Nosso Estranho Amor

40. O perdão é libertador

Acho que nunca corri tanto na minha vida como estava fazendo nesse momento. O estacionamento ainda estava muito longe.

–Será que dar pra você ir mais devagar? Não tô conseguindo acompanhar o seu ritmo. –a morena se queixava vindo atrás de mim.

–Você corria na esteira da academia numa velocidade muito maior e por mais tempo, então não é agora que você vai morrer caso se apresse um pouco. –disse entrando no estacionamento.

–Quer dizer que você lembra até a velocidade que fazia na academia? Lembra de coisas minhas que nem eu mesma lembro? –indagou toda sorridente.

–Pietra, não tô com tempo para conversas fiadas. Por favor, me leva até esse hospital. –disse já entrando no veículo.

O trajeto de quarenta minutos foi realizado em absoluto silêncio, confesso que não estava a fim de pensar nem na Ágatha, na Pietra ou na avalanche de confusão que as duas causavam no meu íntimo, só a vida da minha mãe me interessava. Não conseguia esconder o meu sofrimento só de imaginar minha mãezinha em uma cama de hospital, logo a Graze que sempre foi minha maior inspiração feminina e sempre gozava muita saúde.

Caminhando por aqueles corredores brancos e gelados não demorou para que avistasse meu irmão com um olhar aflito e um homem alto de terno com menos de cinquenta anos de cabelos castanho-claros e alguns fios grisalhos, olhos verdes e forte caminhando em círculos. Instantaneamente meus pés congelaram e fiquei sem ação.

–O que aconteceu? Por que não vai até lá? –Pietra perguntou curiosa após ver minha parada brusca.

–O Renan não fala comigo direito há meses e já faz muitos anos que não vejo meus pais… O que eles vão dizer me vendo aqui? –ali minha insegurança falava alto e meu coração estava aos pulos.

–Você também é da família, se te serve de consolo te acompanho até lá.

–Muito obrigada Pietra. –disse pegando na sua mão em um gesto de agradecimento.

Alguns passos torturantes me separavam dos dois. Venci meu medo e fui na direção deles. O Renan foi o primeiro que me viu, mas rapidamente desviei o  olhar do meu irmão, minha preocupação era outra. Meu pai estava de costas para mim, então fracamente toquei no seu ombro.

–Pai! –disse aguardando uma resposta.

Foram questões de segundos, mas que pareceram séculos. Meu pai se virou e ali constatei que o tempo não passava para ele, continuava o mesmo homem gato, lindo e charmoso de sempre. Até tentei ensaiar algumas palavras bonitas que foram desfeitas quando apenas senti um abraço forte, abraço de saudades e meu corpo foi suspenso do chão. Pude sentir todo o amor do meu pai através daquele abraço que parece que não teria fim tão cedo. Era impossível não haver lágrimas de ambas as partes.

–Minha pequenina! Você está linda. Como fui capaz de passar tantos anos longe de você por puro preconceito e ignorância?! Perdoa esse velho por todas as burradas que fiz. –dizia agora enchendo meus cabelos de beijos e não querendo me largar de jeito nenhum.

–Pai, não é a melhor hora e nem lugar para conversarmos sobre esse assunto. O importante mesmo é saber o estado de saúde da mamãe. Como ela está? –perguntei sentindo meu coração acelerar ainda naquele abraço apertado.

–Sua mãe passou mal enquanto tomava banho, vomitou e convulsionou, depois desmaiou quando a pressão caiu bruscamente. Ainda não sabemos se esse problema é devido à hemodiálise ou se tem algo a mais. Estamos esperando a resposta do médico.

–Como assim hemodiálise? –perguntei bastante surpresa. –Desde quando minha mãe faz hemodiálise e eu sou a última a saber? –perguntei aborrecida.

–Você não sabia minha filha? Seu irmão disse que estava a par de toda situação e mesmo assim optou por não ver a Graziele por estar magoada com tudo o que aconteceu. –tanto meu pai e eu olhávamos para o Renan aguardando uma resposta.

–Desculpa Giovanna. Realmente não deveria ter te escondido algo dessa natureza, você sempre foi bastante apegada com a mamãe, vivia pendurada no pescoço dela, mas achei que seria melhor te poupar.

–Você nunca deveria ter escondido algo tão grave, não tem cabimento o que você fez e ainda inventando mentiras no meu nome. Sabe que jamais deixaria de ir visitar a minha mãe. –falei levemente alterada.

