Nosso Estranho Amor

27. O doce sabor da reconciliação

–Já sei. Eu devo tá dormindo ou então ainda estou sob efeito do álcool. Vou fechar meus olhos, respirar fundo e abri-los novamente, então você não estará mais aqui. -fiz exatamente o que falei. Só que quando abri os olhos, a miragem não havia ido embora… Ela continuava ali e me encarava com um sorriso encantador.

–Deixa de ser boba, Gi. Você não está alucinando. Sou eu mesma que estou na sua frente. O que tá esperando pra me dar um abraço?

Estava perplexa, não sabia o que falar ou o que fazer. Percebendo minha falta de reação, a moça tratou de vir até mim e eu simplesmente me joguei naqueles braços. Estava justamente onde gostaria de estar, nos braços da Ágatha. Minha reação? Muito choro é claro, mas dessa vez era bem diferente, as lágrimas eram de emoção, de pura felicidade. Se aquilo fosse um sonho não queria acordar tão cedo.

–Meu Deus! Estou literalmente sem palavras, não sei nem o que dizer… É você mesma? Será que não tô sonhando? -disse ainda me recuperando do susto inicial. Como que querendo comprovar de que não estava sonhando, voltei a acariciar aqueles cabelos fogos que estavam presos em um rabo de cavalo e apertei aquelas lindas bochechas sardentas.

–Desse jeito você vai arrancar as minhas bochechas. -recebi aquele sorriso que sempre me deixava sem ar. -O que você quer que eu faça pra te mostrar de que estou na sua frente e nada disso é um sonho?

–Me beija! -respondi em um fio de voz.

Mais do que depressa senti minha boca ser invadida por uma língua voraz. Só a Ágatha sabia me beijar de uma maneira surreal, apaixonante e sedutora ao mesmo tempo. Durante o beijo senti mais algumas lágrimas escaparem do meu rosto, as quais foram limpas por um par de mãos macias. O beijo foi interrompido quando o ar se fez necessário.

–Ainda tem mais alguma dúvida de que sou eu, Gi? -como amava essa voz!

–Depois desse beijo que bambeia as pernas, não tenho dúvidas.

Reparei que a Ágatha estava linda em um vestido preto de alcinhas constratando com sua pele clarinha e uma sandália de saltos. Ela estava mais linda do que nunca.

–Vamos nos sentar? Esses saltos estão acabando com as minhas pernas.

Aquela ruiva linda sentou no sofá, ia fazer menção de sentar ao seu lado, mas fui impedida… Ágatha me puxou para o seu colo e é claro que não recusei o contato. Fiquei recostada naquele colo gostoso apenas sentindo meus cabelos sendo acariciados. Fiquei temerosa de quebrar aquele contato delicioso, mas sabia perfeitamente que muitas coisas precisavam ser ditas.

–Ágatha, como cheguei até ao seu apartamento? Você não sabe como foi um inferno minha vida longe de você. -fiz uma espécie de desabafo.

–Quem você acha que te trouxe da boate pra cá? Morri de saudades de você minha loirinha. -agora a ruiva cheirava meus cabelos me fazendo suspirar.

–Eu achei que tinha vindo de carona com uma desconhecida loira que estava de óculos escuros, depois eu vi que a mulher tinha olhos verdes. -lembrei da imagem loira da noite passada.

–Digamos que essa suposta loira e eu somos a mesma pessoa, mas você não percebeu.

–Como assim, Ágatha? -indaguei sem entender. -A desconhecida não parecia com você em nada, ela era loira, na verdade eu acho… -respondei baixando o olhar.

–Digamos que uma peruca, lentes de contatos, maquiagem exagerada e outras coisinhas a mais fazem milagres. Essa foi a única maneira de me aproximar de ti sem que você me reconhecesse. -a ruiva se explicou levantando o meu olhar, voltei a encarar os profundos olhos castanho-claros.

–Isso quer dizer que você estava na boate o tempo todo? Minha teoria então não falhou. Estava certa. -lembrei que pela minha cabeça passava várias pessoas com as quais a Ágatha podia ter ficado.

–Estava sim na boate, mas não do jeito que você deve estar pensando. Aliás, eu já não ia naquela casa noturna há muito tempo. -estava mais perdida do que cego em tiroteio.

–Então como você sabia que eu estava lá? Nós não nos falamos há um certo tempo. -perguntei ainda sentindo meu coração acelerado. Só a ruiva tinha esse poder sobre a minha pessoa.

