Havia poucos lugares no castelo, onde se podia realmente desfrutar a solidão. Por algum tempo, Vanieli acreditou que o pequeno jardim na saída norte — que estava sempre fechada — era um desses lugares.

Apesar de adorar estar na biblioteca, ela nem sempre lhe oferecia a privacidade que desejava, ainda mais com tantos rostos novos e zangados a rondar pelo castelo. Então, aquele jardim se tornou seu refúgio. Era para lá que costumava ir, quando necessitava pensar em algo profundamente e foi para lá que se dirigiu quando Aisen a rendeu nos cuidados de Lenór, momentos antes.

Desde que ouviu a confissão febril da esposa, ela dava voltas em seus pensamentos. E, inevitavelmente, Vanieli projetava os cenários mais incômodos na relação delas.

O sol já estava a pino e ela quase mudou o caminho, quando percebeu Lorde Arino sentado no banco debaixo de uma laranjeira. Contudo, continuou andando e sentou ao lado dele. Era seu pai, afinal.

Tomou a liberdade de não lhe oferecer um cumprimento, pois sentia-se cansada demais para a boa educação. Era um cansaço que abrangia vários níveis: físico, emocional e mental.

Três dias haviam se passado desde o seu retorno e ainda não tinha conseguido tirar o merecido descanso. Em parte, por estar preocupada com o estado de Lenór. Após os cuidados iniciais, a grã-mestra não voltou a tratá-la. A ordenada deixou claro que se esforçou muito e precisava de algum tempo para se recuperar do desgaste mágico, assim como, o corpo de Lenór também necessitava desse período.

Melina se recolheu aos aposentos que lhe foram destinados e não saiu de lá, desde então. Rall lhe contou que, nas vezes em que bateu à porta do quarto, Voltruf o atendeu. A grã-mestra estava dormindo nessas ocasiões e ele preferiu não se demorar.

Por um lado, a reclusão das duas também ajudou a amainar os ânimos dos lordes, pelo o que o Ministro Jarfel se mostrou muito grato. Ter magas por perto deixava os cardasinos tensos e ainda mais propensos à briga. Porém, essa calmaria não duraria para sempre.

Da mesma forma, Vanieli também optou pelo isolamento e nem mesmo se deu ao trabalho de convidar o pai para uma conversa. Ela queria mesmo era ficar longe dos lordes e de todos os problemas que a presença deles no Castelo do Abismo trouxe.

Entretanto, isso não era possível.

Estar longe de suas vistas não significava que eles estavam longe dos seus pensamentos, tampouco de suas ações. Com Lenór incapacitada, era o seu dever tomar as rédeas do comando do Castelo, ainda que essa posição a deixasse muito desconfortável.

Os dias de isolamento e cuidados com a esposa, também lhe deram um fôlego para compreender e ponderar sobre a situação em que o rei as envolveu. Discretamente, e desta vez com mais detalhes, o capitão Elius a colocou a par do que se passou política e militarmente, enquanto estavam no abismo. Por sua vez, Rall contou as novidades do Castelo; as coisas que os servos ouviam dos lordes, enquanto estes faziam questão de ignorá-los.

Ela juntou essas informações com aquelas que obteve de Lenór durante sua passagem pelos túneis e as coisas que viram por lá, também. Já tinha uma boa ideia do que se passava no Castelo do Abismo, na verdade, no reino. Porém, ainda existiam lacunas para preencher.

— Não vai me repreender? — Ela perguntou ao pai, após um longo tempo em que compartilharam a contemplação das flores minguadas pelo lugar.

O lorde passou a mão na barba e procurou uma posição mais confortável no banco.

Durante o mês que se passou, houve duas tentativas de resgate de Vanieli e companhia. Soldados desceram até a metade do abismo, mas não conseguiram passar disso. Os relatos diziam que os paredões tornavam-se lisos e duros demais para que conseguissem prender as cordas ou firmar pés e mãos para continuar a descida. Além disso, a névoa densa e constante dificultava a visão.

Na segunda tentativa, ele mesmo liderou o grupo, junto com Mestre Draifus. O engenheiro estava desesperado por ter insistido que seu homem de confiança seguisse junto com Vanieli. Arino rejeitou a companhia dele quando se propôs a acompanhá-lo. Não se importava muito com o fato dele ser estrangeiro, tampouco acreditava que ele seria inútil, mas naquele momento Draifus era uma das pessoas mais importantes no castelo, visto que coordenava a reconstrução da muralha.

Sua rejeição persistente obrigou o engenheiro a abandonar a discrição e revelar que Jeor era seu marido. Draifus declarou que, se não o aceitasse no grupo, ele desceria o abismo sozinho, e  um tanto contrariado, o lorde cedeu. Afinal, já tinha problemas demais para arranjar outro se permitisse que um nobre estrangeiro se enfiasse numa fenda mortal sozinho. Entretanto, eles também não obtiveram sucesso e foi necessário desistir da missão.

Draifus ficou arrasado. Por sua vez, Arino sequer se sentia capaz de nomear a tristeza que o tomou. Como Vanieli tinha observado em outra ocasião, ele não era um homem que deixava seus sentimentos à mostra, tampouco se permitia dominar por eles, porém não havia como se afastar das emoções. Afinal, em um período de três anos, tinha “perdido” dois filhos e essa era uma dor que nenhum pai ou mãe deveria sentir.