–O que tá acontecendo, Renan? Você não é de mentir. Não tem sentido ter afastado a minha pequena da sua mãe. Já tem dois anos que sua mãe está nessa hemodiálise, morríamos de saudades da nossa caçula. Você sabia da falta que a Gi fazia pra gente e continuou mentindo. –meu pai estava mais alterado do que eu. Nesse momento já gritava e continuava abraçado a mim.

–Isso papai! Parabéns! Continue defendendo a Giovanna. Ela sempre foi a sua filhinha favorita e da mãe, a menina dos olhos de ouro enquanto eu era jogado pra escanteio. A filhinha certinha, a caçula que não cometia erros, elogiada por todos. Não é a toa que vocês me enviaram pra estudar nos EUA enquanto a Giovanninha ficava com toda atenção.  –Renan já falava mais alto do que o normal atraindo a atenção de curiosos.

–O que você fala não tem lógica, sempre tratamos os dois da mesma maneira. A escolha de ir estudar fora foi toda sua, não interferimos nos seus planos. A Giovanna sempre foi mais caseira e grudada na gente, ao contrário de você. –meu pai e eu estávamos perplexos com a reação do meu irmão.

–Desculpa me intrometer na conversa, mas creio que é mais prudente resolverem esses assuntos em uma hora mais apropriada. Hospital não é ambiente para discussões. –Pietra que até então permanecia em silêncio resolveu intervir.

–É moça, você tá certa. –meu pai disse colocando um ponto final naquele assunto. –A propósito, quem é você? Agora tô começando a lembrar… –Marcos disse puxando pela memória. –Você é a namorada da minha filha, a mesma moça que pedi para que cuidasse da minha menina.

–Pai, já chega desse papo… –quando meu pai começava a falar era difícil parar.

–Percebi que minha filha está noiva. Qual seu nome mesmo? –disse pegando na minha mão e apontando o anel de noivado. –Quando pretendem se casar? Sei que não fui o melhor pai do mundo, mas tenho certeza que Graziele e eu vamos querer participar.

–Meu nome é Pietra. Estou aqui na condição de amiga, nosso namoro já acabou. A Giovanna está noiva, mas é de outra pessoa. –notei uma certa tristeza na fala da DJ.

–É noivo ou é noiva minha filha? E cadê a pessoa responsável por te fazer feliz? Quero fazer algumas perguntinhas.

–Na verdade é noiva. A Ágatha está em uma viagem com a família, por isso não pôde estar presente. –disse querendo dar aquele assunto por encerrado.

–Você ama ela? Quando nos apresentará? Já planejaram sobre filhos? O Renan em breve será pai, também quero ter um neto seu. –querendo sair do assunto e meu pai insistindo.

–Marcos, não quero parecer inconveniente, mas a Giovanna está bastante preocupada com tudo o que está acontecendo com a mãe. Acredito que não é o melhor momento para tocar nesse assunto. –Pietra disse intercedendo por mim e apenas agradeci com o olhar.

–Está bem, oportunidades não faltarão. –ali demos esse assunto por encerrado.

As horas foram passando e nada de algum médico aparecer para falar sobre o estado de saúde da minha mãe. Chegou determinado momento em que o Renan precisou ir embora para ficar com a namorada grávida, efetivamente os dois já estavam morando juntos, meu pai também precisava descansar, não me fiz de rogada e me ofereci para passar a noite lá.

–Pequenina, você precisa dormir. Deixa que eu passo a noite no hospital.

–Isso está fora de cogitação, pai. Amanhã você acorda cedo e precisa trabalhar. –disse sem dar o braço a torcer.

–Marcos, se quiser faço companhia à Giovanna. Prometo não desgrudar dela um só instante.

–Pietra, você está sendo um verdadeiro anjo. Minha filha é teimosa e sei que não arredará o pé daqui até ter alguma notícia da mãe. Cuide bem da minha baixinha, é o meu maior tesouro. –papai respondeu ainda emocionado abraçado a mim.

Logo meu pai foi embora e permaneci sozinha com a minha ex-namorada naquele hospital. Admito que estava muito sem jeito por ficar perto dela naquela situação. Resolvi quebrar o silêncio para que o clima não ficasse mais pesado.

–Você deve estar cansada… Não se sinta pressionada a permanecer comigo. Qualquer coisa digo ao meu pai que você passou a noite aqui, não se preocupa.

