– Deus! Vocês tão são melosas – falava Elizabeth enquanto entrava primeiro em casa seguida logo depois pelas duas que vinham abraçadas e sorrindo.
Erika foi direto pro sofá arrastando a guitarrista junto dela e as duas se sentaram com a maior colocando as pernas sobre o sofá, se esticando e sendo abraçada por Alex que ainda tinha um sorriso bobo no rosto.
– Hey, Beth – chamou a menor – Me diz uma coisa, essa criatura aqui sempre foi folgada assim?? – perguntou ela apontando com o queixo a lutadora deitada em cima de si e segurando os braços da guitarrista em volta dela.
– Sempre, tinha que ver ela e o Phillip, os dois quase jogavam um ao outro para fora do sofá porque eram dois espaçosos – falou Elizabeth rindo da lembrança enquanto ia na geladeira pegar alguma coisa para as três beberem.
– Eu era menor, tinha o direito de ter mais espaço – reclamou Erika dando de ombros e fazendo Alex rir.
– Você e ele deveriam ser que nem eu e o Ted – disse a guitarrista pensando no melhor amigo – Nos adoramos, mas um não ocupa o espaço do outro se não quiser ser chutado pra fora – riu ela.
– Mais ou menos isso ai – confirmou Beth enquanto Erika apenas sorria com as boas lembranças, ela achou latas de refrigerante num canto e pegou três delas e foi se sentar na poltrona que havia ao lado do sofá depois de entregar uma lata a cada uma das duas – E então, o que pretendem fazer agora? – perguntou ela após abrir sua lata.
– Voltar – falou Erika suspirando – Alex não pode ficar tanto tempo longe da banda agora que eles estão começando a dar certo e… Eu tenho que saber o que aconteceu com a minha carreira depois da ultima luta. Mesmo que eu tenha vencido eu….bem, eu fiz umas coisas que podem deixar uma impressão ruim.
– Do que tá falando??? – perguntou Beth confusa encarando as duas.
Alex desviou o olhar com uma expressão chateada e um tanto irritada enquanto que Erika apenas suspirou antes de responder.
– Pra acabar a luta mais rápido eu deixei a outra me bater bastante até conseguir a chance de imobilizar ela – contou a morena dando de ombros – Foi necessário e eu não me arrependo.
– Mas foi arriscado e imprudente – disse Alex num tom reprovador – Você se machucou pra caramba naquilo…..
Erika sorriu, mas não pode discordar. Beth encarou as duas com um sorriso. Pela primeira vez desde a morte de Phillip ela via Erika se soltando com alguém. Sorrisos, brincadeiras, cenas fofas, toques eram coisas que tinham sumido da vida da morena quando o irmão morreu e Elizabeth, uma das únicas que conhecia a verdadeira Erika, tinha sentido muito medo da garota se excluir do mundo pra sempre. Mas vendo ela com a guitarrista Beth teve certeza de que tudo ficaria bem de novo.
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– Quando é que eu vou ver vocês de novo hein?? – pergunta Elizabeth abraçando as duas ao mesmo tempo.
Estavam no aeroporto onde Erika e Alex pegariam um voo em meia hora para voltar ao Texas. As duas usavam as jaquetas de couro, por baixo das jaquetas Alex tinha uma camisa verde de mangas curtas com decote em “v” e Erika uma regata cinza. A guitarrista com os jeans rasgados azuis e os all stars pretos e Erika com um jeans preto e os coturnos. Elizabeth estava com um vestido com estampas florais comprido de algodão com um casaco bege por cima e nos pés uma sapatilha. Quando se separaram Erika abraçou a amiga sozinha por um segundo apertando-a um pouco.
– Também vou sentir sua falta – falou Beth quando a morena a soltou – E se cuidem, vocês duas, além de cuidarem uma da outra também, ouviram??
– Sim Senhora – falou Erika sorrindo – E dizemos o mesmo pra você…….se alimente bem….vai dar certo dessa vez, eu sei que vai.
– Eu também sei disso – confirmou Alex sorrindo – Prometo que venho com ela pra cá quando você nos avisar que deu certo, nós duas podemos e vamos ajudar.
Depois disso elas embarcaram e por volta das 15h40 desceram no Texas. Alex chamou um táxi e as duas entraram no banco de trás.
– Vem pra minha casa comigo – convidou a menor – Minha mãe vai adorar você aparecer lá, e vai poder descansar um pouco também….e podemos ficar juntas mais um pouco, você pode até dormir lá se quiser.
