A capital do reino de Alcaméria estava particularmente agitada por aqueles dias. A cidade era a maior e mais populosa do reino. Nenhuma cidadela do ducado, por mais rico que fosse, conseguia superar a grandiosidade da cidade central. Não era a mais limpa, e nos últimos anos, também não era a mais bem cuidada, porém, ela guardava a suntuosidade das grandes capitais. Alcaméria era invejada por outros reinos pelas riquezas das terras. Quase tudo de que precisavam era produzido por seus ducados.
Havia quem tivesse minerais em suas terras, como o ducado de Cárcera, por exemplo. De lá, vinham os melhores forjadores e melhores facas, utensílios de arado e cozinha e, também, armas. Já Líberiz era um ducado de grandes produtores de vinho, sidra e frutas diversas. Forneciam não só para o reino e os outros ducados, bem como exportavam para outros reinos.
A economia de Alcaméria sustentada pelos ducados, era próspera. No entanto, a administração do rei para com o reino em si, era péssima. Isto se refletia nas ruas da cidade ao redor do palácio central.
A noite havia caído há pouco mais de duas horas e a multidão ainda circulava pelas ruas. Pessoas que saíam do trabalho e se misturavam a outras sem qualquer destino.
Um poeta andarilho acabava de chegar à cidade, com a ilusão de arrumar um trabalho no teatro local, ou mesmo, como um apresentador eventual nos saraus do palácio. Entrou na estalagem em que um amigo de longa data o havia recomendado para que pudesse comer e pousar àquela noite, antes de encontrá-lo no dia seguinte. Aproximou-se do balcão da taberna que fazia parte da hospedaria.
— Tem quarto para hoje?
Perguntou ao taberneiro, que servia a outro cliente, uma caneca de cerveja.
— Duas moedas de bronze pelo quarto, sem direito a comida. – Respondeu mal-humorado. – Vá até lá atrás e pergunte para minha mulher se ainda tem quarto e depois volte aqui para pagar.
O poeta não ligou muito para a rabugice do homem. Já estava acostumado, após anos vivendo de um reino para o outro. Informou-se com a mulher e depois, retornou para pagar ao estalajadeiro.
— O que tem para o jantar?
— Ensopado de veado.
— Eu quero um e uma caneca de sidra.
— Uma moedas de bronze pelos dois.
Antes mesmo de receber o dinheiro, o dono já colocava uma caneca cheia sobre o balcão, a fim de despachar logo o cliente.
— Pode ir se sentar que a serviçal levará o ensopado para você.
O poeta deixou as moedas sobre o balcão e se virou para o salão, com a caneca na mão, para encontrar uma mesa. O local estava cheio, todavia era grande e conseguiu uma mesa no canto. Sentou-se, observando tudo. Já havia estado em locais melhores, mas os tempos andavam turbulentos e poucos pagavam para ter uma apresentação de poesia. Suspirou desolado.
— Aqui está seu ensopado, senhor.
Uma serviçal sorridente pousou o prato à frente dele, com uma cesta de pães. Ela ficou o observando, sem se retirar, e o poeta a fitou para saber se queria algo.
— Um homem bem apessoado como o senhor deve ter vindo parar na estalagem errada. Se bem que… hoje em dia não há muitas estalagens boas na cidade. As melhores são caras.
Ele sorriu para a moça. Não era a mulher mais bonita que já vira, ainda assim, levava beleza por trás do aspecto maltratado.
— Haviam me falado que Alcaméria era um reino próspero.
— E é. A cidade central que está um tanto cheia demais. As pessoas se mudam para cá para tentar uma nova vida, mas o que encontram é muita gente disputando o mesmo espaço.
— E por que veio para cá? – O poeta perguntou.
— Não vim. Eu nasci aqui, entretanto, hoje em dia, penso em me mudar para o ducado de Líberiz ou mesmo, o ducado de Gerot. São prósperos e dizem que existem muitas oportunidades.
— Falam que Cárcera é o ducado mais próspero do reino…
O poeta comentou e a moça arregalou os olhos.