–Vou prometer o que cumpri ao seu pai. Querendo ou não ficarei com você e não será nenhum incômodo. Tá com frio? –perguntou vendo meus pelinhos eriçarem.

–Sim, o frio nunca foi meu forte. –disse esboçando um fraco sorriso.

–Então vem cá que o frio vai melhorar… –percebendo o meu olhar de eto, Pietra tratou logo de corrigir. –Não me interpreta mal… Quero dizer… Tenho um casaco na bolsa.

–Pensei que seria capaz de chover dinheiro antes de ver uma Pietra tímida na minha vida. –falei sorrindo sem perceber.

–É o efeito Giovanna no meu sangue! –respondeu e agora eu é que estava tímida.

Mesmo sentada em uma recepção de hospital acabei dormindo até que razoavelmente bem, a Pietra é que deveria estar dolorida visto que meu peso ficou todo em cima dela, lhe usei como travesseiro e como cama.

Durante o dia revi alguns parentes, tios que não via há muito tempo e meus avós, a maioria me olhava com maus olhos, mas nem me importava, o importante era minha mãe estar bem. Aproveitando a aglomeração, Pietra me puxou para um canto.

–Preciso te dizer uma coisa. A minha mãe começou a trabalhar recentemente neste hospital, apesar dela ser geriatra, posso pedir para ela conversar com o nefrologista do hospital e me dizer qual é a real situação de saúde da sua mãe. –Pietra disse me surpreendendo.

–Essa atitude não seria antiética? Não podem passar informações assim e…

–Você quer saber ou não, Giovanna? É só responder. –a morena disse esperando uma resposta.

–Claro que quero, mas você já me ajudou muito. Por favor, agora vai pra sua casa e descansa. Qualquer coisa entro em contato. Obrigada por tudo, nem tenho como te agradecer pelo apoio que está me dando.

–Agora eu vou, mas prometo que volto mais tarde com algumas informações. Até mais Pinguim! –disse me abraçando mais do que o normal e depositando um beijo quase no canto da minha boca.

Fiquei pensando sobre tudo o que estava acontecendo na minha vida, queria reencontrar os meus pais, mas jamais imaginei que seria em uma ocasião dessas, ainda havia as mentiras do Renan e seu complexo de inferioridade, e agora mais a minha cabeça e meus sentimentos que davam vários nós confusos entre a Ágatha e a Pietra. A DJ e eu tivemos uma história de mais de cinco anos juntas, a Pietra errou me traindo com várias meninas assim como eu também tive meus erros, não trair, mas mentia inventando as desculpas mais esfarrapadas possíveis para ficar longe da morena. E o que dizer da Ágatha? A ruiva que peguei transando na cama da minha ex-namorada e que jamais imaginava que se tornaria o grande amor da minha vida, na verdade já nem sabia mais se o que estava sentindo pela advogada era amor ou obsessão, estava confusa. Com a Pietra tudo era tão calmo, ela conseguia ser tranquila mesmo nos momentos mais conturbados, amava crianças, a família dela me adorava, agora meu pai também começava a gostar dela, tudo era tão simples e mais fácil de resolver. Ela me deixava livre para tomar minhas próprias decisões e respeitando meu próprio tempo.

Por que com a Ágatha tudo tinha que ser tão complicado? A ruiva era a insegurança, o ciúmes, a dinamite em pessoa, eu sempre procurava atender todas as suas vontades mesmo que não estivesse de acordo. Parece que a ficha começava a cair e essa ideia de casamento com certeza seria uma enorme loucura. Fiquei me questionando como me deixei ser tão manipulada e influenciável pela ruiva. Até entendia a insegurança da minha noiva com relação à minha ex-namorada, mas daí a ter me afastado da Dani que sempre foi minha melhor amiga, do Mateus e da Natalie que era minha afilhada, e eu fiz um juramento à Bianca que sempre cuidaria daquela menininha caso algo acontecesse com ela. Agora as palavras da Dani sobre estar me metendo em um relacionamento abusivo que poderia não ter mais volta estava fazendo todo sentido, e eu que achava que essas coisas aconteciam apenas em relacionamentos héteros… Como consequência ainda perdi meu emprego, joguei meus direitos trabalhistas no ralo após aceitar usar atestado médico falso, estava fazendo uma burrice atrás da outra, com a perda do meu emprego dependia financeiramente da Ágatha. Se já não bastasse tudo o que aconteceu, a ruiva ainda era bastante influenciável pelas opiniões da família, e alguns dali não iam mais com a minha cara, começava a enxergar a ruiva como ameaça. Sempre procurava ficar ao lado da Ágatha quando minha noiva precisava, não apenas no sexo, mas agora que mais precisava dela, onde minha noiva estava? Divertindo-se com a família em outro país. Mesmo sabendo que estava colocando uma corda no meu próprio pescoço, eu nutria um grande sentimento pela ruiva, não me via longe dela, iria optar por voltarmos a ser namoradas ao invés de noivas, mas não terminaria a minha relação com a advogada, não mesmo. Com toda essa reflexão, acho que ainda estava a tempo de corrigir meus erros.

