Gringa Grudenta

16. Campo dos Alemães

notas iniciais

Aviso de conteúdo: assédio, transfobia, lesbofobia.

Atenção: o capítulo de hoje se passa cerca de 5 anos no passado de Crista. 



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Cinco anos atrás.

Scarlet havia passado o final da semana na casa de Ágata, mas a segunda-feira finalmente chegou. Como de costume, Crista acorda mais cedo que seus irmãos e corre para a cozinha para ajudar sua mãe a preparar o café-da-manhã e lavar a louça.

Dona Simone, como ela é conhecida na comunidade, é uma mulher de meia-idade, pouco mais baixa que a filha adolescente, gordinha e que sempre usa os cabelos enrolados presos num apertado rabo-de-cavalo que parece puxar toda a pele do seu rosto para cima.

– Bom dia, mãe – cumprimenta, morrendo de sono. Havia ficado até tarde conversando e contando piadas com Scarlet.

– Bom dia, pitica.

Enquanto sua mãe frita alguns ovos, Crista passa manteiga em vários pães, distribui apresuntado entre eles e depois corre para encher várias canecas de leite com chocolate e misturá-las, enquanto sua mãe distribui os ovos mexidos pelos pães. Logo, Caio aparece na cozinha carregando a pequena Luana no colo. Ele se senta fechando os olhos, como se fosse dormir ali mesmo: como de costume, a mais nova acordara e fora correndo cutucá-lo em sua cama para levá-la para a cozinha. Crista começa a distribuir os copos de leite na mesinha apertada, enquanto sua mãe traz os pratos com os sanduíches.

– Bom dia – Crista cumprimenta seu irmão mais velho. Quase dormindo sobre a cadeira, ele sequer responde, distraído demais com o próprio cansaço. Crista sinaliza à irmãzinha que dê uma cutucada nele, despertando-o mais uma vez e Crista torna a cumprimentá-lo – bom dia, flor do dia! Não vai dormir aí não, viu?

Caio assente lentamente e solta um longo bocejo.

– Não vou. Só me dá cinco minutos – ele grunhe em resposta.

– Bom dia, filho. Quer café?

– Ah, com certeza…

– Crista, vai acordar os outros – manda a mãe, despejando café da leiteira em duas xícaras e dando uma ao primogênito. A segunda mais velha vai até o próprio quarto e acorda Scarlet com um beijinho no rosto e balançando seus ombros de leve.

– Ei, psiu. Amor, acorda – chama. Scarlet grunhe, sonolenta.

A garota a havia pedido em namoro há uma semana, mas ainda não contaram para ninguém.

– Eu não quero ir pra escola hoje…

– Vamos logo amor, tem café-da-manhã!

– Ai… tá bom.

– Eu vou acordar os outros, tá?

Crista deixa o próprio quarto e caminha até o dos garotos. Por ter sido a única filha mulher por muito tempo, ela ganhara o privilégio de um quarto próprio, enquanto seus irmãos se amontoam num quartinho compartilhado entre eles. Quando Luana nasceu, a princípio dormia com sua mãe, mas conforme cresce, começa a grudar em Caio e querer dormir com ele, em vez de no “quarto das meninas” com Crista.

Ela não é nem de longe tão delicada quanto com Scarlet para acordá-los. Já entra acendendo a luz e batendo na porta.

– DE PÉ CAMBADA! É HORA DE IR PRA ESCOLA!

Lucas salta da cama com o susto, enquanto Jê tenta cobrir a cabeça com o travesseiro.

– Para, Ágata – reclama, com a voz abafada. Lucas põe a mão sobre o peito, com cara de aflito.

– Porra – deixa escapar – um dia cê inda me mata.

– Vamo logo, caceta – apressa Crista, avançando para o beliche dos dois e batendo palmas freneticamente – anda, anda, anda! Acorda Jê! Lucas, me ajuda aqui!

