A minha vida tinha virado literalmente de pernas pro ar! De um dia pro outro meu irmão me odiava, minha casa tinha virado um pé de guerra, nossos amigos no meio disso tudo, a sensação que eu tinha era que nosso grupo estava dividido porque ninguém tomou lado, mas o Matheus não ficava mais perto nem de mim nem da Mari, então os meninos pararam de andar com a gente direto. Eu não conseguia sentar numa mesa com a Mari, Mel e Alice como sempre foi, porque o clima estava estranho e eu não tinha nem cara de olhar pra Mari…. Pra piorar o Matheus tinha parado de andar com o Rick, Dani e Léo que eram tipo os melhores amigos dele pra andar com uns garotos que ele nunca tinha falado na vida! Eu me odiava por isso, era tudo culpa minha e eu não sabia o que fazer, porque ele não me deixava chegar perto, só brigava e me ignorava todos os dias.
Resolvi então focar nos ensaios da banda, estava indo todos os dias à tarde pra lá praticamente, às vezes nem tinha ensaio mas eu ía pra lá e ficava horas sentada com meu violão dedilhando ou só olhando pro nada mesmo…. O dia que eu vi o Matheus entrar numa briga lá na escola e sair com a mão toda machucada e depois me proibir de vê-lo na enfermaria foi um baque pra mim, ele não brigava, ele era da paz…. O que eu tinha feito com meu irmão, meu Deus?! Nesse dia fui ensaiar porque precisava espairecer, mas eu estava aérea, foi uma bosta, errei diversas vezes! Nem os meninos aguentaram, encerramos o ensaio mais cedo.
– Gih….- a Nina tocou no meu braço me despertando. Eu arrumava minhas coisas pra sair- Você está bem? – ela sabia de tudo, eu tinha contado, não tinha comigo não contar.
– Desculpa Nina. Eu errei tudo hoje, prometo que amanhã compenso vocês.
– Não tem problema Gih….- ela sorriu e eu só balancei a cabeça agradecendo. Suspirei- Você quer conversar? – a olhei e ela ainda me sorria. Só balancei a cabeça porque não aguentava mais falar disso com ela, aliás nem ela devia aguentar, só estava sendo simpática, provavelmente- E dar uma volta, você quer?
– Dar uma volta? – a olhei.
– É, vamos dar uma volta, fazer alguma coisa….. Quer?
– Pode ser. – sorri pra ela porque era tudo que mais queria, não queria voltar pra casa e recomeçar a guerra com o Matheus.
Mandei uma mensagem pras minhas mães dizendo que demoraria mais um pouco e fui com a Nina.
– Aonde a gente vai? – a olhei enquanto ela tirava o carro da vaga.
– Onde você quer ir? – me olhou também e eu só dei de ombros- Não tem preferência?
– Não.
– Posso te levar num lugar então? – me olhou sorrindo.
– Que lugar?
– Surpresa. Relaxa, você vai gostar. – ela deu um sorriso e voltou a prestar atenção no trânsito. Confesso que fiquei meio assim mas depois deixei pra lá, já estava na merda mesmo!
Ela entrou numa rua e depois em outra que não nos levava a canto nenhum, só via mato.
– Onde a gente está, Nina?
– Relaxa. – ela riu e então parou o carro- Vem. – ela abriu a porta mas eu que não ía sair ali no meio do nada. Ela veio até a minha janela falando: Relaxa que aqui é seguro, meus avós moravam naquela rua ali, não vem ninguém aqui. Confia em mim. – a olhei ponderando mas acabei pegando a mão estendida dela.
– Que lugar é esse?
– Isso aqui era um lugar que rolava pegação direto quando eu era mais nova. – ela riu enquanto sentava no capô do carro, a olhei e ela deu um sorriso de canto- Mas agora como pode ver, está abandonado. Ninguém vem mais. – ela bateu no carro ao lado dela- Vem.
– Sério isso?
– Só deita, Gih. – fiz o que ela pediu a imitando- Agora olha pro céu. – fiz o que ela pediu e acho que nunca vi tantas estrelas no céu e tão perto.
– Uau…. Elas estão tão perto né….
– Sim. – ela me olhou e sorriu, depois voltou a olhar pro céu.
