Os Estranhos Casos de Evernood e Blindwar
Quinto Caso: Os Prazeres da Carne – Parte: 1
Texto: Carolina Bivard
Ilustrações: Táttah Nascimento
Revisão: Naty Souza e Nefer
Parte 1 –
O departamento estava particularmente agitado naquele dia. Outro osso havia sido encontrado na margem do rio, fora da cidade. Margareth estava curiosa, contudo, aquele caso não fora destinado à Crimes Graves e, o que menos queria, era se meter numa confusão com Stain.
Ele estava à frente das investigações iniciadas há mais de dois meses, quando um crânio, que fora identificado pela perícia como sendo de uma mulher, aparecera nas docas da cidade. Ela não entendia como o distrito ainda não havia passado o caso para seu setor, afinal, pelos ossos que continuavam aparecendo, parecia um morticínio e não um assassinato qualquer. A perícia da polícia passara a trabalhar conjuntamente com o departamento forense da universidade, numa parceria que fora firmada oficialmente, após o último caso resolvido.
Blindwar estava distraída revendo os indícios do assalto ao banco que ainda estava sem solução. Assustou-se, jogando o corpo para trás na cadeira, quando um arquivo fora largado sobre a sua mesa sem delicadezas. Olhou na direção do homem.
— Assustada, detetive Blindwar?
Margareth levantou o olhar reparando em Stain diante dela. Nada disse. Não daria a ele o prazer de entrar num bate-boca que, há muito tempo, o detetive instigava. Vivia falando imbecilidades pelas suas costas e diretamente também. Ela adotara uma atitude de indiferença perante ele e às suas alusões maldosas. O detetive Stain começava a ganhar fama de invejoso e infame, e ela, cada vez mais, conquistava o respeito entre seus pares.
A detetive Blindwar elevou uma de suas sobrancelhas, inquirindo silente o que aquilo significava. Dashwood sentava-se à uma mesa ao lado da detetive e sua paciência em relação a Stain chegara ao fim.
— Fale logo o que quer, Stain! Se é mais uma de suas provocações, pode sair; temos muito trabalho por aqui.
Stain o olhou furioso. Parecia-lhe que o departamento inteiro passou a defender aquela mulher e, ao mesmo tempo, desprezá-lo. Por fim, após um duelo de olhares belicosos, ele respondeu:
— O comissário geral quer que a Crimes Graves também trabalhe no caso dos “Ossos”. Trouxe o material que coletamos para vocês.
Margareth se esforçou para não sorrir e se manter impassível. Segurou-se para não gracejar. Infelizmente, o comissário geral ainda considerava muito o detetive Stain e, se ela vacilasse, talvez sofresse alguma represália. Contudo, se regozijava, pois o antigo “desorientador”, como ela o chamava, deveria estar muito raivoso com aquela decisão do comando.
— Verei as evidências colhidas por vocês.
Blindwar respondeu, sem expressar muito entusiasmo.
— Faça isso e passe para nós o que descobrirem. O caso é nosso e não de vocês!
Ele ordenou, saindo logo a seguir do setor da Crimes Graves.
— “Ainda” é de vocês.
Dashwood balbuciou, expressando exatamente os pensamentos da colega detetive. Blindwar sorriu sardônica ao ouvi-lo, puxando a caixa para observar o que tinha dentro.
— Quer sair do marasmo, Dashwood?
Ela perguntou, fazendo o colega se levantar e ir até à sua mesa.
— Não perderia isso por nada! – Falou entusiasmado. – A gente tem que colocar esse palhaço no lugar dele.
Reynold se juntou a eles, quando retornou ao departamento após uma diligência e, à tarde, foram até a sala do comissário Greendwish.
— Falem logo!
Greendwish exortou, ao ver seus detetives diante dele sem se posicionarem. Estava lidando com papéis e reuniões com a comissaria. Reynold se apressou a explicar.
— Eles estão indo pelo caminho errado, senhor.
— Eles quem? Do que estão falando?
Os detetives ficaram desnorteados, não entendendo as perguntas do comissário Greendwish.
