Líberiz

Capítulo 10 – A Princesa Rebelde

A carruagem parou na floresta que antecedia uma pequena vila do condado de Verome, mais ao norte de Avar e Remis. A escolta liderada por “Lady Dotcha” se afastou, a pedido dela. Entrou na carruagem, retirou o capuz e as amarras dos punhos da cativa. Divinay estava enjoada pelo sacolejo e por ter acordado do sono induzido pelo elixir.

— Tudo bem com você? – Perguntou Fira. 

— Precisava ser assim? 

A rebelde respondeu com raiva, extraindo um riso aberto de Fira.

— Me responda você. O que faria em meu lugar?

Divinay balançou a cabeça. Ela não podia criticar as ações da duquesa em relação a ela, mas odiava este tipo de situação. Nunca fora pega ou presa; e as dúvidas em ocasiões como aquela pairavam na mente da rebelde. Saíram da carruagem.

— Onde estou?

— Na floresta do condado de Verome. A cidadela de Líberiz fica à oeste daqui.

— Eu sei para que lado fica Líberiz, a partir do condado de Verome.

Divinay continuava irritada. Sentia a humilhação na pele, diante da soberana. 

— Uau! Então o Rélia já andou por aqui também? O que eu perdi?

Lady Líberiz riu da cativa.

Divinay a olhou e não pode deixar de rir também. Beirava o ridículo. Estava de frente para a duquesa Líberiz e ela fazendo piada das ações do seu grupo, que atacava determinados condados.

— Você é realmente uma pessoa intrigante e irritante, milady. 

— Vou tomar isso como um elogio. – Mais uma vez Fira sorriu jocosa. – E só para constar, eu sei que não atacaram Verome. Ele não é um condado do qual tenham interesse. Por isso, estou deixando você aqui. Não deverá ter problemas, para retornar em segurança.

Fira se dirigiu ao cocheiro da carruagem.

— Deixe meu cavalo e pode se adiantar que eu os pegarei no caminho!

Esperou o cocheiro se distanciar para continuar a conversa com Divinay.

— Então, quando tiver uma posição de meus espiões, de onde a princesa Cécis se encontra, mandarei lhe avisar.

— E como me mandará a mensagem?

— Pode deixar que eu a encontrarei. Não se preocupe. – Sorriu-lhe instruída, recebendo um olhar assustado de Divinay. – Pelos Deuses, Divinay! – Gargalhou. – Não me olhe desse jeito. Não sei onde o Rélia se reúne e nem quero saber. Você é amiga de Bert, esqueceu? E lembre-se que eu tive uma noite maravilhosa com você uns dias atrás.

— Ah, sim! Maravilhosa para você. Eu me estraguei toda!

Fira gargalhou e montou em seu cavalo.

— Como vai justificar esses ferimentos?

Fira perguntou, preocupada.

— Deixa comigo. Já me feri, bem feio, uma vez com o arado. Posso falar uma história parecida para o corte da coxa, o ombro e a cabeça. Só o corte do pescoço vai ficar complicado. Seria muito azar com o arado, ou eu seria uma fazendeira muito ruim. – Riu sem ânimo. – Acho que vou usar um lenço, para enfeitar meu pescoço durante uns tempos.

 — Me desculpe, por isso, Divinay.

Fira trazia pesar nos olhos e na fala.

— Eu entendi você. Não se preocupe. – Respondeu sincera e se acalentava com a pequena intimidade junto a soberana. – Ei! Vou ter que voltar a pé? 

— Claro que não. Não sou tão perversa assim. 

— Percebi que não.

Divinay entrou na brincadeira, mexendo com a duquesa num tom de deboche. Fira balançou levemente a cabeça em aceitação.

— Não posso contestar. – Fira encolheu os ombros, retomando a conversa. – Tem um cavalo amarrado em uma árvore próximo a um rio, dez minutos a pé daqui. Siga na direção oeste, que irá encontrá-lo e, antes que me pergunte, fiz isso para dar tempo de nos distanciarmos.

— Ah, sim. Lógico! – Bufou a outra.

— Consegue andar até lá?

— Apesar do estrago que fez, seu curandeiro é bom. A dor que sinto não me atrapalhará. – Sorriu sem graça, recebendo outro sorriso em troca. 

— Tome cuidado, Divinay. As estradas estão cheias de guardas reais de Alcaméria. – Avisou Fira. 

