Nightingale

– Olá – disse Angeline abrindo a porta da sua suíte para que Alex e Erika pudessem entrar.

A ruiva usava um short social azul marinho que ia até os joelhos e uma regata branca lisa que marcava suas curvas, nos pés ela tinha uma sapatilha azul claro. Erika estava com uma calça cinza de moletom fino com seus tênis e uma camisa de mangas com gola em ‘v’ de um marrom claro enquanto Alex usava um short jeans quase branco e uma regata verde escuro além dos all stars pretos de sempre.

– Boa noite – cumprimentou Erika com uma expressão neutra enquanto que Alex apenas apertou a mão que Angeline estendeu.

Angeline Carter estava hospedada na cobertura do hotel, na maior e melhor suíte do lugar. Havia uma sala logo na entrada, com um bar bem maior do que o do quarto das duas à esquerda, um pouco mais a frente estava uma mesa de 6 lugares. Havia também uma larga porta à direita que deveria levar ao quarto propriamente dito. A mesa estava montada para um jantar simples.

As três entraram e se sentaram, a mesa estava posta de forma que Alex e Erika se sentaram uma ao lado da outra e Angeline logo a frente da morena. A ruiva era toda sorrisos e gentilezas para com as duas enquanto elas tomavam cada uma a sua bebida antes do jantar propriamente dito. Erika tomava um suco de laranja enquanto que Alex e Angeline resolveram optar por vinho.

– Vocês duas me parecem um casal muito interessante – disse a ruiva quando os copos chegaram a metade – Quantos anos vocês tem? Parecem ter quase a mesma idade.

– Tenho 25 agora e Alex vai fazer 23 – disse Erika calmamente antes de tomar mais um pouco do suco.

– E eu diria que somos um casal incomum além de interessante – disse a guitarrista sorrindo – Nos entendemos de um jeito rápido demais, mesmo tendo diferenças gigantescas entre nós duas.

– Não entendi – falou a ruiva encarando fixamente os olhos azuis de Erika – Como é possível pessoas diferentes se darem tão bem?

– Todos são diferentes uns dos outros pelo menos em algum ponto – falou Erika incomodada pela intensidade do olhar da ruiva – No entanto isso não é o fator determinante no fato de duas pessoas se acertarem ou não.

– Quanta eloquência – disse Angeline dando um sorriso de canto – Bem, vamos ao jantar. Eu estou faminta.

Logo que ela disse isso um garçom começou a servi-las, o jantar todo seria composto de uma entrada, um prato principal e a sobremesa. Foi tudo bem rápido e com pouca conversa enquanto comiam, logo que terminaram o prato principal Alex quis um pouco mais de vinho antes da sobremesa. Ela mesma se ergueu para alcançar a garrafa, mas o garçom se adiantou para pega-la e servir a guitarrista. Nisso os dois se atrapalharam e o rapaz puxou a garrafa um tanto forte, mas quando Alex insistiu e puxou de volta a garrafa escorregou e virou em cima da menor manchando a camisa de Alex.

– Oh nossa – disse Angeline se levantando, Erika fez o mesmo.

– Perdão, mil perdões senhorita – dizia o rapaz desesperado estendendo um pano para Alex – Eu realmente sinto muito….eu não deveria…

– Tudo bem – disse Alex sorrindo para acalmar o rapaz – Não foi nada, apenas um acidente.

– Alex, querida, isso vai manchar se você deixar secar assim – falou Angeline dando a volta na mesa – Vinho tinto mancha muito fácil quando cai em roupas. Venha, vou te levar até o meu banheiro, lá você pode limpar essa camisa.

A guitarrista não conseguiu discutir, até porque sabia que se não limpasse o vinho aquilo realmente iria manchar sua regata. Menos de um minuto depois Angeline voltou para a sala sorrindo calmamente e pediu ao garçom que começasse a preparar as sobremesas enquanto esperavam a guitarrista voltar. O rapaz se afastou da mesa e Angeline se aproximou sentando no lugar onde antes estava Alex e se virando para ficar de frente para Erika e encarar a morena.

– É realmente um fato curioso você e a guitarrista estarem juntas, sabe – disse a ruiva se inclinando um pouco para frente de forma que o decote da regata ficasse bem aparente para Erika – Você é um tanto incomum, mas…..isso porque não me parece uma simples lutadora. É como se houvesse algo a mais em você – disse a ruiva apoiando uma mão no encosto da cadeira da morena.

– Minha mãe discordaria dessa afirmação – falou Erika numa postura rígida sentada da forma correta e encarando a mesa vazia – Para ela eu sou algo muito abaixo do padrão esperado.

– Nem todos os pais aceitam facilmente que os filhos não são exatamente como eles gostariam que fossem. Eu tive sorte do meu pai aceitar calmamente o fato de eu preferir dividir a minha cama com uma mulher ao invés de com um homem – falou a ruiva se sentando mais na beirada da cadeira para se aproximar alguns centímetros a mais de Erika que permanecia impassível.

– Isso é só a ultima razão de ódio que ela tem contra mim – falou Erika já incomodada com a aproximação de Angeline – Mas eu tenho a Alex e ela me faz muito feliz.

– Eu não consigo visualizar como ela pode te fazer ser realmente feliz – disse a ruiva sorrindo como se estivesse dizendo algo muito calmo e ameno – A guitarrista de uma banda desconhecida não me parece o tipo de partido que você deveria estar procurando ou demonstrando interesse.

– Ah é? E qual deveria ser esse ‘tipo de partido’ ao qual eu deveria estar demonstrando interesse, senhorita Carter? – perguntou Erika ficando realmente irritada com aquela conversa, mas se mantendo sob controle por saber que aquela mulher era, tecnicamente, sua chefe – Ou melhor, qual o propósito dessa conversa toda?