— Senhor, hoje de manhã, o detetive Stain deixou arquivos da investigação dos “Ossos” sobre minha mesa e disse que o comissário chefe havia pedido para que nós ajudássemos o departamento geral.
Blindwar esclareceu, sem entender bem por que o seu comissário não tinha conhecimento do assunto.
— Merda!
Greendwish socou a mesa, praguejando, e logo se desculpou pelo linguajar perante a detetive.
— Oh! Desculpe-me, Blindwar…
— Senhor, aqui dentro sou como os outros. Já lhe disse isso… Não que não queira respeito, como qualquer um.
— Certo! – Ele se aprumou na cadeira, encarando seus subalternos. – Devo me desculpar pelo arroubo, mas vejo que o comissário tem se amofinado com nosso setor… comigo, na verdade. Se ele deu essa ordem para que o setor geral nos incluísse na investigação deles, não se incomodou em me consultar.
Greendwish parou de falar, deixando-se divagar e os detetives se mantiveram calados. Trabalhavam para ele há menos de um ano, porém, começavam a entendê-lo.
— Devolvam as evidências para o setor geral. Digam que foram ordens minhas e nada além disso.
— Mas comissário…
— É uma ordem, detetive Blindwar!
Ele se exaltou, fazendo com que a detetive se calasse, assentindo.
— Sim, senhor.
Os três detetives saíram da sala, Entretanto Blindwar estava desolada. Eles tinham identificado falhas nas investigações e ela se remoía por não poder ter o caso no seu setor. Sentiu uma mão pousar em seu ombro.
— Calma, Blindwar. Não acredito que Greendwish deixará passar esse caso.
Ela tocou a mão de Reynold em seu ombro concordando, porém, não se sentia mais confortada do que antes. Teria que levar a caixa de evidências para Stain e isso a corroía por dentro.
— Certo. – Falou. – Mas se concordarem comigo, me ajudem a copiar os principais indícios, relatos de testemunhos e provas. Se Greendwish conseguir retornar esse caso para nós, não quero que nada se perca, por não nos fornecerem todas as evidências depois.
Dashwood se animou.
— Vou pegar a máquina fotográfica da perícia. Fotografamos tudo e, assim, asseguramos que futuramente não falem que nossa investigação será falha.
— Fotografar tudo sairá caro para o departamento. Não acredito que a perícia deixaria a máquina deles conosco. — Reynold retrucou.
— Backer, da perícia, me deve um favor. A gente copia tudo e fotografa também. Não precisaremos revelar as fotos, se nos devolverem o arquivo completo.
Blindwar se sentiu mais confiante.
— Então faremos isso. – Sorriu. – Concordam?
— Sim!
Os dois detetives falaram ao mesmo tempo, entusiasmados com a perspectiva. Ao final da tarde, tinham tudo copiado e devidamente fotografado.
♥
Stain se preparava para sair, arrumando suas coisas na gaveta. Pulou na cadeira ao escutar um estrondo sobre o tampo da mesa. Elevou a cabeça, com o coração acelerado e os olhos arregalados.
— Assustado, detetive Stain?
Ao falar, Blindwar percebeu olhares de outros membros da corporação sobre si. Continuou.
— A Crimes Graves não estará dentro dessa investigação. Ordens diretas de nosso comissário.
Virou-se sem esperar qualquer resposta do detetive Stain. Não lhe interessava ouvir.
♥
— Você está inquieta. Há mais de quinze dias me evita, hoje me chama para jantar e sua cabeça não está aqui.
— Desculpe-me, Beth. – Blindwar abanou a cabeça em negativa. – O fato é que eu achava que me distanciando de você…
Margareth parou de falar, focando na comida em seu prato. Estava perdida, como nunca esteve em qualquer momento de sua vida. Elizabeth Evernood engoliu o que mastigava e com o guardanapo, limpou os lábios, focando em sua amiga. Colocou um dos cotovelos sobre a mesa e apoiou o rosto na mão, encarando a detetive de polícia.
— Ainda acha que o que sentimos é errado?
— Não é o que acredito, Beth. Porém, o que sentimos é proibido. – Blindwar afirmou.