Para tornar aquela experiência ainda mais difícil de lidar, um ataque ocorreu na capital do reino. O rei foi dado como desaparecido, certamente morto. E nem mesmo na morte o soberano se poupou de afrontar as tradições cardasinas e causar confusão entre os clãs.

O “fato” de Vanieli Kamarie e Lenór Azuti terem morrido no Abismo de Tensin aliviou um pouco da tensão que o testamento causou. Ainda culpando uns aos outros de terem executado o ataque à capital, os sete líderes dos clãs cardasinos se reuniram no Castelo do Abismo para a cerimônia fúnebre, que poria fim em parte do conflito que se delineava.

Porém, o destino lhes pregou mais uma peça e momentos antes da cerimônia começar, o casal retornou.

— Não. — Ele respondeu. — Você estava certa em tudo o que disse. Fomos afobados e desrespeitosos. E verdade seja dita, homens como nós respondem melhor diante de uma demonstração de força e poder. É assim, desde que Cardasin surgiu e vai continuar sendo assim enquanto existir.

Ele cruzou as pernas de maneira largada, jogando o braço sobre o encosto do banco.

— Eles… Nós não sabemos como lidar com uma mulher no poder. Não estamos acostumados a que nossas esposas e filhas nos ofereçam oposição, o que nos traz até essa desgastante discussão sobre o testamento do Rei Mardus.

Riu baixinho, fazendo Vanieli arquear uma sobrancelha, diante da sinceridade e tranquilidade com que se expressava.

— Está começando a me assustar com toda essa indulgência. — Vanieli confessou e arrancou outro sorriso do pai. Ao que se recordava, nunca viu uma expressão tão serena na face dele.

— Não sou tão bruto quanto imagina. — Afirmou o lorde.

— Eu sei. — Ela reconheceu.

— Nós somos farinha do mesmo saco, como dizem por aí. — Ele brincou com a ponta da barba e resolveu ser ainda mais sincero. — E independentemente da situação política, estou verdadeiramente feliz de que a minha filha caçula esteja viva e bem. Foi com imensa alegria que enviei um mensageiro para Daquir. Sua mãe não lidou bem com a notícia da sua provável “morte” e recusou-se a participar do funeral de outro filho.

Vanieli sentiu um nó se formar na garganta e desejou muito derramar as lágrimas que lhe chegaram aos olhos, porém não o fez. Arino baixou a mão até a dela, no assento do banco. Apertou suave, mas firme.

— Estou irritado em muitos aspectos, ante algumas das suas atitudes, mas, também, muito orgulhoso.

Ele a soltou e se colocou de pé, voltando a assumir o costumeiro semblante severo.

— Os afagos acabaram. — Disse, quase arrancando um sorriso da filha. — Se quer mesmo ir adiante com isso, é bom estar preparada, porque o Conselho não está nada feliz.

— Conte uma novidade! — Vanieli foi irônica.

Ela passou a mão na face, afastando de vez a emoção que a tomou e também ficou de pé ao perceber a aproximação de Lorde Taniel, acompanhado do Ministro Jarfel e seu sogro, Lorde Kanor.

— Não faço ideia do que passava pela mente do rei ao nos tornar suas herdeiras. Pelo menos, não no que diz respeito a mim. — Ela comentou em tom baixo, mas não o suficiente para escapar aos ouvidos atentos dos recém-chegados.

— O rei não era exatamente o homem mais coerente de Cardasin. — Comentou Lorde Taniel, intrometendo-se na conversa, enquanto fazia uma mesura rápida. — Há quem ande fazendo insinuações de que ele se “aproveitava” de você e da sua esposa, Senhora. Bem… Na verdade, seria o contrário. Comentam que as senhoras o teriam seduzido.

Ele apressou-se a fazer um gesto de desculpas, embora demonstrasse um ar debochado. Afirmou:

— Por favor, Damna, não tome minhas palavras como uma tentativa de insultá-la. Apenas achei que deveria saber o que dizem.

Lorde Arino enrijeceu a postura e Taniel fitou seu olhar assassino, relembrando as mãos dele em volta do seu pescoço. Os dois andaram se estranhando depois do ocorrido na biblioteca. Por algum tempo o rapaz se mostrou submisso. Mas, quando o rei faleceu, ele pôde assumir uma posição mais agressiva e opositora.

Era, de fato, um dos lordes mais indignados com o testamento do soberano, e seus discursos acalorados sobre o assunto o fizeram subir no conceito dos outros lordes.

— Eu já o avisei para tomar cuidado ao falar dos meus filhos, Taniel. — Lorde Arino bufou, escorregando a mão para a cintura, próximo ao cabo da espada.

— Só estou repetindo o que dizem… — Defendeu-se o rapaz, fingindo um ar inocente, sem sucesso.

— Está sendo desrespeitoso. — Interveio o ministro Jarfel. — Seu tom ofende a todos nós.

Vanieli fez um gesto, que impediu Lorde Kanor de também se manifestar.

— Eu sou bastante tolerante a insultos, Lorde, mas você está perigosamente perto dos meus limites. — Alertou. — Sugiro que seja mais sensato com as palavras. Se é que sabe usá-las da forma adequada e com argumentos concisos.

