POV Erika
Quando acertei o soco pensei “Espero que isso me dê muitos pontos”, mas me dei conta de que não eram pontos que eu queria. Eu queria vencer e isso me fez tentar aquele chute giratório. Não acreditei quando acertei. Estava tão concentrada na luta que, assim que a minha oponente bateu as costas nas grades eu avancei de novo pra continuar. Mas então, antes de eu chegar onde ela estava o arbitro entrou na minha frente mandando eu me afastar.
Fiquei encarando ele com a respiração ofegante enquanto meu cérebro tentava raciocinar com o fato de que eu, provavelmente, tinha acabado de nocautear uma lutadora muito mais experiente. O arbitro, ajoelhado de costas para mim, conversou com ela que parecia tonta tentando se levantar e então sinalizou pros juízes que a luta tinha acabado. Eu havia mesmo ganhado com um nocaute na minha primeira luta.
Antes que Michael conseguisse passar pela porta eu cai de joelhos sem acreditar naquilo; logo depois ele estava do meu lado me segurando pelo ombro falando coisas com uma empolgação digna de nota, mas eu não consegui prestar atenção. Meu olhar, pela primeira vez, se ergueu e encarou a plateia; só ai notei que estava de frente para o corner azul e, por detrás das grades, pude ver meus colegas de treino pulando e gritando ao comemorar a minha vitória.
Alex estava lá também, como eu sempre soube que esteve, e ela pulava e ria ao lado de Melissa e Henry. O arbitro se aproximou de mim e o treinador de Julia a ajudou a levantar, então Michael me ajudou a ficar de pé de novo também e eu tive que parar de olhar pra eles. Eu e ela nos encaramos, então apertamos as mãos com ela me fazendo um sinal afirmativo com a cabeça. O arbitro segurou nossas mãos e então ergueu minha mão direita e eu me permiti um sorriso pequeno. Pude ouvir muitos aplausos e gritos de novo.
Michael me ajudou a sair do octógono; meu joelho estava me matando, assim como meu ombro, ambos latejando num ritmo tão rápido quanto o do meu coração; fora que eu ainda estava ofegante. O pessoal todo veio correndo na minha direção, mas Michael continuou me levando pro vestiário pra poder olhar melhor meu joelho principalmente. Melissa e Katerine logo assumiram posições atrás de nós, ele não as impediria de entrarem para ajudar. Torci para que Melissa não arrastasse Alex lá pra dentro também, não queria que ela me visse desse jeito de perto.
Me sentei em um banco e Michael começou a tirar minhas luvas enquanto Melissa e Katerine tinham ido arrumar mais gelo a mando dele. Enquanto isso ele conseguiu tirar as minhas luvas azuis e começou a olhar meu ombro e joelho; segundo ele eram só luxações que parariam de doer daqui a alguns dias, me mandou ficar de molho uma semana descansando pra melhorar e logo depois disso Katerine, Melissa e Alex entraram carregando bolsas de gelo.
Alex me encarou e eu desviei o olhar, meu rosto deveria estar começando a ficar com as marcas roxas; não era algo agradável de se olhar. Michael encarou a guitarrista, mas Melissa disse que ela era nossa amiga e então ele deixou estar. Mandou as três me ajudarem a manter o gelo nos lugares mais machucados por alguns minutos e depois me ajudarem a me trocar. Katerine me passou uma bolsa de gelo eu coloquei ela nas costelas gemendo de dor.
– Melhor você deitar – falou Melissa rindo de mim e eu soltei um resmungo irritado, mas fiz o que ela mandou.
Alex não falava nada, mas ajudou as duas a colocarem as bolsas de gelo em volta do meu joelho e do meu ombro e nos lugares que estavam mais vermelhos, assim como na lateral esquerda do meu rosto que era a que mais doía. Fechei os olhos tentando descansar um pouco e pude sentir Alex se sentar ao lado da minha cabeça. Como eu sabia que era ela? Simples, tinha um perfume amadeirado diferente de qualquer outro que eu conhecia, mas era o mesmo cheiro que senti vindo dela no dia em que ela tinha ido me pedir desculpas. Logo depois senti uma mão mexendo nos meus cabelos que estavam molhados de suor; não me importei, tudo doía tanto que eu não queria nem me mexer. Além do que, aquilo era bom.
– É….Eu e a Kat vamos lá fora pegar mais gelo e…..conversar com o resto do pessoal – falou Melissa, eu não me importei em abrir os olhos ou falar alguma coisa.
– Certo eu…
– Você fica aqui pra caso a Erika precisar de algo Alex – Melissa cortou-a e pude ouvir os passos saindo do vestiário.
– Não estou tão mal assim pra você não querer nem olhar – falei meio brincando, mas sem ter muita certeza disso – Estou??
– Não – ela respondeu rindo e voltou a mexer no meu cabelo – Você só tá toda roxa e suada, nada demais – ela brincou rindo de novo o que me fez sorrir, porque rir faria as minhas costelas doerem.
