Se alguém me dissesse que as coisas ainda iriam piorar mais, eu diria que a pessoa estava maluca e pior do que já estava não ficava, só que o destino estava me mostrando justamente o contrário. Com o término definitivo do meu namoro andava mais do que irritada e dando patadas em todo mundo, até mesmo nos meus alunos, incluindo o Enzo por quem já tinha um carinho especial. Antes de tudo eu era muito profissional e sabia deixar minha vida pessoal de lado, mas depois que Ágatha e eu terminamos… Pela primeira vez na vida eu estava perdendo completamente as rédeas da minha vida, para piorar eu só escutava Marilia Mendonça, Pablo do Arrocha e outros cantores sofrências o tempo todo, estilo musicais bads que nunca havia na minha playlist antes, agora eram meus companheiros inseparáveis.
Para piorar eu fui afastada de algumas turmas e em um certo dia foi inegável não ser chamada pela diretora Rita para uma conversa séria e definitiva talvez.
–Professora Giovanna, o que está acontecendo com a Srta.? Você sempre foi uma professora bastante exemplar, querida por todos os alunos e professores, mas de repente só ouço reclamações por todos os lados, só essa semana muitos pais já vieram reclamar do seu comportamento. A mãe da Paloma do nono ano veio me dizer que você chamou para a filha dela de burra, é verdade? –eu adoraria ter argumentos para me defender, mas não havia o que ser dito. Eu estava mesmo errada.
–Diretora, não tenho o que dizer em minha defesa. Estou com alguns problemas pessoais que infelizmente deixei interferir no meu trabalho… –mal pude falar e já fui cortada.
–Giovanna, você sabe melhor do que eu que seus comportamentos não têm sido nada éticos. Tenho uma grande admiração pelo seu trabalho, reconheço que apesar de tudo você é uma profissional competente, por isso mesmo lhe chamei para essa conversa. Quero lhe ajudar a manter o seu emprego, mas se suas atitudes não mudarem serei obrigada a lhe demitir por justa causa.
–Muito obrigada pela conversa dona Rita. Prometo que não terá mais queixas de mim, vou voltar a ser a Giovanna antiga e não deixar nada interferir no meu trabalho.
Depois dessa rápida conversa com a diretora, fiquei perambulando de carro pela cidade, sem destino certo. Perder aquele emprego em uma das escolas mais prestigiadas do Estado estava fora de cogitação, eu ganhava relativamente bem e eu amava ser professora. Se eu perdesse esse emprego como iria sobreviver? Podia tentar ser administradora de empresas, mas não tinha experiência no ramo, apenas o diploma. Só que ao mesmo tempo morria de saudades da Ágatha e me incomodava o fato de pensar na possibilidade dela estar com outra pessoa, tocando outros corpos, e não se lembrar mais da minha existência.
Ainda um pouco perdida e sem saber para onde iria, resolvi ir para a casa da única pessoa em quem eu confiava de verdade e sabia que não iria me virar as costas, a Daniela obviamente.
Minha melhor amiga me recebeu com alegria, mas nem me pareceu surpresa por me vê na casa dela em plena quinta-feira à tarde, horário em que eu estaria na escola em situações normais.
–Demorou muito pra me procurar, mas que bom que você veio. –desde o término do meu namoro, guardei todo meu sofrimento e minhas tristezas apenas para mim, não quis dividir com ninguém, nem mesmo com a Dani.
–Dani, eu morro de saudades da Ágatha. Minha vida sem ela virou um verdadeiro inferno, nada mais faz sentido, só penso nela 24 horas por dia, não tenho vontade de comer e nem nada. Só queria ter uma chance para que pudéssemos nos acertar. –dizia em meio aos prantos sendo consolada e abraçada pela minha melhor amiga.
–Gigi, você sempre foi uma pessoa muito orgulhosa. A Ágatha errou muito, só que fez a parte dela e te procurou, mas você agiu de maneira muito estúpida com ela. Se você realmente ama essa mulher, engole seu orgulho e vai atrás dela, lute por esse amor. –Dani dizia enxugando minhas lágrimas que não paravam de cair.
–Mas e se ela não quiser me ver? E se ela estiver com outra pessoa? Será que ela vai querer me receber? Será que ela me perdoaria? Será que ela ainda me ama? –eram mais perguntas do que respostas no meio de tantas lágrimas.
–São muitas perguntas que apenas a Ágatha poderá te responder. Não tenho poder pra isso…
–Como vou viver se a minha ruivinha estiver amando outra pessoa? –perguntei com os olhos nublados pelas lágrimas.
–Pelo menos você saberá a verdade e deverá seguir com a sua vida, e o sofrimento obviamente virá, mas você contará com todo meu apoio para superar. –Dani disse me abraçando ainda mais.
