Nightingale

Capítulo 20 – Banho frio

POV Alex

Eu não me lembrava de quando dormimos; depois de falar das minhas tatuagens ainda resolvemos ver algo na televisão. Em algum momento ai nós duas pegamos no sono. Acordar foi desnorteante, pra dizer o mínimo. Geralmente quando eu acordo na cama de outra pessoa estou com uma ressaca terrível junto comigo. Mas nessa manhã não foi assim. Eu acordei e ainda era muito cedo. A primeira coisa que senti foi o cheiro dela e isso teve um efeito estranho em mim…..Me fez relaxar…… Mas só pra no segundo seguinte eu ficar tensa com a situação complicada em que eu me encontrava.

Erika estava deitada de lado assim como eu. Uma das pernas dela, a direita, sobre as minhas, a esquerda completamente colada a minha perna direita. Se fosse só isso teria sido fácil, mas não era; pra completar Erika tinha que estar com o rosto junto ao meu pescoço e o braço direito sobre a minha cintura. Meu braço direito estava por baixo da cabeça dela e meu braço esquerdo….bem…Por algum motivo enquanto eu dormia meu maldito braço acabou entrando por dentro da camisa dela e minha mão ficou na cintura da lutadora.

Em resumo: EU ESTOU FERRADA! Se eu me mexer ela vai acordar com toda certeza. Se eu não me mexer…..ELA ACORDA DO MESMO JEITO! Não me sinto culpada por estar surtando aqui. Ela vai me matar por isso!! Ao menos é o que eu acho que alguém faria se acordasse nessa situação comigo sem ter pretendido que isso acontecesse.

Parei um segundo com minha discussão interna pra respirar fundo e pensar numa solução. Péssima ideia. O cheiro dela era tão bom…acho que lavanda é calmante, só pode. A parte mais machucada do rosto dela estava escondida contra meu pescoço, o cabelo negro caia todo bagunçado por cima do rosto dela enquanto sua respiração fazia mechas dele se moverem com a mesma regularidade com que ela respirava. Era…fofo.

Com todo aquele tamanho e aquela marra e aquela cara de malvada, Erika ainda conseguia ser fofa. É, espero que quem disse que vemos a real versão de alguém enquanto a pessoa dorme  esteja mesmo certo. Não que eu tenha certeza de que alguém tenha mesmo dito isso……

Sem que eu percebesse já estava olhando pra ela e notando os detalhes. Erika tinha uma pele mais macia do que eu imaginava, não que meus dedos da mão esquerda, que eram os que estavam contra a pele da cintura dela, pudessem me dar uma real impressão. Eu sou guitarrista, meus dedos tem calos! Mas a palma da minha mão sentia muito bem a macies e o calor que vinham do corpo dela.

Eu não podia negar que Erika era linda. Por todas as forças superiores existentes no mundo, eu não tenho ideia de como ninguém notou isso antes e ninguém nunca chegou dando em cima dela. Erika tinha um corpo magro, forte, mas ainda sem exageros; seios do tamanho perfeitos, sem serem grandes nem pequenos demais, pernas grossas e lindas, e aquele olhar azul mexia comigo de alguma forma. Porque eu definitivamente não raciocinava direito com aquele olhar sobre mim.

Mas……eu não sentia a costumeira atração física que geralmente tenho por mulheres bonitas; e olha que ela é linda. Pele macia e quente, e aquele cheiro de lavanda me fazendo relaxar e querer dormir de novo era um sério problema para a minha sanidade e o meu controle. E; por falar em calor….Estou ficando com calou aqui. E não acho que seja por conta dos meus hormônios ou meu corpo reagindo a algum tipo de desejo estranho. Está realmente quente aqui nesse quarto.

Mas….não deveria estar quente com a janela aberta e nós duas sem cobertores. O fato de que só o lado direito do meu corpo estar quente também era estranho. E, Não-Cérebro-Idiota-da-Alex. Não é por causa da presença de uma mulher fodidamente gostosa e quente estar toda encostada nessa região do meu corpo….Espera… Erika não deveria estar assim tão quente!

– Erika – chamei tirando minha mão da cintura dela e colocando-a no rosto da morena, ela nem se mexeu – Erika! – chamei de novo, agora ficando um pouco preocupada.

Fiz ela a se deitar de costas e coloquei a mão na testa dela; estava queimando em febre. Meu braço ainda estava por baixo da sua cabeça enquanto eu me inclinava sobre Erika tentando acorda-la. Chamei outra vez e ela começou a mover os olhos.

– Alex – disse ela numa voz fraca e sonolenta – Porque está em cima de mim?

– Ah…não é por nada não – falei suspirando entre aliviada e amedrontada – Tava só tentando te assustar com a minha cara feia – Erika deu um sorriso fraco – Vamos, Erika. Você tá ardendo em febre e…Cara, eu não sei o  que fazer! – falei mais séria.

