Capítulo 56
Cheguei ao aeroporto de Lisboa – aeroporto da Portela – exausta, pois quase não consegui pregar os olhos. Para minha sorte ele ficava somente a 7 km do centro da cidade. Fui direto para um hotel que eu já tinha entrado em contato para poder ficar alguns dias até conseguir um apartamento. Assim que cheguei, resolvi a parte burocrática, fui para o quarto, tomei um demorado banho, me joguei na cama e apaguei.
Dormi muito, mas muito mesmo, cerca de 12h ininterruptas. Mas, também, quando acordei tive a sensação que tinha um buraco negro em meu estômago. Sorri com essa constatação e fui em direção ao banheiro, tomei mais um banho, me vesti e desci para comer e tentar apreciar um pouco a cidade já que no trajeto do aeroporto ao hotel, nem prestei atenção tamanha era a minha exaustão.
Para uma historiadora, a cidade é simplesmente linda. Claro que existe modernidade, não posso negar, mas a base estrutural é muito antiga. De origem fenícia, Lisboa desenvolveu-se graças à sua atividade comercial. Tornou-se capital de Portugal no século XIII, seu comércio foi favorecido pelas grandes descobertas e pela criação do império colonial português. Em parte destruída pelo terremoto em 1755, foi reconstruída pelo Marquês de Pombal. Após a estagnação causada pela perda do Brasil, a cidade recobrou suas atividades no século XIX.
Passear por uma cidade como essa sendo uma historiadora, automaticamente lembrei das coisas que estudei durante todos os quatro anos da minha graduação e fiquei ainda mais empolgada para da início aos meus estudos ali.
Meu corpo sentiu o fuso horário, retornei para o hotel e resolvi ligar para meus pais informando que eu estava bem. Ouvi muitas reclamações porque eu havia ido para Lisboa sem me despedir direito e que já estavam loucos de saudades. Depois da bronca, me perguntaram como eu estava, se eu estava conseguindo me adaptar, enfim, toda aquela preocupação normal de pais.
Na terça-feira quando acordei ainda estava um pouco perdida com relação ao fuso horário, mas estava tentando me adaptar. Procurei informações com o pessoal do hotel sobre apartamentos para alugar, me deram várias dicas, liguei para alguns corretores e marquei encontro com quase todos. Meu dia seria corrido, mas eu estava relativamente feliz por isso, pois não ficaria tanto tempo pensando na Clara.
Depois de dois dias de intensa busca pelo apartamento que me agradasse, encontrei um com dois quartos, um deles eu transformaria em sala para meus estudos. Ele era todo pequenininho, mas a minha cara, um pouco maior do que o que eu morava em Salvador. Acertei toda a parte burocrática e fui fazer o que eu menos gostava: a decoração. Mais uma vez queria que a minha Clara estivesse comigo porque tenho certeza que ela iria adorar essa função.
Abri um pequeno e triste sorriso e fui fazer isso sozinha mesmo, não tinha outro jeito, eu que provoquei isso e tinha que arcar com as consequências: ficar sem a mulher que amo.
Passei o resto da semana nessa correria, primeiro fazia a limpeza do apartamento, depois ia comprando as coisas aos pouco, queria manter minha mente ocupada e só finalizei tudo no final da segunda semana.
No sábado e domingo, resolvi dar uma de turista e conhecer a cidade que eu moraria durante quatro anos, pelo menos, e fiquei encantada com tudo o que vi.
A cidade é equipada com diversas bibliotecas, e arquivos, nomeadamente o Arquivo Histórico Militar e o Arquivo Histórico Ultramarino entre outros, no entanto o que merece maior destaque, por ser um dos mais importantes arquivos do mundo, é o Torre do Tombo. Dentre os museus, o que fiquei mais encantada foi o Museu Nacional de Arte Antiga com uma das mais importantes coleções de pintura medieval do mundo. Apesar de existir mais de uma centena de parques e jardins, à primeira vista Lisboa não parece uma cidade muito “verde”, porém, existem milhares de pontos verdes espalhados pela capital. Um dos exemplos é a Avenida da Liberdade – antigo Passeio Público (em Salvador tem um com o mesmo nome. Onde fica o Teatro Vila Velha) –, onde se pode dizer que é um autêntico parque, porém com uma estrada no seu centro.
O núcleo histórico de Lisboa, divide-se basicamente em quatro bairros: Baixa, Alfama, Bairro Alto e Belém.