Fui retirada de todos os meus pensamentos quando o médico compareceu à recepção informando que o quadro de saúde da minha mãe havia sido estabilizado, ela estava consciente graças a Deus, mas apenas uma pessoa poderia vê-la naquele momento.

–Eu vou vê-la, a Grazi é minha filha, tenho direito como mãe. –minha avó falava.

–Só que eu sou o marido dela, dividimos uma vida toda juntos. –meu paizinho começava a falar.

–E eu sou o filho dela, tenho os mesmos direitos. –Renan começava a falar.

Uma pequena discussão sobre quem iria visitar minha mãe no quarto foi iniciada, uma discussão que o médico tratou de colocar fim.

–Peço que todos fiquem calados. Só uma pessoa irá entrar neste momento a pedido da própria Sra. Graziele… –a fala do médico foi interrompida pela minha avó.

–E quem a minha filha quer ver? Aposto que sou eu.

–Ela deseja receber a visita de Giovanna Andrade. Quem é? Essa pessoa se encontra aqui? –confesso que a fala do médico me surpreendeu. Dentre tanta gente foi um enorme eto quando soube que minha mãe queria me ver.

–Depois quando digo que a Giovanna é e sempre foi a filhinha preferida vocês dizem que é coisa da minha cabeça. Eu também sou filho. –ouvi Renan murmurar entredentes.

–Renan, faça um favor para nós e cale essa boca! –ouvi meu pai ralhar com ele. –Filha, vá logo ver sua mãe e nos traga boas notícias.

Apenas assenti recebendo um abraço do meu pai e com as mãos suadas segui até o quarto indicado pelo médico, o mesmo abriu e ali vi minha mãe deitada, extremamente pálida e me olhando de maneira curiosa. Mesmo abatida não pude deixar de reparar no quanto minha mãezinha estava linda com os cabelos loiros e os olhos verdes avelã. Minha mãe é uma gata.

–Por que tá me olhando sem parar? Algumas horas nesse hospital me deixaram tão feia? –indagou de forma brincalhona.

–Claro que não. Você sempre será a mulher mais linda que já vi na vida. –respondi timidamente.

–Será que eu posso te pedir um abraço ou você ainda tá com tanta raiva de mim? –perguntou e eu não pude impedir que algumas lágrimas banhassem meu rosto.

–Mãezinha, jamais na minha vida sentiria raiva de você. Eu te amo. –corri para aquele abraço apertado.

Eu pensava que já havia chorado o bastante no reencontro com o meu pai, mas com a minha mãe chorei muito mais. Lembrei-me da primeira maquiagem que ela me ensinou a fazer, dos puxões de orelha, das compras no shopping para nos “desestressarmos”, do meu aniversário de quinze anos onde a mesma dizia o quanto sua bebezinha estava se tornando uma linda mulher, dos momentos em que ela me colocava para dormir. Cada uma dessas lembranças vieram em forma de lágrimas.

–Nunca te vi chorando tanto meu amor. Mentira… Lembra que aos oito anos você quis preparar um lanche pra mim e queimou o dedinho no micro-ondas? Você chorou muito e dei um beijinho no seu dedo pra sarar. –Grazi disse me arrancando um sorriso.

–Sim, aí pouquíssimo tempo depois meu dedo não doía mais. –relembrei nostálgica.

–Infelizmente todo mal que te causei foi muito além do que uma simples queimadura no dedo, precisei passar tantos anos afastada da minha única filha para perceber quanta falta você me fazia, mesmo sabendo o quanto seu pai sofria com a sua ausência e eu também… Fui muito orgulhosa e não te procurei, precisei estar nesse leito de hospital para nos reencontrarmos. –minha mãe chorava descontroladamente e tinha muito medo de que essa situação agravasse seu estado de saúde.