– Tudo dói – ela disse suspirando e fechando os olhos.

– Hey, hey. Dorme de novo não – falei colocando a mão no rosto dela – Eu…Tenho que te levar num médico ou…Erika eu não sei o que fazer. Se você dormir de novo eu vou ficar desesperada. To falando sério.

– Deve ser por causa do ombro e joelho – ela disse abrindo os olhos de novo – Preciso de um banho frio pra baixar a temperatura do corpo. Depois disso um anti-inflamatório – disse ela tentando se levantar.

Ajudei Erika a se sentar e ela tentou ficar em pé, eu tentei ajudar mantendo-a mais estável e ela simplesmente se apoiou em mim. Meus 167 cm não ajudavam muita coisa, mas eu consegui fazer ela ficar relativamente firme. Ficou óbvio pra mim que se eu a soltasse Erika cairia.

– Sério, como você vai conseguir ficar dentro daquele banheiro em pé sozinha?? – perguntei preocupada enquanto nos aproximávamos do banheiro.

– Não vou – ela respondeu, até a voz dela estava fraca – Você vai ter que me dar uma ajuda até que eu consiga chegar no chuveiro.

Fiquei quieta, aquilo não seria nada bom pro meu auto-controle. Tá que eu posso não estar atraída pela Erika, mas, porra, ela é linda! Ver ela toda molhada não é o tipo de visão que eu gostaria de ter tentando manter meu pensamento apenas a amizade dela. E, como se não bastasse, quando chegamos dentro do banheiro (que era apertado e fazia com que tivéssemos que ficar muito perto uma da outra) Erika ainda resolveu que iria tirar a camisa.

– Não pode ficar com essa camisa??? – perguntei tentando não me desesperar com ela começando a tentar tirar a camisa.

– Ah por favor Alex. Sou só eu – ela disse num tom cansado – Não tem problema nenhum isso, e você já me viu sem camisa. Controla o lado pervertido dessa sua mente e me ajuda.

No fundo ela tinha razão, se eu não tinha nenhum interesse nela, porque me incomodar tanto com aquela visão??? A resposta era: eu não deveria me importar, mas….por algum motivo estranho eu me importava. Ignorei isso e ajudei Erika a tirar a camisa ficando apenas de top e então afastei a cortina de plástico e passamos para o lado do chuveiro. Eu tentei alcançar a chave de temperatura, mas segurando-a não pude me esticar então ela mesma se apoiou melhor em mim e colocou o chuveiro no frio.

O banheiro era estreito então, mesmo que eu quisesse, não poderia ficar muito longe dela. Erika ficou a um passo de distancia de frente pra mim e com as mãos nos meus ombros e com o corpo bem embaixo do chuveiro. As pernas dela estavam fracas e ela não conseguia apoiar a perna esquerda por causa do joelho. Me inclinei pra frente e liguei a água. No instante em que a água fria caiu sobre os ombro e cabeça de Erika ela começou a tremer e se encolher, logo depois as pernas dela não aguentaram e ela caiu pra frente. Não tive outra opção além de ir pra frente e segura-la.

– Peguei você – disse assim que a abracei pela cintura, os braços dela passavam sobre meus ombros e a cabeça de Erika ficou apoiada no meu ombro direito – Caralho, essa água tá fria – reclamei fazendo piada.

– Desculpa – ela disse num sussurro enquanto tremia muito – Por te colocar nessa situação. Me ajuda a sentar e pode sair e se secar.

– Nem pensar – falei rindo baixinho – Se apoia melhor em mim. Se você sentar aqui eu não vou dar conta de te levantar depois. E eu gosto de água fria.

– Você é mais estranha do que eu – ela disse com um leve tom de humor.

Não me importei em responder isso, só segurei ela mais firmemente e me posicionei da melhor forma para aguentar o peso dela. Erika acabou por abaixar a cabeça sobre meu ombro e eu podia sentir algumas gotas de água pingarem do cabelo dela para as minhas costas. Deixei minha testa encostar no ombro dela, assim a água não caia direto nos meus olhos. Minha mão esquerda ficou na cintura dela e a direita mais perto do meio das costas.

 

POV Erika

Aquela água gelada batendo nas minhas costas me fazia tremer descontroladamente; o que me dizia que eu estava mesmo com uma febre alta. E Alex continuava ali me abraçando e me mantendo em pé, por algum motivo isso era reconfortante. Eu não me lembrava da ultima vez em que tive alguém cuidando de mim. Deixei minha cabeça cair para frente, meu nariz ficou muito perto da pele dela; o cheiro que vinha dela era bom e me permiti fechar os olhos e me concentrar nele; assim talvez eu notasse menos a minha tremedeira.

