Nosso Estranho Amor

50. Assim, os anos passam rapidamente…

Cinco anos e meio depois:

 

Fui para os Estados Unidos objetivando fugir dos problemas, tinha certeza absoluta de que com o passar dos anos seria uma nova pessoa e minhas feridas estariam curadas. Não sei quem foi o grande idiota que inventou a frase de que o tempo cura todas as feridas, essa é uma das maiores mentiras que existe. O tempo apenas nos ajuda a mascarar nossa dor, nosso sofrimento e fingir que nada nos abala, podemos até esquecer-nos do sofrimento com breves momentos felizes, mas depois ele sempre volta para nos atormentar, e com força total. Era essa a reflexão que fazia observando da varanda da minha casa a chuva torrencial que caía e tomando um café preto. O céu estava tão nublado quanto o meu coração que insistia em permanecer desse jeito desde que deixei o Brasil.

Assim que pisei em solo americano, cerca de duas semanas depois já estava casada com a DJ. Mesmo a Pietra me traindo nos últimos meses do nosso namoro, ela falou a verdade quando me pediu uma segunda oportunidade para me fazer feliz e que estava mudada.

Ao longo de todos esses anos minha esposa vem honrando cada promessa que fez para mim e para a Kathleen. A Pietra é uma esposa, uma mãe maravilhosa, extremamente carinhosa, amorosa, compreensiva e paciente, e tem que ser paciente mesmo, lidar com a Kathleen não é nada fácil, essa menina me tira do sério… Infelizmente não era capaz de honrar a minha palavra de que amaria a morena até que a morte nos separasse, mas tentava lhe compensar na medida do possível. A Pietra era uma pessoa muito ligada às redes sociais, então sempre estava postando nossas fotos juntas com nossa filha, pelo menos na Internet éramos a típica família perfeita, recebendo curtidas e aplausos de milhares de seguidores, a maioria sendo gente que não sabia nem de onde aparecia. Com relação a nossa vida sexual, não tinha do que me queixar, era quase perfeita, digo quase porque faltava o ingrediente principal: o amor. Conseguia chegar a orgasmos alucinantes, mas odeio admitir que eram orgasmos vazios, orgasmos que só conseguia atingir quando pensava no amor da minha vida.

Estaria sendo hipócrita e mentirosa se dissesse que nos últimos anos parei de pensar na Ágatha, muito pelo contrário, pensava na ruivinha todos os dias, parece que ela seria meu eterno vício e teria que me conformar com essa realidade. Através da Dani, com quem nunca perdi contato, conversávamos frequentemente e mesmo de longe acompanhei o crescimento da Paulinha e do Pedrinho, os gêmeos completariam sete anos daqui a alguns meses. Por meio da minha melhor amiga soube que a minha ex-noiva foi capaz de realizar o principal sonho dela: primeiro passou no concurso da Polícia Federal, atualmente a ruivinha é uma promotora espetacular no Rio de Janeiro, atuando com unhas e dentes na Vara da Criança e do Adolescente, mesmo de longe ficava extremamente feliz por saber que a Ágatha havia alcançado seu maior sonho, claro que não perguntava sobre a vida pessoal da minha ex-noiva, primeiro porque sabia que a Daniela se recusaria a responder, e também preferia não saber por respeito à minha sanidade mental e respeito à Pietra, é claro.

A ideia da Pietra de abrir o nosso próprio negócio com o primo foi mais do que perfeita, nossa boate faturava bastante no final do mês, a minha função era administrar o estabelecimento, pelo menos nossa sintonia no ramo profissional era maravilhosa, dinheiro não era problema, tínhamos até de sobra, ainda possuíamos um canal juntas no You Tube que fazia sucesso em outros países, nele abordávamos como era ser mãe de uma estrela mirim, mais para frente vocês entenderão sobre o que estou falando…

 No início, nós ainda tínhamos como parente em Nova York o meu sogrinho, um homem super gente boa, mas por incrível que pareça, há quase um ano atrás, os pais da Pietra se reconciliaram mesmo depois de muitos anos do término do casamento, agora Damon, o pai da Pietra já havia ido morar definitivamente no Brasil para permanecer mais perto da minha sogra, da minha cunhada e dos outros dois netos, o Mateus e a Natalie. Em outras palavras, Pietra e eu não tínhamos mais familiares nos Estados Unidos, apenas tínhamos amigos próximos, desse jeito nossa filha crescia longe das nossas famílias. Foram raras as ocasiões em que a Kathleen foi ao Brasil, era mais nossos parentes que vinham nos visitar em férias de final de ano ou no meio do ano. A Kathleen conhecia os primos e era muito amiga deles, mas principalmente da Rafaela, filha do Renan, algo que me preocupava bastante, não vou negar…

