Os Estranhos Casos de Evernood e Blindwar
Sétimo Caso: Morte no rio Sena – parte 2
Texto: Carolina Bivard
Revisão: Naty Souza e Nefer
Ilustração: Táttah Nacimento
No episódio anterior…
— Só por isso, ainda atendo os agentes de todo o mundo. Se algo vai mal, só tem a mim e meus companheiros de juramento para livrá-los de seu infortúnio certo. Fez bem em me procurar, Loren. O que deseja? Quer armas ou informações?
— Os dois, Antoir… e talvez, algo mais.
— Não abuse desse velho aqui.
O homem riu, caminhando pelo bunker onde havia marcado o encontro.
— Sabe que vocês, ex-agentes, me dão trabalho, não é? Hoje mesmo, terei que tirar tudo daqui e levar para um novo lugar.
— Só concordo com os preços absurdos que me cobra, porque sei disso.
— Ótimo que saiba! Seria um péssimo Cruzalta, se permitisse que me pegassem. – Antoir riu. – Venha. Veja o que quer.
Ele caminhou por um corredor no velho depósito abandonado, onde havia marcado com a ex-agente. Abriu uma porta.
— O que é de seu gosto?
— É difícil escolher com tantas coisas maravilhosas.
Falou, ao ver a variedade de armas e explosivos que se descortinaram à sua frente. Sorriu e entrou.
Tempos mais tarde, Evernood fez um acordo com o velho contato. Sentia-se amparada e mais segura do que pretendia na sua empreitada.
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Parte 2 —
Elizabeth retornou ao hotel pela porta da frente. Imediatamente, foi abordada por Novak.
— O que está fazendo, Beth? Por que fugiu de nossa vigilância?
— O que estou fazendo? Eu é que pergunto a você? O que está fazendo, Novak? Me conhece, mais do que ninguém, e sabe que não tolero vigilância. Como disse antes, vou ficar à parte dessa investigação, o que não quer dizer que ficarei feliz em ser monitorada todo o tempo. Como vai o acordo da Proteção Mater?
— Está em andamento.
— Ora, Novak, não me tome por idiota. A Agência nem tentou. Odeiam a Proteção Mater, e sabe disso tanto quanto eu. – Evernood se irritou, alterando a voz.
— Fale baixo.
— Falarei, se for verdadeiro comigo, Novak. Colocaram você nessa missão, porque nós dois trabalhamos juntos outrora. Mesmo confiando na sua integridade, não vejo você há mais de quatro anos e ainda trabalha para Agência. Minha opinião sobre ela não mudou e você devia saber.
— Só queremos entender o que aconteceu com Vincent.
— Eu já lhe falei. Não moverei uma palha, antes que nos concedam a Proteção Mater. Essa missão foi “Anonymus” e isso quer dizer que nem o comando direto inferior sabia. Você acha que sou imbecil, ou o quê?
— Vamos ao bar do hotel conversar, Beth.
— Como se no bar do hotel eu estivesse livre de vigilância…
— Está bem. Vamos ao terraço.
O ex-companheiro espião falou, desistindo de tentar conduzi-la. Ele a conhecia bem e sabia ser inútil esse tipo de abordagem. Discutiu com o diretor Spark sobre o assunto, todavia ele foi irredutível no modo como encarariam a antiga agente.
Estavam tensos e quando pegaram o elevador a sós, Novak falou mais à vontade.
— Não sabemos se Vincent estava numa missão Anonymus. Nós, parceiros dele, que presumimos, por ter sumido sem a nossa superintendência direta saber.
— Ótimo que tenha me dito isso, Novak.
A porta do elevador se abriu e saíram para o terraço.
— Sabe como é. Pressionamos Spark para nos dar aval para esse missão. Ele não queria.