— Você se atém às leis, No entanto, o que quero saber é se acha que é errado.
— Acho assustador.
Margareth encarou a detetive particular, baixando as barreiras.
— O que me desnorteia é exatamente isso: não acreditar que o que eu sinta por você seja errado. Esse é meu dilema, pois todos à minha volta considerariam errado. Meus pais, minha corporação e toda a sociedade ao redor. – Deixou os ombros caírem em derrota. – Pela primeira vez, em minha vida, não sei o que fazer, Beth. Ao mesmo tempo, não é justo com você que tem certeza do que quer.
Margareth concluiu exasperada, temerosa de que Elizabeth findasse a amizade entre elas por conta de suas dúvidas e indecisões.
Evernood pousou o guardanapo sobre a mesa, que ainda segurava na outra mão, e a fitou.
— Quando disse a você que seria tudo no seu tempo, não foi da boca para fora. Gosto de você e amo a sua presença. Minha vida foi muito diferente da sua, Meg. Tive um tio que me orientou muito, fazendo-me enxergar além das convenções sociais. A maioria não tem isso, e muito menos nós mulheres.
— Vivemos numa prisão de culpas e deveres.
Margareth concluiu.
— Vivemos numa sociedade hipócrita, mas isso não vem ao caso, em relação ao que sentimos. Somente me fale o que sente por mim. Se for o mesmo que eu, posso esperar seu tempo.
Margareth encarou a amiga com olhos tristes, antes de responder.
— Não sei o que sinto. Nunca amei em minha vida para saber como é o amor. Só sei que quando estou com você, me sinto feliz, eufórica e bem. Quando estamos distantes, sinto solidão mesmo cercada de gente. Me ajude a decidir.
Margareth pediu e, embora estivesse vacilante no que queria, sua fala era firme, dando à Elizabeth permissão incondicional.
— Garçom!
Elizabeth não esperou que Margareth hesitasse novamente. Tomou a oportunidade como ouro garimpado.
— O que está fazendo?
Margareth perguntou, aturdida.
— Ajudando-lhe a se decidir, como pediu.
Apesar das palavras seguras, Evernood estava temerosa no que idealizou para auxiliar a sua amada na decisão a tomar. Experimentava um tremor interno e a mente disparava em dúvidas jamais sentidas. A ansiedade também lhe tomava como nunca. Pagou a conta, sem mesmo terem terminado de comer. Rebocou “uma” Margareth atônita, em direção à sua casa.
— Elizabeth, onde vamos?
A detetive de polícia saíra de seu estado de prostração, inquirindo a amiga aturdidamente. Caminhavam pela calçada rapidamente e o frio arrepiava seu corpo, como se congelasse por dentro. A mansão Evernood era muito próxima ao restaurante que escolheram para se encontrar, àquela noite.
— Essa conversa não deve ser tratada em público, você concorda?
Evernood respondeu, aparentemente segura. Queria que Margareth deixasse um pouco a personalidade questionadora de lado e, simplesmente, confiasse nela.
“É isso! Confiança.”
Elizabeth Evernood pensou.
— Terá que confiar em mim, Meg.
Margareth Blindwar berraria “sim, eu confio em você!” aos quatro ventos, não fosse pela natureza analítica, juntamente com a apreensão crescente. Ela confiava em Elizabeth e mais, tinha certeza de que a detetive particular estaria conduzindo-a para uma nova experiência. Algo do qual sabia que não conseguiria retornar. Havia muito medo e, também, uma vontade inelutável de prosseguir naquela descoberta.
Chegaram à mansão. Sem esperar que Edwin viesse para recebê-las e pegar seus sobretudos, Elizabeth segurou a mão de Margareth e subiu as escadas em direção aos seus aposentos, fazendo com que o coração da detetive de polícia disparasse. Edwin apareceu na base da escada, olhando àquela cena intrigado. Evernood parou por segundos e ordenou:
— Vá à mansão Blindwar e avise que Margareth dormirá aqui hoje.
Tomou novamente o rumo de seu quarto.
— Pois não, senhorita Evernood.