– Por que eu estou curiosa – respondeu Angeline quase que brincando – Porque eu gostei de você, Erika Anderson – continuou a ruiva num tom mais sério e decidido – E eu sou o tipo de mulher que vai atrás do que quer.

– E no momento você quer a minha pessoa? – questionou Erika virando o rosto para encarar os olhos verdes provocantes.

– Até que você pega as coisas bem rápido – murmurou a ruiva sorrindo e passando a mão que estava no encosto da cadeira para a nuca da morena.

Mas, antes que os dedos longos com unhas pintadas de esmalte transparente chegassem aos cabelos da morena Erika segurou o pulso da ruiva afastando a mão da mesma. Angeline a encarou curiosa sem entender aquilo, mas Erika apenas afastou ainda mais a mão da ruiva antes de solta-la e se levantar da cadeira.

– Não sei como você reage a recusas, mas sinto que terei de descobrir isso agora – disse a morena ficando em pé e logo depois a ruiva a imitou – Não me leve a mal, Angeline. Você é uma mulher muito bonita e tudo o mais. É inteligente e decidida e muita gente adoraria despertar o seu interesse, mas eu não estou entre essas pessoas.

– Está com medo da sua namorada aparecer aqui e pegar você em flagrante? – perguntou a ruiva fazendo piada da situação e se aproximando um pouco mais da morena que se manteve séria e firme – Não se preocupe, eu não deixaria você ficar sozinha nem por um minuto se ela se deixasse aqui.

– Eu realmente sou um tipo singular de pessoa – disse Erika respirando fundo para manter a conversa num tom brando – Isso porque eu dificilmente sinto real atração por alguém se for só isso. Eu amo a guitarrista que está no seu banheiro tentando tirar a mancha de vinho de sua regata por causa do fatídico acidente que eu posso até pensar que foi pré-moldado por você – falou a morena fazendo Angeline erguer uma sobrancelha numa expressão surpresa e parar a uns 20cm da morena – Garanto que Alex também desconfia de que não foi um simples acidente, mas não é por isso que eu não pretendo deixar você brincar comigo. Apesar de tudo, senhorita Carter, eu não estou a procura de outra pessoa. Você pode ser muito bonita, o que definitivamente você é, mas infelizmente você não é a minha guitarrista – falou Erika sorrindo um pouco.

– Eu estou realmente levando um fora. É isso? – perguntou Angeline num tom provocante que teria feito qualquer outro vacilar, mas não Erika.

– Não, porque eu nunca fui uma opção para você – disse a morena calmamente voltando a se sentar.

– Realmente singular – riu Angeline caminhando para seu lugar, mas antes de terminar de dar a volta na mesa ela parou ao lado de Erika – Talvez eu tivesse uma chance antes da guitarrista aparecer na sua vida, uma pena. Aparentemente eu cheguei tarde demais, não é? – disse ela rindo baixo e se inclinando para depositar um beijo suave no rosto da morena – É realmente uma pena – concluiu ela voltando ao seu lugar e se sentando.

Logo depois Alex voltou e se sentou em seu lugar. A sobremesa foi servida e as três comeram sem conversas, apesar de Angeline continuar a lançar olhares constantes para a lutadora.

– Foi um prazer compartilhar essa noite com as duas – disse Angeline parada em frente a porta de sua suíte enquanto Alex e Erika esperavam o elevador para descerem até o andar delas – Foi realmente muito bom poder conhecer você melhor Erika. Pra mim é sempre importante saber a quem eu dou meu dinheiro.

– Obrigada pela comida e pelo vinho – falou a guitarrista rindo como se só estivesse fazendo piada, mas no fundo ela estava morrendo de raiva da ruiva.

– Até amanhã nas gravações – disse Erika calmamente e logo a porta do elevador se abriu e a morena puxou Alex para dentro.

Quando as portas se fecharam a guitarrista encostou as costas contra a parede cruzando os braços e bufando irritada. Erika apenas ficou de lado olhando para a namorada que ainda estava muito brava por causa do pequeno acidente com vinho tinto.

– Essa mulher me irrita – sussurrou a guitarrista fechando os olhos.

– Não deveria – falou a morena colocando uma mecha castanha de volta ao lugar atrás da orelha esquerda da guitarrista.

Alex suspirou e encarou a lutadora, mas então fez uma expressão séria e se desencostou da parede empurrando Erika até a mesma estar como ela estava antes.

– Mas que merda é essa Erika?? – perguntou ela num tom de raiva contida fazendo a morena ficar confusa, vendo o olhar da namorada a guitarrista bufou e passou um dedo perto do maxilar da lutadora – Tem batom no seu rosto, Erika – disse a menor irritada.

– Foi um beijo no rosto, só isso – disse a morena lembrando da cena e se amaldiçoando por não ter reparado que a outra estava usando batom – Ela deve ter feito de propósito para deixar a marca do batom….não acredito que eu cai nessa – falou a lutadora batendo a cabeça contra a parede do elevador.

– Não acredito que ela beijou você!! – falou a guitarrista indignada – Mesmo sendo no rosto!! Como você deixou??? Aquela mulher está descaradamente dando em cima de você e você ainda deixa ela….

– Alex, pelos céus! Você não pode estar pensando que eu simplesmente deixei ela me beijar a toa!! – falou a morena indignada.

A porta do elevador abriu e Alex ficou de costas para a lutadora por alguns segundos.

– Vai pro quarto, eu volto daqui a pouco – disse a guitarrista segurando a porta do elevador aberta para a morena poder passar.

N/A: Por incrível que pareça (para mim) eu fui capaz de achar uma imagem muito próxima de como eu imagino a Angeline. Então aqui está: