O Coração de Freya

Capítulo 23 – A ex-namorada

Capa: Tattah Nascimento

Revisão: Isie Lobo e Nefer

Texto: Carolina Bivard


Capítulo 23 – A ex-namorada

Bridget falava, numa empatia dolorida. Tinha certeza que a Olaf só conversaria com Kara pelas suposições que levantaram e para proteger a ex-cunhada. Helga lançou um novo sorriso. Demonstrava gratidão pela tentativa de compreensão por parte dela.

– Vá chama-la. Tenho certeza que mais alguns remedinhos me acalmarão depois.

***

Bridget saiu do alojamento apressada. Passou pelos corredores vazios. Aquilo tudo parecia irreal. Sentia como se fosse um sonho ruim. Há poucos dias andava pelos corredores da nave, com muitos tripulantes circulando e conversando, descontraidamente. Tudo virara do avesso. Chegou a porta do centro médico e se aprumou. Comandou a abertura da porta e entrou.

– Kara, por favor! Venha até o alojamento de Helga.

Bridget deu um tom de alarme na voz, fazendo a freyniana parar a discussão que travava com a ugoriana.

– O que aconteceu, Brid?!

– É a Helga. Estava conversando com ela sobre… bem, sobre o que havia acontecido com ela quando estava em cativeiro e, de repente, ela começou a tremer e se sentir mal. Pediu para que lhe chamasse.

Kara se adiantou e a ugoriana fez menção de acompanhá-las. Bridget estancou no passo e se voltou para a cientista.

– Desculpa, Aloá, mas Helga pediu para que só Kara fosse. Não me pergunte por que. Eu estou apavorada com o que vi.

Kara voltou-se para a cientista.

– Dê andamento ao que discutimos. Não sabemos se o tempo de Decrux está curto e você sabe melhor sobre os protocolos do que eu. Assim não perderemos tempo. Eu tenho conhecimento sobre a fisiologia freyniana e acredito que não terei problemas em atender Helga.

Kara determinou, séria, e Aloá inclinou ligeiramente a cabeça em aceitação. A engenheira-médica ganhou o corredor apressada, juntamente com Bridget. No semblante, o ar pesado de preocupação era visível.

– Tem mais alguma coisa que possa me adiantar, antes de chegarmos lá?

– Não muito. Apenas que não pode perder o passo quando lhe falar. Continue andando, como se estivesse preocupada. – Respondeu num tom baixo. – Não tem nada de errado com Helga, mas precisamos, e muito, conversar com você a sós.

– Certo.

Kara baixou a cabeça e continuou caminhando. Ao chegarem no alojamento, Brid chamou Helga pelo comunicador e, logo a seguir, a porta se abriu. A estadista estava sentada numa pequena poltrona, segurando uma caneca com café fumegante. A porta se fechou assim que entraram.

-O que está acontecendo? Ontem parecia que vocês se matariam e hoje isso?

– Bem, quando sentamos para conversar, esclarecemos algumas coisas, mas o que importa é que começamos a especular outras, sobre toda essa situação, e até que se prove o contrário, teremos que agir com cautela e nos unir.

Algum tempo mais tarde, depois que Bridget e Helga contaram suas suposições, Kara se calou, levantando e andando pelo quarto. Por fim, falou:

– Estamos perto de salvar Decrux. Aloá trouxe equipamentos e conseguimos detectar o “vírus” que implantaram nos attochips. Estamos programando uma vacina. Uma coisa que Aloá deixou escapar, numa conversa informal, foi que Rodan nunca entregou os protocolos da programação de segurança de Decrux. Isso me intrigou na hora, mas vocês, levantando essa suspeita, me faz pensar que ele não queria dar isso a ninguém.

– No que isso influencia?