O maxilar de Taniel se contraiu.

— A senhora é uma mulher bastante ousada, mas todos sabemos que não cometeria a estupidez de expulsar os Lordes de Cardasin da sua casa. — Retrucou ele.

— Você mesmo acabou de dizer. Esta é minha casa, então não me teste, Lorde. Você não vai gostar do resultado. — Vanieli o avisou, com expressão sombria.

Mais do que a necessidade de se impor para os lordes, a fim de conseguir respeito e controle sobre a situação, ela estava cansada de ser tratada com inferioridade por ter nascido mulher. Os últimos meses ao lado de Lenór a ensinaram que limites foram criados para serem quebrados e que se baixasse a cabeça para tudo, estaria sempre a mercê da vontade alheia, mesmo estando em um reino diferente.

A queda de Lenór e todas as situações perigosas que vivenciou no abismo, mostraram que a vida era frágil e curta demais para se agarrar aos medos e barreiras impostas. Ela queria usufruir da liberdade que almejava naquele instante. E, se isso trouxesse consequências cruéis, faria valer à pena cada segundo, palavra e gesto.

— Na verdade, o desafio a ir adiante. — Ela concluiu.

Taniel encarou-a longamente, antes de mirar os outros homens. Sorriu de lado, prestes a falar o que pensava, entretanto, Vanieli o interrompeu:

— Que suas próximas palavras valham a pena. Pois, elas poderão trazer humilhação e desonra para você e o seu clã, e irão selar o seu destino.

O corpo do rapaz retesou e os punhos cerraram. A vontade de ir adiante não lhe faltava, mas a ameaça lhe pesou. Não a temia, de fato, porém estava diante de dois líderes e um ministro. Deixar o orgulho agir poderia ser fatal, pois estava certo de que aqueles homens exigiriam o cumprimento das leis de hospitalidade.

Fez uma ligeira careta, condenando-se por se deixar guiar pela vontade de externar o que pensava sem temer as consequências. Pelo menos, por ter sido impulsivo e feito isso diante de testemunhas. Ser considerado um hóspede desonrado, além de vergonhoso, o tornaria um líder sem o respeito do seu clã e dos demais. Não tardaria para que alguém que se achasse mais “adequado” para liderar o Clã Baruki surgisse, e ele se veria em problemas ainda maiores que a desonra de ser expulso do Castelo do Abismo. Afinal, somente a morte podia depor um líder.

Ficou claro, nos poucos instantes em que se limitou a observar os olhos dela, que Vanieli Kamarie compreendia muito bem as consequências daquela ameaça. Ficou ainda mais cristalino, que ela estava torcendo para que o lorde fosse adiante, o que ele sabiamente decidiu não fazer.

Ele não falou, tampouco se desculpou e Vanieli fez um novo aviso:

— Palavras têm poder, Lorde Taniel. Que a partir deste momento você seja mais sábio ao usá-las, porque se repetir o que os “outros” andam falando para mim, será apenas convidado a se retirar dos meus domínios. Mas, se o fizer diante da minha esposa, não precisará se preocupar com as tradições de hospitalidade. O sangue Azuti dela é muito quente e o último homem que ousou nos insultar e agredir, ainda está apodrecendo na floresta.

 

***

 

— Você é realmente uma jovem atrevida, Damna. — Disse o ministro Jarfel. — Acabou de ameaçar a vida de um lorde.

Ele acompanhava Vanieli com passos lentos, sem ter ideia de para onde estavam indo. Simplesmente a seguiu, quando a viu sair do castelo, sem perceber que tudo que ela desejava era um momento a sós com os próprios pensamentos.

— Talvez, seja melhor agir com um pouco mais de calma. — Aconselhou, esperando uma resposta que não veio. — Compreendo sua necessidade de demonstrar força perante homens como os nossos líderes, mas é necessário ser um pouco maleável. Lorde Taniel é jovem e ambicioso, ainda não aprendeu o jogo. Seu pai e Lorde Kanor sabem até onde podem e devem ir…

Vanieli parou de andar e o encarou, agastada.

— Ontem me ofendia, hoje me aconselha. Que tipo de homem é o senhor, Ministro?

Ela recomeçou a caminhada e Jarfel continuou sua perseguição.

— Estou apenas tentando orientá-la, Senhora. Não é sábio bater de frente com esses homens. Há alguns dias, você conseguiu um grande feito, pois os pegou de surpresa. Mas se continuar assim, irá conquistar inimigos poderosos e eles ficarão ansiosos por derramar o seu sangue.

— Ah, por favor, Ministro, diga-me algo que já não sei! Melhor, me conte sobre coisas que eles ainda não fizeram. Desde que Lenór e eu chegamos ao Castelo do Abismo, estamos sob constante vigilância e ameaça. Já tentaram nos matar em um incêndio, fizeram emboscadas e até colocaram veneno em nosso vinho. Acha mesmo que deixar meia dúzia de homens zangados é o meu maior problema? — Parou de andar, outra vez.

Vanieli o observou com atenção, enquanto ele comentava de forma branda:

— Saber dessas coisas me deixa ainda mais preocupado e só reforça o que já lhe disse. — Jarfel revelou, incomodado diante da avaliação descarada.