— Acreditava mesmo que não sabia que era uma missão autônoma? Uma operação Anonymus, ninguém, exceto o comando maior, sabe. Vocês estão atirando no escuro para descobrir, e precisam de alguém externo para isso. Como me vigiavam, desde que saí da Agência, sabiam que viria para cá.
Novak deixou os ombros caírem. Caminharam até a borda do terraço. Evernood inspirou o ar puro da noite e se perdeu na visão da catedral de Notre Dame, iluminada.
— Spark tem que dar conta de um agente morto aqui em Paris. Nós, que fomos parceiros dele, Beth, também queremos saber o que houve.
— Como pensei. Não sabem nem se ele estava em missão. Jogou essa conversa de missão Anonymus para mim, para que eu auxiliasse a Agência, como alguém externo. Isso quer dizer que, se algo me acontecer ou à Blindwar, estamos por conta própria e a Agência se redime de qualquer coisa que, porventura, vier a dar de errado. Não imaginei que chegaria a esse ponto, Novak.
— Não me julgue sem saber, Evernood. Nós estamos apavorados, porque Vincent é o terceiro homem que a Agência perde em um mês. A diferença é que os outros dois eram ligados a outros departamentos. Ficamos alertas, mas as regionais deles é que tinham a supremacia das investigações. Só com o desaparecimento de Vincent pudemos pressionar Spark para nos colocar dentro.
— E foi você que citou meu nome para auxiliar. Bom amigo que você é, Novak!
Evernood endureceu o semblante, fitando-o firme.
— Porque sei de sua competência, e se alguém pode atuar mais livre é você. Conhece todo o nosso esquema. Falei para Spark que deveríamos ter chegado a você diretamente, mas sabe como “eles” tratam desses assuntos, quando diz respeito a alguém externo. Pedi uma boa compensação financeira para você e sua… sua companheira.
— Acha mesmo que um pagamento volumoso pode me comprar? Ora, Novak, sabe bem por que só entrarei nessa causa com a Proteção Mater para mim e para Blindwar. Principalmente ela, que é uma pessoa querida minha e não tem nada a ver com essa história.
— É algo difícil de conseguir. Você também sabe disso.
— Então não precisam de mim. Existem outros ex-agentes que adorariam essa compensação financeira de que falou. Sem a proteção da rainha, me seguirão o tempo que eu estiver aqui em Paris e me verão passar dias agradáveis com a minha namorada. Não moverei uma palha para ajudá-los. Voltarei para minha casa tranquilamente e sem o menor remorso.
Novak olhou a cidade iluminada, antes de responder.
— Você sabe que se tivermos que investigar ou procurar outro ex-agente para nos ajudar, não seguiremos mais você.
— Ótimo! Assim não me darão trabalho para me encobrir quando quiser ir ao banco, ou mesmo ir a uma casa de “Ménage” com a minha companheira.
Evernood sorriu de lado, debochada.
— Você é impossível e cabeça-dura!
— Não, Novak. Sou precavida. – Elizabeth encarou o ex-companheiro séria. – Estou garantindo a minha saúde física e sabe disso.
— Está bem. Tentarei com Spark que consiga a proteção da coroa. Falo sério, agora. Enquanto isso…
— … Enquanto isso aproveitarei muito a minha estada em Paris. – Evernood interrompeu a fala dele. — Amanhã passearemos pelos Jardins de Luxemburgo, almoçaremos em um café de lá e, à noite, iremos ao “Théâtre du Châtelet”, onde assistiremos “La Bohéme”. Está em cartaz e recomendo.
Ela o encarou, novamente, com o semblante endurecido e falou ríspida:
— Como disse antes, Novak, não moverei uma palha. Estou dando meu itinerário, para que seus agentes não tenham muito trabalho, mas entenda uma coisa: se algo acontecer a mim ou a Margareth Blindwar, a vida da Agência será um inferno. Tenha certeza disso! Só estou pedindo paz. Nada mais além disso.