– Influencia no que descobri a respeito de você e Decrux, Brid. Os ugorianos podem alterar muita coisa na programação de Decrux, mas dificilmente conseguirão alterar a linha em que ela responde só a você e lhe protege. Ela não atenderá a mais ninguém, além de você. – Kara pausou a fala, arrumando os pensamentos e continuou. – Pelo que entendi também, em alguns furos escapados nessa conversa, Decrux é a única IA orgânica que Rodan fez com essa característica de aprendizagem interativa e, é a única que consegue tomar decisões utilizando a base de dados, juntamente com percepções que aprendeu ao longo do tempo. Ela faz cruzamento entre informações técnicas-analíticas e percepções aprendidas. Decrux não se baseia apenas nas estatísticas e interseções de informações, mas consegue adicionar intuição a essa mistura. Em outras palavras, ela seria o ser perfeito para comandar uma nave, por exemplo.

– Quer dizer que as IAs orgânicas que eles têm, não fazem o que Decrux faz?

– As outras IAs são orgânicas, aglutinam como Decrux, tem um vasto banco de dados, mas não foram construídas com sistemas perceptivos. Na verdade, não tem um sistema sináptico como um ser… pensante, entende? São androides orgânicos mais avançados, mas não conseguem aprender e interagir emocionalmente. Conseguem avaliar sinais fisiológicos em alguém, mas não conseguem perceber diferenças de expressão, entonação de voz e etc. Percepções que nós temos. Isso confere à Decrux uma enorme vantagem. Ela avalia não só possibilidades que estariam disponíveis no banco de dados, ou probabilidades numéricas. Ela avalia o caráter, particularidades de um indivíduo. Ela aprende o que vivencia e tem a capacidade de dissociar o que é lógico do que é intuitivo. Além de ser um organismo vivo. Ela não tem nada sintético, além dos attochips. Eu poderia dizer que Decrux é um alomorfo mais avançado que Helga, sem a característica de se transmutar. – Riu.

– Ah, muito obrigada!

Disse Helga, sentindo-se ligeiramente desconfortável. Não havia contado a Kara que estava com dificuldades em seus sentidos.

– Ela é um organismo vivo perfeito e, além disso, tem todas as vantagens de uma IA.

– E é unicamente controlada por mim?

– Sim.

– Que ótimo! – Respondeu irônica. – Rodan me sacaneou.

– Por quê? – As duas mulheres questionaram.

– Por quê?! Ora, eu tenho alguém que é dependente de mim como um escravo. Vocês acham isso legal? Rodan concebeu uma vida que é dependente de mim!

Bridget falava irritada e inconformada com a situação. Há muito tempo que não via Decrux como androide, mas saber que ela era dependente, apenas por um único detalhe, que se não existisse, seria uma pessoa com sentimentos, quereres, desejos, deixou a comandante arrasada. Decrux pensava e não havia nada sintético em seu organismo, além dos chips interagindo com seu corpo e cérebro. Quais os sentimentos que ela teria diante de tudo?

– Imagina como ela deve se sentir diante de mim? Presa por um laço de algo que agora pode destruí-la. – Falou aflita.

– Não esqueça que Decrux, antes de mais nada, foi construída. Mesmo que hoje ela seja um organismo vivo consciente, também sabe que não nasceu de uma concepção biológica.

– Suponho que isso devesse me tranquilizar, Helga.

– Ei! Que tal deixar as crises morais para depois? Quando tudo acabar, e se acabar conosco vivas e livres, pensamos em algo para resolver isso.

Kara ralhou nervosa, esfregando a fronte. Não parara de andar no quarto um só segundo, depois que escutou as duas mulheres. Bridget se sentiu uma menininha. A engenheira falou com uma propriedade desconhecida. Talvez os anos em que passou nas sombras, tivessem lhe conferido certa submissão e todas essas conspirações trouxeram a personalidade da chefe do ministério aeroespacial à tona. Primeiro a atitude beligerante durante a reunião e agora, intercedeu de forma prática no pequeno surto da ex-oficial.