A cor rara dos olhos dela, dava-lhe a impressão de que era capaz de ler seus pensamentos mais íntimos.

— Deve se preservar um pouco, Senhora. Foi bastante desgastante conseguir que os lordes dessem o tempo que pediu. Se indispor ainda mais com eles pode resultar em retaliação.

Os olhos dela abandonaram sua figura para vagar pelo entorno. Estavam na entrada da praça no centro da cidadela e atraíram a atenção de todos que ali se encontravam. Vanieli se forçou a amainar as feições zangadas e caminhou em direção às bancas do pequeno mercado, cumprimentando com gentileza todos que cruzaram seu caminho.

O ministro a acompanhou, pensativo, dispensando inclinares de cabeça discretos para as pessoas.

— Honestamente, Ministro, não tenho medo deles. Não mais.

— Deveria.

— Os lordes de Cardasin são crianças birrentas perto dos demônios que enfrentei no abismo. E se eu consegui ir até o fundo dele e retornar, também posso lidar com os Clãs, desde que você esteja disposto a fazer o seu trabalho.

Ela parou diante de uma banca e aceitou o cumprimento singelo e alegre da mercadora de ervas.

— Estou muito feliz em revê-la, Damna.

Vanieli fez um carinho na mão da mulher com quem começou a cultivar um suave laço de amizade e respeito, após a noite da fogueira. Seus machucados frequentes em decorrência do treinamento que Lenór impunha, a tornaram uma cliente assídua da mercadora.

— Digo o mesmo, Dagnar.

A mulher fez uma reverência para o ministro e voltou a se dirigir a Vanieli, enquanto catava algo em uma caixa debaixo da banca. Retirou um saquinho dela e o depositou nas mãos da moça. O som de vidro se chocando dentro dele se fez ouvir e o tato revelou a Vanieli, que eram pequenos, mas numerosos.

— Sei que não é a hora, porém a comandante me encomendou isso um pouco antes de… — Ela interrompeu-se, unindo as mãos nervosamente. — Desejo melhoras.

Vanieli agradeceu e se afastou para continuar seu caminho com o ministro a tiracolo.

— Estou muito disposto a fazer o meu trabalho, Senhora. — Jarfel retornou à conversa. — Mas, como lhe disse, você também precisa fazer o seu e evitar mais altercações.

— Mantenha-os longe de mim e da minha esposa, e não teremos discussões, Ministro.

— Você sabe que sou apenas um servo do palácio, não é? Há limites para o meu poder e influência.

— Enquanto for detentor do testamento do rei, você é o homem mais poderoso de Cardasin. Já disse para não me tomar como idiota. — Ela refutou. — A menos que esse testamento não exista.

Pararam novamente. Desta vez, diante da entrada do pátio de treinamentos da Guarda.

— Não sei do que está falando, Senhora. — Jarfel observou a sobrancelha direita dela se arquear devagar, com ar presunçoso. Muito além das suas conversas anteriores, foi naquele instante que ele percebeu que Vanieli Kamarie era mais que um rosto bonito, que fora usado em um jogo político.

— Que bom! — Ela baixou o tom da voz. — Porque se fosse o caso, me perguntaria o que o senhor está planejando com essa farsa.

Ele olhou em volta, percebendo que chamavam a atenção, contudo, as pessoas estavam longe demais para ouvir o que diziam.

— Novamente, digo que não sei ao que se refere, Damna. — Insistiu, cada vez mais desconfortável.

Seu incômodo não escapou à Vanieli, que soube ocultar a satisfação. O interesse do ministro em acompanhá-la havia lhe dado a oportunidade de tentar comprovar uma teoria. Ela tinha passado um bom tempo ponderando sobre a decisão do soberano de torná-las suas herdeiras e quanto mais pensava sobre isso, mais estranho lhe parecia.

Não que isso não pudesse acontecer, pelo contrário. Do pouco que conhecia do soberano, sabia que ele era mesmo capaz de tomar aquele tipo de decisão. Contudo, quando propôs seu casamento com Lenór, o rei foi muito franco com ambas. Deixou-as ciente do que estava disposto a fazer por elas e o que exigiria em troca, lhes dando a liberdade de escolher se queriam ou não assumir tal responsabilidade.

Ela acreditava que o rei faria o mesmo em relação ao testamento.

— Entendo. Realmente, a ideia de que um ministro possa agir contra os interesses do reino inventando um falso testamento, é muito boba. Peço perdão por minha mirabolante imaginação.

Ela sorriu com falsa inocência e a tensão de Jarfel começou a abandoná-lo.

— Já está feito, Senhora. — Garantiu ele, iniciando um gesto de despedida, porém Vanieli voltou a atacar:

— Que bom. Tenho outra pergunta, se não se importar. Eu gostaria que me explicasse o que acontecerá quando o senhor ler o testamento.

Jarfel estreitou o olhar, sentindo-se um animal acuado diante de um predador. A pergunta aparentava inocência e era uma dúvida genuína que qualquer outro naquela posição teria. Entretanto, o ar sagaz da jovem o alertou que havia segundas intenções nela. Ele acabou por se perguntar o que Vanieli esperava ouvir e optou por ser vago.

— A senhora já sabe. — Disse.

— Eu tenho uma ideia, mas gostaria de saber o que você acredita que acontecerá. — Ela explicou, conduzindo-o para a resposta que realmente queria obter.