Ficamos em silêncio só olhando pro céu, eu pensava na vida e em tudo que estava acontecendo….mas me deu uma paz ficar ali olhando pra aquele céu….
– Obrigada Nina. – falei e a olhei, ela também me olhou e sorriu- Sério. Estava precisando disso…..não estava com o mínimo ânimo de ir pra casa brigar com o Matheus….
– As coisas vão melhorar, você vai ver….
Suspirei.
– Não aguento mais essa situação….ficar assim com ele….
– Da um tempo pra ele Gih, ele acabou de saber…. Tem o que duas semanas?
– É. – a olhei mas voltei a desviar- Acredita que hoje ele brigou lá na escola? O Matheus não briga! Ele odeia brigas!
– Da o tempo dele, Gih….. Com o tempo você vai ver que as coisas vão melhorar….
– Eu só queria que ele me escutasse….- a olhei ao falar e ela deu um sorriso quando suspirei.
– Ele vai escutar, calma….
– Quando?? – eu estava muito mal com isso tudo e isso me deixava agoniada porque eu não podia fazer nada.
– Gih. – ela me olhou ao falar e sorria- Você precisa relaxar….
– Também acho….- suspirei mais uma vez e voltei a olhar pro céu.
– Por isso te trouxe aqui, acho que sei do que você precisa….
– O que? – a olhei e ela tirou algo do bolso e me mostrou- O que é isso?
– Você não sabe o que é isso? – ela me olhou e riu e eu segurando a maconha na mão.
– Sei. Só….- olhei pra ela que ria. Não estava esperando por aquilo.
– Você vai ver como vai se sentir bem melhor….- ela tirou da minha mão e acendeu, deu um trago e eu só olhava pra ela- Quer? – fiquei a olhando antes de decidir. Nunca tinha fumado- Vai te fazer relaxar, você vai ver.
Acabei aceitando, liguei o foda-se. Que mal faria né?
Engasguei a beça nas primeiras vezes e ela rindo de mim, mas depois consegui fazer e realmente, me relaxou muito. Fiquei lá de olhos fechados sentindo aquele vento no rosto e numa ligeira paz, eu só queria parar de pensar, e consegui. Quando abri os olhos, a Nina me olhava sorrindo, estava deitada de frente pra mim agora.
– Que foi que você está me olhando assim?
– Nada. Só estava te olhando….- ela levou a mão ao meu rosto, não me mexi, retribuía o olhar dela que me beijou.
Minha mão foi pra nuca dela mas era um beijo calmo, era a primeira vez que a gente ficava depois da confusão toda. Era bom como sempre foi, mas já não me fez sentir a mesma coisa, não sei se eu estava travada por tudo, se era pela Mari ou porque estava muito lerda mesmo…. Mas foi bom ficar ali com ela, relaxar….. Mais tarde ela me deixou em casa e foi pra dela.
Como eu estava sem clima mais pra passar o intervalo no pátio com todo mundo, estava na biblioteca adiantando um trabalho que tinha que fazer, peguei os livros que precisava e estava retornando pra minha mesa quando ouço alguém me chamando e levantei a cabeça no susto, porque eu estava de cabeça baixa entretida no livro. Era a Mari….
– Oi….
– Oi. – a olhei fechando o livro, ela deu um sorriso e foi na direção dos livros.
– Só vim pegar um livro aqui, não vou te atrapalhar….
– Tudo bem, não está atrapalhando….- ela nem me olhou, estava mexendo nos livros e por isso estávamos de lado. Fiquei um tempo parada ali porque não sabia o que fazer, quando resolvi me virar pra sair, ela falou:
– Eu falei com seu irmão ontem…- a olhei e ela virou o rosto pra mim- Na enfermaria. – ela deu alguns passos nos aproximando- Eu só queria explicar pra ele…..mostrar que não fizemos por mal….que você não fez por mal…. Mas acho que ele ficou mais bravo ainda….
– Por que?
– Porque ele está achando que ficamos com pena dele….- ela abaixou a cabeça do nada e então falou: Eu fui falar que ía terminar com ele antes e que você disse que ele ía ficar mal…. Desculpa! Eu não queria, acabou saindo. Me perdoa, de verdade! Eu só quis ajudar….