— Está tão ruim assim? – Questionou a rebelde espantada.

— Acho que Cárcera está fazendo o seu movimento, pois não ouvi falar desta ostensiva de Alcaméria em outros ducados, mas também não posso afirmar com certeza.  Vou me adiantar. Se cuide!

A rebelde meneou a cabeça e abanou a mão, quando Fira se pôs a galope.

Fira retornou ao castelo de pedras, mais rápido que seus guardas. Disse para que acompanhassem a carruagem e que ela se adiantaria. Não sabia por que, mas estava apreensiva. Quando deixou o castelo, pressentia que Cécis faria uma besteira. 

— Lady Rogan retornou?

Assim que atravessou os portões, apeou e perguntou ao coronel da guarda, como se soubesse que “Lady Rogan” saíra mais cedo. Se acaso a princesa não tivesse deixado o castelo, o coronel responderia. 

— Retornou sim, milady. Deve fazer mais ou menos uma hora. 

— Obrigada, coronel. 

Atravessou o pátio e a raiva já tomava seu corpo por completo. 

— Como pode ser tão infantil assim? – Esbravejou.

Intuía onde a princesa teria se enfiado nas horas em que esteve fora e cada vez que pensava, mais raiva lhe dava. Foi até a sala de visitas e encontrou uma das moças das cozinhas, retirando a comida do almoço. Viu que estava intacta. 

— Lady Rogan está no quarto?

— Sim, milady.

Já saía em direção ao quarto da princesa, quando escutou a moça lhe chamar.

— Milady, Lady Rogan não está muito bem. Tome cuidado ao entrar…

— Por que diz isso?

Fira estreitou o olhar.

— Bom, quando fui arrumar a sala de banho, milady gritou comigo para que saísse e parecia… bem, acho que bebeu demais.

— Obrigada.

Fira respondeu seca, seguiu pelo corredor e diminuiu o passo quando escutou algo quebrar dentro do quarto. Tentou se aprumar antes de seguir; e depois caminhou devagar até chegar em frente à porta. Tentou abri-la e viu que estava trancada por dentro.

— Merda! – Se exaltou. – Abre essa porta, Rogan! – Gritou. 

— Vai embora! Me deixa em paz!

— Rogan, não quer saber o que aconteceu na minha diligência? 

— Não.

Fira tentou conter a raiva que se avolumava. Sabia que se continuasse a mostrar sua ira, não conseguiria que a princesa cedesse e abrisse a porta. Inspirou fundo para pensar em alguma coisa.

— Rogan, por favor. Preciso que me ajude a resolver uma coisa que aconteceu. Não quero tomar uma decisão sozinha. 

Falou mais branda, demonstrando preocupação. O silêncio se fez durante um tempo, até que escutou o ferrolho da porta ranger. Quando a porta abriu, Fira a empurrou com raiva, entrando e trancando-a por dentro.

— Que merda você está pensando? Eu saio para resolver problemas e a primeira coisa que você pensa, é procurar um lugar para se embriagar?! – Bufou.

A princesa estava com os olhos vidrados e vermelhos, mas olhava Fira com visível desprezo. A duquesa olhou em volta e viu que o quarto não estava desarrumado, a não ser por duas garrafas de vinho quebradas, próximas à janela, e uma poltrona virada para ela. Percebeu que Cécis havia colocado, ali, para terminar de se embriagar, enquanto olhava a paisagem lá fora.

— Você é uma víbora, Fira. Igual as cobras de nossas bandeiras. Me enganou só para entrar aqui e terminar de fazer o que não conseguiu fazer ontem. 

 A princesa falava com a língua enrolada e culpava a duquesa por desviá-la de suas intenções.

— Por que não me deixou ir embora? Por que veio com essa proposta de aliança me dando esperanças? — Gritava. —  Você é igual aos outros. Só se preocupa consigo mesma. Aquela conversa de livrar Alcaméria do mal que Cárcera representa, era tudo balela. Você queria só tirá-lo do seu caminho! Eu fugiria e esqueceria que Alcaméria existe. Por que não me deixou seguir?!

— Eu não vou conversar com você nesse estado.

Abanou a cabeça negativamente. Lá no fundo, Fira sentia-se ferida.