A Baixa Pombalina é o “coração” da capital. Foi edificada sobre as ruínas da antiga cidade de Lisboa, destruída pelo grande terremoto de 1755. A sua edificação obedeceu a um rigoroso plano urbanístico, segundo um modelo reticular de rua/quarteirão, e obedecendo à filosofia do barroco. A Baixa é também, ao mesmo tempo, a maior zona comercial da cidade de Lisboa. Ali se encontram inúmeros monumentos e edifícios importantes.
Alfama é um dos bairros mais típicos de Lisboa, típica cidade árabe com ruas estreitas, possui grandes tradições, entre as quais se destaca o Fado. Alfama foi dos poucos sítios de Lisboa, que sobreviveu ao Terremoto de Lisboa de 1755. É em Alfama que se encontram a maioria das casas de Fado, onde se pode desfrutar de vários espetáculos, com músicos ao vivo, e muito boa disposição. A diferença entre Alfama e o Bairro Alto, é que Alfama é uma zona muito mais calma.
O Bairro Alto é outro dos bairros típicos de Lisboa, que se situa mesmo no centro da cidade, a poente da baixa pombalina. É uma zona de comércio, entretenimento e habitacional. Atualmente, o Bairro Alto, é um lugar de “reunião” entre os jovens da cidade, e uma das principais zonas de divertimento noturno da capital – podemos comprar com o bairro do “Rio Vermelho” em Salvador. Neste bairro podem-se concentrar grupos de tribos urbanas, que possuem os seus lugares de reunião próprios. O Fado, ainda sobrevive nas noites do bairro. As pessoas que visitam o Bairro Alto durante a noite, são uma miscelânea de locais e de turistas.
Junto à zona ribeirinha do rio Tejo, encontra-se Belém. A sua principal atração turística é o Mosteiro dos Jerônimos, cuja construção começou em 1501, e demorou 70 anos a terminar. O mosteiro custou o equivalente a 70 kg de ouro por ano. A maior parte dos custos foi suportada pelo comércio de especiarias. O mosteiro é o melhor exemplo do denominado Estilo Manuelino, cuja inspiração provém das navegações da Era dos Descobrimentos, estando também associado ao estilo gótico e algumas influências renascentistas. Os restos mortais de Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas, repousam no Mosteiro, onde descansa também o grande descobridor português, Vasco da Gama.
Umas das coisas que pude observar e ficar muito, mas muito impressionada é que Lisboa é uma cidade com uma vibrante vida cultural, sendo considerada um dos grandes centros culturais europeus. Mais antiga do que Roma, epicentro dos descobrimentos e de um vasto império desde o século XV, a cidade habituou-se a ser o ponto de encontro das mais diversas culturas, o primeiro lugar em que Oriente, Índias, Áfricas e Américas se encontraram e descobriram. Mantendo estreitas ligações, sempre mais afetivas e culturais do que econômicas com as antigas colônias portuguesas e hoje países independentes, Lisboa é uma das cidades mais cosmopolitas da Europa. É possível, numa só viagem de metrô pela linha verde ouvir falar línguas como o cantonês – da China –, o crioulo cabo-verdiano, o gujarati – da Índia –, o ucraniano, o italiano ou o português com pronúncia moçambicana ou brasileira. E nenhuma delas falada por turistas, mas sim por habitantes da cidade.
A cultura de Lisboa é hoje, como sempre, a cultura da diversidade e da mistura. O eixo Alfama- Baixa/Chiado-Bairro Alto é palco para a cultura erudita como para a popular, para a cultura jovem como para a tradicional. Em qualquer noite lisboeta, mesmo a um dia de semana, a oferta é variada, a um jantar com fado ao vivo no Bairro Alto pode seguir-se um espetáculo de ópera no São Carlos, ou um concerto de rock no Coliseu dos Recreios. Pode continuar-se com um concerto da música eletrônica mais alternativa – de volta ao Bairro Alto – ou com uma viagem pelos muitos bares e danceterias do Bairro Alto ou de toda a zona ribeirinha da cidade, desde a “Expo” – Parque das Nações – até Belém.
Quando o Sol nasce é tempo de ver os milhares de turistas que enchem os monumentos e lugares históricos, como o castelo, o bairro típico de Alfama ou Belém.
Voltei para casa no início da noite no domingo. Adorei minhas caminhadas pela cidade, me deixou arrasada de cansaço, mas muito satisfeita porque tive ainda mais certeza que era realmente ali que eu tinha que dar continuidade aos meus estudos e projetos e mesmo que a Clara não estivesse comigo, colocaria meus sonhos e objetivos em prática. Quando eu retornasse ao Brasil, tentaria ver se eu ainda teria alguma chance com ela mesmo tendo sido tão covarde fugindo dela daquela forma.