– Tudo bem Mari…- dei um sorriso de canto pra ela- Não acho que tenha nada que faça ele me odiar mais que ele já odeia….
– Desculpa Gih, não queria que as coisas tivessem chegado à esse ponto….
– É, nem eu….- abaixei a cabeça ao falar.
– Eu sinto como se tivesse ficado entre vocês…..eu conheço vocês desde que nasci…. Não sei, só não queria que tivesse sido assim….
– Nem eu, mas relaxa, a culpa não é sua.
– Você não fez sozinha Gih, te beijei porque eu quis. – sorri abaixando a cabeça.
– Mas eu sou a irmã dele. – a olhei ao fim da frase- Ele está certo, eu nunca poderia ter feito isso com ele….- meus olhos já estavam marejados.
– Mas você não fez de propósito. Aconteceu….
– É, aconteceu…. Mas não podia. – suspirei me controlando, a olhei e ela estava com os olhos molhados também.
Que vontade de abraçá-la, mas não podia!
– Melhor eu ir Mari, o sinal já vai bater. – ela só balançou a cabeça e eu larguei o livro lá junto com meu coração e saí daquela biblioteca sem olhar pra trás!
Óbvio que aquele dia foi péssimo! Aliás todos os dias eram assim, não conseguia mais prestar atenção nas aulas, mas eu precisava porque daqui a pouco embolava e em um mês já teriam as primeiras provas, por isso hoje desisti de ir ensaiar, não ía conseguir mesmo porque estava com a cabeça avoada, fiquei em casa pra estudar.
Mas bateram na porta.
– Entra. – levantei os olhos e era minha mãe Anahi.
– Oi filha, está estudando?
– To fazendo uns exercícios. – ela me olhou ainda da porta e senti que ela queria falar algo- Por que? O que foi?
– Queria conversar com você. Posso?
– Claro mamãe, entra. – ela fechou a porta e puxou uma cadeira colocando de frente pra mim.
– Então, como você está?
– Bem….
– Tem certeza? – ela me olhou nos olhos e eu desisti de mentir. Dei de ombros- Conseguiu conversar com seu irmão?
– Não, ele nem me olha. – respirei pesadamente olhando pra baixo, pro meu caderno. Ouvi ela respirando fundo também e a olhei.
– Eu e sua mãe tentamos conversar com ele também mas ele está irredutível. – mais uma vez abaixei a cabeça com um sorriso triste. Ela ficou um tempo em silêncio e eu olhava pro nada, balançando o lápis que estava na minha mão- Mas eu queria entender, Gih….- a olhei- Agora que passaram uns dias, duas semanas…..queria que você me contasse. Pode ser? Como aconteceu isso?
Suspirei e então a olhei.
– Aconteceu o que?
– Tudo! Como vocês chegaram nesse ponto?
– Eu já sei que eu errei, mamãe. Eu só estava tentando proteger ele, eu não queria magoar o Matheus.
– Tenho certeza que não, meu amor. Mas me conta, como isso começou?
Mais uma vez respirei fundo tomando coragem.
– O Theus estava gostando da Mari…mas não conseguia falar pra ela ou ela não queria mesmo, não sei…. Só sei que ele pediu a minha ajuda pra falar com ela e tal e descobrir se ela queria ficar com ele…. Eu fiz. – a olhei mas voltei a abaixar a cabeça- Foi ano passado isso. Então eles começaram a namorar….
– E aí que você percebeu que gostava dela?
– Não. Não sei quando foi, mas foi antes. Na verdade eu não sei quando foi mamãe, quando eu percebi já estava….- olhei pra ela que me deu um sorriso como quem entendia.
– E ela? – dei de ombros- Você não sabe o que ela sente?
– Não, porque nunca perguntei.
– Por que não?
– Porque ela era namorada do meu irmão e eu não ía continuar com aquilo, eu sempre disse que preferia morrer do que magoar ele…. Eu tentei. Ela ía terminar com ele no Carnaval, eu que não deixei porque sabia que ele ía ficar arrasado!
– Eu sei que você só tentou proteger seu irmão, mas não pode pedir pra alguém ficar com ele por pena, meu amor.
– Não era pena! Não era….- a olhei nervosa- Mas sei lá, ela podia gostar dele com o tempo né? Essas coisas acontecem, não acontecem?
– Acho que sim….
– Você não descobriu que gostava da minha mãe com o tempo?
– Eu descobri que gostava da sua mãe quando eu perdi ela. – abaixei a cabeça.
– Eu só não sei como consertar isso….
– Tem que dar tempo ao tempo, filha….- a olhei e respirei fundo derrotada- Aproveita e usa esse tempo pra você também….- a olhei confusa- Pra você entender o que quer….
– Eu quero que meu irmão volte a falar comigo de novo!
– Ele vai….com o tempo, ele vai… Mas e você e a Mari?
– Não existe eu e ela mamãe. – desviei o olhar sem querer a encarar.
– Você não gosta dela, Gih? – ela inclinou a cabeça procurando meu olhar mas evitei.
– Não importa. Não vou fazer isso com o Matheus.
– Gih, eu sei que você quer proteger seu irmão mas não pode obrigar a Mari a ficar com ele porque você não quer que ele sofra.
– Eu não vou ficar com ela. – a olhei ao falar- Eu não posso! – senti meus olhos lacrimejarem e ela me olhou com um sorriso no rosto.
– Da um tempo então, pras coisas se ajeitarem tá? – fiz que sim com a cabeça- Mas eu acho que você devia conversar com ela…..
– Pra que?
– Porque eu acho que pra você arriscar magoar o seu irmão e ter beijado ela, duvido que ela não signifique nada pra você. Por que não foi uma vez só, foi? – balancei a cabeça sem coragem de a olhar. Ela sorriu e a olhei sem entender- Era por isso que você nunca quis nada com a Nina? Por causa da Mari?
– Eu não posso ficar com ela, mamãe. – voltei a olhá-la com os olhos cheios d’água. Ela me deu um sorriso de mãe sabe, fazendo carinho no meu rosto e meu impulso foi a abraçar, sentando no seu colo. Eu precisava do abraço de mãe.
Acabei chorando. Ela não falou nada a princípio.
– Desculpa….desculpa….
– Tá tudo bem princesa, vai passar….- ela me abraçava e era tudo que eu queria.
Minhas lágrimas caíam sem eu sentir, uma dor no peito por estar causando tudo isso ao meu irmão, eu só queria arrancar do peito esse sentimento pela Mari!
– Eu não posso gostar dela mamãe, não posso….
– Gih, a gente não controla isso….
– Mas eu não posso, eu não quero! – senti mais lágrimas descendo e dessa vez ela não falou nada, só me abraçou.
Fui me acalmando mas continuei ali, no colo dela.
– Você acha que ele vai me perdoar?
– Claro que vai. – ela fazia carinho no meu cabelo e a olhei- Mas enquanto isso não acontece, você sabe que pode conversar com a gente né? – balancei a cabeça- E que pode usar meu colo pra chorar ou só se quiser colo mesmo tá?
– Tá. – sorri a abraçando de novo- Pode ser agora então?
– Pode. – ouvi ela sorrindo e me abraçou.
Mas mais batidas na porta.
– Entra. – ela falou.
– Filha, eu to indo b….- minha mãe Dulce parou de falar ao ver a cena- Tá tudo bem??
– Tá. – respondi secando o rosto e olhando pra ela, tentei sorrir e minha mãe Anahi sorriu também.
– Tá tudo bem amor. Você está indo pegar ele?
– To. – ela falou nos olhando.
– Ok. Não esquece de passar no mercado na volta pra comprar o molho.
– Tá. – me olhou- Você está bem mesmo filha?
– To mãe. A gente só estava conversando….- sorri mais verdadeiramente agora e ela pareceu acreditar.
– Ok então. To indo lá, até daqui a pouco.
– Até! – respondemos ao mesmo tempo e ela saiu depois de dar um beijo na minha mãe, elas faziam isso sempre, até hoje, eu achava fofo! Minha mãe me olhou e sorriu.
– Vai ficar tudo bem tá? Confia em mim. – só balancei a cabeça. Ela ficou mais um pouco ali comigo mas depois falou que ía me deixar voltar aos estudos.