— Me fala na cara, Fira! Me diz! Você se acercou de mim na primeira vez, numa taberna, porque sabia que eu fugiria de Alcaméria, não é? Eu reconheci você depois, no dia que deixou a mensagem na estalagem. Apesar de estar com o rosto coberto da primeira vez, não adiantou, Fira. Por mais que sua fantasia de mercenária estivesse perfeita, era você a me abordar com a proposta anteriormente! 

Fira olhava a princesa e percebeu que a subestimara. Ela estava bêbada e Lady Líberiz sabia que a raiva se tornava maior nesse estado. A sócia falava todos os passos de Fira, até chegar nela. A duquesa tinha conhecimento que Cécis fugiria e se utilizou disso num acordo, mas não era o que Cécis estava pensando. 

Não queria apenas tirar Cárcera do seu próprio caminho. Queria tirar o homem que poderia destruir o reino. Com Cárcera no poder, Alcaméria, todos os ducados e a população entrariam numa era de atrasos. Retroagiriam em todas as conquistas que alcançaram. Ela não fizera simplesmente pela vaidade.

— Cécis, deixa eu te ajudar a tomar um banho. – Falou, doída. 

Não podia contestar o ponto de vista da princesa. Tudo bem que Fira utilizava todas as armas para atingir seu objetivo, mas não era do jeito que Cécis falava.

Não sou desse jeito, ou sou? – Pensava Fira.

— Sai! – A princesa gritou.

— Cécis, por favor, deixa eu te ajudar. – Se aproximou tocando seu ombro.

— Não! – Gritou Cécis se retraindo ao toque.

— Podemos conversar depois, mas deixa que eu lhe ajude num banho. Você irá melhorar.

— Eu não quero que você me toque! Na certa, todos os gemidos que escutei, você fingiu! Você esconde as coisas de mim o tempo inteiro e acha que nunca percebo? Que nunca fui atrás para saber? Respondendo a sua pergunta de dias atrás, essa é a diferença entre qualquer mulher do povo, para uma mulher de família. Elas gemem, mas a gente sabe, exatamente, o que estão sentindo. As mulheres de família fingem gemer e os tolos acreditam!

Fira se descontrolou. Desferiu um tapa no rosto da princesa com força. Estava indignada. Nunca fingira nada na cama com a princesa. Havia escondido coisas para preservar a própria segurança. Cécis também o fazia. Não era ingênua e estava sendo injusta com ela. 

— Você prostitui as suas ações, Fira!

Cécis gritou mais alto diante do tapa que recebeu, e Fira, colérica com as acusações, tentou aplicar outro golpe, sendo segurada pela princesa. Se encaravam com raiva.

— E você foge de suas responsabilidades, com medo de encarar! – Fira cuspiu a resposta. – Você não é muito diferente de mim, Cécis. Que verdade você me contou até agora? Por que, quando fui à primeira vez até você, não me falou que iria embora do reino? Por que, da segunda vez na estalagem, quando me reconheceu, foi me provocar na minha tenda e não contou que me reconhecera anteriormente, como está me contando agora? Não precisa responder, eu mesma respondo: medo e instinto de preservação. No que somos diferentes? Me diga! Pelo menos, eu deixei que me tomasse ontem e senti todo o prazer que podia me oferecer. Não fingi o meu orgasmo e sabe disso, mas agora me pergunto se você não o fez!

A princesa ainda segurava o braço de Fira, apertando forte seu punho. Fira tentou puxar e Cécis travou o movimento. A duquesa puxou o braço num golpe, e foi surpreendida pela agilidade da princesa, mesmo bêbada. Ela travou o outro braço de Fira, que ensaiava empurrá-la, entremeou uma de suas pernas e a levou ao chão, se colocando por cima. 

A maior raiva de Cécis era por saber tudo que Fira fazia e ainda assim, admirava-a. Tinha os dois pés atrás com ela, no entanto queria muito acreditar na duquesa. Queria que ela fosse uma mulher digna de ter sua vida depositada nas mãos. Até ansiava por isso. 

As duas se encaravam paralisadas, até que Cécis assaltou a boca de Fira, num arroubo. A duquesa tentou se desvencilhar do corpo que a prendia no chão. Reuniu forças para não ceder ao beijo voraz que, com toda a certeza, havia lhe estimulado. Mas não podia. Empurrou a princesa para o lado, levantando-se num movimento.