O olhar de Evernood fez com que Novak recuasse, instintivamente. Ele a conhecia bem, para saber que a promessa que fizera era séria. Sempre soube que manteve contatos importantes durante a guerra e, certamente, naquela escapada dos olhos de seus agentes, os havia acionado.
— Vamos nos acalmar, Beth!
— Eu estou calma, só não brinque comigo, Novak. Sabia onde estava se metendo, quando veio me pedir para ajudar. Spark também me conhece. O nosso trato continua o mesmo. Me deixem em paz e eu os deixo em paz. Simples assim. Se quiserem me acionar para isso, terá que ser nos meus termos.
O agente inspirou fundo. A Agência encontraria resistência por parte dela. Era previsto. Só não contavam que ela pedisse um preço tão alto.
— Spark está ciente de seu pedido. Aguarde, então, e aproveite sua estada aqui. Verei o que a Agência consegue.
— Ótimo! Agora acredito que tenha entendido meus termos. Minha única decepção foi saber que você não me conhecia o suficiente para entender que não me comprariam com dinheiro.
— Acredite, Beth, eu sabia. – Ele sorriu. – A Agência é que ainda se ilude.
Gargalhou e saiu em direção ao elevador.
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Evernood chegou no quarto e assim que entrou, Blindwar se jogou nos braços dela.
— Deus! Você demorou! Novak esteve aqui e fiz como combinamos e…
— …Calma, meu amor. Estive com Novak. Ele me abordou, assim que cheguei ao hotel.
Evernood respondia sorrindo. Abraçou-a forte.
Amo demais você! Se algo acontecer, não vou me perdoar.
Os pensamentos de Evernood voavam, imaginando que ela tinha que se centrar em seu objetivo. Se calculasse mal algum movimento, em relação à Agência, Blindwar poderia ser um efeito colateral naquela conspiração. Se condenaria pelo resto da vida, ou mesmo no além túmulo.
Olhou para as cortinas e estavam abertas. Um detalhe extremamente importante para aquela interação delas. Se Novak não tivesse retirado seus amigos agentes da observação delas, certamente a visão que teriam, seria o arroubo preocupado da sua amante. Gostou de saber que Margareth havia compreendido o quão era importante a imagem que passavam para eles.
— E aí? O que ele falou?
Evernood, ainda abraçada à namorada, beijou-lhe profundamente, antes de responder. Sentiu o corpo de Margareth relaxar em seus braços e isto lhe deu confiança.
— Balelas. Ele falou balelas e ainda não atendeu meu pedido. Precisarei ir à lavanderia do hotel, recuperar o que deixei lá, antes de entrar pela porta principal. O que entende sobre armas, Meg?
— Muita coisa, e você nem imagina, Beth… Foi comprar armas?
— Muitas, além de outras coisas. Aceita andar armada por Paris, minha cara detetive de polícia?
— Tenho me sentido nua sem a minha. O que acha, minha espiã predileta?
— Conhece mais alguma espiã, além de mim, senhorita Blindwar?
— Não sei se vou responder a essa pergunta. Se você me inserir na sua empreitada, digo a verdade, se não, ficará sem saber.
Margareth fez a namorada sorrir. Elizabeth começava a respirar mais tranquilamente.
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— Merda, Meg! Não queria te colocar nisso!
Margareth, ainda se acostumava com a arma colt 45 automática, que Elizabeth deu à ela. Logo depois do café da manhã, esgueiraram-se por corredores, disfarçaram na loja de souvenires do hotel e quando Evernood viu que despistaram os agentes que as vigiavam, por fim, escaparam.
Estavam na lavanderia do hotel, pegando o pequeno arsenal que Evernood havia comprado e escondido lá, quando pessoas armadas entraram atirando nelas.
— Cala a boca, Beth. Atira, que quero sair viva daqui. Depois pede desculpas!
— Acho que a gente não vai mais poder desfrutar da nossa suíte presidencial no hotel…
Evernood falava enquanto atirava, atingiu um dos homens que caiu bloqueando a saída.