– Se estivermos certas no que estamos pensando, Kara, você terá que ficar de olho na tal cientista. Ela está esbanjando simpatia, mas pelo que percebi, ela comandava o Instituto de Ciências em Ugor, juntamente com Rodan. – Pontuou Helga.

– Você conseguiu perceber se ela falava a verdade ou não?

Bridget não olhou a Olaf. Baixou a cabeça e se calou. Helga se aprumou na poltrona.

– Não tive mais que dois contatos com ela, Kara, e muito breves. A vontade de salvar Decrux era real, mas não posso afirmar qual o papel dela nisso, ou o motivo da ansiedade para salvá-la.

Helga desviou o olhar, pousando-os em Bridget que permanecia calada. Kara passeou o olhar de Helga para Bridget. Havia algo no ar que ela não conseguia identificar.

– Ok. Sabemos que alguns dos motivos que fez com que você fosse sequestrada foi a bomba de Hel e a sua genética. Sobre a bomba, quem tem conhecimento sou eu. Descobrimos também que Decrux é interessante para os nossos amigos que estão nos ajudando a curá-la. Teremos que nos cuidar dentro desse quebra-cabeça, mas acredito que, quando Decrux acordar e estiver bem, poderemos contar com ela para nos auxiliar. De resto, eu gostaria apenas que vocês não escondessem coisas.

– Esconder coisas? – Bridget, perguntou.

– Sim. Você se enfureceu por ser enganada, Brid e agora vejo vocês se entreolharam a cada cinco minutos, desde que entrei aqui. O que está pegando? Brid consegue disfarçar mais, pois quando você a olha, Helga, ela não te encara, mas você…

Encarou a Olaf, inquisitiva e contrafeita. A estadista fechou os olhos espremendo-os, prevendo a dor de cabeça. Se calara, decidindo se contaria tudo ou não, mas antes que a engenheira voltasse a falar, Helga resolveu esclarecer.

– Brid, você poderia ir até o centro médico dar uma desculpa para Aloá e travar alguma conversa com ela para distraí-la? Acredito que minha conversa com Kara demorará. Eles podem desconfiar de alguma coisa, por estarmos tanto tempo trancadas no meu alojamento.

– Certo.

Antes de sair, Bridget deu um beijo na testa de Kara e falou.

– Não era um assunto meu e é algo muito particular de Helga.

Falou para a engenheira-médica e saiu.

***

– Como estão as coisas?

Bridget entrou no centro médico e se aproximou de Aloá. A cientista olhou para ela, dispersando a atenção do painel onde programava linhas para a vacina. A comandante continuou a falar.

– Kara ainda está auxiliando Helga, que teve uma crise emocional, ao que parece. Pelo visto, as coisas foram pesadas para ela quando esteve no cativeiro.

– É, acho que sim. Ela teve uma crise lá em Ugor. – Aloá respondeu, compreendendo a situação. – Bom, com relação à Decrux, empaquei numa parte, pois Rodan tinha toda a programação de segurança dela e não passou para ninguém lá no Instituto. Não consegui avançar muito.

Um sinal alertou na mente de Bridget. Ela não achava que jogariam com a vida de Decrux para obterem estes protocolos. “Pois acho que essa ajuda torta de vocês, matará minha amiga…”

– O que quer dizer?

Bridget perguntou como se nada soubesse.

– Ela tem programado nos attochips um código de segurança que não sabemos bem o que é, e nem como funciona.

– Acha que perderemos Decrux por conta disto?

– Ele não passou nenhum arquivo para você? Não é possível que Rodan tenha ficado com essa informação, exclusivamente, para ele.

– Tudo que ele me passou está aí, – apontou para o painel – eu me lembro dele dizer que os arquivos que me passou eram suficientes para que a própria Decrux se cuidasse. Disse também que as linhas de segurança dela não ficariam comigo, para minha própria segurança, caso Decrux fosse descoberta fora dos domínios de Ugor. Então… – Bridget meneou a cabeça desalentada – acho que fracassamos em salvá-la, afinal.

