Nosso Estranho Amor

11. Quer ser minha namorada?

Não sei precisar por quanto tempo dormimos, mas eu acordei com uma voz feminina alta já dentro do quarto.

–Ei Ágatha, por que você ainda não desceu pro jantar? O papai… –neste instante a estranha deu de cara comigo e se calou. Eu bastante desajeitada apenas puxei o cobertor para esconder minha nudez.

–Quem é você? –perguntei super envergonhada.

–Eu que deveria fazer essa pergunta. –a desconhecida apenas me olhava de cima a baixo.

–Ágatha, Ágatha, acorda logo caramba! –comecei a chacoalhar a ruiva para que ela acordasse. Ela tinha o sono de pedra

–Amor, o que foi? –Ágatha apenas balbuciava. –Já quer ir embora?

–Ágatha, acorda logo merda! Pode me explicar o que é isso? –com a voz da desconhecida, a ruivinha mais do que depressa acordou.

–Caramba, o que você tá fazendo no meu quarto? Não sabe mais bater na porta? –percebi a chateação da ruivinha.

–Eu bati, mas simplesmente você não atendeu. Tá na hora da janta e o papai quer saber porque você ainda não desceu. –a estranha não parava de me olhar.

–Por favor, eu já vou descer. Apenas me dá alguns minutos. Nada de comentar com ninguém o que você viu aqui.

–Nem precisa pedir, com licença meninas! –assim aquela moça de cabelos castanhos saiu, deixando-nos a sós.

Juro que quando aquela mulher saiu a minha vontade era de fazer um buraco na terra, enfiar a minha cabeça como um avestruz e nunca mais sair, estava morrendo de vergonha.

–Gi, precisamos descer agora. Vamos jantar. –Ágatha falou na maior naturalidade.

–Jantar com a sua família? Tá doida? Eu tô morrendo de vergonha, afinal, quem era aquela mulher que estava aqui?

–Acabei esquecendo de apresentar vocês com toda a confusão, aquela intrometida é a minha irmã Alana, mãe do Enzo.

–A mãe de um dos meus alunos me pega peladona na sua cama, não sei onde enfiar a minha cara. –sim, a vergonha não ia embora tão cedo.

–Não esquenta, a Alana é muito de boa, logo ela esquece o que aconteceu. Sem falar que você é professora lá na escola, fora dela você é uma pessoa normal com uma vida pessoal.

–Só que eu não sei como agir, tem como eu sair daqui sem sua família me vê? Alguma passagem secreta pra Nárnia?

–Que exagero, Gi! Por favor, janta comigo, assim te apresento pra todo mundo.

–Não sei, o que a sua irmã vai pensar de mim? E o Enzo me vendo aqui? Melhor não, Ágatha.

–Aposto que ele vai adorar te vê, por favor, janta com a gente. –a ruiva pediu fazendo biquinho, era impossível resistir.

–Mesmo sabendo que posso passar a maior vergonha do mundo, por você eu aceito. –respondi lhe dando um selinho.

Para dissipar o cheiro de sexo dos nossos corpos nos banhamos rapidamente e passamos um perfume amadeirado forte e logo descemos, a cada passo dado eu ia rezando mentalmente para que a família da Ágatha gostasse de mim e que eu não passasse mais vergonha.

–Amor, para de tremer. –Ágatha se acabava de rir.

–Eu não tô tremendo. –respondi para a ruiva quando estávamos a pouquíssimos passos da sala de jantar.

Mal havíamos adentrado a sala quando ouvimos um grito e alguém praticamente se jogou em cima de mim.

–Tia Gi, você tá tão linda! O que tá fazendo por aqui? –recebi um abraço muito apertado de um pinguinho de gente.

–Oi Enzo, tô fazendo uma visitinha surpresa. –enquanto acariciava os cabelos castanhos do menino de nove anos, com o olhar pedia ajuda de Ágatha.

–É meninão, a sua tia da escola é minha amiga, ela vai jantar com a gente.

–Amiga é tia? Não me engana, sou criança, mas não sou burro. –quantos anos esse menino tinha mesmo?

–Enzo, que modos são esses? Vá já para o seu lugar na mesa. –Alana, a mesma moça que me flagrou na cama da Ágatha ralhou com o filho que foi sentar cabisbaixo.

–Oi família, espero que não se importem, hoje trouxe uma pessoa para jantar conosco. Desculpa não ter avisado com antecedência.

–Não começa pica-pau, sabe que com a gente você não precisa de cerimônia! –um jovem falou divertido arrancando uma sobrancelha franzida de Ágatha, deduzi que deveria ser um dos irmãos dela.

–Galera, essa é a Giovanna…

–Ela é minha professora de português, muito legal e muito linda, combina com você tia Ágatha. –Enzo interrompeu a apresentação de Ágatha despertando alguns risos.

–Já sabemos que você conhece essa moça bonita, Enzo. Agora deixe sua tia apresenta-la para o restante da família. –um senhor ruivo, bem alto e muito elegante comentou calmamente.

–Muito obrigada pai! A Giovanna é minha amiga, Gi essa é a minha família. Este homem simpático e muito bonito é o meu pai, o Sr. Gustavo, a pessoa ao lado dele apenas tem a cara fechada, mas é super gente boa, é a minha mãe, dona Michele, as duas pestes lá da ponta é o Alexandre e o Artur, do outro lado tem a Alana, ao lado dela o Geraldo que é meu cunhado, e essa criança linda, nosso querido Enzo, você já conhece.