— Que ótimo! Agora teremos que pular um cadáver se quisermos sair daqui!
Margareth falou, acertando precisamente outro homem que caiu sobre o corpo do anterior.
— E agora você aumentou o obstáculo, Meg. Não reclama de mim.
As balas passavam pela cabeça das duas, porém estavam muito bem protegidas por uma parede em um lado e as secadoras do outro. O problema era que estavam acuadas em um canto.
— Espero que tenha muita munição nessa sacola que viemos pegar, pois não temos saída.
— Temos muita munição, Meg, mas não vou gastar com esses imbecis. Se prepara para correr e lembre-se de pular aqueles dois idiotas na frente da porta!
Assim que Elizabeth falou, retirou uma granada de mão da bolsa que pegaram na lavanderia. Margareth arregalou os olhos.
Ela é maluca ou o quê?
Antes de responder ao próprio pensamento, tapou os ouvidos vendo a granada ser jogada pela namorada. Mesmo assim, escutou um enorme estrondo que a desnorteou e a ensurdeceu por um tempo. Foi puxada pela mão e, num relance, viu outra granada na outra mão de Evernood.
— Vai destruir o hotel todo?
Elas corriam em direção à saída.
— Você disse que queria sair viva daqui. Só estou realizando seu desejo.
Chegaram à porta e Evernood deu meia parada para observar o corredor.
— Amadores…
Ela falou, quando viu que não havia mais ninguém no corredor.
— Componha-se. Esconda a arma e se acalme. Sairemos caminhando normalmente daqui, Meg.
— Estou calma. Não consegue ver?
A resposta de Margareth vinha carregada de ironia, o que fez Evernood expressar irritação. A ex-espiã trançou seu braço no de Blindwar para orientá-la, enquanto caminhavam.
Controlava a velocidade dos passos da namorada e, quando alguém passava, atarantado com os sons dos tiros e explosão, afastavam-se do caminho dos empregados aturdidos e dos policiais. Todos estavam correndo alarmados, em polvorosa; era impossível distinguir quem era habitué do hotel, quem era funcionário, ou mesmo quem havia participado daquele tiroteio. Conseguiram sair do hotel pela área de serviço, despistando os olhares assustados dos passantes, diante de tanta balbúrdia.
Chegaram à rua principal.
— E agora?
Margareth perguntou, deixando que Elizabeth a conduzisse.
— Entre aqui.
Evernood retirou uma chave do bolso e abriu uma porta de um sobrado, praticamente ao lado do hotel. Entraram e subiram as escadas que as levaram diretamente à uma porta de ferro. A ex-espiã abriu três trancas e, finalmente, estavam em um apartamento. Elizabeth largou no chão a pesada sacola que levava, voltando-se para a porta, trancando-a.
Finalmente relaxou, largando os ombros e suspirando.
— Pode me dizer se sabe o que aconteceu? Sei que falei que estaria com você nisso, mas poderia, pelo menos, me atualizar para não ser pega de surpresa?!
Margareth pediu. Estava estarrecida.
— Posso te atualizar, mas, primeiro, deixe-me ver o local.
Evernood vasculhou todo o apartamento. Não havia ninguém mais, além delas. Retornou para a sala e respondeu à pergunta de Elizabeth.
— Mataram Vincent pelo “não sei o quê”. A Agência me contatou, pelo “não sei o quê”. E quem matou Vincent veio atrás de mim, “pelo não sei o quê”, também. Está bom para você?
Evernood desabou no sofá da sala. Blindwar conseguia ver agora, o quanto a namorada estava desgastada. Se aproximou e se sentou em frente.
— Está me dizendo que aquelas pessoas que estavam atirando em nós não eram da Agência? Presumi que, com a sua pressão para a Proteção Mater, tivesse ocorrido um efeito contrário.
Elizabeth a olhou, desolada. Não queria que Margareth fosse levada ao seu passado daquela forma.
— Acredite-me, Meg. Se fosse a Agência, não agiriam de forma tão estúpida. Gostaria demais de colocar a culpa neles, mas agora posso acreditar que Novak não me queira morta.
— E não sabe o porquê disso tudo?
— Sinceramente, não.
Evernood se levantou e se sentou no chão, aos pés de Margareth, fitando-a abatida.
— Meg, queria essa viagem para nos conhecermos melhor e desfrutarmos. Não imaginava que nada disso pudesse acontecer. – Ela parou por segundos e completou. – O que me deixa profundamente irada com o que aconteceu. – Seu semblante endureceu. – Alguém vai pagar por isso. Tenha certeza.
Margareth a contemplou com um olhar amoroso e abarcou o rosto dela com suas mãos, fazendo um carinho suave.
— Eu acredito em você, Beth… – Parou de súbito. – O que não quer dizer que não esteja aborrecida. – Seu rosto ficou carrancudo. – Estou chateada por não ter confiado em mim antes.
— Acreditaria em mim se dissesse que contaria nessa viagem?
Elizabeth fez uma cara de mulher frágil, batendo os cílios ininterruptamente. Margareth não aguentou com a troça e riu.
— Não. Não acredito. Tem que fazer melhor. – A detetive de polícia ria. – O que me faz lembrar algo: esse é seu esconderijo? Justamente ao lado do hotel?
— Ah, minha cara Meg. Isso foi o que consegui com meu contato ontem; e devo dizer que ele foi profético.
Elizabeth se levantou e foi até a cortina da sacada. Observou um pouco e retornou. As sirenes da polícia, das ambulâncias e até dos bombeiros tocavam do lado de fora. Evernood se voltou para a namorada.
— Nos ensinam, na Agência, a conseguir abrigos longe das tocaias. Antoir fez o contrário. Me deu esse apartamento ao lado.
— Acredito que ele tenha razão. Se ensinam isso na Agência, não nos procurarão por perto. O que não quer dizer que esse tal de Antoir seja de confiança, Beth.
— Ele é quem mais de confiança posso ter nesse momento…
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Virava e mexia, Evernood chegava até a cortina da sacada para observar a rua. Abria o mínimo possível e lentamente, para que nenhum movimento que fizesse despertasse olhos atentos do lado de fora.
— Está tudo calmo. A polícia já foi embora e deve haver alguma repercussão nos jornais de amanhã, mas conhecendo a rede de espionagem, certamente encobrirão.
— Dirão que foi uma caldeira que explodiu na lavanderia.
Ao escutar Margareth, Elizabeth se voltou para ela intrigada.
— Não me olhe assim, Beth. Nos três anos que estive sob a orientação do cretino do Stain, vi acontecer, por duas vezes, coisas que o nosso departamento minimizou, mas que não me convenceram. Não sou uma desorientada ou burra que não percebe nada e nem uma espiã da sua antiga Agência, se é o que está pensando.
— Desculpa. É o hábito de me atinar para os detalhes do que alguém fala.
— Em qualquer outro momento me ofenderia, mas agora entendo a sua preocupação. – Margareth se levantou do sofá. – E agora? O que faremos? Você é a especialista aqui e, sinceramente, essa gente está me irritando, porque queria usufruir Paris durante todos os dias de dispensa do departamento. Quero apreciar ainda a minha viagem e esse pessoal do mal está me impedindo.
Elizabeth riu, aproximando-se e abraçando a namorada. Abarcou-lhe a cintura, estreitando seus corpos.
— Agora veremos o que Antoir deixou para nós aqui. Exploraremos esse refúgio, pois só sairemos daqui há dois dias.
— Por que dois dias?
— Porque amanhã ainda terão agentes circulando nas encolhas, tanto da Agência, quanto de quem quis nos matar. Temos que descobrir o que meu contato deixou para nós nesse apartamento e ficar fora de circulação por mais tempo do que “eles” acham que eu ficaria.
