O Coração de Freya

Capítulo – 36  – Uma engenheira sádica – Parte II

Capa: Tattah Nascimento

Revisão: Isie Lobo e Nefer

Texto: Carolina Bivard


 

Capítulo – 36  – Uma engenheira sádica – Parte II

 

Kara olhou ao redor. Pegou um anel em cima de uma bancada, observando os detalhes.

– Hidra, tenho uma ideia do que seja isto, mas me confirme. É um estrangulador de pênis?

– Sim, mas na verdade ele pode estrangular outras partes, também.

– Especifique.

– Ele é ajustável. Se colocar em um dedo, ou até mesmo no saco escrotal, ele estrangula. Só não serve para o pescoço e braços que é aquele outro um pouco maior. – A androide apontou para o outro objeto.

– Entendo. Comece com o saco escrotal.

– Você não aguentará ver. – Andros provocou.

– Eu, talvez não. Mas não esqueça que já dei a minha ordem para Hidra.

A androide pegou o anel e o prendeu, começou o processo de estrangulamento. O suor brotou nas têmporas de Andros, enquanto ele tentava segurar o urro de dor. Por fim, não resistiu soltando o berro.

Kara se aproximou, encarando-o de perto.

– Quando achar que pode ser sincero comigo, é só dizer. – Voltou-se para a androide. – Confio nas suas habilidades. Pode utilizar o que achar interessante, mas lembre-se, quero-o consciente.

Andros berrava e a androide pegou um objeto cilíndrico. Ele olhou para o artefato e gritou.

– Eu falo o que quiser, mas não deixe que ela use isso em mim!

Kara observou o pavor nos olhos dele e elevou uma sobrancelha. Reparou com apuro o objeto e não achava que fosse tão nocivo.

– Afrouxe o anel. Deixe que fale. – Ordenou. – Isso foi fácil demais. O que é isso, Hidra? Não consegui identificar. – Perguntou se referindo ao cilindro.

– É um plug de expansão. É introduzido na vagina, anus ou boca e quando acionado ele vai expandindo gradativamente.

Kara sorriu, levemente.

– Por que o pavor, Andros? Nunca utilizou um desses?

– Não! Nunca usei.

A voz saia arfante e tentava se recompor da dor que o estrangulador havia provocado. O suor o banhava.

– Se me permite, senhora, ele está mentindo. Utilizou em mim da última vez. Expandiu até que avariasse meu sistema.

Kara o fitou, espremendo os olhos durante algum tempo e virou a cabeça de lado, pensando. A androide ameaçava introduzir o objeto. As pernas atadas na cadeira, afastadas uma da outra, deixavam a região genital do mercenário exposta.

– O que está fazendo? Não pode deixar que ela faça isso comigo! – Berrou.

Kara tinha a mão apoiada no ombro de Hidra e apertou, levemente. Este havia sido o código que tinha “setado” nos parâmetros da robô para que cessasse qualquer investida. Algo bem sutil para que Andros não percebesse.

– Você não me dá escolha. Mesmo algo que lhe pergunto, sem qualquer importância, você mente. Como confiar nas informações que quero que me fale, de verdade?

– Usei em uma androide, não usei em nenhuma pessoa real!

Ele respondia sem deixar de olhar para o objeto. A androide permanecia parada, segurando próximo ao ânus dele.

– Eu não perguntei se utilizara em uma pessoa real e sim, se já havia usado. Isto significa qualquer tipo de uso; fosse em alguém, você, animal, androides ou outra coisa qualquer.

Voltou-se para Hidra, assentindo com a cabeça para que ela continuasse, levando a androide a tocar a extremidade do objeto no ânus do mercenário.

– Não! Me diz o que quer saber, por favor! Não mentirei!

Mais uma vez Kara apertou o ombro da robô, fazendo-a parar. Andros não compreendia a interação ou em como a Androide parecia saber os desejos de sua usuária.

– Veremos se ele está disposto a cooperar. – Falou para Hidra e, logo depois, voltou-se para o mercenário. – Qual foi a última vez que teve contato com algum oficial da República?

– Há cinco dias.

Respondeu sem titubear.

“Ele contou a verdade, Kara”.

Decrux que acompanhava tudo através do comunicador, falou e foi escutado apenas pela engenheira, que mantinha um ponto de escuta em seu ouvido.

– Boa resposta, Andros. Agora estamos nos entendendo. Quem foi o oficial?

– O tenente Dagnar.

Mentira. Ele falou com Dagnar, mas logo em seguida, entrou em contato com Phil. Não resgatei a conversa com Dagnar, pois tinha pouco tempo e não podia ficar habilitada no sistema da República para não nos rastrearem. – Novamente Decrux prestou informações para Kara.