O ministro cofiou a barba, admirando as pedras irregulares que calçavam o chão do pátio de treinamentos.

— Eles não irão aceitá-las, é óbvio.

— Isso está mais que claro, Ministro. O senhor entendeu o que eu quero saber. — Vanieli mostrou um princípio de irritação pela atitude reticente do homem.

— De fato. Perdoe-me. — Jarfel pigarreou, deixando à mostra um sorriso de desculpas. — Alguns irão querer assumir o trono e certamente haverá derramamento de sangue. Entretanto, outros membros do Conselho são a favor de manter a linhagem real. Como todos sabem, o rei de Zaidar é primo do rei Mardus e o seu filho mais velho tem idade para subir ao trono de Cardasin.

Vanieli balançou a cabeça com um sorriso satisfeito e Jarfel compreendeu que realmente estivera fazendo o papel de presa.

— Acha engraçado? — Questionou.

Ela deu de ombros, se afastando.

— Não, Ministro. Na verdade, acho uma solução conveniente, tanto quanto criar um falso testamento para impedir isso.

 

***

 

— Parece muito preocupada, Damna. A comandante…

Vanieli fez um gesto vigoroso para Draifus. O engenheiro tinha acabado de sair da biblioteca particular do capitão Elius, com quem discutia sobre o transporte de materiais para a finalização da obra da muralha, que já estava na metade.

Atendendo o pedido de Vanieli, antes de partir para o abismo, ele concentrou todos os seus esforços na reconstrução e, além de seus trabalhadores, teve o reforço de soldados da Guarda  e moradores da cidade. Por isso, a obra estava adiantada.

— Ela está bem, na medida do possível. — Suspirou. — Ainda inconsciente e febril, mas já não apresenta ferimentos visíveis. Porém, continua necessitando dos cuidados da grã-mestra Melina.

— Estimo melhoras.

— Obrigada.

— Jeor me contou o que aconteceu no abismo. Ainda é difícil conceber a ideia de que essa experiência não passou de dois dias para vocês, enquanto que, para nós, foi um mês quase inteiro.

Vanieli se sentia da mesma forma. Contudo, esse mistério era irrelevante naquele momento. Já tinha problemas demais para lidar. Ela inclinou a cabeça, assentindo, e caminhou mais alguns metros em silêncio.

— Esses dias têm sido bastante confusos e atribulados, Mestre Draifus. — Confessou. — Não tive oportunidade de me inteirar dos acontecimentos com meu pai, tampouco foi possível conversar com o Capitão Elius sobre o andamento das coisas aqui. Nosso último encontro se resumiu a um apanhado geral sobre a instabilidade do reino e o testamento do rei Mardus.

 O engenheiro coçou o queixo, com pesar. Não precisava ser muito criativo para imaginar a pressão que ela estava sofrendo e o quanto isso era desgastante, visto que se refletia no cansaço e apatia em seu semblante. Entretanto, ele pressentia que havia algo mais incomodando-a.

— Teve oportunidade de avaliar os túneis sob a cidade? — Vanieli perguntou, antes que ele pudesse fazer um comentário.

— Sim. Estão em perfeito estado e acredito que não há possibilidade de um novo desmoronamento. — Afirmou o engenheiro. — Por segurança, Lorde Arino ordenou que as saídas dos túneis fossem bloqueadas. Foi um pouco complicado fazer isso sem chamar a atenção, mas conseguimos. Contudo, não posso garantir que todos os acessos externos tenham sido fechados, pois não conseguimos explorar todos os túneis.

— Compreendo.

Ela balançou a cabeça devagar, observando as poucas mulheres no pátio de treinamento. Algumas tentavam acompanhar o ritmo do treino dos homens, ensaiando uma luta descoordenada, enquanto outras assistiam, com semblantes desmotivados.

— O capitão ordenou que recebessem o mesmo treinamento que os homens, sem distinções. — Disse Draifus ao perceber o interesse dela. — No entanto, o tenente responsável pelo treinamento não tem muito tato e o capitão, neste momento, não pode lhes dar a atenção adequada. E, sendo sincero, acredito que ele também não sabe muito bem como lidar com mulheres no exército. A comandante já era uma mulher experiente quando assumiu a função.

Vanieli soprou o ar devagar, pensando no quanto Lenór desejava tornar a Guarda do Castelo do Abismo a elite de Cardasin. Ela contemplou os rostos apáticos das mulheres até encontrar um rosto conhecido. Ao perceber que estava sendo observada, a jovem Adalie Baruki, irmã caçula de Lorde Taniel, lhe enviou um inclinar de cabeça suave e retornou ao treino.

Vanieli quase sorriu ao imaginar o quanto o ingresso dela no exército afetou Lorde Taniel.  Certamente, era um dos motivos para o rapaz se opor com tanta veemência às decisões do rei Mardus e ao seu casamento com Lenór. Mas não foi apenas Adalie Baruki que Vanieli reconheceu entre as novas soldadas do reino. Embora a maioria fosse formada por mulheres do povo, ao menos meia dúzia vinha da nobreza.

Isso deixou Vanieli orgulhosa, mas também apreensiva. O futuro para aquelas mulheres e para ela própria era bastante incerto se um dos líderes dos clãs sentasse no trono. Seria ainda pior se o rei de Zaidar o tomasse.