Lucas, que desce as escadas do beliche nesse momento, lança um olhar cansado para a irmã mais velha, termina de descer e não responde nada, em vez disso indo para o armário pegar suas roupas, enquanto Crista sacode o irmão pelos ombros de maneira bem menos gentil do que fizera com Scarlet.

– Tá, tá! Acordei, acordei! Para de me balançar, eu vou acabar vomitando!

– Espero cêis dois na cozinha em dois minutos, viu?

– Ágata, dá pra sair? Eu preciso me trocar – pede Lucas.

Quando Crista volta à cozinha, sua mãe já está saindo. Ela acena para os seus três filhos já na cozinha e corre para a rua. Os dois mais velhos acenam de volta, enquanto Luana tenta enfiar na boca um pedaço de sanduíche grande demais. Crista lança um olhar significativo para a pequena no colo do irmão mais velho. Ele nota o que está acontecendo, tira o pão da boca da menina e corta em pedaços menores. Crista se senta no seu lugar e rapidamente come sua comida. Logo, Scarlet, Jefferson e Lucas adentram o recinto.

– Tem mais café? – pergunta Caio, voz arrastada pelo sono. Crista se levanta e vai até o pote perto da pia.

– Acabou – Crista suspira, devolve a tampa no lugar e se volta a Jeremias – ei, compra café quando tiver voltando pra casa.

– Tá bom.

– Sacanage Caio, nem deixou pra mim – murmura Crista, meio brincando, meio séria.

– Ei, foi eu não, foi a mãe que preparou – se defende o mais velho.

Crista, Caio, Scarlet e Luana saem de casa antes de Jê e Lucas. A única escola do bairro é uma escola primária e tanto a creche de Luana quanto a escola onde Crista e Caio estudam ficam noutro bairro, a caminho do centro. Eles precisam pegar um ônibus para chegar lá. Eles chegam ao ponto cheio pouco antes do ônibus passar. Depois de alguns pontos, o grupo desce do ônibus num ponto próximo da creche de Luana. Caio carrega a irmãzinha no ombro, com Crista e Scarlet o seguindo de perto, de mãos dadas. Vez ou outra elas trocam olhares, como se compartilhando um segredo e conversam baixinho seus assuntos secretos. Quando o grupo chega à creche, Caio coloca a menina no chão e se agacha diante dela.

– Fique bem, obedeça às tias, coma direitinho e não saia daqui até um de nós vir te buscar – Crista observa com um sorrisinho a expressão de admiração e obediência no rosto da irmãzinha quando ela assente em concordância. Então, ele passa uma sacolinha com um embrulho dentro pra ela – aqui, pro teu lanche, baixinha. Não esquece das regras, viu?

– Tá – ela concorda, assentindo com aquele seu sorrisinho infantil.

Depois de deixarem a garota na creche, o trio segue seu caminho para a escola.

– Ihhhh, alá, tá chegando o viadinho! – uns garotos no portão do colégio começam, assim que veem o grupo de Crista virar a esquina. A garota faz menção de avançar contra eles, mas Scarlet a segura pelo pulso.

– Esquece isso. Vamos pra sala – sussurra a garota. Crista fixa os olhos na namorada e, mesmo debaixo das zombarias que ela jamais aceitaria levar para casa, assente. Ela faz o que pode para fechar os ouvidos enquanto passam pelo grupo. Caio estaca onde está, deixando-se ser alcançado pela irmã e Scarlet.

– Está tudo bem? – pergunta, mantendo-se entre elas e os garotos feito um escudo humano. Crista lança um olhar raivoso por cima do ombro do irmão e revira os olhos em desprezo, passa os braços por cima dos ombros de Scarlet e tenta puxá-la rápido para dentro, com Caio a seguindo de perto. Pelo canto dos olhos, ela vê o irmão mostrando o dedo do meio pros garotos quando passa. Ri por dentro com sua atitude. “Assim que se faz, mano”, pensa.