— As cortinas ficarão fechadas?
— Sim. Supostamente é um apartamento que está à venda há bastante tempo, ou então, um espólio de família, ou outra coisa qualquer. Não importa o que Antoir arrumou, pois se vierem aqui, teremos que sair o mais rápido possível. Por isso disse que temos que explorá-lo, para ver o que deixou de orientação para nós.
Margareth simplesmente arrebatou os lábios da ex-espiã, com fúria, deixando Evernood sem fôlego.
Separaram-se e se fitaram.
— O que foi isso?
Elizabeth perguntou atordoada.
— Isso foi o estado em que me deixou, com essa agitação toda de espionagem, tiros e tudo mais. Com as cortinas fechadas, espero que dê um jeito na minha situação, sem interrupções…
Blindwar beijou a namorada com ardor, outra vez, mas Evernood a afastou delicadamente. Embora gostasse dessa nova face fogosa de Margareth, depois da primeira noite de amor, não podia se distrair.
— Não podemos nos distrair, Meg. Infelizmente nossos dias tranquilos só retornarão quando isso tudo acabar.
— Que merda! Agora eles me irritaram de verdade.
Evernood riu, vendo a detetive de polícia caminhar para explorar o apartamento. Pela expressão do rosto da namorada, Elizabeth sabia que havia sido uma troça. Certamente, Margareth estava nervosa e dissimuladamente gracejava para se acalmar.
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— O que temos aqui?
Margareth estava com um penhoar, andando pelo quarto em que dormiram, procurando orientações deixadas pelo contato de Evernood. Revezaram-se na vigilância, para que ambas pudessem descansar. Não sabiam após os dois dias, quando conseguiriam dormir novamente.
— Vejamos…
Elizabeth pegou o objeto estranho que Margareth havia encontrado sob um taco solto do piso do quarto. Estavam procurando, por todo o apartamento, algo que pudesse elucidar como sairiam daquele lugar e o que fariam logo a seguir. Após mais de duas horas, Margareth pisou em um taco solto próximo a cabeceira da cama.
— Parece uma lasca de madeira.
— É mais que isso. Procure algum portal… algo em que esse toco de madeira se encaixe, Meg.
Procuraram em diversos lugares, até que Elizabeth encontrou uma pequena reentrância no armário de cozinha, abaixo da pia.
— É só uma lasca. Não tem nada aqui.
— Uma lasca da cozinha não vai parar sob um taco do piso do quarto à toa, Meg. Pode apostar que há alguma coisa.
Elizabeth tentava encaixar a madeira e parou. Olhou Blindwar de pé ao lado dela. Observou a silhueta de seu corpo através do penhoar.
— Você está me desconcentrando, Meg.
Margareth reparou a si mesma e abriu o penhoar, mostrando seu corpo nu.
— Está me decepcionando, espiã. Não deveria se incomodar com isto.
— Estou começando a achar que a Agência terá mais trabalho com você do que comigo.
Evernood respondeu, mordendo o lábio e sorrindo irônica. Voltou ao seu foco e reparou no encaixe da peça. Realmente não havia nada lá.
— Deixe-me ver esse armário da pia por dentro.
Ela abriu e colocou a cabeça dentro do armário. Encontrou uma chave elétrica. Acionou.
— Nossa! Não sabia que uma luz detrás de uma parede brilharia tanto.
— Vê isso? Porque essa parede não é uma parede.
Quando Evernood acionou o interruptor, iluminou-se um marco de porta detrás de alguns ladrilhos da cozinha.
— Como abriremos isso? É certo que tem uma passagem aí.
Assim que Blindwar perguntou, Evernood se aproximou da parede iluminada e deu um tranco com o ombro. Ela se abriu.
— Se encostar somente, nada acontece.
— Entendi. Tem que agir como um viking alucinado.