A resposta do mordomo chegara a Elizabeth como um som longínquo, visto que alcançara a maçaneta de seu aposento, abrindo-a de uma só vez. Deixou que Margareth passasse por ela e fechou a porta atrás de si. Segurou o rosto da detetive de polícia entre suas mãos, fitando-a amorosa.
— Deixe que eu lhe mostre o quanto amo você.
Balbuciou, próxima o suficiente para sentir o ar da respiração acelerada que Margareth exalava. Uniu seus lábios aos dela, com suavidade. Beijou mais uma vez e outra, até que a amada relaxasse na sensação inebriante daqueles beijos. Intensificou um pouco mais, entreabrindo a boca, esperando que Margareth espelhasse seu movimento e assim, introduziu a língua delicadamente na boca tanto ansiada.
Margareth não tinha mais forças para resistir e muito menos queria. Embora assustada, a força do que seu coração almejava, impedia-a de rechaçar aquele interlúdio. Sentia nas profundezas uma necessidade apaixonada em interagir, enlaçar a amada e deixar que ela a conduzisse naquele rio de felicidade que estava sentindo. Foi o que fez.
As mãos da detetive de polícia deslizaram receosas pelos flancos da amante, trazendo o corpo de Elizabeth para mais próximo de si e seus lábios ganharam vida, retribuindo amorosamente o gesto.
Nunca se arrependera de nenhuma decisão que tomara, exceto atirar em outro ser humano, mesmo sendo necessário. Não havia de ser agora que se arrependeria, visto que a completude que a arrebatava, era esplêndida! Acertara ao dar permissão livre a detetive particular para lhe conduzir naquela decisão.
Afastaram-se após o enlevo. Fitaram-se demoradamente, colhendo a ternura tangível em seus olhares.
— Seja paciente comigo, Beth. Dormirei aqui para conversarmos.
Nas entrelinhas, Margareth dizia que aceitaria aquele amor, contudo, Elizabeth deveria agir com calma. A senhorita Blindwar havia se decidido por não lutar mais contra os sentimentos, entretanto, gostava de pisar em terreno firme. Queria viver o relacionamento aos poucos, para que soubesse como agir diante de tudo.
— Vamos conversar, então. Sente-se aqui e me espere. Pedirei para que Edwin traga chá, torradas, geléia e queijo para nós, visto que não terminamos o nosso jantar.
Enquanto falava com um leve sorriso, Evernood caminhou até a porta e desapareceu no corredor.
A ansiedade tomava Margareth completamente, entretanto, sentia-se bem e feliz com a decisão. Sua vida não fora afortunada, no que dizia respeito a relacionamentos. Tivera meia dúzia de rapazes interessados, no entanto, eram homens que, antes mesmo de qualquer tipo de compromisso, já queriam ditar regras para a vida dela. A senhorita Blindwar os rechaçava, assim que sentia que somente queriam uma mulher para zelar pelo bem-estar deles, sem que se importassem com as aspirações pessoais dela.
Era lógico que a norma moral vigente dizia que ela estava errada e eles corretos, porém, nunca se agradara deste ajuste social e lutava com todas as forças contra isto. Tinha que agradecer ao seu pai, as conquistas pessoais que obteve. Não fosse por ele lhe apoiar, certamente estaria casada e com no mínimo dois filhos para cuidar, visto que já passava dos vinte e sete anos.
— Será por isso que me atraí por uma mulher?
Perguntou a si mesma. Ela tentava achar uma razão para se atrair tão intensamente por Elizabeth, porém, as respostas que pensava para essa questão não a satisfaziam. Conhecera algumas mulheres vanguardistas como ela, mas que se apaixonaram e casaram-se com homens. Não justificava que tivesse sentimentos por alguém do mesmo sexo que ela.
— Elas conheceram homens vanguardistas também.
Mesmo esta explicação não a convencia.
Evernood retornou, trazendo a bandeja com o chá e vários quitutes. Aquela noite foi um marco para a senhorita Blindwar. Conversaram muito e conhecera um pouco mais da personalidade da mulher por quem se apaixonara. Discutiram as dúvidas que rondavam Margareth e, mesmo que ainda estivesse confusa com o que sentia, também lhe abrira um novo leque de possibilidades e esperança.