Caio vai para a sua turma no último ano do ensino médio, enquanto Crista e Scarlet se dirigem para as salas do nono ano. Só tem aulas difíceis hoje. Na verdade, todas as aulas são difíceis para Crista, exceto educação física. Ela agradece mentalmente por Scarlet ser uma estudante um pouco mais aplicada do que ela, tem ajudado suas notas a não ficarem tão ruins. Quem sabe não escapa de algumas recuperações no final do ano?

– Verbo to be, Ágata – ela repete, tentando ensinar a matéria de inglês para a namorada – I am, you are, he/she is…

– Ai êm, iu ár, ríchis…

– Não, não, é he, para “ele”, e she, para “ela”, e is, conjugação do verbo – ela explica – é separado, não tudo junto. Assim, ó – ela passa os exemplos por escrito na folha – aqui, tá vendo? Heshe, depois is – lê, pausadamente.

– Que que tchu bi significa mesmo?

– Verbo ser.

– Ah, tá. Foi mal – Scarlet ri baixinho.

– Se preocupa não – ela passeia os olhos pela sala, como se checasse se tem alguém olhando, e sussurra no ouvido da outra – te amo, sabia?

Crista instintivamente esconde o rosto entre as mãos.

– Para com isso – pede, envergonhada – e se alguém ouve?

– Então vamos falar em língua estrangeira para ninguém entender – brinca – I love you.

– I love you também.

– Sabe o que isso significa?

– Ué, é “eu te amo”, em inglês. Todo mundo tá ligado nisso!

– Não. É “morena” em francês.

– Quê! Nada a ver mano! – Crista começa a rir, chamando a atenção dos colegas mais próximos.

– Você nunca viu O Auto da Compadecida, anjo?

– Que isso?

– Ah, mas nós vamos ver O Auto da Compadecida esse fim de semana e tô nem aí pro que cê tem a dizer sobre isso – a voz de Scarlet chega a engrossar por um momento, por distração. Bem-humorada, ela ri baixinho e dá uma apertadinha no ombro da namorada.

– Ah nem mano, não me força a fazer as coisa, eu num curto não – reclama Crista, manhosa.

– Tá bom, anjo. Não vou te forçar, mas te sugiro muito fortemente que a gente assista O Auto da Compadecida!

– Tá, tá, vou pensar.

No intervalo, como sempre, Crista e Scarlet racham um pão de queijo da cantina e voltam para o bloco da sua sala de aula principal, onde comem na escadaria.

– Cê trabalha hoje, anjo?

– Sim, amor – Crista faz biquinho – desculpa, tá? Mas a gente vai ter mais tempo livre no fim de semana…

– Ah… tudo bem.

Ao final da aula, como sempre, Scarlet corre para o banheiro junto de Crista e troca suas “verdadeiras roupas”, como ela chama, pelas roupas que seus pais esperam que ela use. Crista aguarda do lado de fora da cabine, como quem dá cobertura. Quando Scarlet sai, está quase irreconhecível.

Seus longos cabelos cacheados, normalmente seguros apenas por uma tiara e emoldurando seu rosto de forma a alongá-lo e feminizá-lo, agora estão presos num rabo-de-cavalo baixo. Não há resquício algum das maquiagens que ela tão cuidadosamente desenhara essa manhã: nada do delineado, o brilho labial, o blush e seja lá o que mais for que ela usa, Crista não entende de maquiagens. Suas unhas postiças roxas arrancadas, dando lugar às curtas unhas naturais. Em vez da saia jeans, sandália branca e camisa verde-bebê com estampa colorida, volta à camisa branca simples, bermuda e tênis que trouxera de casa.

É uma visão triste, como ver uma versão falsa de Scarlet.

– Vamos logo, antes que a gente perda o ônibus – ela diz, ainda afinando sua voz. Crista toca a própria garganta duas vezes, chamando sua atenção. Com uma voz mais grossa, Scarlet continua – ah, verdade. Obrigada, anjo. Quer dizer, obrigado…

– Tem só eu aqui – murmura, abraçando a namorada – só não quero que cê dê bobeira perto dos teus pais.