Estudei um pouco porque estava sem cabeça mesmo.
Alguns dias se passaram e estávamos no intervalo, estava numa mesa com a Alice e vi a Mel e Mari vindo, a Alice me segurou pra não me deixar sair. A Mel já chegou falando e meu olhar voou pra Mari que abaixou a cabeça assim que nossos olhares se cruzaram. Suspirei e voltei a ouvir o que a Mel dizia.
– É amanhã! A gente tem que ir!
– Ir aonde? – perguntei a olhando.
– Na lapa. – Lapa era um bairro onde tinham varios bares- Mais precisamente na Six. – Alice me respondeu e eu olhei pra Mel.
– E como vamos entrar lá?
– Com a carteirinha falsa que eu fiz pra todas vocês. A gente TEM que ir.
– Por que essa animação toda pra ir lá?
– Porque a Duda vai. – Mari falou pela primeira vez, me olhou. A Mel revirou os olhos.
– Não é só por isso, eu quero conhecer. Dizem que é muito bom!
– Ahh Mel hahaha, óbvio que é. – a Mari a olhava ao falar- Você quer ir atrás dela! Já disse que é uma péssima ideia né?
– Já Mari, já disse. – ela revirou os olhos pra ela e então se virou pra gente- Vamos por favor??? – ficou fazendo cena com as mãos implorando hahah. Senti o olhar da Mari em cima de mim mas não a olhei- O Léo e a Amanda vão também, a gente chama os meninos. Vai por favor??
– Tenho que ver com meus pais, mas se eles deixarem, ok. – Alice falou e ficou um silêncio, todo mundo me olhando.
– Eu não sei….vou ver Mel, depois te falo.
– Ah nada disso Gih! Você vai sim! – eu ía abrir a boca pra falar algo mas ela não deixou- Você vai, a Mari vai, vamos todos! Parar com essa palhaçada que já deu. – ficou um mega silêncio até a Alice falar.
– Eu apoio! To cansada de ficar me dividindo entre grupos.
– Fechou então. – a Mel falou e as duas sorriram batendo as mãos, só consegui olhar de relance pra Mari que retribuiu meu olhar mas logo desviamos- Vou pedir pro Léo falar com os meninos.
– Ok. Mas vamos dar qual desculpa pros nossos pais? Tem que todo mundo falar a mesma coisa.
– Não sei, vou pensar e falo pra vocês.
O sinal tocou e as duas foram na frente combinando varias coisas sobre sexta, a Mari me olhou e então se virou as seguindo, fui atrás pronta pra matar a Alice quando a gente entrasse na sala!
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O lugar estava meio cheio, por isso demoramos a entrar, era um bar misturado com boate mas não era escuro igual boate, parecia ser legal….
– Vocês estão vendo ela aí?
– A gente acabou de chegar, Mel! – falei e ela cagou, continuou procurando.
– E o que aconteceu com “não to indo atrás dela, só quero conhecer….”?
– E você acreditou Alice? Hahahaha. – Mari. A gente riu e a Mel revirou os olhos.
– Vou dar uma volta? Vem comigo Alice. – ela saiu puxando a Alice pelo braço me deixando com a Mari ali, nitidamente de propósito.
Não estávamos sozinhas, estava todo mundo ali, assim que me virei pra eles, vi o Matheus me olhando com raiva nos olhos.
– Vamos dar uma volta também? – olhou pro Rick e o Dani ao falar.
– Vamos. – eles saíram nos deixando ali com o Léo e a Amanda.
– Vou no banheiro. – avisei saindo dali, eu só queria sair dali. Quem mandou eu vir?? Que merda!!
Quando eu voltei, estava só o Léo e a Amanda lá.
– Ué, estão sozinhos?
– Sim, a Mari disse que ía dar uma volta….- Amanda.
– E sua irmã? Não voltou?
– Ainda não….- mal ele acabou de falar e elas voltaram.
– Demoraram! – falei.
– Fomos no bar….- a Mel falou erguendo o copo que ela trazia em mãos.
– Cadê todo mundo? – Alice.
– Os meninos foram dar uma volta….- Léo.