Experimentou alguns prazeres também, visto que se permitiu partilhar beijos e carícias. Alegrou-se, quando quis findar o interlúdio amoroso, assustada com o vigor de seus sentimentos, e a senhorita Evernood respeitou seus limites. Dormiu no quarto de hóspedes como pedira para a anfitriã, percebendo que não causara qualquer desalento. Elizabeth parecia estar feliz e isso aplacou qualquer apreensão que tivesse. Dormiu como um anjo, como há muito tempo não conseguia.
♥
Margareth acordou faminta e o café da manhã transcorreu melhor do que imaginara. Pedira discrição para Evernood, mesmo para seus empregados fiéis e assim a detetive particular o fez. A própria Elizabeth havia concordado com a conduta, afinal, o futuro e a felicidade delas dependia de bom senso. No entanto, a senhorita Blindwar não conseguia disfarçar os ventos de felicidade.
— Não sorria tanto, senhorita Blindwar, senão Edwin é capaz de chamar um médico para diagnosticá-la.
Elizabeth brincou com ela, assim que o mordomo deixou a sala de refeições.
— Não seja convencida, senhorita Evernood. – Margareth retrucou no mesmo tom jocoso. – Estou sorrindo porque dormi bem e também, porque acredito que um caso importante cairá sobre meu colo, assim que chegar ao setor da Crimes Graves.
— O caso dos “Ossos”?
— Exatamente, Beth.
— Você comentou sobre o caso ontem, mas não disse do que se tratava.
— Não imagina por que não tive tempo de lhe dizer?
Blindwar questionou, colocando um pedaço de salsicha na boca, como se estivesse indiferente. Evernood estreitou os olhos, instigada pela brincadeira espirituosa da detetive de polícia.
— Na verdade, imagino. Seria pelo motivo de nossas bocas estarem ocupadas?
— Que grosseria! Como pode falar isso para uma dama, Elizabeth?
Blindwar retrucou, sorrindo.
— Me conta tudo sobre o caso dos “Ossos”, vai. Assim me facilita.
Elizabeth pediu. Não queria exagerar nas brincadeiras para não causar desconforto à namorada. O recente relacionamento ainda era frágil e apesar de Margareth ser uma mulher decidida e jovial, ainda teria que ultrapassar barreiras íntimas até que encarasse como algo natural.
— Facilitaria você em que?
— Na minha investigação particular.
Antes que Blindwar rebatesse, Evernood se explicou para não causar transtornos.
— Estou num caso em que me contrataram para investigar um desaparecimento e temo que ele se entrelace com o do departamento de polícia.
Margareth a fitou, pousando seus talheres no prato.
— Por que acha isso? Não sabia que estava em um caso.
— Não sabia por que me evitou nos últimos quinze dias. – Evernood abanou a cabeça. – Isso não importa mais para nós. Já nos resolvemos. O fato é que fui procurada na semana passada por um casal. Queriam achar a filha desaparecida há mais de dois meses. Disseram que a polícia já havia desistido das buscas. O caso estava esfriando, assim como a temperatura do inverno.
— Desaparecimentos não são enviados para a Crimes Graves.
Blindwar conjecturou.
— Pois então, estive seguindo os passos da moça, antes de desaparecer. Os pais falaram que ela não tinha namorado, ou mesmo amigas mais íntimas. Ela se dedicava ao comércio da família, todavia encontrei um elo dela com uma fazendeira fornecedora da loja. Nas últimas semanas antes de seu sumiço, encontrou-se várias vezes com essa mulher.
— E por que acha que o sumiço dela tem a ver com o caso dos “Ossos”?
— Sei que a perícia forense da universidade constatou que a musculatura daqueles ossos não foi degradada com o tempo. Os músculos e as outras estruturas foram extraídas. O crânio que encontraram foi dissecado e não tem vestígios de deterioração. Logo, é de uma mulher morta recentemente.
— Que merda! Oh… Desculpe. Acho que estou adquirindo hábitos dos detetives do departamento.