Tomei meu banho, preparei um lanche e deitei na cama para assistir um pouco de TV, peguei o controle com a mão esquerda e vi que ainda usava aliança. Automaticamente lembrei-me do dia que comecei a usar e, consequentemente, da briga com a Regina. Mais uma vez estava tudo correndo tão bem, de uma forma tão perfeita e aquela imbecil da minha sogra conseguiu estragar mais uma vez. Peguei meu notebook, abri meu e-mail e vi que tinha várias mensagens da Clara, eu vi todas elas durante as duas semanas que eu estava em Portugal, mas não tive coragem de lê-las, lia as outras, mas as dela eu deixava lá, bem quietinha. Abri a primeira, provavelmente era alguma bronca:
“Por que você fez isso com a gente?”
Respirei fundo, fui para a segunda:
“Você vai terminar esses dez meses assim?”
Não consegui ler as demais, coloquei o notebook de lado e liguei para minha mãe para saber como estavam as coisas e se eu tivesse um pouco de sorte, ela poderia me dar alguma informação da Clara, mas a única coisa que consegui arrancar da minha mãe eu já tinha certeza: a mulher que amo estava muito chateada comigo pela forma que fiz tudo isso. Se arrependimento matasse, eu com toda a certeza eu estaria mortinha só de imaginar a carinha triste e decePCionada da mulher que me fez tão feliz. Encerrei a ligação e fiquei pensando na burrada que eu fiz: não resisti, disquei o número da casa da Clara, chamou diversas vezes até cair na secretária eletrônica, não deixei recado, desliguei.
Resolvi ligar para a minha amiga, também chamou várias vezes, quando eu ia desistir ela atendeu:
-Alô!
-Ocupada?
-Quem é?
-Não reconhece mais minha voz? – sorri.
-Falando assim só pode ser a minha amiga ingrata – riu.
-Não fala assim comigo, amiga! Não estou bem, sei que fiz burrada.
-E pelo visto está muito arrependida.
-Você não imagina o quanto. Queria ter me despedido de vocês direito, queria que a Clara estivesse aqui comigo – disse melancólica.
-Eu estava com ela mais cedo, ela também não está nada bem com isso.
-É, eu sei. Ela mandou e-mails para mim e só consegui ler os dois primeiros.
-Desde quando você virou essa covarde? Você não tinha medo de nada, enfrentava tudo que viesse pela frente e logo agora que vocês precisam mais uma da outra você foge? Eu quero minha amiga de volta, não gosto desta.
Suspirei:
-Nem eu estou entendendo minha atitude. Sabe, aqui é perfeito para o que eu queria, estou adorando essa cidade, mas parece que sempre falta algo, não consigo dar aquele sorriso tão característico meu, tudo me faz lembrar a Clara, ela está me fazendo mais falta do que nunca.
-É porque agora está caindo sua ficha que tem um enorme oceano entre as duas.
-É, pode ser por isso. Você pode fazer um favor para mim? Sempre que você puder, manda notícias dela por email, mesmo que ela esteja com outra pessoa um dia, quero sempre saber se ela está bem.
-Pode deixar, amiga, mas não vou te contar quando ela arranjar outra pessoa. Não quero que você sofra ainda mais.
-Tudo bem – suspirei.
-E você já saiu do hotel? Arranjou um lugar descende para morar?
-Já sim e não foi difícil, acho que no terceiro dia eu já tinha assinado o contrato e os outros dias fiquei me virando para comprar os móveis, mudei para cá logo na sexta-feira da semana passada e ontem e hoje resolvi fazer um tour pela cidade – sorri.
-Que coisa boa, amiga. Mas, me diz, já mandou postais para mim?
-Claro! Mandei na semana passada, deve chegar amanhã ou na terça-feira. Mandei umas fotos que tirei aqui também de uns lugares super legais, acho que você vai gostar.
-E você já foi a Universidade?
-Deixei para fazer isso quando organizasse minha vida aqui, vou amanhã. Bom, deixa eu desligar, amiga. Vou ligar para Dani agora. Beijo.
-Beijo, Duda. Cuide-se.
Encerrei a ligação com um misto de tristeza, alegria, saudade. É… Aquela chata com toda certeza iria me fazer muita falta.
-Grandona! – sorri.
-Viadinho! Pensei que não ia me ligar.
-Você acha que ia deixar minha irmãzona sem notícias minhas?
-Demorou para fazer isso, hein? – riu.
-É, mas aqui estou.