– E a Mari? – Mel.
– Foi dar uma volta também….- Amanda falou.
– Sozinha?! – Mel perguntou e eles deram de ombros, senti o olhar sobre mim mas desviei o rosto.
– Mel, eu vou ali falar com o garçom pra ver se arranja uma mesa pra gente, pra sentarmos. – Léo.
– Eu não quero sentar!
– Ok, você não senta, nós sentamos e vocês podem pôr as bolsas lá se quiserem….- ele falou.
– Ok, mas vamos pra pista né meninas? – nos olhou e concordamos com ela.
– Ok. Vamos lá amor? – ele falou puxando a namorada e eles saíram.
– Aff, velhos. – nós rimos e ela nos puxou pra pista de dança.
Logo a Mari chegou e ficou lá com a gente.
– Será que ela não vem? – a Mel falou inquieta e ao olhar pro lado ela finalmente achou. A Duda estava numa mesa com mais dois casais, aparentemente.
– Ela está com alguém? – Alice.
– Ela é casada. – Mari explicou e nós olhamos chocadas pra Mel que só revirou os olhos.
– Acho que ela me viu….- olhamos e vimos a Duda olhando na nossa direção mas não dava pra ter certeza.
Nisso começou a tocar “Don’t cha “ da Pussycat Dolls.
– O universo está conspirando….- ela falou e eu tive que rir. Ela já estava bebendo, aliás todo mundo menos eu, depois vou pegar lá pra mim.
Começou a tocar e era óbvio que a Mel estava dançando pra Duda, eu olhava aquilo sem saber o que fazer, só esperava que não desse merda! Afinal ela estava acompanhada….
“Don’t cha wish your girlfriend was hot like me?
Don’t cha wish your girlfriend was a freak like me?
Don’t cha
Don’t cha
Don’t cha wish your girlfriend was raw like me?
Don’t cha wish your girlfriend was fun like me?
Don’t cha
Don’t cha”
A letra da música dizia tudo….
Meu olhar cruzou com o da Mari e acabei rindo, ela também riu balançando a cabeça. Se seguiram mais umas três músicas nesse mesmo ritmo e a Mel dançando pra Duda, rebolando e a provocando, não sei como ela estava aguentando, ou mesmo a mulher não tinha reclamado ainda! Não é possível que ela não tenha percebido, a Duda não tirava os olhos da Mel….
No fim da quinta música, ela fala:
– Vou lá falar com ela!
– Tá doida?? – eu e a Mari falamos ao mesmo tempo porque a Alice já estava falando com um carinha e nem prestava mais atenção.
– O que tem? Só vou dar oi, vem comigo Mari! – puxou a Mari e eu me vi ali sozinha. Eu que não ía ficar ali vendo aquela cena né….fui pro bar beber e depois resolvi pegar um ar na varanda. Era o lugar mais calmo dali….
Estava praticamente sozinha lá, eu, minha cerveja e a vista, quando ouço um barulho vindo da varanda e ao olhar pra trás, vi a Mari entrando segurando mais uma cerveja nas mãos.
– Oi.
– Oii…- dei um sorriso pra ela que se aproximou- Tá tudo bem?
– Sim, só quis sair de lá um pouco…. E você?
– Ah também, a Mel está lá….- ela revirou os olhos e eu ri. Ela andou até onde eu estava se apoiando no parapeito da varanda, ao meu lado. Ficamos as duas em silêncio, olhando pra frente até ela falar: To te incomodando ficando aqui? – me olhou.
– Claro que não! Por que estaria me incomodando? – respondi a olhando.
– Sei lá….- ela se virou de frente pra mim- Você ainda está brava comigo?
– Eu não to brava com você. – me virei pra ela também.
– Não? – balancei a cabeça- Achei que estivesse….por eu ter ído lá falar com seu irmão e provavelmente complicado mais ainda as coisas.
– Na verdade ficou tudo na mesma, porque ele continua sem falar comigo. Você viu hoje….- ela fez que sim com a cabeça e a abaixou.
– O que eu posso fazer? – me olhou dando um passo na minha direção.
– Como assim?
– O que eu posso fazer pra ajudar vocês? Se eu não tivesse me metido no meio de vocês….