–Mãe, não há motivos para falarmos nesse assunto, não quero que se altere. –disse tentando lhe conter.

–Gigi, só me deixa falar. –minha mãe era teimosa e sabia que não teria como lhe impedir de falar. –Quero que possamos recuperar todo tempo perdido. Confesso que esse lance de homem com homem e mulher com mulher não consigo entender apesar de ser psicóloga e ter pacientes homossexuais, no fundo a gente nunca espera que essas coisas aconteçam na própria família, mas não quero nunca mais na vida me separar da minha única filha por estupidez. Posso ver que está noiva… Está feliz com a mulher que irá se casar? –aquele anel banhado em ouro realmente não passava despercebido. Não queria contar para a minha mãe sobre o que estava sentindo, mas também não queria ter que mentir, não para ela. Podia mentir para todo mundo, mas jamais mentiria para os meus pais.

–Graze, será que não podemos conversar sobre esse assunto em outro momento? Você precisa descansar. –disse desconfortavelmente.

–Você sabe que o horário de visitas não terminou, ainda temos alguns minutos. Sempre fui sua melhor amiga e entre nós não há segredos. –sem ter como escapar desse assunto o jeito era falar a verdade.

–Mãe, eu estou completamente confusa, eu que tomei a iniciativa do casamento, mas não tenho mais certeza se é isso que quero pra minha vida, ela tem uma personalidade forte, e esse lado explosivo acho que não fará bem para nenhuma de nós duas. –limitei-me a dizer.

–Creio que não seja apenas isso, Gigica. Tô notando que seus sentimentos estão divididos entre duas pessoas, você não sabe com quem quer ficar. –minha mãe disse me observando curiosamente.

–Não posso acreditar. Será que está tão visível no meu olhar a enorme confusão que está na minha cabeça e no meu coração? –perguntei com um sorriso fraco.

–Para você e para outras pessoas talvez não esteja visível, mas não para mim que te carreguei por nove meses no meu ventre. Sinto que você está dividida entre duas mulheres, mas somente um desses é amor de verdade. O seu coração te guiará a tomar a melhor decisão.

–Ai mãe… Realmente estou perdida, mas não quero mais falar sobre isso. –disse e novamente fui acolhida nos seus braços.

–E como vai no seu emprego? Conseguiu alguns dias de folga para vir me visitar? –outro ponto complicado.

–Na verdade eu fui demitida, mãe. Estou desempregada e minha noiva está me ajudando com as despesas.

–Tem alguma coisa que você não me contou. Seu trabalho é magnífico, você é perfeita como professora e administradora. A sua demissão tem algo haver com a sua noiva? –minha mãe parece que pegava as coisas no ar, só pode.

–Pelo amor de Deus Grazi… Não quero conversar sobre esse assunto, pelo menos por enquanto.

Por sorte nessa hora o médico entrou no quarto informando sobre o fim do horário das visitas.

–Giovanna, não quero você dependendo financeiramente nem de homem e nem de mulher. Filha, eu te imploro, volte pra casa que sempre foi sua. Na sua casa não faltará amor, carinho, você terá tudo o que precisa. Eu estou bem meu amor, agora vá para casa, tome um banho e descanse… Você precisa comer. –minha mãe disse me abraçando, não queria mais me soltar.

–Moça, você precisa se retirar. –ouvi a técnica de enfermagem falar.

–Está bem. Prometo que volto. Eu te amo mãe.

–Também te amo minha pequena! –minha mãe respondeu antes que deixasse o quarto.

Já na recepção contei para o meu pai o pedido da mamãe de ficar na casa deles, no fundo ainda estava reticente se seria uma boa ideia.

–Sua mãe está certa, pequenina. Volte a morar com a gente. Até pediria para o José te levar em casa, mas eu mesmo faço questão de te levar. Já enviei mensagem para a Joana e ela está terminando de arrumar o seu quarto… –meu pai estava mais do que radiante.

–Era só o que faltava, agora a puxação de saco vai ocorrer até na casa dos meus pais. Eu também sou filho. –ouvi Renan comentar com uma certa raiva.

–Menino, não sei porque tem tanta inveja da sua irmã. Você também pode voltar a morar lá se quiser, mas no fundo você não faz questão, ainda mais agora que sua namorada está grávida. –meu pai falou ainda sem esconder a alegria por me ter de volta.

–Obrigada pai. Será ótimo voltar a morar com vocês. –disse sem conseguir esconder minha alegria.

 

 



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