— Se eu fosse você, não iria para lá. É um dos ducados que mais paga à coroa, no entanto, não é o melhor lugar para trabalhadores que prezam a liberdade. – Ela baixou o tom de voz. – Dizem que o duque de Cárcera foi quem raptou a princesa Cécis e que o rei Deomaz não está ligando muito…
A garota falou e saiu rápido, como se temesse que a escutassem. O poeta estranhou a atitude, porém estava cansado demais da viagem para pensar sobre aquilo. Queria somente terminar seu jantar e subir para o quarto. Era a primeira vez que dormia em uma cama, após semanas de estrada, apresentações ao ar livre e, um pouco de dinheiro para se alimentar direito.
***
Fira esperou um pouco mais, para se certificar de que não a chamariam no quarto. Depois de um tempo, resolveu mover a estante que escondia a parede de pedra. Quando empurrou, deu acesso ao caminho que a levaria praticamente para fora do castelo. Depois de abrir a passagem, moveu a estante para o lugar, antes de empurrar a parede de volta. Desceu as escadas, iluminadas por algumas lamparinas que Fira tratava de manter sempre com óleo. Deixava-as acesas, constantemente.
Chegou ao estábulo e olhou em volta. Bert fazia um bom trabalho. O estábulo estava limpo e o esterco havia sido queimado no braseiro da forja, para não atrair roedores e insetos. Selou a égua marrom e branca. Era um animal maravilhoso e muito bem adestrado por ela. Acariciou o focinho e a égua relinchou prazerosa.
— Muito bem, Dárdua! Vamos esticar as suas pernas. Hoje sairemos de dia. Está, há muito tempo, vendo a luz do sol, apenas por conta da claraboia.
A égua relinchou novamente e Fira a puxou pelo cabresto. Nunca saía direto pela passagem a galope. Se afastava do castelo a pé, para não ser vista, se esgueirando pelas árvores que encobriam a passagem. Depois de tomar distância das muralhas, pegou um caminho através da floresta. Pelo que Bert falou onde era a casa, deveria seguir no sentido sudoeste. Após passar a pequena vila de Anastan, galopou por uma estradinha que ladeava um córrego. Chegou a um rancho e começou a ouvir uma música de sanfona e cordas sendo tocada. Apeou, vendo algumas pessoas do lado de fora da cabana.
— Olá. Eu vim para a festa de Bert e Maia. Onde posso deixar minha égua?
— Pode amarrá-la, ali, no mourão da cerca. – Falou o homem simpático.
— Obrigada.
Fira amarrou a égua no mourão, mas se sentia deslocada. – “Que raios eu vim fazer aqui?” – Dispersou os próprios pensamentos e seguiu em direção à cabana. A porta estava aberta; entrou. Olhou ao redor, tentando encontrar a escudeira e reparou as pessoas dançando no meio da sala, enquanto dois homens tocavam uma música animada, num dos cantos. A mesa, repleta de comida e jarras, estava no outro canto, próximo à lareira.
Crianças corriam pela sala, brincando e esbarrando nas pessoas por pura peraltice. Um menino trombou com força nas pernas de Fira e ela retesou o corpo em reflexo, para que não fosse derrubada. O menino caiu sentado no chão com o choque, olhando-a assustado. Ele não conhecia aquela mulher. Fira se agachou e segurou seu braço para levantá-lo.
— Oi! Você se machucou?
O garoto meneou a cabeça em negação, mas não emitiu qualquer palavra e ainda a olhava com espanto. Fira achou graça da expressão no rosto do garoto. Parecia ter medo. Ela não sabia se era pela sua estatura, que chegava a ser três vezes maior que ele, ou a travessura que aprontara.
— Eu sou amiga de Bert. Sabe onde ela está? – Perguntou.
— Mãe!!
O garoto gritou, chamando a atenção dos mais próximos, levando Fira a enrubescer, levemente. Segurou o menino pelos braços e o levantou, deixando-o livre para que corresse pela sala, novamente.
— Senhora…
Lady Líberiz escutou a voz de sua escudeira atrás de si e virou-se. A mulher estava com um grande sorriso no rosto.
— Olá, Bert! É um de seus filhos?
— Sim. Desculpe-me por Edwin. Ele é agitado e ainda está se acostumando conosco. Os pais morreram da doença da tosse, tem seis meses, e ainda sente a falta deles.
— Não foi nada. Crianças alegram com a despreocupação que têm. Não sei se ele se machucou, pois caiu no chão.
— Ah, se tivesse se machucado sossegava. Pode ter certeza, Lady…
— Bert, não me chame de Lady Líberiz. Estou na sua casa e não acho que deva ser tratada melhor do que qualquer de seus amigos. – Falou num tom baixo.
— Sinto muito, milady, todavia não acredito que consiga. – Sorriu descontraída. – Mas a entendo. Não deve ter falado a ninguém do castelo que viria. Talvez seja melhor que não saibam que é a nossa soberana, senão meus amigos ficarão eufóricos demais. Tentarei. – Respondeu, sussurrando também.
Bert abriu mais ainda o sorriso. Fira o devolveu e olhou por sobre o ombro da escudeira. Viu Maia se aproximar, sorrindo também.
— Milady…
Ela ia prestar uma reverência e foi imediatamente impedida pela soberana, que a segurou.
— Por favor, Maia. Não vim como a Duquesa de Líberiz. – Falou baixo. – Aqui sou apenas uma amiga, tudo bem?
Maia, encabulada, entretanto feliz, chamou-a para entrar. Ainda se encontravam próximas à porta e a dona da casa conduziu-a até o canto, junto à mesa.
— Nossa sidra não deve ser tão boa como a que está acostumada, porém é feita por nós e consigo comercializá-la, muito bem, no mercado de Líberiz. Gostaria de provar?
— Gostaria, sim. Tenho certeza de que vou gostar, Maia.
Maia derramou em uma caneca e ofereceu para Fira. Quando Bert falou que a Duquesa viria, não acreditou. Estava feliz. Seu casamento ser abençoado pela soberana era um bom presságio.
— Fiquem à vontade. Vocês têm muitos convidados para atender. Não se preocupem comigo. Vou comer algo e me divertir.
Maia e Bert foram chamadas por uma mulher que estava perto da janela. Fira repetiu, dizendo para que elas relaxassem e que estaria bem. As duas se dirigiram até a mulher, que as recebeu efusiva. A Duquesa bebericou a sidra e viu que tinha um sabor delicado e marcante.
Pelos deuses! Essa sidra é melhor do que as que servem no castelo!
Pensou. Voltou-se para a mesa e viu um assado de javali, com uma aparência magnífica. Pegou um prato limpo e alguns pedaços do assado. Começou a petiscar e a observar o ambiente.
Viu dois homens sentados em um canto. Estavam de mãos dadas e, um deles, fazia um carinho no rosto do outro. Continuou a observar e viu que a maioria na sala eram mulheres que dançavam com outras mulheres e homens com homens. Poucos eram os casais em que o par era feito de uma mulher e um homem.
As leis de Alcaméria validando o casamento entre pessoas do mesmo sexo, existem há anos e não vejo pela cidadela esses casais circularem com esta naturalidade.
Ela comia quando uma mulher chegou próximo a ela, pegando algo na mesa.
— Maia e Bert são pessoas excepcionais.
A mulher falou, puxando assunto. Não olhava diretamente para Fira. Falava, enquanto colocava algumas coisas da mesa em um prato. Fira reparou que era a mesma mulher que estava próxima a janela e chamara as anfitriãs. Estava trajada com calças e botas de montaria e uma camisa folgada de algodão, presa por dentro das calças.
É. Acho que vim com a roupa certa.
Sorriu, ao seu pensamento.
— Sim. Elas são ótimas.
Respondeu de forma simples e curta.
— Nunca a vi por aqui. Você as conhece de onde?
A mulher perguntou.
— Da cidadela. Sempre encontro Bert na cidadela.
Sorriu. Não mentira, entretanto, não tinha a menor disposição de se identificar. Ali, Fira era a personagem que gostava de ser. Não era a soberana. Era alguém que podia transitar livremente, sem qualquer identidade. Era apenas mais uma mulher.
— Meu nome é Divinay.
Estendeu a mão para Fira. A duquesa a olhou, perscrutando seus gestos e acabou por estender a mão para cumprimentá-la também.
— Haven.
— Gostei do seu nome… – a estranha disse, sorrindo. – … mas não bate com o nome que Bert me falou. – Gargalhou.
Fira estreitou os olhos e tentou vislumbrar algum sinal de que Bert a tenha denunciado. Pela forma como a outra chegara, não acreditava. A escudeira sabia da história da dinastia de sua mãe.
— Possivelmente, tenha lhe falado que meu nome é Dotcha, ela gosta de implicar comigo, pois não gosto desse nome. Gosto mais de Haven, que é da minha mãe. – Mentiu.
Dotcha era o nome da dinastia de sua mãe que foi suprimida, pois, em Líberiz, o nome do soberano era o que prevalecia. Haven era seu segundo nome, que também não tinha importância perante as leis de Líberiz e não foi assinado em documentos.
Seu pai lhe contou toda a história de porquê no registro ela levava apenas o nome Fira Líberiz, todavia no coração deveria carregar o nome Dotcha da casa de sua mãe e o nome Haven, em consenso entre ele e Frigga, sua amada esposa.
— Sim, foi esse nome que ela me falou. Mas por que não gosta dele?
Fira relaxou e continuou a conversa sem preocupações.
— Ora, nome de um reino que nem existe mais? Pelos deuses! Meus pais erraram feio!
Riu da piada que para ela, na verdade, não tinha a menor graça.
— Desculpe-me, mas discordo de você. Acredito que Dotcha tenha mais significado do que Haven. Seus pais, como os meus, devem ter achado uma atrocidade o que Alcaméria fez com o reino de Dotcha. Não é dado a nós a permissão de expressar muito o que pensamos.
A amiga da escudeira deu uma pausa de efeito na fala, observando as expressões no rosto de Fira, continuando logo a seguir.
— Tenho certeza de que seus pais tinham profunda vergonha da coroa, ao saber que invadiram um reino e o destruíram, por conta de pensamentos vanguardistas e leis que favoreciam no povo. A grande ironia é que para evitar uma rebelião, Alcaméria acabou incorporando as mesmas leis que combateram.
Fira se chocou com o que escutou. Apesar de ter seu coração alentado, descobrindo que pessoas do povo desgostaram do que a coroa de Alcaméria havia feito com reino de sua mãe, não compreendeu por que aquela mulher falava sobre aquele assunto.
— Por que diz que não temos permissão de nos expressar? Fira Líberiz não me parece uma carrasca sem noção.
Jogou aquela conversa para saber a opinião da outra sobre o seu governo.
— Ora, não seja ingênua. Fira Líberiz é cria do pai dela. Virtus foi um bom soberano, investindo no ducado, no entanto, sempre bateu cabeça para a coroa. Casou-se com Lady Frigga porque a coroa impôs. Na noite em que a filha nasceu, a esposa morreu no parto. Muito conveniente.
Não é possível que meu povo pense que meu pai matou minha mãe!
Não mudou de assunto, contudo, tentou conduzir a conversa para descobrir mais sobre o que aquela súdita pensava a respeito do governo do ducado.
— Por acaso preferiria que Lady Fira se casasse com algum nobre de condado para liderar Líberiz? – Atacou, Fira.
— Não. Aliás, comecei a gostar mais dela, depois das manobras que fez para não deixar Líberiz à mercê destes pulhas. Avar é um cretino. Tenho uma amiga que mora no condado de Avar e me penalizo. O homem é um relapso com o povo, além de corrupto. Há muita miséria no condado e minha amiga diz que, se o dinheiro que pagam para o condado chegasse ao ducado, estariam melhores.
— É, todos sabem que Avar é o pior dos condados.
Fira concordou para estimular a estranha mulher a continuar seu relato. Divinay deu uma ligeira pausa, derramando sidra em um copo. Vendo que a bela amiga de Bert se interessava, prosseguiu.
— Remis é em cima do muro. Também é corrupto, mas não quer se estremecer com o ducado, assim que não é escrachado na hora de roubar. Para Dinamark, Deshi, Verome e Desmera, tanto faz, contanto que a liderança deles esteja assegurada na Assembleia.
Divinay encheu os pulmões para continuar a sua análise sobre ducado.
— O que sinto é que Lady Líberiz é a melhor deles e está no meio de uma cova de dragões, coitada. Os outros ducados não têm força, não somam a maioria na Assembleia, são pequenos e não tem voz. Seguem conforme lhes ditam.
Fira começou a desconfiar do discurso da mulher. Será que ela a tinha reconhecido? Era uma conversa militante e digna de rebeldes, todavia não era de todo inverossímil.