Bridget estava desanimada. Se a vida de Decrux dependia disso, ela realmente não tinha como salvar a amiga. Fosse por eles jogarem com esta situação, ou porque eles precisassem, realmente, dos protocolos. Os olhos da cientista assumiram uma expressão de eto e, logo depois, baixou o olhar, sacudindo a cabeça, incrédula e sorrindo de lado.

– Essa atitude era bem típica de Rodan. Não me etaria se ele não tivesse dado nada a qualquer pessoa.

– Então acha que não conseguiremos salvá-la?

Os olhos de Bridget transmitiam um desespero real. Aloá se ajeitou na banqueta, reparando bem a postura da comandante e suspirou. Voltou-se para o console, olhando o sistema.

– Calma. Não desistiremos. Quando Kara chegar, ela olhará o que fiz e os protocolos que inseri. Sou Neurocientista e fiz engenharia biomédica, mas acredito que a formação dela seja melhor para avaliar e programar isso.

Bridget notou a mudança de postura da cientista. Se eles achavam que ela poderia ter alguma coisa de Decrux, certamente a neurocientista observou que estavam enganados. “Obrigada, Rodan. Você é um gênio! Sabia bem com quem lidava.” – Pensou.

Aloá se voltou para o painel e começou a digitar, novamente. Bridget se afastou, sentando em um canto e deixando a cientista trabalhar. Meia hora depois, Kara entrou no centro médico. A morena teve vontade de ir até ela e abraça-la, apenas por ver os olhos vermelhos e inchados que reparou, assim que a engenheira-médica se aproximou. A freyniana lhe lançou um olhar dolorido, mas fez um sinal negativo com a cabeça, depois que viu que Bridget reagiria, levantando-se. A comandante estancou o passo, meneando também a cabeça em aceitação. Voltou a se sentar

– O que temos, Aloá?

– Já inseri os protocolos e…

A cientista parou de falar, mas resolveu não questionar sobre o que acontecera para que Kara tivesse os olhos tão vermelhos e marejados. Intuiu que, ou Helga lhe contara sobre o que aconteceu em cativeiro, ou a engenheira se compadeceu do estado em que a Olaf estava.

– … e esbarrei em algumas linhas. Acreditei que fossem algum código de segurança de Decrux, mas agora não tenho tanta certeza. Queria que desse uma olhada.

– Deixe-me ver.

Aloá se afastou e Kara tomou seu lugar à frente do painel.

****

Após mais de sete horas, Aloá tocou o ombro de Kara, tirando-a da intensa atividade. Estava com os olhos mais vermelhos do que quando entrara no centro médico, mas desta vez, por encarar o painel programando durante um dia inteiro.

– Kara, você tem que descansar. Vá dormir, pois a mente começa a não funcionar com cansaço demasiado.

– Não sabemos se Decrux tem tempo…

– … Erarich está monitorando os sinais dela. Ela está estável. Se ela estivesse colapsando, saberíamos.

Bridget saíra há tempos do centro médico, deixando que a engenheira trabalhasse. Kara olhou a tela do painel e sabia que não conseguiria avançar por muito mais tempo. Deixou os ombros relaxarem.

– Tudo bem. Vou dormir um pouco. Talvez consiga desanuviar a mente. Erarich também tem que descansar. Como faremos para monitorá-la?

– Não se preocupe. Me comuniquei com nossa nave e pedi que outro assistente meu viesse render Erarich. Ele já chegou e “Erich” já foi descansar. Amanhã ele assumirá, novamente.

****

Kara estava dividida. Ao mesmo tempo que queria ficar só e chorar tudo que estava preso, sentia que, ao lado da comandante, conseguiria suportar melhor a dor. Chegou à porta do alojamento de Bridget e ficou parada, olhando o painel da trava da porta. Finalmente digitou a senha e a porta se abriu.