Ela passou a mão no bracelete que simbolizava a sua união com Lenór e, de repente, a confissão dela retornou aos seus pensamentos. Inspirou fundo e devagar, voltando a mirar Draifus. O homem também parecia ter se perdido em suas próprias reflexões e se empertigou ao ouví-la falar.

— Posso lhe fazer uma pergunta pessoal?

— Fique à vontade. — Draifus a incentivou, desmanchando o semblante sisudo.

— Estava recordando quando me falou sobre o seu primeiro casamento. O senhor me disse que você e sua esposa se tornaram bons amigos.

— Sim.

— Nunca a amou de outra forma?

O engenheiro admirou o anel em sua mão, ponderando sobre a questão.

— Sim, eu a amei como mulher. Como lhe disse, fomos felizes juntos. Todavia, nos tornamos mais amigos que amantes e essa percepção nos permitiu reconhecer que nossos corações tinham outros anseios. — Ele vasculhou o olhar dela, compreendendo suas dúvidas, ainda que ela não as tivesse revelado diretamente. — O que é o amor, Damna?

Sorriu devagar, antes de continuar:

— Creio que não existe uma resposta capaz de compreender o real sentido desse sentimento. Quando me casei com Adija, eu tive muito medo. Temi uma vida infeliz ao lado de alguém que mal conhecia, porém, o tempo me ensinou que o amor tem muitas formas e caminhos. Me atrevo a ser poético ou simplório demais ao dizer que consegui encontrá-lo no sorriso, no olhar acolhedor, no abraço suave e perfumado, na simples presença dela. O encontrei em tantas e pequenas coisas…

— É assim com Jeor?

Draifus voltou a sorrir, refletindo o gesto dela.

— Sim! Mas de uma forma diferente. Com ele é tudo mais intenso. Creio que é porque nós queríamos estar juntos desde o início. E ele me completa de uma forma que sequer consigo descrever. Me considero um homem privilegiado por ter experimentado o amor de diferentes maneiras e, ainda assim, não conseguir descrever esse sentimento com exatidão para você.

Ela meneou a cabeça, encantada com a paixão nas palavras dele, ainda que estivesse se expressando com gestos e palavras suaves.

— Obrigada pela sinceridade.

— Disponha! — Ele piscou o olho, brejeiro. — A vida é cheia de surpresas e oportunidades, Damna. Deve-se aproveitar as boas! Se o amor bate à nossa porta, acho justo deixá-lo entrar e vivê-lo, mesmo que não dê frutos e dure pouco tempo.

— Lenór me falou algo parecido, quando nos casamos. Decerto que não era exatamente ao amor que se referia, mas não deixa de ter o mesmo sentido. — Ela aumentou o sorriso.

 

***

 

Rall pitava seu cachimbo, soltando grossas nuvens de fumaça junto a janela do quarto, quando Vanieli retornou ao castelo. Ele estava em companhia de Dimal que, por sua vez, se encontrava parado diante da cama, observando Lenór como se ela estivesse prestes a abrir os olhos.

O guerreiro sequer se mexeu, quando Vanieli fechou a porta com um pequeno estrondo.

— Onde estão os guardas? — Ela questionou Rall

Dimal ergueu o olhar para ela, mas permaneceu em silêncio.

— Aisen os dispensou, enquanto Dimal estiver por aqui. — Respondeu o velho, indo alimentar o fogo da lareira, visto que a penumbra da noite se aproximava rapidamente.

Enquanto retornava para a janela, ele observou o baraforniano cruzar os braços, como se estivesse tentando impor algum respeito a Vanieli. Os olhos dela repousaram nos músculos firmes e percorreram a pele alva até a tatuagem, que era bem menos rebuscada que a de Lenór. Por fim, se voltaram para os olhos azuis do protetor.

Ela não estava impressionada.

Nenhum soldado cardasino ou guerreiro estrangeiro a impressionaria tanto quanto Lenór, no dia em que a conheceu. Ou ainda, Voltruf, Melina e Aisen. Elas eram mulheres vivendo em um mundo de homens, lutando contra e ao lado deles como iguais. Muito diferentes das mulheres de Cardasin e tudo que ela aprendeu a ser.

Ainda não tivera a oportunidade de conversar com o guerreiro baraforniano. Na verdade, aquela era a primeira vez que o via, desde que ele tomou Lenór nos braços e a levou para o castelo no dia em que retornaram da sua aventura no abismo.

— A grã-mestra saiu há pouco. Veio apenas averiguar o estado de Lenór. Disse que o corpo dela ainda necessita de um dia ou dois de descanso, antes de outra sessão curativa. — Rall continuou.

— E isso é bom ou ruim? — Ela perguntou sentando na beirada da cama e pegando a mão da esposa.

— Nem bom, nem ruim. — Dimal respondeu. — Curar um não-mágico é relativamente fácil para magos, contudo, se usarem magia demais, podem fazer mais estrago do que consertar. E pelo o que a grã-mestra disse, é preciso muito cuidado com a capitã, já que um espírito atravessou o corpo dela.

— Compreendo. — Ela disse, acariciando a mão de Lenór.

Olhava para ela, cuja fronte estava molhada de suor, quando perguntou:

— Dimal, você tem uma irmã. Correto?

