Capa: Tattah Nascimento
Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer
Texto: Carolina Bivard
Capítulo 38 – Saindo de fininho
A comandante começou a olhar o depósito. Não pretendia ser pega novamente. Foi até a parede mais próxima, caminhando ao longo dela e tateando algumas áreas. Encontrou uma pequena placa de vedação.
– Achei você!
Voltou a circular pelo ambiente, na tentativa de achar algo para abrir a placa.
– Tem que ter alguma coisa. Que depósito não tem estante de ferramentas?
Foi para o outro lado, caminhando pelos corredores que eram formados pelas enormes caixas empilhadas. Viu a estante numa parede oposta.
– Ainda bem que a República não gosta de mudanças…
Pegou uma pequena maleta e retornou. Retirou algumas ferramentas da maleta e, antes de começar a abrir a pequena placa de vedação, acionou o comunicador auricular para verificar o que Helga falava. Desta forma, saberia em que pé as coisas estariam. Não poderia ficar com o canal aberto o tempo todo, correndo o risco de ser detectado pela área de comunicação do QG, mas queria se situar. Helga falava com alguém sobre sua condição de tempos atrás, porém se referia a si própria como “ela passou por isso”. Falava na terceira pessoa, dando a entender que contava a história da Olaf Helga e não sua própria história. Eles viam à sua frente a assistente de Aditi e não a Olaf. Bridget escutou até que Helga falou o nome dos homens com quem conversava. “Embaixador Hedweges e consul Geoffrey…” Os homens pareciam interessados na conversa, entretanto a comandante desligou o comunicador, logo a seguir, para a comunicação não ser rastreada.
Conseguiu retirar a placa de vedação que mostrava um pequeno painel. Colocou o dedo no display e uma porta, com pouco menos de um metro e meio, se abriu para alívio dela. Não sabia se a República tinha mudado alguma norma interna de segurança. Normalmente, oficiais tinham acesso a todas as áreas mais simples, contudo poderiam ter modificado esta diretriz. Agradeceu mentalmente por ter feito a digital polarizada da oficial Lucy. A máscara polarizada nos dedos com a digital da Major era muito bem-vinda, afinal.
– Benditos dutos de manutenção. Uma pena que não tem uma passagem para o hangar. Seria tão mais fácil…
Vedou novamente a placa e entrou curvada através da porta, com a maleta na mão. Assim que passou, pode ficar de pé, deixando a caixa de ferramentas no chão do corredor. Os dutos de manutenção da estação faziam conexão com várias áreas e eram grandes e apropriados para caminhar, pois tinham que permitir que técnicos trabalhassem com conforto. Colocou o dedo no painel do lado de dentro, fechando a porta. Olhou o corredor com precisão para verificar os tipos de tubos, painéis de identificação e maquinário que havia naquela ala, para se orientar e decidir a direção que tomaria.
– Muito bem, vamos nos divertir!
Seguiu o corredor da esquerda.
***
– Ainda não conseguiu se conectar, Decrux?
– Eles ficaram inativos muito tempo, Kara. Provavelmente os attochips só retornarão, quando Brid acionar o emulador.
– Ative os comunicadores, então.
– É perigoso. A República mantém uma vigilância constante nos sinais de comunicação que entram e saem de lá de dentro, quando acontecem reuniões com os planetas da Liga. Eles redobram a segurança.
– Temos que saber se elas estão bem. Não há outro jeito!
– Tudo bem, mas só conseguiremos com o de Helga, que está aberto, pois Bridget deixa o dela desligado, para não permitir um sinal constante.
– E não é perigoso Helga manter o dela aberto?
– Não, porque ele não transmite nenhum sinal até que sincronize. Coloquei um captador no de Brid para ativar, quando Helga quiser falar com ela. Porém, está emparelhado apenas com o da Olaf. Já o dela Helga> está emparelhado com ela e conosco. Tentarei emitir uma flutuação, para parecer interferência de fragmentos minerais de nebulosas, assim diminui o risco de pegarem a transmissão, no entanto não é seguro.
– Então, vamos lá!
– Preste bastante atenção, porque deixarei apenas cinco segundos aberto. Não podemos arriscar.
– Está dizendo que não acredita, Embaixador?
Helga perguntava compassadamente e o embaixador, demorou a responde-la.