Senti a mão dela no meio das minhas costas, os dedos dela começaram a fazer movimentos aleatórios, como se estivessem tentando passar uma sensação de segurança e presença. Inconscientemente meus braços que estavam só soltos sobre os ombros dela a abraçaram de volta. Alex era inconsequente, louca, um tanto pervertida e sem nenhum filtro entre o que pensava e o que dizia. Mas era quase automático pra mim confiar nela, como se fosse simplesmente natural; tão natural que eu o fazia sem nem ter consciência disso.

– Acho que sua febre já baixou – de repente ouço a voz dela outra vez – Erika? – ela me chama virando o rosto; sinto a respiração dela no meu pescoço.

– Estou acordada – respondo notando que já não tremia  tanto mais – Acho que você tem razão, vou tentar me segurar nas paredes, você pega a toalha que está no cabide ali e depois busca outra toalha seca pra nos secarmos direito.

Ela concordou e eu soltei ela pra me segurar nas paredes, depois de dois segundos me segurando pela cintura acho que Alex teve certeza de que eu não cairia nem escorregaria e me soltou. Ela já tinha desligado a água. Sem ela ali eu finalmente notei que estava com frio, bastante frio. Antes que eu tivesse tempo de pensar muito senti uma toalha ser jogada sobre meus ombros e logo depois os braços de Alex em volta de mim de novo, dessa vez pra segurar a toalha e me envolver nela.

– Sem chance de enxugar seus braços agora – ela disse com um pequeno sorriso – Precisaremos deles pra você se segurar em mim e não cair. Não tenho tanta força pra aguentar você sem estar se apoiando em mim.

– Já to bem melhor – falei pra ela, mas não me arrisquei a soltar as paredes e cair levando ela junto comigo.

– To vendo – riu Alex passando as mãos por cima dos meus ombros e puxando a toalha pra minha cabeça, logo depois ela secou meu cabelo e então colocou a mão na minha testa – Ainda está um pouco mais quente do que deveria, mas bem menos – ela disse sorrindo pra mim – Vai, se segura em mim pra eu te tirar daqui, já deixei uma toalha em cima do colchão pra você sentar e poder trocar essa roupa molhada.

Eu poderia ter discutido, dito que já podia me virar e que ela não precisava ficar preocupada nem continuar cuidando de mim, mas apenas passei o braço esquerdo que era o bom sobre os ombros dela e deixei que Alex me segurasse pela cintura. Assim nós saímos do banheiro e ela me ajudou a sentar sobre a toalha. Já tinha também duas mudas de roupas ali. Olhei pra minhas roupas e, quando ia voltar meu olhar para Alex ela colocou uma toalha sobre a minha cabeça e se ajoelhou a minha frente.

Pisquei encarando-a enquanto ela esfregava a toalha na minha cabeça secando meu cabelo que ainda pingava um pouco. Eu nem precisei falar para ela sobre tomar cuidado com a lateral esquerda do meu rosto, sempre que as mãos dela chegavam ali perto a pressão ficava menor e ela secava aquela parte com mais delicadeza. Eu não entendia o porque dela estar fazendo aquilo tudo; Alex nem estava com aquela cara comum dela de “estou pensando no que usar para te envergonhar”.

– Ainda tenho muitas perguntas sobre a forma com que eu acordei com você em cima de mim, você não vai escapar desse questionário com toda essa atenção que está me dando – falei de repente, eu sequer tinha raciocinado sobre isso, mas….naquela hora simplesmente falei.

– Anh….Digamos que não foi bem culpa minha não – ela respondeu dando um riso fraco e constrangido, ela estava começando a ficar vermelha – Foi você que pareceu me achar com cada de travesseiro porque me abraçou como se eu fosse um.

Foi minha vez de ficar vermelha, eu não costumo abraçar os travesseiros.

– Desculpa por isso então – disse desviando meu olhar do dela.

– Não tem porque se desculpar, tá tranquilo – ela respondeu, mas ainda continuava levemente corada – Termina de se secar e se troca que eu vou fazer o mesmo no banheiro, acho que só consigo sair daqui quando minhas roupas intimas secarem, andar sem elas seria constrangedor – ela brincou se levantando.

– Desculpa por isso também – falei suspirando e encarando o chão.

– O que?? Foi divertido! – ela disse  e eu a encarei com uma sobrancelha erguida – To brincando. Sobre a coisa das roupas molhadas, água gelada não é divertido. Mas…você fica muito fofa dormindo sabia? – ela disse de repente me fazendo arregalar os olhos e corar – Foi até engraçado acordar com você quase subindo em cima de mim – ela completou se virando e indo para o banheiro.

E eu?? Queria me enterrar num buraco bem grande depois de ouvir aquilo.



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