— Sim.

— Onde ela está?

Ele trocou o peso entre as pernas, claramente incomodado.

— Ela acompanhava o rei, quando parte do palácio ruiu.

Vanieli o fitou, estreitando o olhar levemente, então balançou a cabeça devagar.

— Sinto muito pela sua perda.

Dimal agradeceu, fez uma mesura rápida e saiu do quarto com passos suaves e quase inaudíveis.

— É um bom rapaz, mas não é de falar muito. — Rall comentou, soltando sua última lufada de fumaça, antes de guardar o cachimbo. — Ele e a irmã estiveram sob o comando de Lenór, antes dela se tornar protetora pessoal do príncipe Agnir, ao lado do meu filho e nora.

Vanieli o fitou, com evidente curiosidade. Então mirou a mão de Lenór e o anel que a adornava. Nunca ouviu Rall pronunciar os nomes do filho e da nora, mas estava certa de que aquele anel estava ligado a eles.

— Você poderia me contar sobre eles?

O velho tinha deixado a vista recair sobre os tetos das casas na cidadela e sobressaltou-se ao ouvi-la, visto que algum tempo havia se passado em completo silêncio. Ele a focalizou, ainda sentada na beirada da cama, sustendo a mão da comandante entre as suas. Vanieli o fitava com a mesma curiosidade que ele demonstrava.

— Pode me falar sobre Najili e Lenór? — Ela indagou.

Rall limpou a garganta, voltando a encher o fornilho do cachimbo e acendendo-o na chama de uma vela.

— É uma história que não me pertence para contar. — Tentou se esquivar.

Não que houvesse algo para ocultar, apenas acreditava que cabia a Lenór falar do seu coração para a esposa.

— Há algumas noites, Lenór chamou por ela, Rall. Abriu os olhos e quando falou comigo era ela quem via.

Rall pendurou o cachimbo nos lábios, sem ânimo para tragar. Não lhe surpreendia que em um momento tão conturbado, os pensamentos e coração de Lenór a arrastassem para os fantasmas do passado.

— Elas se amavam, não é mesmo? — Vanieli insistiu.

Ele retirou o cachimbo da boca, recostando-se à parede.

— Sim. — Confirmou.

— Mas ela não era sua nora?

— Sim, ela era. — Ele mostrou um sorriso triste. — Mas se está imaginando que elas traíram meu filho, está muito longe da verdade. A esta altura, você já deve saber que tipo de mulher é a sua esposa. Honesta, honrada e muito leal.

Fez uma pausa, observando o sono agitado de Lenór. Ela gemeu alto, murmurando algo ininteligível e voltou à calmaria.

— Ela amava e respeitava meu filho. Jamais trairia a confiança dele ou qualquer outro amigo assim. Najili compartilhava dessa visão. Então, elas sentiam, desejavam, mas não viviam esse desejo.

Sem ânimo para fumar, ele caminhou até a lareira e atirou o conteúdo do cachimbo nas chamas.

— Najili era a comandante de ambos. Mas quando Lenór os conheceu, Belgar e Najili já eram um casal.

— Então, o que aconteceu para esse anel parar na mão dela, além de ter se tornado a mãe do filho deles?

Rall passou a mão na cabeça, antes de escorregá-la para o pescoço com um sorriso torto.

— Barafor é um reino pacífico, contudo não está livre de disputas internas pelo poder. Algumas pessoas se opõem bastante ao reinado do Príncipe Agnir. Belgar se feriu gravemente em uma tentativa de assassinato do príncipe.

Os olhos dele marejaram, mas não chorou.

— Ele faleceu pouco depois e Lenór acompanhou Najili até as Ilhas Lester. Elas foram levar as cinzas de Belgar para que eu pudesse dar a ele o funeral de nossos antepassados. Najili descobriu que estava grávida no meio da viagem. Foi uma gravidez difícil e ela acabou ficando na ilha até Gael nascer. Lenór ficou ao lado da sua comandante.

Vanieli encarou os olhos tristes do velho, já arrependida de ter pedido que lhe contasse aquela história, contudo, agora que havia começado, Rall iria até o fim.

— Não sei quando, nem como começou o sentimento entre elas. Creio que foi muito antes de Belgar falecer. Porém, como disse, elas não viveriam isso enquanto Belgar e Najili estivessem juntos.

— Então?

— Então, meu filho morreu… — Ele girou o cachimbo entre as mãos, demorando-se para retornar a falar. — O luto, segundo as tradições barafornianas, deve durar três anos. Ambas respeitaram esse tempo. Se fosse por mim, teriam ficado juntas assim que percebi o que sentiam. Os olhares, os toques suaves de mãos; embora respeitosos, revelavam o amor.

Balançou a cabeça recordando o modo como Najili sorria quando Lenór estava por perto. Ele jamais as condenaria por se amarem. Na verdade, tentou fazer com que deixassem as tradições de lado e seguissem com a vida juntas.

— Belgar já não fazia parte deste mundo e, estou certo, ele ficaria feliz por elas. — Balançou a cabeça com o indício de um sorriso que não se concretizou.

Fitou Lenór na cama.

— Duas teimosas, isso sim. Se não tivessem esperado tanto…

Vanieli limpou a garganta, emocionada com a tristeza dele.