A chacota da namorada fez com que Evernood estreitasse o olhar em direção à Margareth.
— Não me lembro de você ter achado que eu era um viking alucinado há algumas noites. Começo a crer que você anda em má companhia, ultimamente…
Elizabeth retrucou e riu de lado. Estava adorando.
— Ei! Vendo tudo isso aqui, presumo que seu amigo ache que estamos fodi… Estamos muito mal.
— Presumiu certo, Meg. Estamos fodidas mesmo. Pode falar com todas as letras, pois é exatamente isso.
Evernood e Margareth olhavam aturdidas, o grande arsenal que Antoir deixou para elas. A ex-espiã nem se importou em baixar o nível dos impropérios. Tudo mudaria e não podia mais ser tão delicada com a situação e nem mesmo com a própria namorada.
Vasculharam o arsenal que Antoir deixara e, depois de muito esforço, finalmente encontraram uma mensagem numa gravação de áudio em um fonógrafo. Era um equipamento de reprodução, bem menor do que aqueles que circulavam no mercado e ao qual Elizabeth já estava acostumada. Na guerra, muitos desses equipamentos foram estudados e adaptados para que servissem para a espionagem.
— Merda! Nossos inimigos de guerra não se conformaram. Estão caçando todos os agentes de países que levaram à derrota deles. Querem eliminar a base das Agência dos países aliados, principalmente os espiões da guerra.
— Por que está preocupada, Beth? Agora poderemos contar com a nossa Agência.
Elizabeth sorriu de lado e sem ânimo.
— Acha mesmo? Conhecendo-os, sei que deixariam isso de lado, num piscar de olhos, se estivessem matando somente ex-agentes. O fato é que Vincent estava na ativa. Começaram a pegar agentes de campo. O que eu não entendo é a razão disso tudo.
— Eliminar alguém que tem informações deles e não sabem quem é?
Margareth respondeu com uma pergunta.
— Talvez, Meg.
Evernood parou, por segundos, para pensar.
— Entretanto, não acredito. É uma ação muito grande para eliminar uma só pessoa. Investigariam até encontrá-lo e o eliminariam. Os recursos das Agências são enormes. Você nem acreditaria.
— Estou começando a ver onde nosso dinheiro foi para a guerra. Nunca imaginei que pudesse existir um fonógrafo tão pequeno… De qualquer forma, para matarem tantos agentes de outros países, teriam que investigar também, ou então, informações foram vazadas.
— Certamente. Há alguém como informante, um traidor; na nossa e nas outras Agências. Todos estão perdidos, exceto a Agência alemã.
— Isso quer dizer que não podemos confiar em ninguém mesmo, Beth. – Margareth divagou por segundos. – Seu amigo Novak também está dentro dessa desconfiança; sabe disso, não é?
— Quando disse que não poderíamos confiar na Inteligência, eu falava sério, Meg. Só não sabia que a situação era tão grave. Os alemães estão anos à nossa frente.
— Pelo visto, desde o final da guerra, Beth.
Nota 1: Acredito que todos já saibam que estou de luto pelo meu pai, mesmo assim me comprometo a continuar as postagens. É uma forma de também distrair a minha cabeça. Agradeço a tod@s que tem me transmitido palavras de carinho e sentimentos e venho me desculpar por não estar respondendo aos comentários, pois ainda não consigo ter ânimo para respondê-los da forma como merecem. Espero que não se chateiem e saibam que leio a todos e todos são um conforto para o meu coração nesta hora dolorida. Obrigada!
Nota 2: Nesse capítulo citei secadoras de roupa na lavanderia do hotel e pode haver o questionamento se existiam na época em que viviam. Considerando que o contexto é pós 1ª guerra mundial, posso afirmar que sim. As secadoras já existiam antes da 1ª guerra mundial, apenas não eram difundidas, principalmente em casas particulares. A julgar pelo local ser uma lavanderia de um hotel de luxo, tomei a liberdade de colocá-las em cena.
https://www.dicasecuriosidades.net/2019/02/a-historia-das-maquinas-de-lavar-roupa.html
Muito bom. Situação difícil das meninas. Muita emoção.