Margareth enrubesceu, perante o linguajar que utilizou. Elizabeth tomou um gole do suco de framboesas, contendo o sorriso chistoso. Pousou o copo sobre a mesa e declarou.
— Confesso que me eta a sua atitude… tão natural.
— Ora, veja! Você está escarnecendo de mim?
— Longe de mim. Devo dizer que gosto quando escapole de suas normas sociais tão bem estruturadas.
— Com quem falou na Universidade para saber sobre isso? Foi com a senhorita Lister?
Evernood pousou seu garfo no prato e fitou a detetive de polícia, esboçando um sorriso.
— Há algum problema se eu conversar com a senhorita Lister?
— Oh! Problema nenhum!
Blindwar respondeu, não conseguindo evitar o rubor que corou sua face. Percebeu que, no tom que utilizou, havia uma conotação de ciúme repreensivo. Mal sabia que a recente namorada gostara de percebê-lo.
Evernood não queria lidar com desconfianças e ciúmes extremados, porém um leve sentimento de receio, não fazia mal ao ego dela.
— Se houver algum problema, diga-me. Assim saberei de quem gosta ou não.
— Eu gosto da senhorita Lister… como profissional.
— Então não gosta dela como pessoa. É isso que quer me dizer?
— Claro que não! Não a conheço o suficiente, para gostar ou desgostar.
Margareth percebeu para onde Elizabeth a levava com aquela conversa. Retrucaria, não fosse pelo mordomo ter entrado na sala, com um bilhete para entregar para sua patroa. Calaram-se, enquanto Evernood recebia a mensagem e dava a resposta para Edwin sobre o assunto lido.
— Diga ao mensageiro que estarei lá.
Edwin saiu, e Elizabeth voltou-se para a amiga.
— Parece que meu cliente tem uma nova informação.
— Posso ir com você?
— Não acho que deva, por dois motivos: O primeiro é que meu cliente não lhe conhece e, antes de mais nada, devo informá-lo de que terei ajuda. O segundo é que precisa ir para o departamento…
— … Para tentar assumir o caso dos “Ossos” na Crimes Graves. Assim poderíamos analisar o que a polícia encontrou, e cruzar informações.
— Viu, por que gosto de você? É uma moça muito inteligente, senhorita Blindwar.
Embora Elizabeth quisesse conter seus gracejos, não era fácil, quando se pegava admirando a perspicácia de sua amada.
— Não pense que não percebi seu estratagema anterior e sarcasmo, todavia, não lhe responderei, visto que não há como não gostar de mim, senhorita Evernood.
— Quem é a convencida agora?
Entre brincadeiras, o café da manhã das duas detetives chegou a fim.
♥
Blindwar não estava satisfeita. Chegara ao departamento e o comissário não estava na sala. Lá fora, o frio açoitava quem não estivesse bem agasalhado. Reynold e Dashwood também chegaram cedo, além de Spencer e Smith. A sala de detetives da Crimes Graves estava em um silêncio particularmente incômodo àquele dia. Tentavam se concentrar nas atividades corriqueiras contudo, para Blindwar, percebia que a mente de todos estava voltada para um só assunto. Margareth deixou seu corpo relaxar no encosto da cadeira, suspirando fortemente.
— Será que o comissário geral não vê a importância desse caso vir para nós?
Exortou, expressando a insatisfação que circulava entre os policiais.
— Ah, ele vê. Esse é o problema.
Dashwood respondeu. Era o mais velho de todos e estava há muitos anos na polícia para saber como a política interferia nos assuntos internos. Continuou seu raciocínio.
— Quanto mais nosso setor esclarece crimes de grande monta e importância para a cidade, mais Greendwish ganha prestígio.
— E cada vez mais ele ganha notoriedade perante o prefeito.
Reynold complementou o raciocínio do colega.
— Então temos que dar uma notícia para o comissário geral. Greendwish não quer o lugar dele. Está pensando mais alto. Ele quer chegar ao parlamento ou à secretaria geral de justiça.
Blindwar falou irritada com a falta de percepção do comissário geral. Entretanto, seus colegas também não percebiam.
— Por que diz isso, Blindwar?