— O que quer dizer?

— As Ilhas Lester são um bom lugar para viver. Sabe? Mas, às vezes, o mar traz gente mal-intencionada. A ilha capital foi atacada por piratas há alguns anos e Najili, assim como meu filho, se feriu gravemente. Ela partiu para as terras imortais após semanas definhando. Como pode imaginar, Lenór ficou arrasada.

Ficou em silêncio por um momento, optando por não contar o quão devastadora foi essa perda para Lenór. Muito além da dor, a comandante mergulhou em um ódio brutal, vingativo e assassino. Após o funeral de Najili, ela sumiu por meses e só retornou quando teve certeza de que todos os responsáveis pela morte da mulher que amava, estavam no inferno. Ela não contou para Rall onde esteve ou o que fez, mas ele sabia antes mesmo de ouvir as histórias dos marinheiros nos portos do arquipélago. Falavam de maldições e um espírito vingador. Ninguém sabia, ao certo, quem ou o quê, mas Rall tinha certeza que era de Lenór que falavam.

— Ela adotou Gael e, desde então, estamos juntos. Uma família sem laços de sangue, mas ainda assim uma família. E você faz parte dela agora.

Ele se aproximou dela e sentou uma mão em seu ombro, relembrando a breve conversa que tiveram antes dela partir para o abismo. Enquanto conversava com Lorde Arino na biblioteca particular de Lenór, Vanieli solicitou a presença dele e do neto.

A jovem revelou ao pai a natureza da relação da esposa com Rall e o menino, e fez questão de também declarar a criança como seu filho adotivo. Queria garantir que as pessoas que Lenór amava e que também aprendeu a amar, estivessem seguras. Sendo assim, caso viesse a falecer, Lorde Arino tomaria os dois sob seus cuidados e garantiria que Gael receberia os títulos e posses de ambas.

Vanieli fitou o fogo, antes de retornar o olhar para ele. Soltou a mão de Lenór e contou:

— Quando achou que estava falando com Najili, ela pediu perdão por estar apaixonada por mim, Rall.

Os olhos do velho se abriram levemente, antes dele sorrir.

— Isso é ruim para você? — Perguntou, notando a tristeza dela.

— Eu não sei. — Admitiu. — É que eu não me sinto da mesma forma.

Rall balançou a cabeça, indo se sentar em uma das cadeiras junto à lareira. Vanieli o seguiu, e deixou-se afundar no assento com expressão desolada.

— Eu a admiro, respeito, e certamente tenho um grande carinho, porém não posso corresponder aos sentimentos dela.

Rall voltou a fitá-la com um sorriso complacente. Lenór fora enfática em negar a atração pela esposa, agora ele compreendia o motivo. A comandante não via futuro para aquela relação, além dos dois anos previstos para que ela durasse.

— Entendo. — Falou. — Não se preocupe com isso, Vanieli. Lenór não tentará nada, tampouco espere que ela diga o que sente de forma consciente. É da natureza dessa menina guardar seus sentimentos apenas para si.

A moça suspirou.

— Só que agora eu sei, Rall, e me pergunto se acabarei fazendo algo que poderá magoá-la no futuro.

— Você é mesmo uma boa mulher, Vanieli. Esqueça essas coisas. Lenór sabe bem onde se meteu quando casou com você. E, pelo o que sei, as duas têm um acordo que pode satisfazer as necessidades de ambas de forma discreta. Não?

Ele riu baixinho, como se achasse a ideia divertida, porém o que dizia era apenas para que Vanieli se sentisse melhor. Lenór não era o tipo de mulher que tinha aventuras sexuais.

— Ela logo encontrará alguém para se distrair. — Concluiu. — Acho até que já encontrou.

Reparou na sobrancelha arqueada de Vanieli com um dar de ombros fingidamente inocente e pôs fim no assunto ao se retirar do cômodo.

 



 

 

Oi, amores!

Desculpa, desculpa, desculpa! Demorou mais do que previ para retornar.

Podem me detonar nos comentários, eu deixo. rs…

Beijos e até o próximo capítulo. Garanto que vão gostar dele, tem até ilustração. 😉  rs…

 



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para 25.

  1. Estava sentindo falta da história. Muito bom as intrigas e o enredo. Que Lenor se recupere e Vanieli entenda seus sentimentos.

  2. Assim vc mata suas leitoras do coração, sofrendo com abstinência de capítulo, mas enfim chegou, glória a Deus.
    Só quero saber que hora a Vanieli vai perceber que está apaixonada pelo Lenór

    Capítulo maravilhoso e por favorzinho não nos abandona.

    • kkkk… Desculpa, moça!

      Realmente, fiquei bem enrolada esses dias e meus planos de adiantar a escrita de dois ou três capítulos foram por água abaixo. Mas não se preocupe, não deixo história sem final. Se comecei a postar, irei terminar. 😁

      Beijão!

  3. Tattah,

    Welcome back, we miss you.

    Bom retorno e com um cap. maravilhoso, realmente esperava uma ilustração,
    mas aguardo com certeza.

    Lenór e Vanieli, como amo essas 2.

    Bjs,

    • Hehe, Obrigada, Nádia!
      Teremos ilustra no próximo capítulo, com certeza! 😉

      Beijos!

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