Por falar na minha filha, creio que está na hora de falar um pouco sobre ela. A Kathleen não era uma criança normal. Antes que me perguntem, não, a minha filha não é portadora de doença ou síndrome especial, mas se fosse a amaria da mesma forma. Lembro que enquanto estava grávida, queria que minha bebê fosse uma criança tão meiga e doce quanto o Enzo, e não fosse uma criança mimada como a Natalie, filha da Bianca, mas posso dizer que paguei pela minha própria boca, mesmo sendo mãe, reconheço que a minha filha era mais complicada que a própria Natalie, extremamente difícil de lidar, apesar da pouca idade, ela se achava superior a outras crianças e tinha certos preconceitos, mas vamos voltar lá atrás para poder explicar como tudo começou.

Quando Kathleen nasceu, era a bebê mais bonita e fofa da maternidade, e antes que me perguntem, não é porque sou mãe dela que digo isso, mas todas as pessoas ao redor comentavam sobre a sua beleza. Por sorte, minha filha não puxou em nada o fenótipo do crápula do pai biológico, na verdade a Kathleen parecia que realmente era minha filha com a Pietra, ela era bem branquinha, loirinha e com olhos tão azuis quanto o mar, olhos que lembravam a minha esposa, sem falar a altura, eu era baixinha, mas minha filha parece que havia puxado a altura da Pietra, cada dia que passava se mostrava muito alta para a idade que tinha fora que era uma criança muito esperta e inteligente. Quando Kat tinha pouco mais de dois meses, a DJ e eu passeávamos no Central Park com a bebê no carrinho até que um caçador de talentos nos abordou, ele ficou admirado com a beleza da nossa filha e queria fazer alguns testes para ela participar de um comercial de uma das principais marcas de roupas infantis do país, no início Pietra e eu achamos que era alguma brincadeira de mau gosto ou golpe, mas quando nos certificamos de que era mesmo verdade tudo o que o agente falou concordamos que a nossa filha participasse desses tais testes, mas não colocamos muita fé visto que havia centenas de bebês tão lindos para concorrer a essa vaga para o comercial da marca de roupas. Qual não foi minha surpresa quando nossa filha foi escolhida e em questão de dias já aparecia em comerciais dessa marca famosa por boa parte do país.

Diante do sucesso dos comerciais e aumento das vendas, a loja praticamente implorou para que fechássemos um contrato e nossa filha fosse uma das mais novas modelos mirins da empresa, mesmo contando com alguns meses apenas. Confesso que no início não concordei muito com essa ideia, mas o entusiasmo da Pietra de ver nossa filha como artista me contagiou e acabei concordando com essa ideia maluca que hoje em dia me arrependo. O comercial para a loja de roupas foi apenas o pontapé inicial, com o passar do tempo e conforme minha filha ia crescendo, novas oportunidades foram aparecendo, até ao ponto de começar a fazer participações especiais em telenovelas e filmes.

A Kathleen não era apenas uma criança prodígio e muito bonita, ela realmente gostava desses “trabalhos”, era bastante talentosa e posso até afirmar que possuía uma inteligência acima da média, um vocabulário extenso mesmo com a pouca idade. Com cerca de três anos ela aprendeu a ler e a escrever, sabia falar português e começava a aprender o ehol. Só que infelizmente a fama não é esse mundo cor de rosa como a maioria das pessoas pensam, o preço que Pietra e eu estávamos pagando era de ver nossa filha crescendo no meio de outras crianças e adultos fúteis, mesmo com apenas cinco anos e meio, a Kat tinha mais do que a personalidade forte. Era bastante egocêntrica, mimada, mandona, egoísta, rebelde, destratava as pessoas, achava que o mundo girava ao redor dela. Talvez o ponto mais complicado fosse o fato da interação social com crianças da mesma idade. Nos comerciais, na passarela, nos filmes e novelas, minha filha interagia perfeitamente com outras crianças, mas na escola era bem diferente. A Kathleen tinha uma facilidade imensa para aprender as matérias e acabava se tornando impaciente e mal-educada com os coleguinhas que tinham mais dificuldade, devido ao seu temperamento difícil Pietra e eu optamos que a melhor solução seria que nossa filha estudasse em casa. Apesar desse jeito rebelde, Kathleen era um doce de criança comigo e com a Pietra, amava muito a minha filha mesmo que a tarefa da maternidade não fosse nada fácil.