–Agradeça por ter a melhor amiga desse mundo. A Dani me ligou na quinta-feira dizendo que você iria me procurar na boate. Quais eram suas intenções, Gi? E não sei de onde tirou a ideia de que me encontraria lá. Se não fosse pela Daniela jamais iria me encontrar por lá. -a Ágatha tinha um tom de voz calmo, nada inquisidor, então resolvi ser verdadeira.

–Antes de nos conhecermos, todo final de semana você estava naquela boate, depois que terminamos… Sabe como é… Você solteira… Queria te ver novamente nem que fosse por uma última vez mesmo que você estivesse nos braços de outra pessoa. Tentei te ligar, mas você não atendia, até arrisquei ir à casa dos seus pais, mas a Dani me disse que você não morava mais lá… -achei que não seria tão difícil abrir meu coração, mas estava muito envergonhada. Com certeza a Ágatha me acharia uma boba.

–Gi, você falou bem. Eu ia para boates antes de nos conhecermos e quando não tinha perspectiva nenhuma de relacionamento para a minha vida. Falei sério quando disse que desde que nos conhecemos não quis mais esse estilo de vida pra mim. Nosso namoro pode ter terminado, mas o meu amor não, muito pelo contrário, ele só cresce cada dia mais. Estivemos longe fisicamente, mas meu coração sempre esteve conectado com o seu.

Por essa declaração de amor eu não esperava. Virei de frente e novamente me enrosquei naquele pescoço, beijando-o muito. Quando Ágatha começou a gemer baixinho precisei me policiar para não irmos além, ainda não era o momento certo.

–Eu te amo muito, Ágatha, mais do que você possa imaginar. Dá mais uma chance para o nosso amor, por favor. Nós merecemos ser felizes. -nessa hora limpei as lágrimas que escorriam do rosto da ruiva.

–As coisas não são tão simples, Gi. Eu quero muito ficar com você, mas não sei se seria uma boa ideia. -encarei a ruiva e havia dúvidas no seu olhar.

–Como assim? Você não disse que me ama? Acha que não temos mais jeito? -levantei o olhar para a ruivinha. Não queria perder aquela mulher novamente

.

–Eu te amo muito, mais do que imaginava. Nós já tivemos muitas discussões, mas nessa última briga extrapolamos todos os limites. Além das agressões verbais, quebrei o seu celular e você me bateu. Se ficarmos juntas não quero mais passar por essa situação novamente. -Ágatha me fitava emocionada.

–Amor, me perdoa por aquele tapa. -disse sentindo minha consciência pesar. -O problema é porque nós duas temos a personalidade muito forte, somos explosivas e bastante impulsivas… -sabia que essa era a verdade mesmo, nem tinha como negar.

–Exatamente! O pior é comigo… Além de explosiva e impulsiva, nunca namorei antes, isso faz com que sinta muito ciúmes e me torna uma mulher bastante insegura, rendendo discussões desnecessárias. Meu medo maior é de voltarmos a namorar e nos machucarmos ainda mais.

–Acho que o mais importante já fizemos… Reconhecemos nossos próprios erros. Agora temos duas opções. Vamos deixar nossos defeitos paralisar nossas vidas e nos tornamos pessoas infelizes ou então vamos aprender a dialogar mais diante das dificuldades que se apresentarem no nosso namoro e vamos resolver tudo com muita calma e discernimento, lutando sempre pelo nosso amor? Qual alternativa é mais viável? Eu prefiro a segunda opção. -desabafei tudo o que tinha para falar. Era a primeira vez que estava sendo tão sincera na minha vida.

–Você tem razão, Gi. Nós merecemos ser felizes, as brigas fazem parte do nosso processo de amadurecimento, não vamos deixar brigas bobas impedirem que o nosso amor se fortifique cada vez mais. Vamos agir a partir de agora como duas adultas, não como imaturas que agem a flor da pele e não sabem resolver os próprios problemas, não vamos desistir do nosso amor na primeira briga.

–Isso mesmo Ágatha. -agora nós duas já tínhamos os nossos rostos banhados pelas lágrimas. -Então isso quer dizer um sim? Você vai voltar a ser minha namorada? -perguntei extremamente sorridente, minha felicidade era palpável.

–Vamos voltar a namorar sim, mas apenas se você quiser, e depois que prometer que não vamos mais trocar ofensas, seja de que natureza for… Quando acontecer qualquer briga vamos esfriar a cabeça e só depois conversaremos, faremos isso sempre para evitar falar besteiras. Concorda?

–Claro que concordo. Relacionamento é um aprendizado diário e aos poucos vamos aprendendo a lidar com as nossas diferenças.

–Então vamos fazer tudo direitinho… -a ruivinha se afastou de mim e voltou de lá com os nossos anéis.