–Acho que você tem razão. Vou aproveitar que amanhã é sexta-feira e vou até a casa da Ágatha, pelo menos tentar me explicar…
–Gigi, preciso te falar uma coisa antes que me esqueça. A Ágatha não mora mais na casa dos pais dela, ela se mudou de lá e não sei onde ela tá morando.
–Como você sabe disso? E por que ela se mudou de lá? –perguntei abobalhada.
–Esqueceu que namoro um dos irmãos dela?! –realmente tinha esquecido desse fato. –Não sei porque ela se mudou de lá, não faço a menor ideia. Tenta pelo menos ligar pra ela e vê se ela te passa o endereço dela.
–É uma boa ideia minha amiga. –disse um pouco entusiasmada.
O entusiasmo inicial cedeu lugar à tristeza quando liguei mais de cinco vezes e a ruiva não me atendeu, chamava até cair na caixa postal. Com certeza ela via que era o meu número e não iria me atender.
–Daniela, ela não me atende, ela não quer falar comigo. –balbuciei voltando a chorar.
–Calma Gigi! Vai vê que ela tá ocupada agora, mas depois te retorna. –minha amiga em vão tentava me tranquilizar.
–Não precisa mentir pra mim, sei que a Ágatha não vai me atender. Se ela quer assim, que seja feita a vontade dela, mas eu sei exatamente o que vou fazer. –disse me levantando apressadamente do sofá e pegando minha bolsa para eto da Dani.
–Gi, o que você tá pensando em fazer? –minha amiga parecia muito preocupada.
–Sabe aquela boate que fica no centro, perto daquela academia? Sei que a Ágatha sempre ficava com as meninas de lá antes de nos conhecermos. Amanhã eu vou até lá e ficar mais uma vez com ela, nem que seja pela última vez. –disse como se houvesse tido uma sacada de gênio.
–Giovanna, você só pode estar ficando louca! Essa não é a mesma boate onde a Pietra trabalha? Qual o seu plano? Unir suas duas ex-namoradas no mesmo local?! –Dani gritou comigo para o meu eto.
–A Pietra que vá para o quinto dos infernos, nem ligo mais pra existência dessa desgraça. –no fundo sabia que estava mentindo para mim mesma. –Apenas quero vê a Ágatha, quero um último contato com ela, provar aqueles lábios pela última vez, fazer amor com ela. –falava empolgada, mas fitava o vazio.
–Pra mim você pirou de vez! –Dani não concordou com a minha ideia, mas pouco me importava. –Mesmo supondo que a sua teoria esteja certa. Já parou pra pensar se a Ágatha estiver ficando com outra pessoa e você presenciar essa cena? Você ficaria pior do que já está.
–Pode até ser, mas eu vou preferir enxergar a verdade, e vê o amor da minha vida por uma última vez. Vou chorar o final de semana todo, mas na segunda-feira sigo com a minha vida. –disse ainda querendo provar que estava certa.
–Gi, lembra que a Pietra já te humilhou nessa boate. Como você tem tanta certeza de que a Ágatha não fará a mesma coisa? Ela pode se negar a ficar com você, e ainda te humilhar.
–Juro que não entendo porque você fica trazendo a tona o nome da peste da Pietra. A minha ruivinha jamais agiria como a minha ex-namorada, essa DJ, a Ágatha é muito diferente, por isso eu amo ela.
–Com a Pietra era diferente porque creio que você nunca amou ela, só estava encantada. Mas com a minha cunhada sei o quanto é diferente, você ama essa mulher… Só de falar nela já percebo um brilho mais do que especial em você, nunca te vi assim antes, não sei se isso é amor ou obsessão, e como sua melhor amiga me preocupo muito. –Dani disse me puxando para um abraço novamente onde voltei a chorar por saber que estava certa em partes. Com a Pietra não foi apenas um encanto qualquer, ainda nutria sentimentos pela morena mesmo não querendo admitir, só que minha amiga não precisava saber disso.
–Mesmo sabendo que eu possa me arrepender amargamente dessa decisão, eu preciso tomar essa atitude. Vou reconquistar a Ágatha. Com seu apoio ou não, eu vou sim até essa boate amanhã a noite. –estava mais do que decidida, ninguém me faria mudar de ideia, nem mesmo a Dani.
–Do jeito que você é muito teimosa, não esperava mesmo que mudasse de ideia. Eu sou hétero, mas me deixa ir com você nessa boate LGBT, assim me preocupo menos. –por um momento até pensei em aceitar a decisão da Dani, mas reconsiderei e não seria uma boa ideia.
–Dani, te agradeço muito pela excelente amiga que você é, mas eu quero mesmo ir sozinha. Só me deseje sorte, por favor.
–Nem precisa pedir. Que você tenha toda sorte desse mundo, e sempre torcerei pela sua felicidade. Caso algo dei errado não hesite em me ligar, seja a hora que for. –Dani praticamente suplicou.