— Então acha que Lady Fira é uma boba que se deixa levar?
Perguntou, querendo chegar ao âmago da questão que a mulher colocava. Queria saber até onde ela falava inocentemente, achando que Fira era uma mulher qualquer do povo.
— Acho. Bem… na verdade a admiro. O trono caiu em sua mão, sem mais. Não acho que se deixe levar, entretanto, acredito que não conhece seus condados e condes de verdade. Tudo que sabe, foi o pai que passou para ela, mas ela conhece o seu povo? Ou, ela conhece com quem ela lida? Não sei… As atitudes que tomou, até agora, foram bem interessantes, todavia, até quando a deixarão atuar? Ela não sabe, mas creio que está sozinha naquele castelo, Haven.
— E o que acha que faria? Deixar que um conde assuma e que Cárcera tome à frente, diante da coroa? Ela também precisa de apoio entre os próprios condados e, muito mais, com os ducados de fronteira.
— Concordo. Mas se Lady Cécis for resgatada, aí se vai a força de Líberiz. A princesa livre e se casando com Cárcera… Ninguém até agora pediu resgate e começaram as especulações nos outros ducados sobre quem e como a princesa foi sequestrada. Não duvido nada de que o próprio rei tenha matado a princesa. O povo diz que o rei não gostava da filha primogênita. Era irreverente e malcriada. Todos sabem que o rei matou suas primeiras esposas.
Fira fechou os olhos. Uma dor se fez em seu peito. Será que calculei tão mal? Os pensamentos corriam por sua mente. De repente, segurou a mão de Divinay e lhe olhou sedutora.
— É muito interessante o que está me falando, mas eu gostaria de ir a um lugar mais tranquilo. Nunca vim até o rancho de Bert. Quer me acompanhar num passeio?
Fira fez um carinho na mão da mulher, dando-lhe um sorriso insinuante, que foi devolvido na mesma intensidade. Divinay havia gostado dela, desde que pousara os olhos.
— Desculpa. Estou aqui falando de política numa festa e, certamente, existem assuntos melhores. – Sorriu.
— Esse assunto não me incomoda. Na verdade, foi o que me atraiu em você. Gosto muito de mulheres inteligentes e questionadoras, além de belas…
A duquesa acariciou outra vez a mão de Divinay com seu polegar, deixando um leve sorriso na boca. A amiga de sua escudeira parecia em dúvidas e Fira sentiu a necessidade de mostrar mais sua intenção em relação ao que queria com a mulher. Retirou a mão do contato com a dela e se recostou na mesa.
— Me desculpe. Entenda que na cidade não tenho tanta liberdade quanto a que encontrei aqui. Lá é muito reservado e na maior parte das vezes, não tenho oportunidade de conhecer pessoas interessantes e que goste do mesmo que eu.
– Não. Não se desculpe. Eu é que peço desculpas pela minha reação. É que… Bem, fiquei em dúvidas se era mesmo o que queria. Você é uma mulher linda, Dotcha, e eu, sou somente uma camponesa.
— E acha que sou melhor que você?
Fira cruzou os braços jogando o rosto de lado.
— Sou da cidade, mas, normalmente só conheço alguém quando Bert me apresenta. E convenhamos que encontros marcados nunca são exatamente o que a gente espera. Pela primeira vez conheci alguém de uma forma totalmente natural e gostei disso.
Divinay abriu um largo sorriso e começou a vasculhar com os olhos o que havia sobre a mesa.
— Conheço uns lugares muito bonitos aqui, entretanto, teremos que pegar nossos cavalos. Está disposta a me acompanhar, Dotcha?
— Para mim, não tem problema.
— Tudo bem, então. Tem um escarpado que dá a visão mais linda que eu já vi do vale de Líberiz.
A amiga de Bert pegou uma jarra e derramou sidra em um odre que havia no canto da mesa.
— Pode pegar as canecas?
Perguntou alegre, recebendo um meneio de cabeça, vindo “Haven-Dotcha”. Divinay entrelaçou a mão na da mulher morena e a puxou para fora da cabana. Caminharam em silêncio, até chegar nas montarias que estavam amarradas no mourão. Algumas pessoas cumprimentaram e insinuaram coisas à Divinay, que sorria e respondia as brincadeiras.