— Você está bêbada, Cécis. Quando estiver melhor, conversamos.

Saiu a passos rápidos pelo corredor e entrou em seu quarto, fechando a porta atrás de si. 

— Deuses! Será que eu vou ficar nesse rio de emoções com essa mulher? Eu posso não ser uma fada bondosa, mas ela não é essa nascente pura que quer transparecer!   

Permaneceram em seus quartos durante o resto da tarde. Dormiram sem se falar e, no dia seguinte, Fira se incomodava porque Cécis não saía. Eram dez horas da manhã e resolveu que já bastava daquela besteira. Foi até o quarto da princesa e quando bateu na porta, ela se abriu sem resistência. Olhou todo o cômodo e não havia sinal de que Cécis havia dormido ali. A cama estava feita e os cacos das garrafas de vinho do dia anterior ainda estavam no canto próximo a janela. Saiu furiosa.

— Daetanis!

Chamou a moça das cozinhas que costumava levar o jantar e desjejum aos quartos. 

— Viu Lady Rogan esta manhã?

— Não, milady. Lady Rogan pediu ontem à noite para que não a incomodassem hoje pela manhã.

Que merda! Não posso nem perguntar para os soldados, senão saberão que não sei o que acontece dentro deste castelo.

— Obrigada! Poderia chamar o curandeiro Zavas e pedir que vá a meu quarto?

— Sim, milady. 

Esperou pacientemente; e quando Zavas chegou, pediu que entrasse e não teve tato ao lhe falar.

— Zavas, preciso que me diga onde ficam as tabernas com estalagem mais próximas daqui. 

— Milady?! 

— Zavas, preciso encontrar uma pessoa e não quero alardes. Sei que pode estar numa estalagem e é provável que seja alguma que tenha uma taberna. Quero saber quais são as mais próximas daqui… ou melhor, se souber de todas as tabernas do condado, me dê a localização.

De posse da informação, Fira saiu a cavalo. Foi até as duas primeiras e não a encontrou. Sentiu-se agoniada e parou o cavalo, quando seguia até uma terceira estalagem. 

Pense, Fira! Se você estivesse com raiva, decepcionada e bêbada, o que faria? 

Sorriu, pois ela em particular, se enfurnaria no quarto ou cavalgaria a esmo. Recapitulou a pergunta. 

Se eu tivesse a vida de Cécis e quisesse desaparecer, em que tipo de estalagem ou taberna eu me enfurnaria?

Lembrou dos detalhes que Zavas falara sobre cada uma. Sorriu. 

A do rio. Ele disse que esta recebia viajantes tranquilos, que não querem confusão. É limpa e arrumada e tem uma taberna para atender o desjejum, almoço e jantar.

Cavalgou até lá. Apeou e um menino veio pegar seu cavalo. Era um estabelecimento bem mais apresentável do que os outros. Não parecia descuidado. Entrou e foi à recepção. 

— Gostaria de falar com Lady Rogan.

— Não temos nenhum hóspede com este nome. 

Fira percebeu que a mulher atrás do balcão, olhou de soslaio para outra mulher, sentada no canto do salão. Tinha certeza de que Cécis deveria ter advertido sobre sua chegada. Se estivesse no lugar dela, o faria. Mudou de tática e resolveu apelar para a sensibilidade das mulheres que estavam ali.

— Olha, eu sei que minha namorada vem para cá toda vez que brigamos. Ela esteve aqui ontem e há três noites. – Falou com propriedade. – Ela sempre me conta depois. Sei também que pede para que, se eu vier, não me falem nada, mas eu a amo! Por favor! Só quero fazer as pazes com ela. Não me importo que ela venha, mas estou sofrendo sem ela perto de mim… – Fez um rosto desolado.

As mulheres se olharam compadecidas.

— Qual o seu nome, moça?

— Dotcha. Meu nome é Dotcha.

Apesar de toda briga e empáfia com que Cécis tinha falado na noite anterior, tinha certeza de que ela não a trairia. Não falaria seu verdadeiro nome. 

— Olha, não quero deixar vocês mal com ela, está bem? Só quero saber se ela está aqui para me tranquilizar. Ela nunca demorou tanto. Depois disso, irei embora. Eu prometo.

— Veja o que vai aprontar para a gente. Lady Rogan é uma boa cliente. 