Kara estalou a língua, meneando a cabeça negativamente.

– O que falamos sobre mentiras, Andros. O tenente Dagnar não foi o último oficial com quem falou. Continue, Hidra.

A androide encostou o objeto e pressionou no ânus. O plug expansor começou a resvalar para dentro, levando o mercenário a berrar a resposta.

– General Phil! General Phil! Faz ela parar!

Gritou, rápido, para que a estranha mulher que o torturava mandasse a androide parar. Lágrimas desciam pelos olhos. Kara, mais uma vez, fez Hidra parar.

– Onde mantem os arquivos das conversas que tem com Phil? Em sua nave?

– Não. Eu faço backup das conversas e guardo num cofre público.

– Tem apenas arquivos de conversas, ou existem outras provas como filmagem de encontros e ordens de pagamento?

-Foi Phil que enviou você, não foi? Agora que tem o que quer, vai me queimar, não é?

Kara sorriu cínica, mas não respondeu. Gostou da conclusão que o mercenário havia chegado. Ele pensar que havia sido Phil a enviá-la era ótimo para elas.

– Ele fará o mesmo com você! – Gritou em desespero, sabendo que seu fim estava próximo. – Acha que deixará você solta por aí?

– Deixe-me atualizar você, Andros. Como você mesmo disse, não sabe quem sou e muito menos Phil. Acha que apareceria de cara limpa? Não sou tão burra quanto você. Me contratam, faço meu serviço, recebo por conta intermediária e ninguém sabe quem eu sou. Mas não se desespere. Não vim matar você e sairá vivo, dessa, se me der os arquivos. Digamos que sou muito boa no que faço, mas não sou assassina. É bem verdade, que para conseguir o que busco, pode haver alguns acidentes de percurso.

– Você quer me enganar. Depois que eu falar tudo, vai me matar.

– Eu seria ingênua se fizesse isso. Imagina se mato você, chego no local e não encontro nada. Você sairá dessa estação comigo e só terá sua liberdade, quando eu estiver com tudo. Escute, bem, o que vou dizer: sou uma mulher de palavra, mas se trapacear, uma única vez, não serei tão condescendente. – Olhou para Hidra. – Vista-o.

Kara retirou uma cartucheira do bolso na parte de dentro da jaqueta. Pegou um pequeno tubo de injeção.

– O que é isso?

– Algo que você vai amar. A sensação dessa belezinha é muito boa. Pode apostar.

Aplicou a injeção no pescoço de Andros, antes de soltá-lo. Ele perdeu os sentidos.

– Vou desabilitá-la, Hidra. Quando sair, seu dono virá recolhê-la.

– Sim, senhora.

– Antes, me ajude a colocar essa máscara de polarização nele.

Kara retirou um dispositivo da cartucheira, aplicou um spray no rosto do mercenário, enquanto a androide espalhava com os dedos, a massa que se formava a partir do spray. A substância aderia progressivamente, tomando forma aos poucos, moldando um rosto diferente sobre a pele. A engenheira retirou um plate de identificação do próprio bolso. Vasculhou todos os bolsos das roupas de Andros, para encontrar o plate de identificação dele. Encontrou-o no bolso da jaqueta e o pegou, substituindo pelo que ela trouxera com a imagem que trocara do rosto do mercenário. Permaneceu observando, enquanto a estrutura de biomassa terminava de se aderir e compor um novo rosto na face embrutecida a sua frente.

– Está bem melhor, não acha, Hidra?

– Se acha que sim, então é senhora.

– Ele é asqueroso em todos os sentidos. – Respondeu sem dar muita importância. – Agora desabilitarei você.

Abriu o compartimento nas costas da androide, apagou a memória, resetando o sistema e desligou logo em seguida e retirou o chip de memória. Foi até o mercenário e desatou as correias que o prendiam.

– Quem é você?

Andros acordava e a voz saía pastosa. A droga que Kara aplicara, não o desacordaria por muito tempo. Ela se recompôs, assumindo uma postura preocupada.

– Não está me reconhecendo, meu amor? Sou Scarlet, sua namorada!

– Minha namorada?

– Sim, meu amor. Sou eu, Scarlet. Estávamos nos divertindo aqui e… bom, você sabe do que gostamos e sabe como é. Você acabou apagando.

– Eu… eu não lembro.

– Acho melhor levar você de volta para a nave. Está muito desorientado. Acho que exageramos. Lá tenho suporte médico.

– Minha cabeça dói. Meu saco dói…

– Então vamos. Já desabilitei a androide.

Kara segurou Andros pela cintura e caminhou com ele para fora do quarto e, daquela ala. Chegaram ao salão da “Cova do Mau”.