-Me conta como estão as coisas por aí.
Resumi para ela como foram os meus dias, falei da cidade que eu estava encantada, da universidade que eu iria no dia seguinte, mas já tinha ido dar uma olhada, da saudade que estava sentindo dos meus amigos, da minha terrinha e é claro que da Clara também.
-Você sabe que a magoou muito, não sabe?
-Sei e me arrependo muito por isso – respondi num fio de voz.
-Ela não podia te ligar porque não tinha seu número já que você deixou o celular aqui, resolveu enviar e-mails, mas você não respondeu nenhum.
-Só tive coragem para ler hoje.
-E respondeu?
-Não. Li os dois primeiros e depois resolvi ligar para minha mãe, depois arranjei coragem e liguei para a Clara, chamou até cair na secretária, não liguei para seu celular, liguei para a Rafa e agora para você.
-Ela está na casa do pai, não ligue para lá, mas envie algum e-mail para ela como prova do seu arrependimento. Dependendo do que escreva, ela vai responder algo e você terá certeza se vocês voltarão ou não.
-Prometo que vou tentar. – sorri – e como estão as coisas? Cadê a Cris?
-Está tudo na mais perfeita ordem e ela está aqui na cama me esperando.
-Tá bom, vai lá se divertir com a sua namorada, próximo fim de semana eu te ligo, mas qualquer coisa é só mandar e-mail também, beijo.
-Tá bom, viadinho. Estou com saudades – riu – beijo.
Mais uma vez encerrei a ligação com um misto de sentimentos, coloquei o telefone na base e peguei o notebook novamente, resolvi mandar meu orgulho para a casa do caralho e tentar fazer com que a Clara pelo menos me desculpasse, nosso retorno seria uma outra coisa a se pensar e fazer.
“Desculpe-me, Te amo”
Anexado ao email, enviei a música no Nando Reis “Por onde andei”:
“Desculpe estou um pouco atrasado/ Mas espero que ainda dê tempo/ De dizer que andei errado e eu entendo/ As suas queixas tão justificáveis/ E a falta que eu fiz nessa semana/ Coisas que pareceriam óbvias até pr’uma criança/ Por onde andei enquanto você me procurava/ Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava/ Amor eu sinto a sua falta/ E a falta é a morte da esperança/ Como um dia que roubaram seu carro/ Deixou uma lembrança/ Que a vida é mesmo coisa muito frágil/ Uma bobagem uma irrelevância/ Diante da eternidade do amor de quem se ama/ Por onde andei enquanto você me procurava/ E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada/ E o que eu deixei algumas roupas penduradas/ Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava/ Amor eu sinto a sua falta/ E a falta é a morte da esperança/ Como um dia que roubaram seu carro/ Deixou uma lembrança/ Que a vida é mesmo coisa muito frágil/ Uma bobagem uma irrelevância/ Diante da eternidade do amor de quem se ama/ Por onde andei enquanto você me procurava/ E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada/ E o que eu deixei algumas roupas penduradas/ Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava/ Por onde andei enquanto você me procurava/ E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada/ E o que eu deixei algumas roupas penduradas/ Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava”.
Na música e no email eram as únicas coisas que eu podia e conseguia falar para a Clara. Enviei, desliguei o notebook e acabei dormindo logo em seguida por conta do cansaço.
Na segunda-feira logo pela manhã fui na Universidade resolver minha vida por lá e lá eu fui para a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, uma das três públicas existentes na cidade. Resolvi todas as pendências e ficaram de me avisar através de e-mail e correspondência quando eu teria que me apresentar para as aulas. Como eu antecipei minha viagem, eu tinha certeza que demoraria um pouco para isso acontecer.
Fui almoçar em um restaurante próximo de onde eu morava, ali eu enxerguei um problema para mim: os portugueses exageram no tempero e isso eu não gosto, mas tinha uma coisa ou outra que eu conseguia comer, pedi para diminuir a quantidade de condimentos em minha porção e com meu jeitinho baiano consegui convencê-los.
Acabei fazendo amizade com os donos do estabelecimento: um casal tradicional de Lisboa: branquinhos, gordinhos, muito bem humorados, receptivos e que faziam questão que eu ficasse ali conversando, brincando com eles. Contaram-me várias histórias da localidade e eu anotando tudo, foram conversas muito construtivas e divertidas. Quando eu estava saindo do restaurante – depois de terem insistido muito para que eu ficasse mais um pouco sendo que já estava anoitecendo com esse “mais um pouco” deles – uma de suas filhas chegou para seu turno de trabalho, eles tinham quatro filhos no total e somente dois que os ajudavam no restaurante:
-Duda, venha conhecer uma de nossas filhas.