— Podem confiar. Ontem ela me falou que bebeu muito aqui. Nós brigamos porque ela bebeu demais e anda fazendo sempre. Eu sei que ela vem para cá para distrair a cabeça. Sei que ela procura coisas que… Ela me pede, sabe, mas não consigo fazer… – Baixou o olhar. – Não me importo dela vir aqui e achar alguém na noite para satisfazê-la. Eu não posso atender aos desejos dela.

As mulheres se entreolharam, novamente. 

— Tudo bem. Ela dormiu aqui, mas foi embora hoje cedo. Só não diga que falamos para você.

Fira fez, outra vez, uma cara desolada e triste. 

— Pode deixar. 

A moça do canto se aproximou, colocando a mão no ombro de Fira para consolá-la.

— Não fale desse jeito. Ela não esteve aqui estes dias para o que está pensando. Só pediu um quarto para dormir e veio beber, diferente das outras semanas. Agora vejo por quê. Na minha experiência, moça, posso dizer que ela está apaixonada, senão, não viria para cá só para se embriagar e dormir. E lhe dou um conselho, se ela gosta de algumas coisas, não jogue sua felicidade fora por vergonha. Alguns homens se importam que a própria mulher faça. Mulheres normalmente só querem carinho e serem felizes. Ela não lhe julgará por ceder a alguns desejos dela. Vai por mim, – piscou para Fira – ela deve ser boa, porque normalmente as mulheres que encontra na noite, saem com um sorriso enorme no dia seguinte.

— Obrigada.

Fira falou num semblante envergonhado.

Depois que saiu e pegou o cavalo, cavalgou para longe até conseguir relaxar sobre a sela. Continuava contrariada e com vontade de matar a princesa, porém, agora a sua preocupação aumentara.  Parou o galope do cavalo para conseguir pensar.

Olha o que você me faz, Cécis!

 Esbravejou, mas começou a pensar no que a mulher da estalagem lhe falara.

Se você dormiu e saiu hoje cedo, onde se enfiou? Não acredito que, hoje, quando acordou, pensou em deixar tudo para trás! Será que resolveu me trair? 

Lembrou da outra coisa que a mulher falara. Que as reações dela eram de uma mulher apaixonada. Sorriu.

Se a mulher soubesse quem é Rogan e quem eu sou…

Depois de rir, fechou novamente o semblante. 

A mulher falou, na minha cara, que você devia ser ótima e ainda tive que fazer cara de virgem pudica! Você me paga quando lhe encontrar, Cécis! – Desconjurou.  – Pense, Fira. Onde ela pode ter ido? 

Continuava a falar sobre a sela, parada no meio da estrada, forçando a mente. Seu rosto se iluminou, certa de que poderia achá-la. Atiçou o cavalo num galope forçado. Algumas horas mais tarde apeou do cavalo, antes de chegar à cabana que, semanas atrás, encontrara a princesa se escondendo. 

Tinha se deparado com alguns guardas de Alcaméria pela estrada e pensou que Cécis era louca ao trafegar por ali. Apesar da raiva, a apreensão por não saber se encontraria a princesa era maior.

Caminhou, conduzindo a égua pelo cabresto para que não relinchasse. Amarrou-a num mourão, perto do estábulo da propriedade e viu um cavalo comendo o feno do lado de dentro. Voltou o passo no sentido da cabana e circundou, tentando ver através das frestas das janelas. A princesa estava tão imprevidente que o quarto em que jogara seu corpo sobre a cama, estava com a janela aberta, dando a ampla visão de seu estado.

Ah, Cécis! Não é possível que tenha bebido outra vez! O que está acontecendo com você?

Fira entrou na cabana despreocupada. Do jeito que o sol batia no rosto da princesa e ela não acordava, presumia o estado alcoólico em que ela estava. Foi até a pequena cozinha e olhou sobre as bancadas. Viu alguns potes e abriu, um por um, para cheirar. Num deles sentiu o cheiro. Era daquela erva que necessitava.

Colocou uma chaleira pendurada no suporte da brasa que ainda ardia na lareira.  Colocou mais alguns pedaços de lenha para aumentar o fogo. Depois que ferveu, pegou a chaleira e derramou a água numa chávena com a erva dentro e levou para o quarto juntamente com uma caneca. Depositou tudo sobre a mesa de canto e parou no meio do quarto, observando a princesa dormir. 