Ficamos um tempo assim, sem dizer nada. O gelo já começava a incomodar, mas eu sabia que tinha que ficar ali mais um pouco.
– Você me ouvia??? – ela perguntou do nada, parecia curiosa, mas com vergonha de perguntar aquilo – Quero dizer….claro que não ouvia, tinha um monte de gente gritando coisas pra você. Não tem como ter ouvido justo a mim – ela falou depois de perguntar; a mão dela saiu do meu cabelo, mas ela continuou sentada no mesmo lugar.
– De 10 músicas que eu escuto….pelo menos 3 são suas – falei ainda com os olhos fechados e sem me mexer – E eu treino todos os dias ouvindo música. Isso significa que eu já conheço todas as musicas que a Horizons já tocou e que acabaram na internet – senti ela rir baixinho e sorri, esperei mais uns segundos antes de continuar – Eu me acostumei a encontrar a sua voz ao fundo nas canções. Então acho que, mesmo no meio de uma multidão gritando, ainda posso sim separar a sua voz, ainda mais quando está tão perto de mim – falei por fim suspirando e me sentando; senti todos os músculos doerem ao fazer isso.
Depois de afastar o gelo de mim, deixando apenas o do joelho, eu arrisquei olhar pra ela. Alex estava com uma expressão estranha, incredulidade junto com confusão.
– Eu te ouvia sim – falei para deixar claro caso ela ainda estivesse em dúvida.
– Puta merda – ela disse quase sussurrando; então do nada começou a rir, riu tanto que chegou a gargalhar – Puta Merda, Erika! Eu tinha que ter gritado mais então.
– Porque?? – perguntei ficando confusa com aquela reação.
– Quem sabe assim você teria apanhado menos – ela disse rindo e eu tentei alcança-la com um tapa, mas a baixinha conseguiu escapar de mim.
– Ai – gemi de dor quando meus músculos se alongaram ao tentar segurá-la.
– Eita, você tá mal mesmo – ela falou voltando a chegar perto – Hey! – a surpreendi agarrando ela e trazendo-a pra perto onde eu pude fazer cócegas em Alex com uma mão enquanto a outra a segurava – PARA!! PARA ERIKA!! – ela começou a rir e pedir alto até que meu ombro deu uma fisgada e eu a soltei – Isso foi golpe baixo! – ela acusou sentando do meu lado pra recuperar o fôlego.
– Não foi não – retruquei com a mão no ombro – Não foi um golpe seu.
– Haha – ela disse sem humor, mas logo riu da minha piada.
Respiramos fundo ao mesmo tempo, ela parando de rir e eu soltando o ombro. Então pude notar ela virar o tronco pra me encarar e sentar de lado no banco.
– O que foi? – perguntei sem olhar pra ela.
– Você tá acabada – ela afirmou e eu concordei com a cabeça, então Alex segurou meu queixo com uma mão virando meu rosto pra ela – Ai, isso deve estar doendo – ela falou da mancha roxa que estava surgindo perto do meu olho.
– Só um pouco, o ombro e o joelho estão piores – falei suspirando – E ainda tem minhas costelas que estão latejando também.
– Acho que é cama e descanso, não show e diversão pra você amanhã a noite não é? – ela perguntou com um sorriso triste – Mas tudo bem, você precisa mesmo descansar depois dessa. E por falar na sua luta; parabéns. Foi incrível. Você estava incrível.
– Eu achei que você é que fosse a incrível por aqui – falei rindo baixinho.
– E eu sou, ué – ela disse rolando os olhos – Não disse que você é incrível, disse que estava incrível. Coisa de momento não de eternidade que nem eu – completou ela se achando e dando de ombros.
– Se meu ombro não estivesse doendo eu juro que te fazia se arrepender desse seu discurso todo te fazendo cócegas até você ficar sem ar – falei rindo e ela riu junto comigo.
– Então ainda bem que ele tá doendo não é? – brincou ela e riu mais – Seus amigos estavam falando de irem pra algum lugar comemorar sua vitória. Será que eu posso ir junto com vocês?
– Ah o único lugar pra onde eu vou depois daqui é pra minha casa – falei deixando o cansaço aparecer – Preciso de um longo banho quente e da minha cama macia. Mas você pode ir com eles sim, provavelmente vai ser divertido.
– Não tanto se você não vai junto – ela disse dando de ombros.
– Pode ir lá pra casa – falei sorrindo sem jeito por causa do que ela tinha dito antes – Digo…Posso pedir uma pizza e você pode rir de mim gemendo de dor a cada movimento por algumas horas. Seria engraçado – falei suspirando – Se quiser é claro…talvez pizza e rir de mim não seja um programa tão bom pra você.
– Rir de você é sempre muito divertido – ela disse encostando o ombro no meu e rindo – Fora que pizza é a melhor comida do mundo. Eu aceito o convite sem problemas.
Sorrimos e ela me ajudou a levantar, eu ainda teria que vestir o agasalho pra sair do vestiário e meu joelho não estava lidando muito bem com se manter firme. Só espero que eu consiga mesmo um resto de noite calma depois dessa luta.