– Digo, apenas…”
– Merda! Não dá pra saber o que tá acontecendo.
– Pelas palavras, Kara, a probabilidade é que Helga esteja enfrentando dificuldades no convencimento.
****
Bridget chegou até uma porta e parou em frente. Leu a identificação. Setor de carga alimentícia da área “iota”. Estendeu a mão e parou pouco antes de posicionar o dedo no painel.
– Se tiver algum idiota circulando por aqui, tô ferrada!
Aprumou-se e calcou o dedo no local, abrindo a porta. Com cuidado, colocou parcialmente a cabeça para o lado de fora. Não havia ninguém na área. Antes de sair, colocou novamente o dedo para fechar a porta pelo lado de dentro e quando ela começou a fechar, jogou-se através da abertura. Com o impulso, caiu no chão, rolando. Levantou-se, eando a sujeira do uniforme e passando a mão no ombro que batera com força no chão. Tinha que chegar até o outro lado do setor de carga, onde conseguiria entrar na parte de evacuação de emergência e, assim, acessar a porta que a levaria para a rota de fuga dos principais alojamentos e setores importantes do governo. Este era o único ponto de todo o QG no qual eles se conectavam, visto que ambos tinham saídas para o hangar.
– “É Phil… Vocês acham que quem se forma no comando, são tolos de acreditar que nossos corredores de fuga sairiam exclusivos no hangar? Imagina se todos os setores tivessem um escape exclusivo? Seria uma mão de obra danada para a engenharia se fizessem desse jeito. Para sua desgraça, eu nunca acreditei nisso e fui uma oficial muito curiosa”.
Falou baixo, para si mesma, mas quando se afastou alguns metros na direção que almejava, escutou uma voz atrás de si e parou de imediato.
– O que está fazendo nessa área?
A comandante colocou a mão na coronha da pistola, apertando e se virou devagar. Olhou bem o homem. Tinha um traje de atendente do bar “Habitare”. A fisionomia dele não era desconhecida para ela. “Deuses! Kim envelheceu cem anos”.
– Qual é, Kim?! Queria apenas ficar sozinha um pouco. Não seja chato.
– Eu conheço você?
Bridget apontou a sua identificação no uniforme.
– Major Lucy Warren. – Meneou a cabeça. – Bom, não me admira que não me reconheça. Não sou de falar muito, mas o “Habitare” costuma ser meu lar, quando brigo com meu marido.
– Não importa. Por favor, volte para lá, porque essa área só é permitida para empregados dos restaurantes, bares e o pessoal de carga e descarga.
– Droga! Nem aqui consigo paz! Não posso voltar pra casa, porque briguei com ele. Não posso ficar no bar, porque logo vem um babaca pra me atazanar, e agora que achei um lugar para pensar, também não posso ficar.
Enquanto falava, Bridget se virava e caminhava em direção saída. Kim a acompanhava, logo atrás. Chegaram à porta que dava para a parte dos fundos do bar e o atendente, que também era o dono do local, a acompanhou até o salão. Ela se sentou no balcão permanecendo de costas para as mesas espalhadas no ambiente, de forma que nenhum amigo da tal major a reconhecesse.
“Merda! Como vou voltar para lá?”
– Então faça uma coisa por mim, Kim, me sirva uma dose de whisky com gelo.
O homem pegou um copo, colocou a bebida e gelo. Não tirava os olhos da mulher e Bridget sabia que ele desconfiava de algo. Tentou mudar o trejeito e o tom de voz, o máximo que pôde. Baixou a cabeça, olhando a bebida à sua frente. “Droga, Kim. Você é um pé no saco!”
– Não fique assim. Seu marido deve estar com a mesma angústia que você.
Bridget tomou um gole da bebida, sem responder nada. Kim não era um homem de muita conversa e certamente queria saber quem era ela. Bebeu o restante do conteúdo de uma só vez.
– Ei! Calma! Se quer tanto um lugar para pensar, não vou lhe impedir, mas não abuse. Alguns minutos não farão mal, eu acho. Pode ir.
– Você me acompanharia? Da primeira vez, tive que me esconder de algumas pessoas para ir até lá. Não queria me esgueirar novamente.
Ele a olhou pensativo e por fim, bufou enfadado.
– Está certo, mas não me encrenque, moça! Venha!