??
Obrigada, Carla! Valeu mesmo!
Um beijo!
Oi Carolina! Boa noite. Achei que não leria um texto seu tão cedo! Mas, como você mesma disse, escrever, para quem se expressa, se expõe e se acha através e por ela, é até necessário para conseguir continuar.
Continue, dentro do seu limite, visse!
Seus textos – já li alguns vários -, são muito, muito interessantes. Cada um bem diferente do outro, mas com algo em comum que é a boa escrita de uma boa história. Tô procurando mais. Onde encontro além daqui? Já tem livro? Como adquiri-lo?
Valeuzis, cuide-se, fique em casa, curta e viva o momento e escreva!
Neste momento, pra mim, seus textos são meio que um bálsamo. Aquietam-me deveras, visse!
Obrigada.
Oi, Bernardete! Tudo bem?
Primeiro quero agradecer o carinho e a força que vocês tod@s tem me dado.
Quanto as histórias, antes tinha em outros sites, mas eles saíram do ar. Hoje só posto aqui e no wattpad, mas lá está muito mais defasado. Aqui tem alguns contos, na coluna “Contos” e as histórias completas também pode verificar na coluna “Histórias Completas por Autora”, para ver se tem alguma que ainda não leu e interessa à você. 😉
Livro ainda não fiz, mas quem sabe esse ano não me animo e sai um.
Obrigado pelo carinho, Bernardete!
Um beijo!
Carol, querida amiga! Você nao precisa pedir desculpas, necessita de tempo e todas devemos ter a obrigacao de entender!! Se achar que deve escrever porque é uma forma de distrair, entao fico feliz que isso te faca bem, nos dias ou semanas q forem diferentes tb entenderemos!! Estaremos com vc em pensamentos!!
Te acho uma mulher fortíssima e o capítulo ficou incrível, fodástico mesmo! Tenho a impressao que será meu caso preferido! Dupla incrível essas duas e com certeza isso vai unir elas como unha e carne e dps as férias esperadas!Parecem Xena e Gab, pra onde vao, tem confusao! rs
Fique com Deus e que o tempo e doces palavras de pessoas queridas va amenizando sua dor e melhorando seu ânimo, meus melhores sentimentos pra vc!
Um abraco cheio de carinho!
Beijao
Ps: Adoro qndo coloca essas informacoes, explicando o q vc coloca no texto!
Oi, Lailicha, Tudo bem por aí?
Só vim deixar um beijão pra ti e sua esposa, ok!
Obrigadão pela força e carinho!
Beijo grande!
Obrigada por ainda estar nos proporcionando prazeres da leitura, mesmo passando por momentos difíceis! Força e paz hoje e sempre!
Oi, Meire!
Obrigada pelo carinho. Eu realmente estou tentando fazer com que minha cabeça fique focada em outras coisas.
Valeu pelo carinho e força.
Um beijão pra ti!
Pela sua situação emocional pensei que demoraria a ter outro capítulo logo, mas além do enredo estar impressionante, veio antes do que pensava. Te cuida menina, a gente espera com carinho. Bjs
Oi, Ione!
Então, tenho tentado me distrair ao máximo, mas a gente nunca consegue completamente. Entretanto, escrever me faz desanuviar um pouco. Às vezes não consigo focar na história, e tenho dificuldades, mas é também uma forma de forçar a minha mente a pensar em outras coisas.
Obrigadão pelo carinho.
Um beijão pra ti!
Mto bom…
To adorando o clima de espionagem e a interação entre elas.
Aguardando o próximo cap.
Bjs, Carol.
Obrigada, Nádia!
O próximo, agora já é o atual. rs Postei hoje.
Obrigadão, Nádia.
Um beijo carinhoso para você!