–Não acredito que você guardou os nossos anéis, amor… Pensava que já havia esquecido deles. -falava que nem uma boba apaixonada.

–Jamais. Mesmo que estivéssemos longe, meu coração dizia que mais cedo ou mais tarde ainda teríamos a chance de nos reconciliar. -Ágatha falou beijando minha mão depois que colocou o anel no meu dedo.

Em meio a juras de amor e muito carinho, resolvemos assistir uma comédia romântica. Estava com muitas saudades de sentir o corpo da Ágatha grudado no meu enquanto fazíamos amor loucamente, até porque nossa vida sexual era bastante ativa, porém nesse sábado estava me sentindo extremamente feliz apenas por tê-la por perto.

Sentir seus abraços, beijos e cafunés estavam mais do que delicioso, só que mesmo com toda essa proximidade e nosso namoro reatado, conhecia muito bem a minha namorada para saber que algo a estava incomodando, só não sabia exatamente o que poderia ser, o seu silêncio não me deixava com dúvidas.

–Ámor, olha pra mim… Por favor. -disse dando pausa no filme e atraindo a atenção da minha namorada.

–O que foi meu anjo? Tá preocupada com algo? -indagou e eu senti uma certa dúvida no seu olhar.

–Sim, tô muito preocupada com você. -disse lhe encarando profundamente.

–Como assim? Eu não entendi… -Meu Deus! Dê-me paciência! Ela estava fingindo que não tinha ideia do que eu estava falando.

–Ágatha, eu te peço, não banca a desentendida. Não tem muito tempo que conversamos sobre o nosso namoro. Combinamos que vamos resolver tudo na base do diálogo, na mais perfeita ordem. Sei que algo está te incomodando, se não quer me dizer o que é, tudo bem, mas não finja que nada está acontecendo. -disse me afastando um pouco da ruiva, mas ela me puxou de novo para perto.

–Desculpa! Nós reatamos, mas tem algo que ainda está me causando um certo desconforto e me deixando com bastante dúvidas. Não quero que me ache infantil, por isso ainda não mencionei nada -respondeu seriamente.

–Então me diz o que é, independente do que seja prometo que direi toda a verdade. Vou te achar infantil apenas se continuar a me esconder algo que sei que está te deixando cabisbaixa e triste. -disse e em troca recebi um sorriso.

–Giovanna, juro que tentei esquecer, mas nunca consegui tirar da cabeça o que aconteceu no dia anterior à festa dos meus irmãos. Diz o que realmente aconteceu naquela sexta-feira que você se encontrou com a Pietra. Vocês ficaram? Por que que no domingo ela te ligou o dia todo? E por que você mentiu pra mim sobre esse encontro? Preciso ouvir da sua própria boca os mínimos detalhes sobre esse assunto pra poder recuperar minha paz. -esperava que a Ágatha fosse mencionar esse assunto, mas tinha que ser justo agora?

–Amor, você quer mesmo falar sobre isso? Justo no dia da nossa reconciliação? Pensei que já eram águas passadas. -respondi coçando a cabeça. Falar na Pietra era um assunto delicado, ainda mais porque de vez em quando me pegava pensando nela, mas a Ágatha não precisava saber disso.

–Um relacionamento não é construído a base de mentiras, e você mentiu pra mim naquele dia. -abaixei a cabeça sabendo que ela estava certa. -Então só te peço a verdade.

–Vou falar tudo o que aconteceu. Você melhor do que eu sabe que de quinta pra sexta foi o meu aniversário, ficamos desde a tarde até altas horas da madrugada juntas, dormi muito pouco pois precisava ir trabalhar cedo no outro dia, então quando a noite de sexta chegou realmente quis ir dormir cedo… -falei bebendo um pouco d’água.

–Essa parte você já me falou, mas ainda não entendi onde a Pietra entra nessa história.

–Calma que ainda não terminei. Continuando… Assim que cheguei ao apartamento do Renan, meus únicos planos eram jantar e dormir, só que o meu irmão estava mais insuportável do que nunca. Pra evitar mais uma briga resolvi ir jantar naquele supermercado que fica a alguns quarteirões do prédio. Enquanto estava na parte do self-service encontrei com a Pietra, me escondi para ela não me ver, só que não teve jeito. Ela me viu e veio conversar comigo.

–Essa garota é muito dissimulada… -Ágatha comentou e notei a raiva e ciúmes no seu olhar.

–Enquanto tentava me livrar dela, o Tiago apareceu e nos viu juntas, foi deduzindo por conta própria de que nós duas estávamos juntas.