— Está evidente pelas atitudes de Greendwish. Vejam…
Ela se ajeitou na mesa para explicar e, naquele ponto, até Spencer e Smith se aproximaram da mesa dela.
— … Greendwish vem de uma família grande e de nome na cidade. Seus irmãos já estão cuidando da fábrica da família e, ele entrou para a força policial ascendendo rápido, pelos conhecimentos que tem. Um dos tios é deputado e isto é o que daria prestígio a ele no seio familiar. Quer alcançar um nível mais alto.
Dashwood sorriu diante da sagacidade do comissário.
— Está correta, Blindwar. – Falou. – Greendwish não deixa passar uma entrevista para os principais jornais, após conseguirmos solucionar os crimes. Também vive cercado de deputados e do prefeito. Ele quer dar um salto daqui, diretamente para a política.
— Enquanto isso, a gente é que sofre as consequências… Oh! Desculpem-me.
Os detetives riram do constrangimento do jovem policial Spencer, ao expressar sua opinião.
— Não se desculpe. – Reynold colocou a mão sobre o ombro dele. – Já faz parte da família. Essas diferenças entre policiais e detetives, aqui na corporação, são uma bobagem.
Todos se assustaram quando a porta do setor abriu e Greendwish passou por eles como um furacão. Sequer os olhou, quando ordenou que todos fossem à sua sala. Via-se a fúria nos gestos dele.
Todos obedeceram de imediato.
Viram Greendwish desabar sobre a sua cadeira com um olhar contrariado. Permaneceram calados até que o comissário falasse. Não levou muito tempo.
— Parece que alguém anda impregnando os ouvidos do comissário geral contra nós e o homem comprou a ideia, pois me recebeu como se fosse meu inimigo de longa data.
— Eu nem imagino quem seja…
Blindwar falou desdenhosa e Greendwish concordou, abanando a cabeça.
— Pois é. Parece que seu amigo Stain ainda tem algum prestígio, a ponto de entrar em contato direto com o comissário geral. Está passando por cima, até mesmo, do comissário dele.
— O comissário Harry não deve estar satisfeito, então. Parecia ser amigo de Stain, outrora.
— E não está mesmo, Dashwood. Quando saí da comissaria geral, fui à sala de Harry. As coisas não andam bem no departamento de Crimes Gerais. Antes da instituição de nosso setor, nossas comissarias eram divididas em turnos. Depois as comissarias passaram a ser setorizadas e Harry achava que ficaria bem, pois seria responsável por todo o departamento de Crimes Gerais.
— E não foi o que ocorreu. O comissário geral ficou mais próximo de todos os setores e passou a cobrar mais.
— Exatamente, Blindwar. – Greendwish respondeu.
— Stain está pensando em ser comissário da Crimes Gerais?!
— Muito perceptiva, detetive. – Greendwish a elogiou. – Não vamos deixar que isto aconteça, não é?
— O que está pensando, senhor?
— Estou pensando, policial Spencer, que vamos investigar o caso dos “Ossos” e dar de bandeja para o comissário Harry.
— O quê?!
Os detetives expressaram eto e o comissário riu. Explicou o que havia combinado com o comissário Harry. Diante da possibilidade de Stain se tornar um comissário de polícia e atrapalhar o setor da Crimes Graves, não houve quem não aceitasse a proposta. Restava saber, como conseguiriam tal feito.
— Primeiro, temos que reaver as evidências sobre o caso. Se Harry pedir os arquivos para Stain, o detetive pode desconfiar e malograr nossos esforços, comprometendo o comissário Harry junto ao comissário geral.
— Isso não será problema, senhor.
Reynold falou com um sorriso imenso. Contaram sobre como transcreveram e fotografaram os arquivos.
— Devo lembrar a vocês que esta ação não foi autorizada por mim.
Os detetives enrijeceram na postura e Greendwish sorriu.
— Digamos que eu tenha autorizado, isto se conseguirem solucionar o caso. Por onde começamos? Já têm alguma estratégia?
Os detetives se calaram durante um tempo e Margareth finalmente se pronunciou.
— Senhor…
— Fale logo, Blindwar.