O corpo estava jogado, atravessado na simples e pequena cama.

 O que passa pela sua cabeça, Cécis? E se não fosse eu a entrar aqui?

Suspirou, diante do pensamento. Já passava das três horas da tarde e sabia que se não a acordasse, cruzariam as estradas do ducado à noite. Fira não se preocupava tanto com a escuridão, mas sim com os guardas que pudessem encontrar pelo caminho. Duas mulheres andando a cavalo de noite, certamente chamariam atenção. Poderiam ser paradas.

Se aproximou, observando os cabelos revoltos que cobriam os olhos da princesa. Ela havia aberto a camisa, certamente para aliviar o calor do sol, batendo sobre o corpo. 

Ela parece um anjo quando dorme. – Fira sorriu. – Mas também se parece com um demônio quando está acordada e se sente contrariada.  

Se aproximou e se sentou na beirada da cama, admirando o sono tão solto e despreocupado da outra. Tocou os braços com os dedos delicados, chamando suavemente.

— Acorda, Cécis. – Sussurrou.



Notas:

Olá!

Espero que tod@s estejam bem. Com um pouco de atraso mais saiu! 

Veremos o que as duas aprontaram desta vez!

Um beijo a tod@s e boa semana!




O que achou deste história?

8 Respostas para Capítulo 10 – A Princesa Rebelde

  1. Oie, Bi!!!! Tudo bem?

    Intento: 7

    Espero que agora chegue!!

    Ceci tá me fazendo rir com essas atitudes infantis. Parece uma princesa mimada. Ela n gosta de ser Contrariada, perder o controle das coisas e ter sentimentos pelo outro a qual nao pode, exatamente ter o poder pra mudar(controle, dde novo!! Ao mesmo tempo, ela gosta da dominadora Fira e n seria por isso?? Confiar é outro fator, a qual nenhuma das duas vao ceder. Assim, esses sentimentos avassaladores a descontrolam revelando ciúmes e sem saber o q fazer vomitou coisas que já tinham passado. Coisas q ela mesmo sabia e deixou passar. Até como se ela fosse a vítima sozinha, qndo ela mesmo fez o mesmo… Enfim!! Amoladorooo suas escritas!
    Fira tá virada na porra

    PS:. Amei os punhais!
    Interessante o que vc falou sobre os dildos. Vc sempre nos dando dados dos tempos antigos. Adoro!!!
    Fique bem!!

    Beijão e cuidem -se muito!!!

  2. Cecís está cega de raiva, paixão e ciúmes. Colocando a própria segurança e os planos de ambas em risco.
    Fira, apesar de também ter o sangue quente, consegue se controlar para não colocar tudo a perder. Será que Cecis acordará possessa mandando Fira ir se ferrar?

    • Oi, Fabi!
      Disse tudo!
      Acredito que as duas tem sangue quente, mas a Fira tem uma disciplina maior. rs Quanto a reação de Cécis, você vai saber agorinha mesmo. O cap novo já está entrando no ar!
      Valeu, Fabi!
      Um beijo grande e Bom fim de semana!

  3. A Princesa Cécis é desconfiada, uma gatinha arrisca, e com razões para agir assim perto da Lady Fira. Elas são do tipo de dormir com um olho fechado e outro aberto

      • Tudo bem, Anônimo?
        Super bem observado! Elas não dormem muito bem, sempre imaginando que uma hora poderão não acordar. Mas acredito que ambas sejam cabeça dura. rsrs Só tem reações diferentes.
        Muito obrigada, Anônimo!
        Um beijo grande pra você

  4. Essas duas e puro fogo e labareda kkkk, um mais impossível que a outra. Do jeito que andam, as coisas não vão ficar tão simples para o plano ir pra frente. Cécis é muito tinhosa e o pavio da Fira praticamente não existe, vai ficar estreito isso aí

    • Oi, Blackrose!
      É, as duas são muito mandonas, na verdade. A diferença entre Cécis e Fira é que uma recebeu instruções do pai amoroso de como governar, enquanto a outra, o pai era omisso, indiferente e até perverso com as filhas e esposas. Aí reagem diferente, mas o temperamento é muito parecido. rs
      Vamos seguindo… rsrs
      Um beijão, Blackrose e obrigada pelo carinho de sempre!

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