Uma suave música tocava no ambiente e um agradável aroma rescendia no ar. Olhou à volta e viu uma mesa posta com candelabro, baixelas, pratos e talheres. Sorriu, experimentando uma sensação acolhedora aquecer o peito. Escutou barulhos vindo do banheiro e, logo depois, Bridget saía. Olhou-a com um sorriso, ainda parada à porta do banheiro.

– Gostou? Toma um banho e relaxa. Você teve um dia terrível hoje. Eu me sinto uma inútil.

Kara caminhou até ela. Bridget estava linda numa calça de tecido fino e solto e uma camiseta colada ao corpo, marcando as suas formas. Colocou uma das mãos na cintura, buscando o corpo de Bridget, enquanto a outra mão pousava no abdômen musculoso. Deu-lhe um beijo, acariciando aquela parte do corpo da comandante que lhe chamava tanto a atenção. Fitou-a com carinho.

– Adorei e você não é uma inútil. – Respondeu. – Apenas que, nesta parte dos nossos problemas, tenho mais competência, mas se fossemos atacada por piratas, como já fomos, eu provavelmente não saberia agir na situação e seria você quem nos tiraria da encrenca. Aliás, já nos tirou várias vezes, nos últimos dias.

Beijou-a novamente, com mais intensidade. Bridget estreitou os corpos num abraço mais forte e quando findou o beijo se apartou.

– Vá tomar seu banho, senão a comida esfria. Pode pegar a roupa que quiser, no armário.

Quando retornou do banho, Kara olhou para Bridget, que estava sentada, lendo em sua poltrona. Queria matar uma curiosidade e não se segurou.

– De quem eram essas roupas, Bridget? Desculpa perguntar, mas elas não são muito do seu estilo.

Perguntou, apontando para o corpo e mostrando a roupa que escolhera. Era um vestido verde-claro de alças e cinturado. Bridget baixou o tablet e a fitou. Kara estava linda naquele vestido leve, que combinava com o tom claro de seus cabelos e olhos. Suspirou.

– Eram de Decrux, filha de Rodan. Ela quem deu a aparência da “nossa” Decrux. Morreu há alguns anos.

Kara se etou. Não imaginava que a mulher que estava dentro daquele módulo de suspensão fosse a cópia de uma outra mulher já morta. Com certeza, esta outra mulher teve um papel na vida da comandante. Não sabia o que sentir e tentou parecer natural.

– Era uma mulher bonita.

– Era uma mulher fantástica em todos os sentidos.

– Vejo que a amou. Ainda guarda as roupas dela.

– Kara, eu… Eu me fechei depois que ela morreu e, quando conheci você… Conhecer você foi uma libertação da memória dela. Eu realmente a amei muito e nunca me conformei em tê-la perdido. Eu me culpava por não ter conseguido resgatá-la.

Kara sentou-se no braço da poltrona de Bridget, acariciando seus cabelos. Não via seu rosto completamente, mas intuiu que era um assunto delicado para ela. Calou-se para incentivar a comandante a contar sua história. Ela também queria saber com quem, ou contra o quê estava competindo. Fantasmas do passado costumavam assombrar as pessoas, quando elas não tinham se resolvido, ainda.

– Conheci Decrux, através de meus pais. Como contei antes, eles eram antropólogos e conheceram muitos planetas e muitas culturas. Decrux fazia antropologia, como eu, e quando Rodan pediu aos meus pais para que a conhecessem e dessem uma oportunidade para ela estagiar na nave com eles, eu a conheci. Quando nos formamos, já namorávamos e fazíamos planos. Ela veio morar comigo em Pontos. Foi quando a guerra estourou e fomos, eu e meus pais, requisitados para as equipes de resgate. Só que tínhamos um trabalho num planeta em que descobrimos, cuja cultura era primitiva. Resolvemos que Decrux lideraria a pesquisa para não ficar parada, enquanto estivéssemos à serviço da Republica como socorristas.