Saiu detrás do balcão do bar e deixou que ela o acompanhasse para a parte dos fundos. Atravessaram a cozinha até chegar a porta de carga e descarga do estabelecimento. Ele se virou para ela.
– Pode ir.
Gesticulou com a mão, indicando a passagem.
“Está fácil demais, Kim. Uma velha raposa como você não amoleceu em tão pouco tempo.” Antes mesmo de atravessar a porta, Bridget se voltou, segurando o braço do homem, torcendo-o nas costas e tapando a boca com a outra mão.
– Não me force, Kim. Não acontecerá nada com você, se me acompanhar na boa. Vamos bater um papinho.
Pegou a pistola e forçou nas costelas do dono do bar.
– Vamos para aquele quarto que você tem aqui nos fundos. Vou destapar sua boca, mas se gritar, vai para o chão na mesma hora.
– Como sabe… Espere aí! Eu conheço essa voz.
– Cala a boca, Kim. Você nunca foi tagarela.
Chegaram ao quarto e Bridget o soltou, trancando a porta, entretanto mantinha a arma na direção do homem.
– Brid, é você? Está maluca de vir aqui? A República toda está lhe caçando e estão com milhões de seguranças por conta dessa tal reunião!
– Você é um velho muito metido. Tinha que me abordar?
– O que pretende fazer, sua louca?!
– No exato momento que me pegou eu pretendia sair daqui, e você atrapalhou minha fuga. Só vim colher algumas informações. Armaram para mim e quero limpar meu nome.
– Quando soltaram o alerta, achei que você tinha enlouquecido. Dizem que você atacou uma estação-laboratório, matou cientistas e roubou informações para vender para Ugor, na galáxia de Leda.
– E você acreditou nisso?
– Eu não sei o que pensar, Brid. Quando vinha aqui, parecia sempre incomodada e revoltada.
– Não a ponto de fazer uma loucura dessas e você me conhece bem. Os putos não armaram só para mim. Eu sou um peão nessa história toda.
– Do que está falando?
– Estou falando de Phil e dos planos da corja dele. Queriam invadir o sistema solar de Ugor para aumentar o espaço delimitado e souberam que Cursaz também estava articulando para fazer o mesmo. Me enganaram para eu fazer um serviço sujo para eles e depois me eliminariam, só que escapei da armadilha.
– Eles já decidiram essa invasão. Essa reunião, pelo que o pessoal da segurança falou, está marcada há muito tempo.
– Não decidiram, não. Tem um montão de planetas da Liga que não gosta da ideia.
Kim parou de falar, pensando no que a amiga dizia. Coçou a cabeça, atrás da orelha, balançando-a com um semblante cínico.
– Entendo. Eles só queriam assegurar que todos concordassem. Falei para Vera e Wolfgan, da última vez que estiveram aqui, que tudo me soava muito mal. Vera tirou o marido e o filho do QG. Tem uma parte dos oficiais que não fala abertamente, mas também não concorda. O presidente da República está dividido e a bancada de ministérios também.
– Não acredite que estão divididos por acharem ruim conquistar outros planetas e expandir. Estão divididos, pois pode ser uma guerra sangrenta e fazer com que planetas de exploração, se levantem contra a República. Esses planetas poderão passar uma fase de instabilidade econômica e seus filhos é que morrerão na frente de batalha.
– O que fará?
– Com relação a guerra, não farei nada. Não tenho esse poder. Só quero livrar minha cara, Kim e, nesse momento, sair do QG sem que me peguem.
– Eu ajudo você. Mas cara, por que não me procurou? Sabe que lhe ajudaria! Desconfiou de mim?
– Não é nada disso, velho rabugento! Eu estou muito encrencada e se descobrem quem me ajudou, essa pessoa tá ferrada.
– Até parece que não me conhece. Desde quando tenho medo desses idiotas? Eu não faria nada diferente das coisas que fiz quando estava na ativa.
– Está bem! Não vou discutir isso agora. Tenho que sair rápido daqui. Vigie a entrada para a área de carga.
– Então, vamos lá, “dona encrenca”!