– Não precisa me segurar. Estou bem para andar.

– Tudo bem. – Virou-se para o barman, assim que chegaram ao bar. – Estamos liberando nosso quarto.

– Não saiam, preciso verificar a androide. Quem é ele? Não o vi aqui.

– É meu namorado. Encontrei-o pouco antes de entrar na ala, numa mesa de jogos e ele foi junto comigo para o quarto.

– Precisa pagar para usar o quarto com acompanhante.

– Quanto é?

– Vinte.

– Tome aqui. – Depositou o dinheiro no balcão. – Não se incomode com a androide. Deixarei o valor do caução.

Diante do valor que Kara deixou, o barman não se incomodou. Conseguiria comprar pelo menos dois androides, mesmo que aquele estivesse destruído. Meneou a cabeça para que os seguranças dessem passagem para os dois.

Kara saiu e Andros a acompanhava, mas estava incomodado por não lembrar de nada. Chegaram na alfândega e Kara estendeu o “plate” de identificação. O mercenário colocou a mão no bolso da jaqueta por impulso e pegou o dele. Não se lembrava de quem era, e se colocou entre a mulher e o display de identificação para que ela não visse seu nome. Sentia-se incomodado e desconfiado e, queria ter certeza de que a mulher era quem dizia. No entanto, parecia lhe conhecer bem, mas no íntimo, algo lhe dizia para ter cuidado, pois sua mente ainda estava turva. Não raciocinava claramente, deixando-se levar pela situação, dado o grau de intimidade que a tal de Scarlet demonstrou ter.

– Liberados.

Passaram pela alfandega e Kara se dirigia em direção ao condutor do gate de atracação da nave auxiliar.

– Não lembro meu nome.

– Isto me preocupa. Falei para você que asfixia erótica é perigoso, mas você nunca me escuta. Agora tenho que ver se tem alguma lesão nessa sua cabeça e repará-la. Eu gosto também, mas sinceramente Bob, a cada vez que fazemos, você pede para ir mais longe. Temos que parar com isso. Vivo lhe alertando.

– Esta é nossa nave? – Perguntou aturdido. – É uma nave auxiliar!

– Lógico que não, Bob. Esqueceu, também, que não atracamos com nossa nave principal? Entre logo, que já está me agoniando. Tenho que dar um jeito nessa sua memória. Não suportarei ter que contar tudo sobre quem você é. Senta na poltrona do co-piloto que eu levo a nave.

A mulher falava com tanta desenvoltura que o mercenário se sentiu seguro. Entrou e se alojou na poltrona. Kara pressurizou a porta e antes de sentar, aproximou-se por trás, devagar. Tentou aplicar uma nova injeção no pescoço do mercenário. Ele se debateu, tentando segurá-la, mas ela pegou a mão do homem, torcendo polegar, abrindo o punho dele, que tinha se aferrado em seu braço. Forçou a mão com a pistola de injeção, alcançando o pescoço e finalmente conseguiu aplicar a substancia, desacordando-o.

– Prontinho, Andros. Agora você só acorda na prisão de Decrux. Que alívio! Odiei fazer esse papel ridículo.

***

– Você foi muito bem, Kara.

Decrux falou, auxiliando a engenheira a empurrar a maca, com o corpo do mercenário, para a ala da prisão da nave.

– Não sabe o quanto me fez mal isso. Esse homem é nojento.

– Está sendo preconceituosa. Práticas de BDSM não estão ligadas a caráter. Existem culturas que praticam…

– Não estou falando de práticas de BDSM. Nessas culturas o cara não quer matar ou arrasar com a região genital de quem quer que seja. Estou falando do histórico todo dele. Mau caráter, sinais de psicopatia perversa, assassino, contrabandista.  Ele é todo errado.

– Ele pode voltar com lapsos de memória?

– Temos que esperar que acorde. Nenhuma dessas drogas que apliquei causam danos.  Ele demorará um tempo até lembrar de tudo. Acredito que conseguiremos os arquivos dele.

– Acha que coopera?

– Se não cooperar, umas boas doses de choque e umas porradas, resolvem. E isso não me deixará com traumas.

– Ficará com essa máscara polarizada?

– Não. Ela esquenta o rosto, mas vou colocar quando for interroga-lo. Na prisão não tem nada que identifique a nossa nave, ou tem?

– Tinha uma logo, mas eu retirei.

– Ok. Segunda etapa do nosso plano, então.

– Brid não gostará nada disso.

– Brid não está aqui e não disse que não poderíamos voltar. Apenas falou para pegarmos Andros e extrair as informações. Estamos fazendo isso. Não vou deixa-las sozinhas. Se algo der errado, estaremos por perto para ajudar.