Uma lágrima desceu pelo rosto da morena, mas Kara não conseguia ver da posição em que estava. A voz ligeiramente rouca e embargada de Bridget, dava a exata noção da emoção. A engenheira apertou o ombro, dando alento e demonstrando sua compreensão.

– Numa semana de folga, retornei à Pontos e entrei em contato com ela. Ela disse que, dali a cinco horas, desceria no planeta com uma nave auxiliar. Já mantinha contato com os habitantes há algum tempo. Costumávamos estudar os costumes, previamente, e fazer roupas adequadas para esses contatos. Nunca levávamos artefatos de nossa cultura, então, não descíamos com armas e nem nada que denunciasse nossa origem. A única coisa que mantínhamos eram comunicadores disfarçados.

Bridget suspirou tomando um alento.

– Quando abordei a nave, ela já tinha descido e a equipe que permaneceu na nave, tentava contatar, sem sucesso. Eu me desesperei. Não deixaram que eu descesse na nova diligência para o resgate, pois nunca tive contato com aqueles habitantes. Era o protocolo. Eles desceram e descobriram que a nossa diligencia foi atacada por habitantes de uma outra aldeia inimiga dos “Fermos”, que era a aldeia com quem Decrux mantinha relações. Os Fermos falaram que todos os “nossos” foram mortos pelos “Agzas” e levados para a aldeia deles. Nosso pessoal da segurança seguiu até a outra aldeia, apenas para se certificar de que não havia sobreviventes. Dessa vez, haviam levado armas e binóculos para verificarem de longe, tomando cuidado de esconder dos Fermos e não permitiram que eles os acompanhassem. Não houve um só sobrevivente de nossa diligencia anterior. Retornaram à nave.

– Sem os corpos?

– Esse é o protocolo. Nunca interferir na dinâmica da cultura. Eles não poderiam invadir a aldeia e resgatá-los. Para eles, nós éramos um grupo nômade que tinha contato com os Fermos, seus inimigos.

– Pelo cosmos, Brid! Por isso, você não voltou para sua profissão?

Kara levantou-se do braço da poltrona, agachando de frente para ela e acariciando o rosto. Beijou de leve a mão que segurara entre as dela e fitou-a, sem saber o que falar.

– Sempre senti como se tivesse deixado Decrux para trás. Resgatei muitas vidas na guerra e no final…

– Você não a deixou, Brid. Você não podia fazer nada. Certamente, Decrux não gostaria que quebrasse estas normas e interferisse na dinâmica daquele lugar.

– Por isso não voltei. Em parte, era o que me confortava. O resto da história você conhece. – Sorriu sem ânimo. – A não ser o fato de meus pais terem morrido logo depois e Rodan ter enlouquecido. Ele amava demais a filha e já pesquisava sobre interação social em IAs. Na verdade, ele tinha tudo construído e apenas colocou a aparência da filha em uma IA. Até conexões neuro-emocionais da Decrux, filha dele, espelhou. Só que agora descobrimos que ele não construía apenas uma IA, não é?

– O que me eta é você não ter se apaixonado pela “nossa” Decrux. – Sorriu.

– No início eu a afastava. A aparência dela me trazia lembranças e eu achava que ela era uma androide. Incrivelmente, apesar dela ter a aparência e as tais conexões neuro-emocionais da Decrux, tem uma personalidade diferente da minha ex-namorada e filha de Rodan e não me pergunte por quê. Não sei responder. Isso facilitou a nossa aproximação e mais tarde, nossa amizade.

– Porque as vivências de uma, foram muito diferentes da outra. A nossa Decrux aprendeu a viver nesta nave, com todos os tripulantes e o amadurecimento emocional dela foi com você e todas essas pessoas que aqui viviam. A Decrux, filha de Rodan, cresceu num lar em Ugor.