Bridget saiu acompanhada do amigo, que ficou ao lado da porta, para impedir caso alguém quisesse passar por ali. A comandante foi até o local onde sabia existir uma suposta área de contaminação. Ficou de frente para um símbolo, que indicava radiação. Digitou um código de segurança, que fora dado a ela quando se tornou comandante da frota. Torcia para que não tivessem trocado, já que era um código de emergência apenas para o alto comando e para essa área específica. Nunca havia sido usado em qualquer época e não constava nos protocolos. A porta se abriu. “Deuses! Obrigada por serem tão egoístas e não partilharem com os subalternos. Nem mesmo o pessoal da manutenção conhece isso aqui.” Entrou e a porta se fechou.
***
As portas do grande salão da assembleia estavam fechadas e Helga estava sentada na plateia, assim como todos os assistentes das delegaçãos. Faltavam dois votos e o penúltimo apareceu no painel. Mais um voto contra a invasão e o burburinho começou no ambiente. Qualquer voto, naquele momento, poderia ser contestado. O pleito estava empatado e a diferença de um voto apenas, dava o direito do lado perdedor entrar com pedido de revisão, atrasando a decisão.
Ela se levantou, misturando-se a algumas pessoas que permaneceram de pé, já que não havia tantos lugares na plateia. Chegou até a porta, abriu e saiu. Não se despediria da delegação de Béris. Helga não via com bons olhos este empate. Saiu e caminhou direto para o elevador. Assim que ele chegou, esperou que todos saíssem e apertou o botão do hangar. Não pararia em lugar nenhum. Tinha que chegar a nave auxiliar o quanto antes. Acionou o comunicador.
– Helga para Bridget.
– Na escuta.
– Estou a caminho do ponto marcado.
– Entendido e desligo.
A porta do elevador abriu e ela se viu de frente para o agente alfandegário. Dirigiu-se a ele.
– Preciso ir até a minha nave.
– Ninguém pode sair do QG, senhora.
– Não disse que iria sair do QG, cadete. Vou até a minha nave falar com meu médico. Não estou bem.
– São ordens, senhora.
– Exatamente quais foram suas ordens?
– Não posso deixar nenhuma nave sair.
– O que quer dizer que pode deixar qualquer pessoa ir para sua própria nave. Acha que pilotaria aquela nave – apontou para a nave Béris – de encontro a um portão fechado com aquela estrutura? – Apontou o enorme portão do hangar. – Suas ordens são para não deixar naves saírem, e não impedir que eu vá até meu médico. Por favor, escaneie minha íris e me libere. Sou cardiopata e se morrer na sua frente, não acredito que seu superior gostará disso.
O cadete titubeou e, por fim, pegou o identificador e escaneou a íris da mulher à sua frente.
– Pode passar, senhora.
– Obrigada.
Helga andou rumo à passarela rolante e entrou na linha três que levava diretamente até a nave. Saiu da passarela antes de chegar ao final, descendo por uma escada lateral. Teria que circundar a nave e chegar até onde a nave auxiliar estava acoplada. Foi segurada por trás e alguém lhe tapou a boca.
Nota: Que o ano de 2018 seja tudo que vocês esperam e muitas alegrias estejam presentes em tod@s os dias!>
Um abraço grande e forte a tod@s!>
Aff Carol que aflição, espero que Helga fique bem ?.
Já falei que amo a Brid né ??.
Ansiosa pelo próximo capítulo, bjinhos!
Oi, Marcela!
Então, veremos o que ocorreu com Helga amanhã! Postarei o capítulo da semana amanhã. rs Desculpe-me o atraso, mas na próxima semana ele volta ao normal!
Obrigadão, Marcela e beijão para você!
Feliz 2018, Carol! Obrigada pela oportunidade de ajudar!
Louça pela continuação! Suspense total!
Abraços!
Oi, Naty!
Eu que agradeço a ajuda e foi ótima!Quando estiver apertada, posso contar contigo novamente? rs Sou abusada e peço mesmo! rsrs
Essa semana está um pouco atrasado o capítulo, pois resolvi revê-lo para ajustes, mas amanhã ele sai e na semana que vem, volta ao normal, ok?!
Beijão e Feliz 2018!
Ainda bem que Brid teve ajuda e quem será que pegou Helga?
Feliz ano novo, de novo e tudo em dobro do q desejou pra vc
Beijos
Oi, Lailicha!
Então, o cap desta semana atrasou um pouco, mas amanhã ele sai e aí saberemos quem pegou a Helga. Semana que vem, deve sair normal na terça-feira. rsrs
Obrigadão, Lai!
Beijão para você!