– Existe uma coisa que não falei, pois percebi apenas quando você estava lá na estação. Quando saímos do setor do QG, percebi que não consegui manter a ligação com o emulador. Os attochips devem estar inativos.

– Por que isso? – Kara perguntou alarmada.

– Eu não sei. Talvez pela distância. Nunca fiz um emulador tão pequeno e, muito menos, que ficasse tão distante da base central que é a nave. Eles podem ter hibernado.

– Mais um motivo para retornarmos. Se elas precisarem fugir, não conseguirão fazer a dobra estática. Calcule para o planetoide. Voltaremos para lá e você tenta conectar.

– Certo.

****


Nota: Espero que gostem do presente! Feliz Natal para quem é de Natal e bom feriado, para quem não é! 



Notas:



O que achou deste história?

13 Respostas para Capítulo – 36  – Uma engenheira sádica – Parte II

  1. De queixo caído com a Kara, além de super inteligente é uma grande atriz. Quero ver a reação do povo quando descobrir tudo shuahsas

  2. Uhu, isso aí, Bi, lacrouuu!!
    Kara brocou e realmente ele ficou todo brocado kkkkkk. Adorei essa versão dela.. brinque sacana….
    Brid vai sentir é orgulho..Ela gosto de mulher forte , de fibra..sem bem q a outra era meiga,mas n sei como era, além disso…enfim! Será q Helga vai se surpreender ou n?Acho q n.. só Brid mesmo!! Rs

    Quero mais… ação ação.. próximo capítulo vai escrever como andam as meninas do outro lado???
    Que chegue assim que possível!!
    Feliz ano novo pra vc, sua marida e sua família,caso n nos vejamos antes disso…
    Beijão

    • Oi, Lailicha! Como foi de Natal?
      A Orelhinha está mostrando as garras, né lai?! rsrs Ela não é tão meiguinha assim. rsrs
      Sim, sim. A Brid gosta de mulher forte, com seus momentos de delicadeza. Acredito que vai amar essa atitude da Kara. rs
      A Helga conhece a Kara de outros tempos. Foram cunhadas, então… rsrs
      O próximo sai hoje e sim, terá as meninas do outro lado, mostrando o que estão fazendo. rsrs

      Um 2018 maravilhoso e cheio de luz e felicidade para você e a marida, também! rsrs
      Um beijo grandão e um abração, Lai!

  3. Wow, que presentaço esse capítulo, hahaha adorei como a orelhinha e Christian Grey de saia fez esse babaca ficar pianinho. Agora mais um problema ,armaria são muitas emoções.
    Parabéns Bivard, ta cada vez melhor .
    Feliz Natal pra você e sua família, Muita luz e paz ❤
    Xero bem grande .??

    • Oi, Flavinha!
      E não é? kkkk A orelhinha não é tão pacifica assim, tem seu lado negro! kkkkkk
      Veleu, Flavinha! As emoções só irão aumentar. rsrsr
      Um ano de 2018 com muita luz e alegrias para você e sua família!
      Um xêro e um beijo grande!

    • Oi, Naty!
      Valeu, menina!
      Hoje tem mais e se conseguir, ainda solto outro essa semana. Agora é corrida contra o tempo para a nave Decrux. rs
      Um ano de 2018 cheio de alegrias para você e família!
      Beijão!

  4. Oi Carol

    Menina quanto tempo que não comento. ? Mas voltei e amei o presentinho de natal viu?! ? Boas festas para você

    Abrs ?

    • Oi, Lins!
      Saudades de você aqui, menina! Que bom que pode retornar. Então, o outro capítulo sairá hoje e se der, (Não é promessa, pois tenho que terminar) soltarei mais um presente! rsrs
      Boas festas, Lins e um 2018 cheio de felicidades!
      Um beijo grande para você!

  5. Acho que quando Kara e Decrux contar para Brid e Helga sobre essas proezas para conseguir a confissão de Andros elas não vão acreditar…
    Será que quando Andros sair dessa vai ter aprendido a tratar melhor suas companheiras de quarto? Por mais que sejam androids,
    E por falar em Brid e Helga, como será que estão se saindo? E essa falta de contato com elas? Ai…

    Obrigada pelo presente, Carol!
    E feliz natal, caso seja de Natal, ?

    • Oi, Fabi!
      Como foi de festas?
      Acredito que Brid e Helga ficarão chocadas! rsrs
      A pergunta é: Será que Andros merece sair dessa? he he he
      Bom, Brid e Helga estão numa missão bem complicada e cuidado é pouco para o que estão fazendo, então… rs
      Obrigada, Fabi e um ano de 2018 maravilhoso para você e sua família!
      Beijo Grande!!!

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