– Eu amo a nossa Decrux, mas nunca me apaixonei ou transferi meus sentimentos para ela. Aliás, ela, às vezes, é bem irritante e a minha ex, era meiga, mesmo quando brigava e ficava emburrada comigo. – Sorriu. – Agora, vamos parar com essa conversa. Não preparei isso tudo para falar da minha ex-namorada falecida.

Bridget, cortou, levantando da poltrona e fazendo Kara acompanhá-la. Jantariam e, mesmo diante de tudo que ocorria, Bridget estava ansiosa em ter a namorada em seus braços. A última vez que sentiu algo parecido, estava tão distante na memória que nem conseguia rememorar todos os sentimentos. Este pensamento a incomodou, mas não o suficiente para se deter no que planejara para aquela noite.

***

 

 



Notas:



O que achou deste história?

17 Respostas para Capítulo 23 – A ex-namorada

  1. Adorei saber mais sobre a ex da Brid e algo me diz que ela ainda ta viva (se não teve corpo é pq ta vivo) shuahsa. Quero a “nossa” Decrux de volta logo, passou tempo demais já.

  2. Tadinha da Helga , ter que reviver o pesadelo q ela sofreu . Mas é necessário. Acho q essa tal de Aloá é muito oferecida ?? . E prestativa demais, rhum. Nossa surpreendente isso do passado da DecruX, pensei q ela e a comandante tinha mandado fazer ela pra alugar a dor . Bem massa isso. E orelhinha ficou com ciumes . Que bonitinho, o qie será que a comandante vai aprontar hein ? ???
    Um xero bem grande Bivard e Parabéns. Cada vez melhor

    • Oi, Flavinha!
      kkk Essa tal de Aloá tem interesses nesse lane todo aí e até gostou da orelhinha. rsrs
      Kara tinha que saber onde estava pisando. Um monte de roupas no guarda roupa da Brid que não tinha nada a ver com o estilo dela… rs O ciúmes bateu sim. rs
      Foi mal o atraso na resposta dos comentes, mas tô num período complicadinho. Vou responder tudo, mas aos poucos, ok?
      Um beijo grande, Flavinha!

  3. A história no minimo é estimulante e viciante, permeias cenas de tensão e tesão, bestialidade e ternura, desconfiança e confiança com uma ligeireza que uma vai no embalo. No meu caso com uma ansiedade miudinha de curiosidade para saber como Brid vai lidar com as diferenças da orelhinha, este jantar à luz de candelabro promete… E como no geral todos lidam e tentam tirar proveito das diferenças dos outros…
    Sentindo falta do humor caustico, desconstrutor e descontraido da Decrux…Conclusão em pulgas me tens com esta história… rsrsrs
    Bjs ?

    • Oi, Sandra!
      Perdoe-me pelo atraso na resposta ao comentário. Eu estou com alguns assuntos um pouco problemáticos para resolver e aos poucos estou colocando em dia.
      Então, a intenção da história é misturar assuntos polêmicos e sentimentos em relação a eles. Misturar aventura com ética e questionamentos, mas de forma fluida. Espero que esteja conseguindo colocar de forma harmônica.rs
      Bom, acredito que já tenha visto que a nossa Decrux voltou até mais ousada. rs
      Beijo Grande!

  4. Êh, autora!
    Terminar o capítulo na melhor parte é maldade, viu?! Terá que pagar uma prenda, que será … Hum, deixe-me pensar… Já sei!!! Outro capítulo extra!! Kkk
    Vc está nos dando doses homeopáticas de Kara e suas particularidades. Está com medo da gente se assustar mais que Brid, é? rsrs
    Falando sério, agora, que bom que nossas meninas estão se precavendo quanto a essa ajuda dos Ugorianos.
    Decrux é incrível, até Brid ficou surpresa com essas novas descobertas. Não sei como Brid conseguiu conviver com ela sendo a cópia física da mulher que amava, deve ter sido bem difícil no início.
    Acho que agora Helga pode tentar deixar as lembranças dos momentos terríveis para trás. Só faltava Kara saber, e a bichinha ficou mesmo abalada, mas nossa comandante está disposta a dar colo a ela. Muito lindo isso, Bridget Nicolas é romântica!
    Beijo, Carol!
    E o extra será na sexta, mesmo, não é ? ???
    Espero que estejas melhor;