–É um enorme prazer conhecer vocês. –disse cumprimentando timidamente cada um deles.

–Venha cá Giovanna! –percebi que a mãe de Ágatha me chamava, acho que ela não foi muito com a minha cara, tinha um semblante muito sério. –É um enorme prazer te conhecer, Deus escutou minhas preces e finalmente a Ágatha tomou um rumo na vida. –uma impressão muito enganosa, a dona Michele me puxou para um abraço mais apertado que o do Enzo, parecia não querer me soltar mais.

–Maninha, eu preciso te parabenizar, você tem um gosto muito bom para mulheres. Você é uma gata, Giovanna! –fui elogiada pelo Arthur.

–Obrigada Arthur. –respondi tímida.

–Controla esses hormônios, fedelho! –Ágatha disse repreendendo o irmão.

–Já chega crianças, não vão deixar nossa convidada constrangida. Vamos jantar na santa paz. –Sr Gustavo colocou fim ao bate boca que se formaria a seguir.

Posso dizer que o jantar estava correndo na mais perfeita ordem, mesmo sem ser planejado, estava amando conhecer a família da Ágatha, estava me sentindo muito bem à vontade. Já ao final do jantar, Enzo soltou uma pergunta nos colocando em apuros, principalmente a mim.

–Tia Gi, você sempre foi lésbica? –eu meio que me engasguei e não sabia o que dizer.

–Enzo, não faça essas perguntas a nossa convidada. –o menino foi repreendido pelo pai Geraldo.

–Tudo bem, eu posso responder. Na verdade Enzo, eu não sou lésbica…

–Ué, você não é a namorada da tia Ágatha? Como assim não é lésbica? –o menino não parava de me encher de perguntas e eu não sabia o que responder. Eu namorei com homens, depois gostei da Pietra, agora estava perdidamente apaixonada pela Ágatha, mas não me enxergava como lésbica, gostava da pessoa que estivesse ao meu lado.

–Enzo, já chega de ser inconveniente. Não é essa a educação que lhe ensinamos. –Alana repreendeu o filho mais severamente.

–Desculpa tia Gi, não quis faltar com respeito. –o menino parecia arrependido.

–Tudo bem, eu respondo. Talvez seja difícil para uma criança da sua idade entender, mas eu gosto de pessoas, podem ser homens ou mulheres… –estava completamente sem graça.

–Tia Gi, então você é bissexual. Por que não falou antes? –o menino não tinha jeito mesmo.

–Tem certeza que você tem apenas nove anos? –perguntei surpresa.

–Sou criança no corpo, mas tenho cérebro de gente grande.

–Daqui a pouco essa gente grande vai pro castigo se não parar de falar e comer logo. –Alana respondeu, arrancando risadas de todos, menos de Enzo.

–Ágatha e Giovanna, vocês ainda não responderam a outra pergunta do Enzo. Vocês estão namorando ou não? –Sr Gustavo nos colocando em maus lençóis.

–Pai, pelo amor de Deus, não nos deixe envergonhadas.

–O papai fez uma pergunta simples, o que custa responder? –Arthur saiu a favor do pai.

–Já que a Ágatha ficou muda vou perguntar para a Giovanna. –foi a vez de Alexandre perguntar. –Gi, vocês estão namorando? –era só o que me faltava, agora eu não sabia o que dizer, então resolvi seguir meu coração.

–Bom, a Ágatha é uma pessoa maravilhosa e extremamente especial, gosto muito mesmo dela, mais do que vocês possam imaginar… Da minha parte seria uma honra poder namorar com ela, se a Ágatha aceitar é claro.

–Um pedido de namoro, que coisa mais linda minha gente. –Arthur comentou.

–Anda Ágatha, fala alguma coisa. –Geraldo falou.

–Isso é um pedido de namoro? –a ruivinha perguntou.

–Claro que é sua idiota, responde logo. –Arthur interrompeu.

–Eu aceito, é mais do que óbvio. –a minha namorada saiu da cadeira correndo para me abraçar, uma cena fofa de se vê.

–Seja bem-vinda a família Médici! –recebi um abraço carinhoso dos pais da ruivinha, agora seriam meus sogros.

–Tia Gi, posso fazer uma pergunta? –Enzo se pronunciou.

–Claro que sim.

–Se você e a tia Ágatha estão namorando não precisarei mais estudar para as provas de português e terei notas altas garantidas? –contive a vontade de rir e respondi seriamente.

–Nada disso mocinho, agora mais do que nunca você terá que se aplicar cada vez mais e ter notas boas, ser um exemplo pra sua turma.

–Mas tia, português é muito difícil, tenho muitas dúvidas, como vou fazer isso?

–Agora que sou parte da família vou te acompanhar mais de perto e tirar todas suas dúvidas, combinado?

–Super combinado tia Gi.

–Então dá um abraço aqui. –Enzo veio até a minha direção e nos abraçamos longamente.

O jantar terminou nesse clima de descontração e muita alegria. Ofereci-me para ajudar a Ágatha a lavar a louça do jantar mesmo com os protestos dos meus sogros, era uma forma de retribuir todo carinho que recebi deles.



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