– Você não se meteu, Mari. – falei a olhando e ela retribuiu o olhar, levei a mão ao rosto dela sem pensar muito e percebi um sorriso de canto dos lábios, acabei sorrindo também e nos olhamos nos olhos.
Eu não percebi como estávamos perto, só quando ela olhou pra minha boca. Fechei os olhos e nos beijamos ao mesmo tempo. Senti a mão dela na minha nuca me puxando, a abracei pela cintura grudando nossos corpos e quando percebi a gente tinha andado até a parede. Ela me abraçava com as duas mãos envolta do meu pescoço e suspirei a puxando pela cintura, numa certeza que eu queria ficar ali pra sempre…. Mesmo o beijo sendo lento, nós ficamos ofegantes e grudamos nossas testas antes de abrir os olhos, eu tive certeza ali, ao sentir os carinhos no meu rosto, que eu não estava ofegante assim só pelo beijo, eu estava assim porque ela tinha mais uma vez, me deixado de coração acelerado. Nunca tinha sentido nada assim…..
Mas…
Dei um último selinho nela antes de afastar nossas testas e a olhar, ela me olhava com as mãos ainda no meu rosto.
– Não pede desculpas….por favor? – ela falou antes de me dar chance de dizer algo.
– Não ía pedir. Mas….- ouvi ela respirando fundo e dando um passo pra trás- Eu não posso, Mari.
– Ok.
– Por favor….- dei um passo na direção dela que recuou um passo pra trás. Ela estava com lágrimas nos olhos.
– Melhor a gente fingir que nada aconteceu né? – ela se virou de costas- Não era isso que ía me dizer? – me olhou ao fim da frase e percebi como ela estava segurando as lágrimas, eu também estava.
– Impossível esquecer você. – vi ela contendo um suspiro e em seguida concordando com a cabeça.
– Acho melhor eu ir….- ela se virou pra sair mas a segurei pelo braço.
– Mari….- mais uma vez ela respirou fundo antes de falar me olhando.
– Giovanna, me desculpa ter me metido na relação de vocês…..ok?
– Por que você fica pedindo desculpas?
– Porque eu acho que você está arrependida.
– To arrependida de ter magoado o meu irmão! – acabei alterando um pouco a voz.
– Eu acho que você está arrependida de tudo…
Eu queria gritar que não, mas não consegui! Vi ela deixando uma lágrima cair antes de se virar e sair.
Deixei minhas lágrimas virem também e chorei. Eu tinha fudido tudo e me apaixonado pela namorada do meu irmão! Merda, merda!!
Voltei lá pra dentro um tempo depois e não tinha mais ninguém ali, resolvi sair e liguei pra Alice, ela disse que estava com meu irmão e que eles estavam voltando pra lá pra irmos embora. Entendi nada mas achei melhor não perguntar. Logo depois meu telefone toca e era a Mel querendo saber onde eu estava, falei e ela chegou com a Mari, não consegui encará-la mas fomos embora. Um silêncio mortal, nem pra brigar comigo o Matheus abriu a boca.
Entrei no meu quarto e me joguei na cama apagando em seguida.
Dois dias depois, a Gabi foi lá pra casa e iria ficar pra jantar mas no meio disso tudo, o Matheus mais uma vez deu uma das dele, só que ele pegou pesado gritando que a mamãe Anahi não era mãe dele, nunca vi ela tão mal como nesse jantar.
Logo que a Gabi saiu, eu vi minha mãe Anahi levando o resto das coisas pra cozinha, depois ela voltou pra sala, pegou o celular dele que tinha ficado em cima da mesa e se virou pra mim.
– Boa noite, filha. – me deu um beijo no rosto e subiu.
Subi logo depois e ao passar pela porta do quarto do meu irmão vi que estava meio aberta, minha mãe Anahi tinha acabado de sentar na frente dele que estava de cabeça baixa ouvindo minha outra mãe. Resolvi parar ali e ficar ouvindo, sei que é errado mas eu queria saber o que ele ía falar, o porquê disse aquelas coisas horríveis! Então fiquei ouvindo.
