem atuar na surdina. Os assassinatos que praticam são tratados pela polícia como aleatórios.

— Essas mortes com que estamos lidando são incomuns, até mesmo para organizações criminosas. 

— Sim, Beth, mas se pensarmos que esses traficantes de escravos não têm um modus operandi, podemos intuir também que alguém de lá tenha uma forma particular de matar.

— Ok. Mas o que seu primo e o verdureiro teriam de interesse em tráfico de escravos? Ed não cuidava dos assuntos econômicos da família e o verdureiro não poderia colocar um escravo para trabalhar na tenda, correndo o risco de ser descoberto. 

— Poderiam ter descoberto algo sobre o tráfico, comprometendo a segurança dessa organização. – Margareth bufou. – Até agora só temos informações que não se conectam.

— Calma, Meg. Vamos descobrir. Só temos que nos acalmar e tentar ordenar o que levantamos.

— Se quiserem, posso fazer um quadro com tudo que sabemos, para facilitar. A partir daí, começo a buscar cada falha, para preencher as lacunas.

— Agradeceria se fizesse isso, Edwin. – Margareth falou. – Logo cedo, terei que ir ao departamento para informar sobre os interrogatórios e ver o que eles descobriram.

— Não esqueça de falar onde os irmãos Hall estão. Será mais fácil trazê-los de volta, através da polícia.

Evernood concluiu. Estavam cansadas e Margareth se encontrava deprimida novamente. Conversaram mais um pouco e Blindwar se despediu. Edwin já havia trocado de roupas e fez questão de acompanhá-la até a sua casa. 

O mordomo se tornou distante na caminhada, fazendo Margareth perguntar:

— Está indiferente. O que houve? Eu o ofendi?

Edwin sorriu.

— Claro que não, senhorita. Apenas seria muito estranho, aos olhos dos outros, se a tratasse com maior intimidade na rua.

— Você tem uma relação estreita com Elizabeth…

— Antes de ser empregado dela, éramos amigos. Eu estava em uma situação financeira difícil e ela me contratou. É uma parceria vantajosa para nós dois.

— Você foi amigo do primo dela.

Margareth tentava montar aquela colcha de retalhos que era a relação de sua namorada com o mordomo/faz-tudo. 

— Correto. E depois que a conheci, nos tornamos bons amigos. O fato é que, se eu aceitasse trabalhar para ela, teria que manter certas aparências. Foi o que fiz. Não tenho problemas em ser visto como serviçal, afinal é o que sou, além de amigo.

— Mas antes, não via essa relação estreita que tinha com Elizabeth.

— Antes, não sabia quem a senhorita era. Não digo em termos sociais, mas sim, em termos de importância para Evernood e, também, em termos de… como posso dizer…

— … Caráter?

Margareth complementou a ideia do mordomo, sorrindo. 

— Sim, senhorita.

Edwin respondeu, abrindo um sorriso também.

Chegaram na entrada da mansão Blindwar e Edwin parou. Esperaria que a detetive de polícia entrasse, antes de ir embora. Retirou seu chapéu, cumprimentando-a em despedida.

— Obrigada, Edwin.

Margareth entrou. A noite seria atribulada. Teria que explicar para seus pais, sem muitos detalhes, que a investigação estava indo bem, antes de descansar. Lógico que mentiria. Estavam distantes da verdade sobre o que ocorrera com o primo. 

Margareth teve outra noite em claro, pois não conseguira parar de pensar sobre tudo que levantaram. Foi para a delegacia e ligou logo cedo para a namorada, que também parecia não ter dormido muito. A voz dela ao telefone, era como se estivesse embriagada. Imaginou que pegara no sono de madrugada, assim como ela. 

— Temos novidades, Blindwar.

Reynold falou esfuziante. Não a cumprimentou, mostrando-lhe o que haviam levantado sobre os irmãos Hall e sobre onde eles estavam. Margareth se pôs atenta ao que o detetive lhe mostrava. 

— Rob terminou com Clarence na noite da festa? Como conseguiram saber disso?

— Bom, vocês foram interrogar ela e os outros envolvidos na discussão do dia da festa. – Dashwood respondeu. – Eu fui interrogar os outros convidados, enquanto Reynold levantava o paradeiro dos Hall. Eles estão em Seawood e o comissário Greendwish já entrou em contato com a polícia de lá para intimá-los.