    • Oi, Fabi!
      Tenho me desculpado com o povo pelos atrasos nos comentes, mas ando com probleminhas. Vou acertando aos pouquinhos, mas eu respondo, viu? rs
      kkkk Então, oc caps extras estão temporariamente suspensos, por conta desses meus atropelos de vida, aí, mas os caps normais vão vir. Vão continuar, ok?
      Quanto a Kara, acho que quem anda assustada é ela… rsrs só uma dica. rs Mas garanto que tá perto. rs
      Sim, a princípio foi difícil para Brid encarar a Decrux IA, mas como ela tinha reações bem distintas, ao longo do tempo, a visão da Brid desvinculou completamente da que tinha da namorada.
      Bridget Nícolas é durona só no trabalho, e tenta se proteger nos sentimentos. Quantas vezes não fazemos isso? Entretanto é romântica sim. Adora fazer mimos. rs
      Beijos, Fabi! E obrigadão!

  5. Oi Carol

    Eita que tá difícil não ser redundante! Rsrsrs

    Esse pessoal de Ugor tá me deixando com a pulga atrás da orelha! ?

    E vc apesar do extra, foi bem malvadinha terminando o capítulo dessa forma, viu?! A comandante cheia das intenções pra cima da Kara. ??
    E vamo que vamo torcer por um novo extra! Se não estiver sendo muito cara de pau!! ???
    Espero que esteja melhor! ?

    Abrs ?

    • Olá, Lins!
      Olha, vou responder os coments aos poucos. Ando com uns probleminhas aí, mas em breve tudo se acerta novamente.
      Esse pessoal de Ugor tem coisas que querem com certeza, só que será que são melhores ou piores que a República e Cursaz? rs
      Olha, por agora tá um pouco difícil extra, mas assim que me acertar, volto com surpresas. rs
      Um beijo grandão, Lins!

  6. Uauuu,amei!! Sei que é repetitivo,mas o que eu posso fazer!!!
    Rodan é o cara mesmo, mandou muito bem!! Vai saber o que essa cientista tá querendo…sempre melhor de resguardar.

    Adorei saber sobre Decrux, a ex. Legal saber como era e o que fazia e como Brid a amava,nos dá uma visao melhor do relacionamento e tb pra Kara,né? Saber onde ta pisando…rs

    Helga,tadinha,teve q lidar duas vezes c uma explosao de emocoes, punk!!!

    ACORDA LOGO DECRUX!!! Veio em boa hora esse capítulo extra ontem e esse..ansiedade tb mata,viu?!! rs

    N lembro oq vc respondeu no outro,desculpa. E n posso voltar pra ler!! rs.

    Quero ver quando explodir a guerra!!! Tá interessante isso td!! rs

    Beijoo grandee

    • Oi, Lailicha!
      Foi mal a demora na resposta, mas tó aí!
      Rodan sabia o que queria fazer, mas o interesse dele não era bem o interesse dos governantes, então… rrs
      Sim, agora a Kara sabe tudo da Decrux namorada e da Decrux IA. Mas a nova Decrux não tem nada a ver com a ex da Brid. Isso já tranquiliza Kara. rs
      Bom, como tô atrasada nos coments, já deve ter visto a Decrux acordar. rsrs
      Brigadão, Lailicha! Beijo grande

  7. Carol!!!!

    Tudo de mais lindo neste capítulo.

    Não canso de parabenizá-la pela bela história.

    Leitura fluída, divertida, empolgante,viciante e sobretudo, apaixonante!

    Bjos.?

Deixe uma resposta

© 2015- 2017 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.