– Quando eu conheci seu pai….- ela falou a palavra “pai” de um jeito diferente e ele levantou a cabeça a olhando- nós conhecemos….- ela consertou apontando pra minha mãe- ele era governador, do estado de Chiapas. Ele parecia ser uma boa pessoa….logo conheci a Gabi e toda a história dela e isso nos comoveu, Matheus….
– Já sei dessa história. – ele a cortou e abaixou a cabeça ao falar.
– Mas não sabe dos detalhes. – ela falou meio fria com ele que a olhou- No começo eu achava que ele fazia tudo pela Gabi, pra salvar ela e na época a gente já tinha a Giovanna e eu pensava: provavelmente se fosse com ela eu também faria de tudo, mas aos poucos fomos percebendo que não era pela Gabi, era ego. Ele fez de tudo pra separar a gente e sabe por quê? Porque ele queria que eu desse um filho pra ele pra salvar a Gabi, e sabe por quê? Porque ele queria separar a gente, porque segundo ele nosso relacionamento era errado.
– Por que errado?
– Pelo mesmo motivo que muita gente acha, Matheus…. Você não é mais criança, sabe o que acontece por aí…. Ele achava que o certo era um relacionamento entre um homem e uma mulher. E ele nunca aceitou um não como resposta. O seu pai como você gritou lá na sala fez de tudo, exatamente tudo que ele pode pra conseguir isso e sabe o que ele conseguiu? – Matheus só balançou a cabeça a olhando nos olhos, dava pra ver o olhar assustado dele- Que a sua gravidez fosse de risco! Ele também conseguiu me separar da sua mãe porque ele armou pra isso! Você sabia que enquanto a sua mãe estava no hospital porque estávamos preocupadas que isso pudesse te afetar eu estava no tribunal, lutando pela guarda da sua irmã?? Da Giovanna!
Arregalei os olhos assustada porque não sabia disso!
– Por que? – ele perguntou e percebi a voz dele assustada e emocionada.
– Porque ele não conseguiu o que ele queria, Matheus, então lutou com as armas que tinha! E ele tentou, e a gente quase perdeu ela…..se não fosse pela sua madrinha…..nem sei!
– Eu não sabia disso….
– Porque não precisava saber, eu só to te falando isso pra você entender que mesmo com tudo isso que ele fez, eu não mudaria uma vírgula, nada! Faria tudo igual, repetiria mil vezes se fosse preciso, porque o resultado final é incrível, é maravilhoso! – vi minha mãe Dulce a olhando sorrindo e eu estava com lágrimas nos olhos- Sabe por que? – ela se debruçou nas pernas ficando mais perto dele- Porque o resultado final são vocês três. Você, a Giovanna e a Gabi. E vocês três são as melhores coisa do mundo que já me aconteceram! E eu faria tudo de novo: todas as noites sem dormir, todos os problemas que tivemos, todas as vezes que fomos correndo com vocês pro médico de madrugada porque nada paga a emoção que eu tive quando segurei você e a sua irmã no colo pela primeira vez ou quando eu ouvi pela primeira vez a palavra “mamãe”, nunca vou esquecer o dia que a Gabi me chamou de “mamãe” pela primeira vez! Faria tudo de novo por vocês! – ele estava de cabeça baixa chorando e confesso que eu também….- Mas sabe o que é o pior? – Matheus levantou a cabeça a olhando- Tudo que eu te contei que ele fez é horrível né? Eu achei que iria perder a minha família….que ele tinha conseguido….me doeu muito perder alguns momentos com vocês, você ainda estava na barriga da sua mãe, mas eu sentia falta de falar com você, sabia? – ela sorriu e ele chorando- Mas nada disso sequer se comparou com o que eu senti hoje, quando eu ouvi meu filho dizendo que eu não era a mãe dele….- dava pra ouvir a voz embargada dela. Fiquei com raiva do Matheus!
Ouvi ele chorando mais forte e em seguida se ajoelhou na frente dela chorando.
– Desculpa mamãe! – ele pediu entre lágrimas e abraçado à ela. Vi minha mãe Dulce a abraçando e ninguém disse nada. Só se ouvia uma sessão de fungadas ali no quarto.
Resolvi sair dali antes que alguém percebesse minha presença porque não segurei minhas lágrimas.