Montaram, e Fira acompanhou a outra no galope. Depois de uns minutos de cavalgada, olhou para trás e viu a cabana se distanciar. Quando chegaram ao escarpado, apearam e amarraram os cavalos num tronco.
Novamente, Fira olhava a distância em que estavam da cabana. Percebeu ser um local ermo e o que acontecesse ali, não seria escutado ou notado por ninguém. Quase não se via mais a cabana, de tão distante que estava. Ela era um pequeno ponto de luz dentro da escuridão da noite que começara a cair.
— Está preocupada com o que Bert e Maia possam pensar? Não se incomode. Elas são discretas.
— Por que acha que estou preocupada com elas? – Fira sorriu. – Tenho certa intimidade com Bert, mas não temos uma relação tão estreita. Começamos a falar de nossas vidas há pouco tempo.
— Uma coisa boa que a atrocidade feita ao reino de Dotcha permitiu, foram as leis mais abertas que se incorporaram a Alcaméria, porém não quer dizer que somos todos aceitos de bom grado. Sei que, para quem vive na cidadela, não é tão fácil.
— É. Eu tenho restrições na minha vida.
Fira jogou a frase, para entender melhor essa lógica que Divinay falava. Estava intrigada e queria ver até onde aquela mulher iria com as críticas ao governo de Líberiz.
— A cidadela é cheia de preconceitos e eu entendo você. Por isso, a maioria de nós vem morar no campo, nos arredores. Veja Bert. Conquistou uma posição, porque a Duquesa gosta dos serviços dela, no entanto, não se mistura com os outros serviçais do palácio.
Divinay parou de falar, vendo que a bela mulher raciocinava sobre o que havia dito, estimulou-se, continuando a conversa.
— Lady Fira pode ser uma pessoa compreensiva, todavia isso não se aplica ao restante dos governantes e nem de quem vive na corte. A Assembleia estimula as pessoas a pensar que estas leis são a parte nociva que Alcaméria herdou. Além do que, muitos ainda não engolem a mudança da lei da escravidão.
— Aí você já está exagerando, Divinay. Nem que o próprio rei queira, a escravidão retornaria.
— Acha que não? Mesmo depois de tantos anos, a aristocracia coloca a culpa do gasto demasiado dos cofres, por conta do pagamento de soldo aos serviçais e não veem os gastos que têm com a vida opulenta e as festas que dão.
— Eu concordo com você, entretanto não acredito que este assunto sobre a escravidão retorne à pauta da Assembleia de Líberiz e, muito menos, do conselho de Alcaméria. Estamos há quase trinta anos sob as leis de liberdade e a economia de Líberiz é estável.
Desta vez, foi Fira a pausar a fala para observar as reações da outra, continuando seu raciocínio logo depois.
— Se quiserem retornar as leis antigas, não poderão usar desse argumento, além do mais, não é uma lei de Líberiz. Teriam de convencer a coroa e todos os outros ducados a mudarem, e isto seria um trabalho exaustivo para arregimentar politicamente.
Divinay segurou a mão de Fira, caminhando mais próximo ao escarpado. O clima estava agradável e a brisa do início da noite contribuía para o relaxamento de ambas. A Duquesa se divertia ao escutar as ideias da sua acompanhante. Estranhava o tipo de conversa, todavia era interessante falar relaxadamente de política com alguém de fora do governo, embora tivesse certeza de que a outra mediria as palavras com ela.
— Sim, mas corre o boato de que Cárcera quer voltar com a lei da escravidão. Se ele se casar com alguma das princesas, ficará mais fácil juntar os ducados nesse ideal. O interessante é que ninguém se pronunciou ainda, falando sobre o resgate da princesa Cécis. Isso não faz sentido.
— Seguindo pela sua linha de raciocínio, faria sentido se fosse o próprio Cárcera a sequestrá-la.
— Ah, sim. Dizem que a princesa é astuta e que não se dobra com facilidade. Falam que ela é cheia de vontades e, talvez, fizesse força para assumir no lugar do pai, quando este morresse, tamanha sua arrogância. Definitivamente, isto não é o que o rei quer. Já correm boatos a este respeito, também.
— É um boato bem forte, pois na cidadela também se ouve estes murmúrios. – Fira confirmou.
