Capítulo 48
Clara sorriu, me entregou a mochila dela, coloquei cada uma em um ombro e ela levou os capacetes. Entramos no elevador em silêncio, lembrei de quando engessei meu joelho pela primeira vez e no dia que fui tirar, ao retornar quase fizemos amor ali com várias pessoas dentro do mesmo, a provoquei muito, lembrei da carinha de desespero que ela fez quando queria gemer, soltar os gritinhos que tanto me excitam e não podia. Sorri com essa lembrança:
-O que foi? – Clara me indagou.
-Nada demais. Só lembrando algumas coisas – sorri.
Assim que entramos em seu apartamento, várias outras lembranças maravilhosas vieram em minha mente. Lembrei de tantas coisas que fizemos que era capaz de enumerar detalhadamente:
-Onde coloco sua mochila?
-Deixa lá no quarto. Você sabe o caminho – sorriu – bebe alguma coisa?
-Não, na realidade acabei de lembrar que só comi uma maçã depois daquele café da manhã quando retornamos da praia. Preciso comer alguma coisa – ri.
-Como sempre, né? Então vou pedir uma pizza para nós duas.
-Não, meu organismo pede por comida. Eu posso fazer alguma coisa, uma macarronada, sei lá… O que acha?
-Uma macarronada agora não seria nada mal.
-Vamos?
-Claro.
-Vou deixar sua mochila no quarto e já volto.
Caminhei em direção ao quarto da Clara e assim que entrei, mais outras várias lembranças vieram em minha mente, bateu uma saudade imensa dali, do que vivemos, das nossas longas conversas que tínhamos trocando carinho depois de horas fazendo amor.
Balancei a cabeça para tentar etar minhas lembranças, coloquei sua mochila em cima da cômoda que tinha em seu quarto e saí logo em seguida. Entrei na cozinha e a Clara já tinha colocado a água para ferver, aproveitei para fazer logo o molho e fritar a carne do sol que nós duas tanto gostamos. Depois de tudo pronto, comemos, limpamos nossa bagunça, aí sim começamos a beber o vinho oferecido assim que cheguei.
Estávamos na sala sentadas no chão encostadas no sofá, uma ao lado da outra falando banalidades. Enfim depois que terminamos o namoro, conseguimos engrenar algumas conversas que não fosse sobre a ONG e nem sobre a Regina. Algum tempo depois a Clara apoiou a cabeça em meu ombro:
-Por que logo quando estava tudo bem entre a gente, quando resolvemos casar e morar em Portugal, acontecem tantas coisas para não tornarmos isso uma realidade? Parece que tudo está contra nós duas.
A Clara não sabia sobre a história de Aurélia e eu não estava nem um pouco disposta a contar-lhe naquele momento. Estávamos num clima tão gostoso que eu não queria falar sobre um assunto tão delicado, fiz um carinho em seu rosto:
-Talvez ainda não estivéssemos prontas para enfrentar problemas tão sérios juntas. Se estivéssemos já casadas, provavelmente nos separaríamos no primeiro conflito.
-E você acha que já estamos? – ela levantou o rosto para poder me fitar.
-Assim que você resolver esse que estamos enfrentando.
Ela suspirou e voltou a apoiar a cabeça em meu ombro, fiquei passando o dedo na borda da minha taça pensando no que ela havia me dito.
Realmente logo quando estávamos tão bem aconteceram coisas que só fizeram nos separar. Se formos levar em conta a história de Aurélia, realmente ela estava se empenhando bastante para eu e a Clara não ficarmos juntas. Suspirei também, não queria ficar pensando nisso, o clima que estávamos não permitia.
-Você vai mesmo embora daqui há duas semanas?
-Vou sim – respondi quase num sussurro.
-Não há nada o que eu possa fazer para impedir?
-Não – olhei para ela e a Clara sustentou meu olhar – a única coisa que você pode fazer por nós duas é ir comigo e esquecer que a Regina existe, não precisa brigar com ela, só tente esquecê-la.
-Não sei se posso esquecê-la, mas eu quero ir com você.
-Infelizmente você tem que escolher.
-Tem que ser agora? – esboçou um pequeno sorriso.
-Você tem exatamente duas semanas.
-E enquanto isso, o que fazemos? – perguntou se aproximando ainda mais de mim.