–Obrigada minha amiga. Prometo que vou te ligar caso as coisas saiam errado. Já está ficando tarde. Preciso ir pra casa. –disse começando a limpar minha cara de choro.
–Gi, já tá meio tarde. Por que não dorme aqui? Amanhã você vai embora. –como adorava a Dani.
–Se eu ficar por aqui apenas vou chorar e querer falar sobre a Ágatha o tempo todo, e não quero te encher com os meus problemas. Sem falar que amanhã tenho cinco turmas para dar aula, não posso vacilar novamente, e perder meu emprego. Amanhã quero já está com uma aparência mais apresentável. –a Dani sabia perfeitamente que meu emprego estava na corda bamba.
–Entendo Gigi. Você é muito linda e tem mais forças do que imagina, sabe que te admiro muito. Não tenho dúvidas de que conseguirá superar todos esses problemas com classe e elegância.
Por fim me despedi da Dani e fui para a minha casa. Pela primeira vez depois de tanto tempo, consegui finalmente deitar e dormir, não passei a madrugada toda com insônia.
Não demorou para que a sexta-feira chegasse. A minha aparência até que melhorou um pouco, claro que com a ajuda de muita maquiagem.
Esse foi um dia atípico, a minha segunda aula era com a turma do Enzo. Odeio admitir, mas reconheço que agi de maneira muito estúpida com esse menino. Quando a Ágatha terminou comigo, mudei radicalmente com o garotinho, fiquei mais distante, ele me lembrava da ruivinha, por isso me afastei. Assim que o sinal tocou indicando o recreio, tratei de impedir a sua saída para o eto dele.
–Enzo, podemos trocar uma palavrinha? –estava mais do que sem jeito perto de uma criança.
–Vai demorar muito professora Giovanna? Quero ir pro recreio brincar com os meus amigos. –claro que ele ia mudar comigo, não era para menos.
–Quero que pare de me tratar de maneira tão formal, quero voltar a ser a sua tia Gi que você tanto gostava. Sei que preciso te pedir desculpas, independente do que aconteceu entre a Ágatha e eu, você sempre será meu aluno preferido e por quem tenho um imenso carinho. –disse acariciando os seus cabelos castanhos e ele não negou o contato.
–Tia Gi, você nunca vai perder o carinho que conquistou comigo. A minha mãe pediu para que eu te tratasse só por professora, mas confesso que está sendo difícil. Eu queria saber porque vocês adultos têm a mania de complicar tanto a vida e os sentimentos. –como as crianças são maravilhosas.
–Enzo, também gostaria de saber porque somos tão complicados, pena que ainda não sei a resposta. –disse fitando o vazio e pensando na tia do meu aluno. –Você ainda não disse se aceita o meu pedido de desculpas. –disse voltando minha atenção para o garotinho.
–Não posso te desculpar por motivo de força maior, sinto muito. –Enzo disse já pegando sua lancheira.
–Tudo bem, eu sabia que não seria fácil. Não vai me desculpar por causa da maneira que venho te tratando e por ter feito sua tia sofrer. –respondi resignada.
–Nada disso tia Gi. Não posso te desculpar porque você ainda não me abraçou como fazia antes, se me abraçar eu desculpo.
Foi impossível não rir da resposta do Enzo. Mais do que depressa peguei aquela criança no ar e lhe enchi de abraços e beijos.
–Agora estou perdoada? –perguntei rindo ainda lhe abraçando apertado.
–Tá sim, mas não precisava me dar beijos tia Gi. Agora tô com marca de batom, meus amigos vão achar que tenho namorada. –Enzo respondeu me arrancando gargalhadas.
–Você é um gato, além de ser fofo e adorável. Um dia as meninas vão querer te namorar. Vou te contar um segredo… Acho que a Carlinha gosta de ti. –disse fazendo menção a uma menina da turma do Enzo.
–Tia Gi, não fale essas coisas. A Carla e todas as meninas são chatas, não quero namorar nunca, casais se tratam de maneira nojenta.
No fim das contas passei todo o horário do recreio com o Enzo, mas pelo menos estávamos de bem, ele havia voltado a ser meu aluno carinhoso, engraçado e risonho de sempre e eu voltei a ser a sua “tia Gi”, não apenas a professora Giovanna.
Lá pelas 15:00 já estava dispensada de todas as minhas turmas. As horas passavam devagar, mas finalmente a noite estava chegando e meu nervosismo só aumentava para colocar meu plano em prática.
Vamos torcer para que o plano da Gi de reconquistar a Ágatha dei certo, mas não sei não… Alguma aposta? Beijos meninas.
Acredito que vai dá mais merda
Eu tb acho, mas veremos. Sei que prometi um capítulo pra hoje, mas as coisas estão bem enroladas. Vou tentar compensar na próxima semana 🙂