A verdade é que minha esposa e eu erramos na educação da nossa pequena. Nos três primeiros anos de vida da Kat nos preocupamos muito com a expansão da boate, então muitas vezes nossa filha ficava ao cuidado de babás, principalmente à noite, enquanto estávamos no trabalho. As empregadas obviamente faziam todas as vontades dela, minha esposa e eu fomos as responsáveis por nossa filha não conhecer o significado das palavras limite, disciplina, tolerância e respeito.

Os rumos profissionais da Kathleen estavam voando muito alto e rapidamente. Ela já havia desfilado em campanhas importantes em outros Estados, no Canadá e no Caribe, recebido alguns prêmios. Tinha medo que no futuro a fama se tornasse a pior inimiga da minha filha.

Toda a enxurrada de pensamentos foi cortada pela voz de Nancy, a babá da Kat, avisando que minha filha havia acabado de acordar e queria conversar comigo.

–Finalmente minha bebezinha acordou. Dá um beijo na mãe. –disse colocando minha filha no colo e sentindo aqueles bracinhos me envolverem em um abraço gostoso. –A Nancy disse que você queria falar comigo meu anjo!

–Mãezinha, você é muito linda e te amo do tamanho do mundo. –observei os olhinhos azuis da Kathleen e conhecia muito bem minha filha. Sabia que por detrás dessa declaração de amor havia algum pedido, só não sabia ainda o que era…

–Pois saiba que a mamãe te ama muito mais! –disse lhe enchendo de cócegas e arrancando algumas risadas.

–Se você me ama, quero que faça uma coisa… –sabia que não estava errada.

–Kathleen, se você quiser alguma boneca nova, a resposta é não, seu quarto já tá repleto de brinquedos. –disse em um tom de voz firme sem dar espaço para debates.

–Não é nada disso, mãezinha. Quero começar a fazer aulas de canto, quero ser cantora. –Kat disse me surpreendendo.

–Meu amor, a mamãe te ama muito, mas a resposta ainda assim é não. –respondi firmemente.

–Mas por que não? A Lauren faz aula, também quero fazer. –Kat disse se afastando abruptamente do meu colo. Era só ouvir a palavra não que minha filha ficava transtornada.

–Porque você é apenas uma criança, deve brincar, deixa pra virar cantora daqui a alguns anos. Já acho de bom tamanho você desfilar e atuar nessa novela nova, não quero mais compromissos na sua agenda. Portanto a resposta é não. –disse sem hesitar.

–Mas eu quero, eu quero… Você é uma mentirosa, não me ama, não me ama. –Kathleen começou a chorar, fazendo mais uma de suas birras e se jogando no chão, esperneando sem parar. Esse comportamento era mais do que rotineiro.

–Por mim você pode passar o dia todo chorando sem parar que a resposta continuará sendo a mesma. Amanhã você vai gravar… Não me diz que vai querer aparecer com cara de choro nas filmagens. –disse sabendo exatamente qual era o ponto fraco da minha filha. Como disse, a Kathleen era muito esperta. Percebeu que a birra não daria em nada e parou de chorar.

–Isso não é justo. Eu vou falar com a mamãe quando ela chegar e sei que ela vai deixar. –Kat disse sentando emburrada na cama. Pietra sempre cedia a todas suas vontades, mas dessa vez eu não iria deixar.

–É o que veremos. Por enquanto vou te ajudar no banho, precisa se arrumar para o jantar. –disse acompanhando Kathleen até ao banheiro.

Além da fama, minha filha estava se tornando independente mais rápido do que o normal na minha opinião. Geralmente os pais dão banho nos seus filhos quando eles têm cinco anos, só que a Kat era capaz de fazer quase tudo direitinho, apenas supervisionava seu banho e ajudava na lavagem do cabelo. Esse é meu grande medo, não quero que minha filha cresça logo e se torne muito independente antes do tempo. Será que até na missão de ser mãe eu iria fracassar?

 

Oi meninas. Primeiramente quero pedir desculpas por esses meses que fiquei longe sem postar nada. Ocorreram alguns problemas e fiquei sem inspiração. Peço que me deem um voto de confiança e voltem a acompanhar a história da Gi, da Pietra e da Ágatha. Por enquanto as postagens ficarão fixas todas quartas-feiras, mas sempre que tiver um tempinho estarei postando capítulos extras.

 



Notas:



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