Sorri já sabendo de suas intenções, segurei sua nuca com uma das mãos e fiquei acariciando, a Clara estava totalmente entregue já com os olhos fechados e a boca entreaberta esperando pelo beijo. Puxei-a e encostei meus lábios aos seus, fiquei observando sua reação. Ela soltou um pequeno gemido. Pedi permissão com a ponta da língua para poder explorar sua boca, o que foi prontamente atendido. Eu fechei meus olhos e me entreguei aquele momento.
Ficamos nos curtindo somente com beijos e carinhos, parávamos para beber mais um pouco, para nos olharmos, mas voltávamos a nos beijar. Não tínhamos pressa, queríamos era ficar ali nos namorando e perdemos mais uma vez a noção do tempo, quando percebi já passava das 2h da madrugada:
-É melhor eu ir embora.
-Não, Du… Fica… Aqui está tão bom.
Percebi que suas intenções eram as mesmas que as minhas, não estávamos pensando em sexo, ali não tinha espaço para isso e gostei dessa constatação:
-Tem certeza? – fiz um carinho em seu rosto
-Tenho – sorriu.
Ficamos mais algum tempo nos curtindo:
-Precisamos dormir, linda. Amanhã temos muito trabalho.
-Tudo bem, já está me dispensando, não é? – fingiu seriedade.
-Não, se eu pudesse amanheceria o dia aqui assim contigo, mas precisamos descansar porque o dia será cheio – disse carinhosamente.
-Tudo bem, tudo bem… Convenceu-me – sorriu.
-Eu preciso de um banho.
-Pode ir que eu levo sua roupa.
-Mas, na mochila não tem roupa limpa.
-Aqui ainda tem roupas suas.
Dei mais um beijo na Clara e segui para o banheiro, quando terminei meu banho, vi que ela tinha deixado uma calcinha e uma camiseta para mim em cima da cama. Ela sabia que eu gostava de dormir com o mínimo de roupas possíveis e naquele momento aquela estava perfeita, sorri e a vi indo tomar seu banho. Vesti-me e fiquei a esperando na sala sentada no sofá, deitei e fechei os olhos. Acho que acabei pegando no sono levemente. Senti os inconfundíveis lábios da Clara sobre os meus. Ainda de olhos fechados, a puxei para deitar sobre mim:
-Achei que quisesse dormir.
-Posso esperar mais um pouco.
Sorri e voltei a beijá-la, estava adorando essa nossa nova fase. Desde o dia que nos conhecemos, estava acontecendo tudo muito rápido: como ela chegou a mim, nosso primeiro beijo, a primeira vez que fizemos amor, nos apresentamos as nossas famílias, aos nossos amigos rapidamente.
Vivíamos quase um casamento, só não tínhamos residência fixa, nos revezávamos entre nossos apartamentos. Agora que resolvemos apenas nos curtir, depois de ter acontecido tantas coisas e de estarmos correndo o risco do nosso relacionamento finalizar definitivamente dali a duas semanas, depois de ter nos machucado tanto uma com a outra. Desde o início, foi tudo muito louco o que vivemos, mas não me arrependo de nada, a única coisa que queria mudar é que eu não queria que meu pai tivesse conhecido a Regina, tenho certeza que muita coisa não teria acontecido.
-Vamos para a cama – falou entre os beijos.
-Não acho uma boa ideia.
-Não se preocupe que não vou te tarar – sorriu – nós não estamos em clima para isso. Só quero namorar mais um pouco você enquanto não dormimos. Ou você acha que vai dormir no outro quarto?
Não disse nada, aliás, não havia nada a ser dito. Voltei a beijá-la carinhosamente, ela tentava parar, mas não conseguia porque nenhuma de nós duas queríamos que aquele momento terminasse. Algum tempo depois enfim conseguimos ir para o quarto: eu deitei de barriga para cima e a Clara de frente para mim com uma das pernas em cima da minha.
Continuamos a conversar e namorar até que adormecemos sem ao menos uma tentativa de sexo das duas partes.
Na manhã seguinte quando acordei, a Clara já havia levantado. Escutei o barulho do chuveiro, fiquei ali lembrando o nosso fim de semana que estávamos brigadas, de repente voltamos às boas e ainda ficamos uma manhã inteira fazendo amor, logo em seguida brigamos mais uma vez, depois dormi, quando acordei discutimos mais um pouco e depois, ainda na casa de praia da Dani, voltamos a nos beijar carinhosamente e acabamos passando a noite da mesma forma, nos curtindo, nos namorando.