– Vai ficar tudo bem – ela retribui o abraço.

Sua tarde de trabalho na mercearia do Seu Paulo, na entrada da Campo dos Alemães, é pesada como sempre. Ela limpa o chão, os banheiros, depois vai lavar as mãos para carregar sacos de farinha pesados demais para o seu corpinho raquítico de 14 anos, atende clientes e sai para entregas em várias ocasiões, por vezes carregando encomendas grandes demais para a cestinha da bicicleta que Seu Paulo lhe fornece.

Quando a garota finalmente é liberada para voltar para casa, já são quase nove da noite. Seu estômago ronca furiosamente de fome, se sente estressada, fisicamente cansada, não quer fazer nada além de se entupir de comida e depois dormir, mas ainda tem aquele trabalho de matemática e o de química para fazer. Ahh, como ela odeia matemática. E química. E todas as matérias da escola, exceto educação física.

Não está nem na metade do caminho quando decide que não vai entregar porra de trabalho nenhum. Já deixou de entregar tantos aquele ano, que mal faz deixar de entregar mais um? A não ser que Scarlet deixe ela copiar… ah, Scarlet realmente tem se tornado a salvadora da sua vida ultimamente.

Enquanto sobe uma rua, ela passa na frente de um bar. Como sempre, ouve alguns assovios, frases de baixo calão às quais ela prefere não se atentar sendo gritadas na sua direção. Como sempre, ignora. Afinal, como sempre, está cansada demais das 8 horas de trabalho logo depois das 4 horas e meia de escola.

Não fosse esse cansaço, ela jura que tomaria alguma atitude.

– Cheguei – ela anuncia ao abrir a porta de casa, dando com Lucas e Jefferson assistindo algum dos DVDs da irmãzinha mais nova, que dorme no sofá, com a cabeça no colo de um deles. Crista fecha a porta e deixa a mochila sobre a mesa da cozinha. Cozinha essa que também é a sala de estar – a baixinha jantou?

– Sim, mana. Fizemos miojo – informa Lucas.

– Mamãe ainda não chegou. Caio também não. Logo eles chegam – diz Jefferson.

– Cêis num ficaram de folga a tarde toda não, né?

– Não mana – os dois falam ao mesmo tempo.

– Fizeram os geladinho?

– Sim.

– E os dever de casa?

– Sim, mana.

– Olha que eu e o Caio vamo conferir tudin depois, ouviro?

– A gente fez, mana.

– Juramos de mindinho!

– Tá, beleza. Me dá uma mão aqui ca janta, cêis dois.

– Tá bom – os dois se levantam ao mesmo tempo.

– Eu ponho a baixinha no quarto? – pergunta Jefferson.

– Deixa ela aí, senão ela acorda. Depois o Caio leva ela.

– Beleza.

O jantar é uma mistureba de restos de espaguete, as sobras do miojo dos mais novos, os restos de carne e legumes dos almoços do fim de semana picadinhos ou desfiados e um tico de molho de tomate que Crista encontra na geladeira quase vazia.

– Taí ó. Iguaria francesa, restodontê – ela anuncia seu prato fazendo uma pose teatral, logo em seguida se sentando e já se pondo a comer. Não muito depois, Caio entra batendo a porta e larga sua mochila ao chão. Parece no mínimo tão cansado quanto Crista. Os dois irmãos mais novos vão recebê-lo e passam pela mesma série de perguntas que passaram com Crista, o que faz a segunda irmã soltar um risinho silencioso observando a interação. Por fim, o primogênito pega um prato para si e começa a comer.

– Isso aqui ficou bom – ele comenta com Crista enquanto come desesperadamente rápido, como quem não vê comida há dias.

– Receita francesa, mano. Restodontê.

A piada é contada dentro da família desde que Crista se conhece por gente.