–Você encontrou os seus dois ex-namorados no mesmo lugar? Que azar! -a ruiva indagou desacreditada.

–Exatamente. Acabei jantando com o Tiago como forma da Pietra ir embora, era a única maneira dela me deixar em paz. Foi quando ele me falou do aniversário dos gêmeos e eu aceitei só porque soube que a Dani também iria, era uma forma de matar as saudades da minha melhor amiga.

–Mas ele disse que viu a Pietra indo atrás de você na saída do supermercado? Isso foi verdade ou foi armação dele? -eu não queria mais tocar nesse assunto, mas sei que as coisas precisavam ser esclarecidas.

–É verdade, mas não da forma que ele disse. A Pietra conversou dizendo que estava com saudades e dizendo que eu deveria tomar muito cuidado com o Tiago pois ele poderia me fazer algum mal. Sem mais delongas não fiquei dando papo e ela foi embora. Depois voltei pro prédio e capotei na minha cama. Imediatamente dormi.

–Só que no domingo ela te ligou, não foi? O que ela queria? -Ágatha continuava prestando atenção na minha justificativa.

–Ela escutou a parte de que sairia com a Dani e o Tiago, então me ligou pra saber se ele tinha feito algo de mal comigo. Lembra daquela última vez que você nos viu lá no restaurante e ela disse que seria sua missão cuidar de mim?! No domingo ela me ligou pra saber se eu estava bem.

–Então foi só isso o que aconteceu? Por que você não me contou toda essa história antes? Tantos desentendimentos poderiam ser evitados, nosso namoro não acabaria, continuaríamos juntas e felizes. -Ágatha andava de um lado para o outro na sala.

–Dessa vez estou te contando toda a verdade, nos mínimos detalhes, me arrependo muito por não ter dito tudo antes. Amor, você mesma disse que é muito insegura, então achei que seria desnecessário te contar sobre esse fato insignificante, serviria apenas para alimentar seus ciúmes. Só que o Tiago se aproveitou desse fato para nos fazer brigar. -disse abraçando minha namorada pelas costas beijando seus ombros.

–Acho que a dor maior foi por eu ter sabido dessa noticia por outra pessoa, não por você. Mesmo insegura, queria saber a verdade… A Pietra e você namoraram por cinco anos. Pensa que eu não tenho medo de você querer voltar com ela, me abandonar e cansar de mim? -Ágatha se virou e tive dó. Ela chorava muito.

–Poderia ter passado vinte anos com ela, mas jamais mudaria o fato de que você é a única mulher que amo nesse mundo. Nem Pietra ou qualquer outra pessoa será capaz de roubar o meu coração, ele é só seu. -respondi pousando um beijo suave nos seus lábios, mas admito que não tinha tanta convicção do que dizia. Seria possível ter a Ágatha e a Pietra ao mesmo tempo? Rapidamente tratei de afastar tais pensamentos.

–Depois que nos separamos… Você e a Pietra ficaram? Digo… Você estava solteira, podia ficar com quem quisesse. -a insegurança era o principal defeito da Ágatha. Para ficar com ela teria que aprender a lidar com isso.

–Não fiquei com a Pietra e nem fiquei com ninguém. Não parei de pensar em você. -disse e Ágatha me puxou para um abraço apertado.

–Me sinto melhor agora. Não vai perguntar se fiquei com alguém? -perguntou mordendo meu pescoço.

–Não sei se vou gostar de ouvir a resposta. -respondi sem graça.

–Acho que vai gostar de saber que também não fiquei com ninguém, aliás, não sei de onde tirou aquela ideia maluca de que eu estaria na boate ou namorando com alguém se é você que amo.

–Você é muito linda para ficar sozinha. -respondi tímida, mas muito feliz por saber que a Ágatha não havia se relacionado com ninguém.

–Digamos que meu tempo foi ocupado por pensar em você, chorar, trabalho, vir para esse apartamento novo e estudar para o concurso da Policia Federal. Quero ser a mais nova delegada do Rio. -comentou orgulhosa e retribuir com vários beijos.

Agora que todas as dúvidas estavam esclarecidas nem voltamos nossa atenção para o filme, começamos a nos beijar e o clima foi esquentando. Tudo estava indo às mil maravilhas quando o toque histérico do telefone da Ágatha quebrou a magia daquele momento.

 

 

 

Boa tarde meninas. Acho que esse é o capítulo que todas nós esperávamos (inclusive a autora). A parte ruim é que a Gi parece que não está sendo completamente sincera com os seus sentimentos.
Estão gostando do rumo de tudo?

Até a próxima.Beijos.



Notas:



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