Uma coisa que não fizemos desde quando nos conhecemos. Claro que rolava muito carinho entre a gente, mas não passamos por essa parte de só rolar beijos, abraços, carinho. Sem intenção de sexo. lógico que eu queria, mas não da forma que estava acontecendo. Não queria na manhã seguinte me arrepender do que fiz, queria que dessa vez fosse uma entrega total, sem nossos problemas para nos atrapalhar assim que voltássemos à realidade. Eu poderia até continuar daquela forma com a Clara, mas nada de sexo, só faria isso se ela decidisse ficar comigo ao invés da Regina.
Senti beijos em minhas costas e cabelo molhado, gemi com o gostoso contato, mas continuei de olhos fechados. Clara foi subindo até minha nuca provocando arrepios por toda a extensão do meu corpo. Ela, definitivamente, sabia onde e como me provocar:
-Acorda, dorminhoca – sussurrou em meu ouvido.
-Não tem como continuar dormindo com você em cima de mim me provocando – sorri.
-Está ruim? – disse no mesmo tom de antes.
-Está bom até demais. Assim não vou conseguir me controlar.
-E pra que esse controle? – mordeu levemente a ponta da minha orelha.
A Clara sentou em minha bunda, começou a levantar minha blusa e eu me deixei levar, não conseguia mais resistir. Voltava a beijar a extensão das minhas costas e parava em minha nuca, descia pelo mesmo caminho tirando minha calcinha. Aproveitei esse momento e virei de frente para ela puxando-a para ficar sobre meu corpo, tirei a toalha que a cobria, eu já não conseguia pensar em mais nada, como a minha racionalidade já tinha ido dar uma volta e pelo visto demoraria a retornar.
Nossos beijos estavam exigentes demais, nossas mãos estavam ousadas demais. Inverti a posição dos nossos corpos, passei a beijar seu pescoço, quando desci para seus seios, repentinamente escutei o meu celular tocando. A princípio não dei ouvidos a ele, mas consegui resgatar um pouco de racionalidade.
Parei o que estava fazendo, olhei para a Clara e me levantei para atender a ligação, era a Bruna querendo saber que horas eu chagaria no escritório porque ela precisava tirar algumas dúvidas sobre as instalações da ONG já que fiquei de ir ver isso pela manhã. Confirmei que chegaria lá logo depois do almoço. Encerrei a ligação e olhei para a Clara, estava estampada em sua face a decepção. Fui tomar meu banho e quando saí do banheiro, a minha ex namorada já estava quase pronta para sair. Vesti-me com mais uma roupa que eu ainda tinha em sua casa, saímos do apartamento sem nada falar e o mesmo continuou no elevador. Quando ela destravou o carro, entrei junto com ela:
-Você vai se atrasar ainda mais – disse sem me olhar.
-Foi bom esse celular ter tocado – me virei para ela.
-Concordo, acho que nós não damos mais certo como namoradas.
-Não, não é isso. Deixa de falar besteira e me escuta.
-Sou toda ouvidos – disse ironicamente olhando em minha direção.
-Eu queria isso tanto quanto você, mas não queria me arrepender quando a sensação do gozo passasse. Eu quero muito voltar com você, mas não com a Regina entre a gente. Adorei nossa noite, foi realmente maravilhoso ficar somente com beijos e carinho. Mais uma vez você foi perfeita insistindo para que eu ficasse e não insistindo para fazermos amor apesar de querermos e muito.
-Mas, estava indo tudo tão bem. Eu tinha certeza que voltaríamos.
-Clara, eu vou embora dentro de duas semanas. Se voltarmos, quero que você vá comigo e eu já lhe disse diversas vezes, isso está se tornando chato, repetitivo. Não quero que você tenha nenhum contato com a Regina. Adorei nossa noite, mas isso não significa que voltamos. Isso só vai acontecer quando me disser que essa mulher nunca mais terá noticias nossas.
-Você tem certeza disso?
-Tenho sim – fiz um carinho em seu rosto – eu te amo, Clara. Quero você comigo em Portugal.
Clara fechou os olhos se entregando ao carinho, ao momento. Aproximei meus lábios aos seus e a beijei doce e carinhosamente. Ficamos alguns minutos naquele contato, me afastei vagarosamente:
-Nos vemos mais tarde na reunião – falei quase num sussurro.
Ela não respondeu, só balançou a cabeça concordando, dei mais um suave beijo em seus lábios e saí do carro.