Greendwish pediu impaciente.
— Temo que nosso caso esteja entrelaçado com um caso da senhorita Evernood. Ela pegou um caso particular e, pelo que me contou ontem, tive a impressão de que há indícios relacionados aos crimes dos “Ossos”.
— Que raios! Não consigo me livrar de Evernood! – O comissário esbravejou, todavia logo emendou noutra fala. – Não importa. O que interessa à ela é solucionar seus casos e ser paga por isso. – Virou-se para Blindwar. – Veja o que ela tem. O departamento paga pelos serviços dela mesmo… Passe para todos e montem uma linha de ação. Dispensados.
Continua…
Nota: Este também será dividido em partes. Sabe como é. rs
Aos poucos Meg vai se libertando das amarras, e Beth com muita paciência vai ajudando a soltar os nós. É lindo de se ler.
Alguém precisa avisar Greendwish que ele não se livrará de Evernood porque ela é fod*!! rsrs
Quero logo o próximo, Carol!
Beijo
Exatamente isso, Fabi! A Meg é uma pessoa que está dentro de uma roda social cheia de convenções, mas ela também é uma pessoa resoluta e é isso que chama muito a atenção da Beth. 😉
kkk Greendwish fica irritado, mas não se preocupa muito com Evernood, pessoalmente. A preocupação dele é os poderosos verem que o departamento dele está sempre às voltas com os serviços dela. Teme pegar mal, entende?
Cap novo já está no site! rsrs
Muito obrigada, Fabi!
Um beijo grandão pra você!
Que maneiro elas começaram a namorar, tão fofas. Rssss
E cara porque sempre tem que ter um cara ruim e invejoso, já não gostava do stain, agora gosto menos ainda, esperando as duas darem uma grande lição nele. Kkkkkk
Ps: mega e super ansiosa pelo próximo capítulo. Rssss
É, começaram e não acredito que a irão parar. (spoiler) rsrs
Porque tem gente que gosta de poder e levar vantagem. Não se conforma com a competência dos outros e desperdiça tempo e energia querendo ser carregado no cangote alheio. Enfim… rs
Hoje sai o outro. Daqui a pouquinho, rs
Valeu, Marcela! Obrigadão pela amizade e o carinho!
Um beijão!
Te odio,Bi!!kkkkk
Serão 3 partes?!! Pq aí espero as outras duas pq uma de cada vez eu não tô podendo lidar ultimamente…
N vou escrever muito hoje q n tô no clima! Mas amei o capítulo!!
Fica bem, beijos cheio de paz e luz!!
Oxe! Não me odeie, naum! Snif… rsrsrsrs
Olha a segunda sairá hoje e a terceira, na segunda que vem. rsrs
Sem problemas, só em ter vindo aqui, já é um carinho imenso que sinto! 😉
Fica bem e se cuide!
Um beijão pra ti!
?
Muito bom, como sempre, Carol! Ansiosa por mais!
?
Oi, Maga!
Sei que gosta desse estilo. rs Se amarra num crime e romances policiais. rs
Brigadão, minha amiga. Sabe, quero colocar em “Ordem” as suas histórias e espero por você. he he he
Valeu, Tatita!
Um beijão, amiga!
Até tu, Brutus? ?
Deixe estar, que ainda está semana tudo ficará em ORDEM com as minhas histórias. Rs
Cara, eu não podia deixar passar, né? he he he Sabe que amo uma sacanagenzinha. rsrsrsrs
Mas é com amor! rsrs
;0
Beijinho no coração! rs
He he he…
Amei elas iniciando o namoro, Margareth mega fofa.
Stain renasce das cinzas… aff…
Mto bom, Carol…
Oi, Nádia!
A Margareth está começando a se soltar. rs Acredito que não sairá mais do brejo! rs
Stain é o tipo de homem que não se conforma em ficar na sombra, mesmo que não faça nada. Ele é do tipo que gosta de fazer firula com a competência dos outros.
Obrigadão, Nádia!
Um beijão pra ti!
Muito bom!!
Obrigada, Carla! Que bom vê-la sempre por aqui!
Um beijão!