— Temos que conversar com Robson e Jefferson Hall, urgentemente. A senhorita Taylor falou que ela e Robson tinham brigado, mas tudo foi esclarecido. Contarei a vocês o que houve no meu interrogatório e vice-versa.

Margareth estava nervosa e entediada. Esperar pela chegada dos irmãos Hall a estava enlouquecendo. Pedira para Greendwish liberar a entrada de Evernood, porém o comissário recusou. Disse que se os detetives da “Crimes Graves” não conseguiam fazer um interrogatório sem auxílio externo, seria melhor contratar Evernood, permanentemente. Ela se revoltou intimamente, pois sabia que a questão dele era unicamente política. Seria ruim para ele que todos os crimes sérios desvendados, tivesse o auxílio de uma única pessoa externa. 

O fato é que depois que assumiu a Crimes Graves, todas as investigações, exceto a do banco, tiveram a mão de Evernood. Era um tiro no pé, para ele. 

E a do banco, ainda não resolvemos…

 Margareth sorriu para si mesma, debruçada sobre os relatórios. Ela não estava envolvida diretamente na investigação do banco e, muito menos Evernood. Gostava dos rapazes e os considerava, porém, este fato a deixava orgulhosa de si, sabendo que quase todas as investigações das quais participou, foram solucionadas.

No mesmo instante, pensou que se encrencaria com os rapazes, se eles percebessem isso. Fechou o cenho. Não queria animosidades entre eles.

— Estou com fome. Qual a estimativa para os Hall chegarem aqui?

Perguntou diretamente para Dashwood.

— Não antes das quatro horas da tarde, Blindwar.

Ela se levantou, pegando a bolsa.

— Vou almoçar com meus pais, então. Minha mãe está arrasada. 

Deixou seus ombros caírem.

— Vá e fique tranquila, Blindwar. – Dashwood a incentivou. – Se a polícia de Seawood chegar mais cedo, ligamos para você.

— Não me demorarei tanto. Quero somente apoiar minha família. 

Respondeu e saiu. Parou em um correio e pagou uma ligação pelo telefone de lá, ligando para Evernood. Edwin atendeu.

— Alô, Edwin? Elizabeth está em casa?

— Sim, senhorita. 

— Posso almoçar aí? Quero conversar com vocês.

— Certamente, senhorita Blindwar. Elizabeth já estava ansiosa pelo seu contato. 

— Ótimo. Já estou indo.

— Não condeno Greendwish e não desmereço os rapazes da “Crimes Graves”.

Evernood suspirou, respondendo ao que ouviu da namorada. 

— Eles não têm tanta liberdade e nem os recursos que tenho. O fato é que Greendwish está certo. Se eu estiver sempre envolvida diretamente, ele pode sofrer ataques de seus inimigos da corporação. 

— Mas é injusto, Beth. Se você tem recursos…

— … não aponta para a falha do departamento. Quem quer abafar a competência de Greedwish, usaria isso como munição para atacá-lo. Não estou em uma disputa de egos. Sei que sou muito boa no que faço e não preciso de reafirmações por parte do distrito. Para nós, é melhor que me mantenha na retaguarda, senão, futuramente seria possível que eles queiram me enquadrar no sistema. Não precisamos disso.

— Certo. Tem razão. É que, às vezes, penso que, por mais que conquiste espaço no distrito, nunca serei vista por todos como competente; e você, também, não. Isto, somente por sermos mulheres. Fico revoltada. 

— Você já conquistou muito, Margareth. Eles dão aval para você.

— Porque querem resolver os casos. Não pense que dão créditos abertos a nós. Para a população, quando resolvemos algo, a matéria nos jornais agradece ao departamento. Quando citam alguém, falam de Dashwood e de Reynold. Não que eu queira notoriedade, contudo por que não citam as mulheres envolvidas na resolução de casos? Quando todos aceitarão o fato de mulheres serem competentes? Como a população saberá?

— Acalme-se. Compreendo você. Entretanto, conquistas são penosas. Acredita que não há mulheres nos jornais, tentando espaço para mostrar a sua competência?

— Acredita que algum dia, algum jornalista abrirá as portas para as mulheres?

— Não só acredito, como tenho certeza disso.

Evernood sorriu e abraçou a namorada. Mais e mais, elas preferiam se encontrar em lugares seguros para demonstrarem a afetividade. Queriam se abraçar e beijar, confortando uma a outra. Almoçar juntas na mansão Evernood era um prêmio para elas. 