– Eu adoraria – confessou Erika com um sorriso culpado – Mas não. Tenho que arrumar as minhas coisas e achar o Michael…falar com ele sobre a luta…e o que aconteceu depois disso. E você tem que descansar pra poder ir falar com Ted e o resto da banda o quanto antes. Você viajou sem avisar ninguém, eles podem não ter gostado muito.
– Os meninos vão entender – falou Alex sem se preocupar – Tiffany vai dar ataque de fúria. E pronto. Vai ser isso.
Ao ouvir o nome da loira a lutadora respira fundo e desvia o olhar de Alex que encara aquilo e sorri de um jeito brincalhão antes de passar o braço pela cintura da morena se aproximando mais dela.
– Isso ai que eu tô vendo é ciúmes? – perguntou a guitarrista tentando não rir da cena.
– Um pouco – falou Erika suspirando e encarando a menor – Não gosto dela, não gosto nem um pouco dela. E não tem haver só com o fato de que você já ficou, e eu nem quero pensar o que a mais, com ela. Digamos que eu ainda a odeie por causa daquele tapa – falou a morena ainda emburrada e seria.
– Nunca achei que diria essas palavras, mas – Alex não controlou o riso e riu baixinho – Você fica incrivelmente fofa com ciúmes sabia?
– Não é só ciúmes – falou Erika fazendo um som de irritação – Deixa pra lá. Voltando ao assunto. Eu vou pra minha casa e você pra sua.
– Posso ir dormir na sua casa hoje? – perguntou a guitarrista rapidamente.
– Alex, você não mora comigo – falou Erika rindo do fato da menor sempre pedir isso – E mesmo assim nunca precisou de permissão pra ir dormir lá. Agora precisa menos ainda.
– Bom saber – falou a guitarrista sorrindo – Por que a Beth mandou eu cuidar de você e é exatamente isso que eu pretendo fazer. E só não moro com você porque é apressar muito as coisas….então isso é só por enquanto – riu a guitarrista.
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Eram quase 20h e Erika estava em seu quarto, de top preto e short curto azul escuro, deitada na cama e encarando o teto. Assim que chegou ela conseguiu falar com Michael que disse que, apesar de tudo, ela ainda tinha conseguido se sair muito bem na ultima luta. Ele falou com ela por quase 1h e, no final, contou que com alguma sorte ele conseguiria outra luta para daqui a um mês ou dois. O que era muito bom pra manter Erika preparada pra coisas mais difíceis como o torneio fechado que estava por vir. Até aquele momento eram 3 academias confirmadas e haviam mais duas a confirmar de modo que a previsão era de que em quatro ou cinco meses ele pudesse mesmo ser realizado.
Só que Michael não havia sido o único com quem ela tinha conversado. Melissa havia aparecido na academia e ficou com Erika na casa da morena por quase duas horas fazendo infinitas perguntas sobre o que havia acontecido na viagem das duas. Apesar de tudo Erika tinha decidido contar cada detalhe, precisava de uma segunda opinião sobre aquilo além da opinião de Beth. Erika contou para Mel sobre sua insegurança e confusão quanto ao que fazer ou não e como isso a incomodava.
O conselho de Melissa era o que estava deixando Erika pensativa. A garota tinha dito: “Você a ama, confia nela e sabe que sente atração. Porque simplesmente não deixa rolar? Se sentir que foram longe demais você para. Alex nunca ficaria triste ou magoada, talvez um pouco frustrada nos primeiros minutos. Mas ela com toda certeza vai respeitar você, e se não respeitar você pode muito bem bater nela um pouco, porque seria merecido”. Essas palavras ficavam rodando na mente da lutadora.
Apesar de nunca ter sentido nada do tipo Erika já havia entendido que muito do que a menor provocava nela era devido a desejo. Mesmo assim ela ainda não entendia como lidar com isso porque não tinha real consciência do que exatamente tinha vontade. O que a fazia se perguntar como Alex, que sabia exatamente o que queria, sabia como conseguir, sabia o que fazer e provavelmente fazia muito bem, conseguia simplesmente se segurar.
Quando se despediu da menor na frente de casa (porque Alex fez questão de ir com a morena até a porta da cozinha fazendo o taxi esperar por ela do lado de fora) foia a primeira vez que elas ficavam sozinhas longe das coisas que faziam Erika ficar triste. A morte do seu pai tinha finalmente ficado pra trás, mesmo que doesse ainda pensar nisso, mas o fato deles não serem próximos ajudava a não abalá-la tanto. E aquela foi a primeira vez que elas se beijavam desde que saíram da cidade de Erika.