— Talvez não seja boato. Todos sabem que o rei matou a mãe de Lady Cécis. Não acredito que ele gostaria que a filha assumisse, pois fez força, a vida inteira, para ter um filho homem. Preferiu matar duas esposas a ter que mudar a lei para que a filha primogênita assumisse. O fato de Lady Líberiz ter conseguido ser aceita como governante aqui, foi um empurrão para que se acelerasse essa aliança com Cárcera. Eu não me espantaria se o próprio rei estivesse apoiando o duque no sequestro da filha, para tirá-la do caminho e casar a segunda filha.
— É. Esses boatos também estão correndo…
Lady Fira quase deixou escapar um sorriso ao responder, mas se conteve. Tinha que parar aquela conversa rápido. Caminhavam por trilhas perigosas no quesito política e governo. Outra vez, Divinay falava destas questões, mesmo que entremeada num diálogo relaxado, no entanto, nem um pouco simplório. Fira resolveu calá-la. Puxou para um abraço e a beijou com vontade.
A lua cheia aparecia no céu. Era uma visão maravilhosa do vale de Líberiz, vista de cima daquele escarpado. Bert tinha um rancho em um local maravilhoso. A acompanhante da duquesa sorriu entre os lábios e a segurou pela cintura. Enquanto se beijavam, Fira correu com as mãos pelos braços da outra, num carinho delicado. Segurou uma das mãos da recente amante que repousava em sua cintura.
Oiee!!
Dessa vez eu não vi erros, ainda assim pode ter, n sei!
N se preocupe pelas poucas palavras,as que estavam, me deixaram satisfeita!!
Poxaaaa, Carolina Bivatd!!! Vc tá brincando com a gente, além de terminar assim, me mete uma tal de Devaney…a princípio,pensei q fosse Rogan disfarçada, mas agora até q vem a calhar, será uma boa espiã pra Lady pra saber q passa no reino. No entanto, ando desconfiada sobre Cecis..ninguém viu,pediu nada. O pai c a fama q tem ajuda a Devaney ter esses pensamentos, mas onde será q tá Cecis de verdade? Sequestrada? Escondida? Involucrada em algum plano?? Junto c o “inimigo? Em quem Lady pode confiar agora? Seguirá c o mesmo plano? Falará c Rogan?
Eita q vc já gosta da putaliaa, Lady n perde tempo kkkkkk.
Semana q vem tô aqui esperando pra saber sobre essa Devaney toda trabalhada numa revolution …. Suspeito e é MTa coincidência!!!! E essas n existem pra mim!!!
Fiquem bem, descanse esse finde que chega!
Beijos pra vc e seu amor!!
Oi, Lailicha!
Eu concordo com você, coincidências sempre são suspeitas. Uma mulher assim, se aproximando, meio querendo falar de tudo… Ou é muito revoltada, ou tá por dentro de alguma coisas. rs
Qual das duas será?
E por acaso a duquesa está presa em algum compromisso? Tá numa festa… a mulher tá dando trela… rsrsrs
A Cécis é uma peça desse jogo todo que a Fira e a Rogan tão elaborando. Vamos ver onde a bichinha está em breve. rs
Obrigada, sempre, Lailicha.
Fica na paz e um beijão pro’ce e pra Mocita
Ceci me intriga… Tô c bem Devaney, que pensava algo de Lady Fira a era molenga, mas acho q a bicha é retada..KKK
Ah, esqueci de mandar beijo e um se cuida pra seu amor e dizer pra se cuidarem pq tá tendo mais uma onda de covid. Fiquem direitinho aí!
Fui
Fiquei com dúvidas em relação a essa Divinay, mas a duquesa é bem astuta, e diante de tantas especulações, os planos de Fira tem que ser posto em prática antes que algo dê errado.
Bjs! Boa semana pra vc e sua família
Oi, Blackrose!
Então… Concordo com você, mas não sei se vai ser do jeito que elas bolaram. rsrsrs
Valeu, Blackrose!
Um beijão e boa semana!
Gostei da Divinay
Oi, Anônimo!
É. A Divinay é uma pessoa bem interessante. O destino lhe reserva algumas coisas. 😉
Obrigada pelo carinho de sempre
Beijão!