Margareth se desalojou dos braços de Elizabeth e beijou-a carinhosamente. O gosto doce dos lábios da detetive de polícia despertava em Evernood uma excitação louca. Se apropriou da boca da namorada, com fome, sorvendo o sabor colorido da vida. Ela se perdia, assim como Blindwar, que num impulso, galgou o corpo de Elizabeth, debruçando-se sobre ela. Ambas gemeram.

— Não me provoque, Meg. Não esqueço de nossa primeira noite, um minuto sequer. 

Evernood falou arfante, temerosa em não conseguir lidar com tamanho desejo.

— Acha que me esqueço?

Margareth respondeu, descontrolada, deslizando as mãos pelas laterais de Elizabeth. A voz rouca denunciava a sua intenção insana de reviver a linda noite que sentiu na pele o amor de Evernood.

Toc. Toc.

Evernood cerrou fortemente os olhos e a mandíbula, amaldiçoando todas as gerações de quem estava batendo à porta. Inspirou fundo.

— Temos que descobrir logo quem é o assassino, porque pretendo levar você em uma viagem para longe daqui, em breve.

Margareth sorriu, não muito contente com a intromissão também. Estava em brasa. Levantou-se e arrumou seu tailleur.

— Então, durante o almoço, vamos conversar sobre a abordagem do interrogatório. Falei no departamento que estaria com meus pais. Tenho que retornar logo, e quero ser muito incisiva, pois, além de descobrir o assassino de meu primo, agora quero, com todas as forças, viajar com você.

Elizabeth lançou um sorriso de canto de lábios. Deixou de responder ao “alguém da porta” mais um pouco.

— Então, seja incisiva, e não me deixe na expectativa depois, pois quero fazer logo a nossa reserva em Paris. Poderá pedir uma licença?

— Não acredito que Greendwish me negaria. Trabalho já há quatro anos no departamento e vejo os rapazes sempre pedirem licença e elas serem concedidas. Ainda mais agora, com meu primo morto.

A resposta de Margareth foi imediata.

— Entre!

Evernood ordenou, feliz pelo que escutou da detetive de polícia.

Há horas que Dashwood interpelava o Robson Hall e Margareth observava, somente. Ela queria achar os pontos falhos e, assim como havia combinado com Evernood, entraria com as perguntas em um momento crítico, quando não houvesse mais possibilidades de avançar no interrogatório. 

Bateu forte com a mão sobre a mesa, assustando a todos, inclusive seu colega de trabalho. Ela e Elizabeth haviam optado que Blindwar apelasse para o relacionamento de longa data que tinha com os suspeitos. 

— Chega de bobagens! – Falou irada. – Estamos falando de Edward, Rob! Tudo que disse até agora, não explica o fato de você e seu irmão, – apontou para o rapaz , que se encolheu na mesa, – terem discutido com ele na manhã do assassinato e nem porque você, terminou seu relacionamento com Clarence Taylor, na festa. Ela falou que não terminaram e que estava tudo bem entre vocês.

— É mentira! 

Robson Hall reagiu, etado com a agressividade de sua amiga, que até então, nada falara. Ela andou de um lado a outro da sala em silêncio, deixando que ele ficasse apreensivo. Por fim, falou mais calma.

— Clarence falou que estava com problemas de saúde mental e procurou Edward para ajudá-la.

— Por isso discutimos com Edward. A princípio, não acreditamos. Fiquei furioso com ele, mas não a ponto de matá-lo. Quando conversei com Clarence na festa, ela confirmou. Fiquei desnorteado.  Pode me chamar de canalha, mas não queria uma mulher com aquele tipo de problema para mim.

— Ela tinha medo disso acontecer. No entanto, disse para nós que você a apoiou.

— E a apoiei. Disse para ela que o melhor era continuar com o tratamento e que se ela recebesse alta do médico, voltaríamos a conversar sobre compromisso. 

— Então não terminou de verdade? Apenas insinuou para que ela se tratasse, antes de retornarem o relacionamento.

— Bem… não. – Robson Hall deixou os ombros caírem. – Disse que seria difícil para mim.

Margareth fez um silêncio de efeito, olhando séria para o Robson Hall.

— Vou conversar com seu irmão. Veremos o que ele contará.

Margareth saiu da sala e entrou na sala ao lado, onde Jefferson Hall estava com Reynold.  