Quando a menor, sem querer, ergueu um pouco a camisa da morena enquanto se beijavam Erika tinha sentido arrepios por todo o corpo. Foi algo tão sem intenção que a própria Alex parou o beijo pra se desculpar. Mas aquela sensação não saia da mente da morena e, pela primeira vez, ela se permitia pensar sobre a parte física do que sentia pela guitarrista.
Erika não tinha nem ideia de como lidar com isso e se pegou, pela primeira vez na vida, imaginando como seria deixar Alex ir mais longe. A morena já tinha plena consciência de que a guitarrista mexia com ela de um jeito que a tirava da realidade, mas ela não sabia se estava pronta pra algo a mais. No entanto, Erika começava a ver o quanto deveria estar sendo complicado para Alex se segurar.
– Ela nunca precisou esperar pra ter a mulher que queria……agora eu a faço esperar desse jeito…..a mulher que ela mais quer a faz esperar assim – murmurou Erika pra si mesma num tom preocupado e triste enquanto pensava sobre aquilo.
– É que ela vale tanto a pena que eu não me canso de esperar – falou a voz calma da guitarrista fazendo Erika sentar na cama assustada.
Quando olhou para trás ela viu a menor com as costas apoiadas na porta, um pé apoiado na parte de baixo do portal e os braços cruzados. Alex usava a jaqueta de couro de antes, mas por baixo tinha uma regata branca. Ela também usava jeans azuis claros e um all star marrom de cano médio. E tinha um sorriso calmo no rosto enquanto encarava uma morena muito assustada. No chão ao lado dela estava uma mochila preta.
Alex então suspira e tira a jaqueta pegando a mochila no chão e caminha na direção do colchão deixando as duas coisas no canto junto a parede. Ela então tira os all stars dos pés e sobe no colchão caminhando em cima dele até se sentar ao lado da morena que se vira na direção dela com o rosto corado e envergonhada.
– Erika…que fique claro – ela começou fazendo a morena encará-la – Eu não me cansaria de esperar nem que eu tivesse que te esperar pra sempre, o que eu não acho que vá acontecer.
– Mas eu me sinto culpada por te fazer esperar assim – admitiu a morena com um olhar triste – Eu tenho 24 anos…..eu não deveria me sentir insegura a esse ponto sobre algo assim….não a essa altura da vida. Muito menos com alguém que eu sei que corresponde o que eu sinto……Só imaginar o quanto deve ser frustrante pra você faz com que eu me sinta culpada!
– Não se sinta assim – falou a guitarrista sorrindo e tocando o rosto da morena com a palma da mão – Eu sei que estou tendo que esperar por algumas coisas e que talvez tenha que esperar muito, mas você está me dando e me mostrando tantas outras coisas Erika – a menor se aproximou ainda mais da lutadora ficando de joelhos e segurando o rosto da outra com ambas as mãos – Eu estou aprendendo a cuidar de alguém. Eu estou aprendendo a ter calma. Eu estou descobrindo o quão bom pode ser apenas ter a presença de alguém do meu lado quando eu durmo e acordo. Não é a ausência de uma noite quente de amor e coisas pervertidas que vai fazer você deixar de ser interessante pra mim – ela falou rindo um pouco do rosto corado da outra ao ouvir a ultima parte.
Então uma das frases de Melissa surgiu na mente da lutadora “Porque simplesmente não deixa rolar?”. Erika então suspira e se deita puxando Alex junto, a guitarrista acaba por deitar meio por cima da morena o que faz a menor rir e se apoiar melhor para encarar Erika que estava deitada de costas.
Elas se encaram por alguns segundos, o sorriso de Alex lentamente diminuindo até sumir enquanto ela, gradativamente, sentia o clima mudar. Os olhares ficaram mais intensos e Alex começou a fixar os olhos por longos segundos nos lábios da morena antes de voltar a encará-la nos olhos. Quando sentiu que a guitarrista não faria nada Erika, timidamente, agarrou a frente da regata que a outra usava forçando-a a se aproximar mais. Alex olhou para baixo, para a mão esquerda de Erika, com um olhar interrogativo e, quando voltou a encarar a morena a mão direita da mesma tocou o rosto dela de um jeito leve.
Erika estava buscando coragem e tentando entender o que queria exatamente enquanto mantinha a guitarrista com o rosto sobre o seu. Enquanto fazia isso acabou mordendo o lábio inferior enquanto encarava os olhos da menor.
– Não faz isso – pediu Alex num sussurro fazendo o olhar da morena ficar confuso e curioso – Não morde o lábio assim – sussurrou ela de novo suspirando – Me dá uma vontade enorme de morder você.
Erika riu, mas de nervoso ao ouvir aquela informação. Então, resolveu ignorar seus pensamentos e seguir o conselho de Mel: deixar rolar.
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