Assim que bati o olho nela, percebi que era gay, não pelo jeito de vestir ou algo parecido, mas pelo olhar que lançou em minha direção, fiquei desconcertada, cumprimentei-a, conversamos um pouco – tive mais certeza de sua sexualidade – e logo depois consegui ir embora. A Aninha tinha uma ótima conversa, super inteligente, linda, mas eu não queria nada com ninguém que não fosse a minha Clara. Falando nela, assim que cheguei em casa, liguei meu notebook para ver se tinha alguma resposta dela sobre meu e-mail:
“Por que você acha que deve ser desculpada?”
Sem pensar duas vezes, cliquei em responder:
“Porque eu te amo e cada dia que passo aqui eu percebo que não consigo mais viver sem você ao meu lado; sem seus carinhos, sem seus cuidados, sem seus beijos, sem seu cheiro, sem seu amor. Sei que o que fiz foi horrível, não deveria ter fugido, mas fiquei insegura e acabei sendo covarde, uma imbecil, mas essa imbecil aqui te ama, Clara. Ainda uso nossa aliança na esperança de um dia enfim vivermos juntas sem nada e nem ninguém para nos atrapalhar”.
Anexei a musica “Eu não quero brigar mais não” do Frejat, canção que virou marca das nossas reconciliações.
A semana passou sem muitas novidades. Troquei mais alguns e-mails com a Clara, ela estava dura com as palavras – e tinha razão para tal. Eu estava a todo custo tentando convencê-la a voltar com nosso namoro, aliás, casamento, e a ir para Portugal, mas acho que ela precisava me dizer algumas coisas para eu começar a ver alguma fenda no escudo que ela entrou depois que eu fui embora.
Todos os dias eu ia almoçar com o seu José e dona Marta e a filha deles aparecia no restaurante cada dia mais cedo e eu fazia questão de mostrar-lhe discretamente a minha aliança. Ela sorria e continuava a se insinuar para mim. Saí de lá um pouco mais cedo do que o costume na sexta-feira, fui dar uma volta pela cidade, ouvi um pouco de música, bebi umas duas taças de vinho e voltei para casa por volta das 22h. Tomei meu banho e me joguei na cama, bateu uma enorme saudade da Clara, resolvi enviar um SMS para ela:
“Você me ensinou várias coisas, menos a viver sem ti. Me perdoa, por favor! Eu te amo e essa saudade está me matando”.
Enviei, deixei meu celular na cômoda ao lado da cama e acabei dormindo logo em seguida. Acordei com a campainha sendo tocada insistentemente, olhei meu relógio: 02h47min da madrugada, levantei, peguei meu roupão que estava no banheiro – já que eu estava nua, para variar, e apesar do frio começar a fazer, mas tinha várias cobertas em cima de mim na cama – e fui ver quem era. Eu estava com tanto sono que nem consegui olhar no olho mágico, abri já com a bronca na ponta da língua.
-O que está fazendo aqui?
-Não se faça de tola que sei que não é – respondeu sorrindo e entrando no apartamento.
-Isso não são horas para fazer visitas – disse sem fechar a porta e muito menos soltar a fechadura.
-Já disse que você não é tola. Você sabe que não vim te visitar – avançou sobre mim.
-Aninha, não faça isso – segurei seu braço com força.
-Vai me rejeitar? – sorriu presunçosa.
-Você já começou de maneira errada, Aninha. Só gosto de vulgaridade na minha cama e não quando tentam conquistar a ida para ela.
-Está me chamando de puta?
-Não disse isso, mas se a carapuça lhe coube, aproveite e volte para casa.
-E se eu não quiser ir? – passou os braços ao redor do meu pescoço.
-Já é um problema seu. Aqui você não fica nem por consideração que tenho por seus pais – tirei seus braços do meu pescoço e fui empurrando-a para o lado de fora do apartamento.
-Se você me rejeitar, não olhe mais na minha cara.
-Sinto muito, então você terá que deixar de ir cedo para o restaurante dos seus pais, pois você não vai mais querer me ver – fui fechando a porta.
-Essa é a sua última chance, Eduarda.
Fechei a porta por completo e voltei para o meu quarto já tirando o roupão e jogando em qualquer lugar para tentar dormir. Quando eu pegava no sono, escutei novamente a campainha do meu apartamento. Tentei continuar na cama, mas a insistência me irritou. De novo, vesti meu roupão e já abri a porta com a bronca pronta para ser dada a Aninha.