— Me diga, Jeff. Por que fugiram para o litoral?

Ela perguntou de súbito, assim que entrou, pegando o amigo desprevenido.

— Não fugimos! Bem… Não estávamos fugindo porque matamos o Ed. Contamos para nossos pais o que ocorreu naquele dia e acharam que seria melhor nos afastarmos. 

— A família de vocês tem uma fábrica de ferragens, não tem?

— Sim, mas o que isso tem a ver?

— Bem, sei que algumas fábricas andam importando certos trabalhadores…

Margareth insinuou, tendo o conhecimento do novo grupo de crime que andava atuando pela cidade.

— … Trabalhadores importados ilegalmente. Escravos. E sabemos bem que Edward se posicionava contra várias questões de injustiça social. Será que ele descobriu algo nesse sentido?  – Ela concluiu.

— Meg, está insinuando que meu pai paga para trazerem escravos para trabalhar na fábrica?

Jefferson perguntou, indignado.

— Não sei… Pagam?

— Lógico que não, Meg!

— Mas sabe que há gente em nosso meio que faz, Jeff. 

— É… Sei sim. Mas todos os empresários de indústrias sabem. Todos que conhecemos, já foram contatados por esses traficantes. Isso não significa que nós contratamos. Meu pai não faria isso. Ele tem uma reputação a zelar dentro do mercado.

Algo em Margareth lhe dizia que era verdade o que ele falou. Foram tolos em deixar a cidade sim, porém, não mentiam. Estavam assustados demais. 

— Jeff, falarei com você e falarei também a Rob; Não saiam mais da cidade, até tudo ser resolvido. 

Blindwar decretou. 

— Não sairemos, Meg. Foi tolice.

 — O que achou, Blindwar?

— Não sei o que pensar, Dash. – Ela chamou o colega detetive pelo apelido. – O que você achou? Falei para vocês tudo que levantamos.

— Nada faz sentido. A verdade é que, nada nos leva a lugar algum e também nos leva a muitos lugares. Continuo achando que foi algo pessoal, mesmo tendo provas do contrário.

— Como assim? Alguém que viu o modo de um assassinato operar e fez parecer igual, por alguma desavença pessoal?

— Não, não é isso, Meg. Ah, me desculpe…

— Pode me chamar de Meg, Dashwood, contanto que me permita lhe chamar de Dash.

Margareth sorriu e ele retribuiu.

— Bem, pelo que vejo, já está me chamando assim. – Sorriu novamente e voltou a falar do caso. – Parece mais que há um lunático que cisma com alguém e o mata.

— Devo questionar Clarence, novamente. Ela mentiu para mim e para Evernood.

— Deixe que eu e Reynold conversemos com os outros que vocês interrogaram. Talvez consigamos furos nas respostas.

— Perfeito.

— Falarei com Evernood. Será melhor assim.

— Talvez ela consiga, com os meios dela, descobrir outras coisas.

Dashwood falou, fazendo Margareth entender que eles sabiam que a detetive particular atuava mais solta do sistema.

— Certo. 

Blindwar meneou a cabeça, afirmativamente. 

 


Nota: Estamos tod@s bem? Bom fim de semana a tod@s!

Um beijo grandão!



Notas:



O que achou deste história?

14 Respostas para 13 – Sexto Caso: Gavetas, olhos, puxadores e lábios – Parte 4

  1. Descobri pelo face por acaso e so li um trechinho desse capítulo. Tem uma lingiagem bem diferenciada. Fiquei curiosa e vou acompanhar do início.

    Adoro histórias com mistérios, mulheres e bastante “se.ver.go.nhe.za” kkkkkk bjs

    • Olá, Vanessa,
      Seja bem-vinda!
      Então, não deve estar muito ambientada por aqui, já que descobriu o site por agora lá no face, mas espero que goste do que esteja lendo. Na Aba “histórias” tem as histórias em andamento e as histórias concluídas. As autoras tem estilos diferentes, que estilo gosta? Talvez possa lhe ajudar. rs
      Sou do estilo que costuma responder aos comentários no dia, ou próximo ao dia em que posto o próximo capítulo. Acredito que seja uma forma legal de sinalizar para as minhas leitoras que irei postar. Costumo postar um capítulo por semana, mas às vezes, posto mais.
      Se gosta de mistério, mulheres e “senvergonheza” rsrs está numa história boa. Mas a parte da senvergonheza, agora é que começará, afinal, essa história é numa época em que as mulheres eram mais recatadinhas socialmente. kkkk Mas a senvergonheza vai começar, porque entre quatro paredes, tudo é diferente do que a sociedade apresenta, né.? rsrsr
      Obrigadão por vir aqui e espero que goste!

      Um beijão pra ti!

  2. Oie ? Por aqui estamos tod@s bem! E por aí?
    É… Já percebi que, apesar das dificuldades da época, Beth é bem experiente kkk. Deu até curiosidade em saber sobre suas aventuras amorosas antes de Meg. Mas penso que ela não irá contar, não é mesmo? Já viu que a amada é ciumenta. kkk. E eita portas sonoras!!!rsrs
    Eu com minha teoria de que todo mundo tem um lado gay ou bi, penso que o problema da Clarence é gostar também de mulher, já que na época era considerado doença psicológica.
    Já pensei em todos os suspeitos e ainda não consegui achar provas para incriminar o pai de Jeff e Rob.

    Beijão, Carol
    E continuemos nos cuidando.

    • Oi, Fabi!
      Aqui estamos bem. Só o fato de que meu pai foi internado novamente, mas não é pelo covid 19, ok? É o problema cardíaco/pulmonar dele. E vamos levando…
      A Beth é totalmente experiente! kkk Ela foi criada na liberdade. rsrs
      “Deu até curiosidade em saber sobre suas aventuras amorosas antes de Meg.”
      Tu é curiosa, né? kkkk Talvez uma hora, pense em alguma coisa para lançar uma história anterior dela. kkkk
      Olha que não é só a Meg que é ciumenta não. rsrs Ela é só mais insegura no que diz respeito a relacionamento, mas… A Beth também é e talvez, até mais. Só que pegou uma mulher sem muita experiência. he he he
      Boa teoria sobre a Clarence. Hoje à noitinha vai rolar a resposta.
      Bem, o pai de Rob e Jeff, pode ter motivo… Vamos ver. 😉

      Sem spoiler! rsrs

      Beijão, Fabi!
      E vamos que vamos!

  3. Tá difícil de conter a curiosidade, Mestra.
    Tá osso, mas a leitura tá uma delicinha!

    Xêro pra tu!

  4. Carolll,tudo beleza??
    eu já tenho um palpite…e se foi Clarence? Ela tem um problema mental, a qual n foi especificado, ela teve problema com o ex e com o amigo, n sabemos o que houve no meio, n me parece q tenha sido alguém de fora….e como foi visto aí, ela mentiu…hehehe. Veremos os próximos capìtulo!
    Hoje é sexta!Bom finde, Carol!
    Ontem Mocita fez compra, me deixou doida qndo voltou! Hahahaha

    Que passe logo isso, assim te dou um abraco bem apertado! rs
    Beijos iluminados

    • Olha, Lailicha, não vou dar spoiler. Só vou dizer: Clarence tem uma seta apontada para ela. rsrsrs
      Lailicha, acho que vai durar mais um ou dois meses para passar essa loucura toda, mas vamos orar e manter a serenidade. Só assim passaremos bem por isso tudo.
      Um beijão e obrigadão, Lailicha!

  5. Difícil a situação. Enredo com bastante mistério. É o casal está cada vez mais atiçado! Show!!??

    • Oi, Carla!
      É uma situação difícil mesmo, mas no meio do trajeto, as duas vão se ajeitando, não é? rs
      Muito obrigada pelo carinho, Carla e um beijo carinhoso para você!

  6. Complicado esta…
    Uau, nem sei pra q lado ir, sou péssima em descobrir
    as coisas… k k k

    Espero q o próximo cap. esteja logo ali…

    Pois estou super curiosa pra ver onde tudo vai dar.

    Bjs…

    • Oi Nádia.
      Não se aperrei, se não descobrir, vai ter a surpresa da leitura. Quer melhor que isso? rsrs
      O próximo capítulo sai hoje, mais tarde, então vai matar a sua curiosidade. rs
      Muito obrigada, Nádia!
      Um beijão pra ti!

    • Tá pegando fogo e vai um pouco mais. Vai ter drama, como a Lai, a outra leitora, queria. rsrs Sai hoje mesmo, mas, mais tarde! rs
      Brigadão, Ione!
      Um beijo grandão!

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