Depois do jantar, Crista faz os dois mais novos lavarem a louça enquanto Caio leva Luana para a cama, em seguida os dois mais velhos tomam uma ducha e vão se sentar com os cadernos dos meninos para ver seus deveres de casa. Enquanto revisam, sua mãe chega. Já são quase 11 horas da noite e ela parece duas vezes mais exausta que Crista ou Caio. Jefferson toma a iniciativa de ir pegar sua bolsa e guardar no quarto, enquanto Lucas já está servindo um prato farto de macarrão para ela.

– Como foi no trabalho, mãe? – pergunta o garoto, sorrindo gentilmente.

– Exaustivo… – ela responde simples e logo se põe a comer, o cansaço bem visível em sua expressão.

O restante da semana é praticamente igual à segunda-feira, exceto pela ausência de Scarlet de manhã e por Crista se encontrar com a namorada no banheiro todos os dias sem falta, para ajudá-la na sua troca de roupas e a passar as maquiagens que seus pais não podem de forma alguma descobrir sobre, e vez ou outra participar do futebol no intervalo, já que desde que começou a trabalhar não tem podido participar do futebol da hora da saída e nem passar a tarde no campinho da comunidade. Ela sente falta do seu esporte preferido.

Cada vez que ouve uma provocação dirigida a Scarlet, Crista sente aquele ímpeto crescente de ir quebrar o nariz do infeliz responsável por essas palavras. A cada vez, sua namorada a segura, a pede que não faça isso, tenta mantê-la longe de problemas. Crista já havia se metido em muitas brigas na escola desde criança pelos nomes que a chamavam: sapatão, maria-macho, aquela música que sempre cantavam pra ela sobre de dia ser Maria e de noite ser João. Podia ser magricela e não muito alta, mas pelo menos se provou feroz o suficiente nessas brigas para ninguém querer arriscar.

As coisas começaram a mudar desde que começou a sair com Scarlet.

– Ihhh, alá Jão – ela ouve alguém zombar, enquanto divide seu pão-de-queijo de sempre com Scarlet, onde pensava ser uma localização segura – já viu uma dessa? Um ómi que quer ser mulhé, e uma mulhé que quer ser ómi juntos!

– É o dobro da aberração! – Scarlet revira os olhos, já botando a mão no ombro de Crista por medida de segurança, enquanto os dois panacas riem.

Quando eles vão passar, inocentemente Crista estende a perna para frente, fazendo um deles tropeçar e derrubar o copo de suco que carregava.

– Sua vadia, filha da puta! – ele se volta para ela com raiva e Crista já se põe de pé para enfrentar o garoto, pondo o melhor fronte de durona que tem. Assustada, Scarlet se levanta junto, firmando ainda mais a mão no ombro de Crista.

– Que foi, sua bicha? Tá achando que alguém aqui tem medo de você? – ela é uns bons 10 centímetros menor que o rapaz, mas não dá a mínima. Sustenta o olhar dele com zombaria e determinação – tá com inveja porque eu não preciso de um pintinho mixuruca igual o seu pra pegar mulher? Ou é porque até a travesti da escola pega mais mulher que você? Se liga mano.

– Ágata… – Scarlet murmura para ela, firma a mão com mais força em seu ombro, tentando puxá-la para trás.

– “Pegar mulher”? Essa coisa esquisita aí nem é mulher de verdade! – devolve ele e, nem meio segundo depois, já está caído de costas segurando o pescoço e engasgando na própria respiração: Crista acabara de acertar o murro da sua vida na garganta dele.

– FALA ISSO DE NOVO NA MINHA CARA, SEU FILHO DE UMA… – o outro cara empurra Crista violentamente na direção das escadas.

– Ágata, para!

– Sua puta maluca! – o segundo babaca já vem pra cima de Crista com o punho levantado. Ela tenta recuar, mantendo Scarlet atrás de si, enquanto ele tenta socá-la na cara e Crista bloqueia de mau jeito com o braço, o que provavelmente vai lhe garantir um preto no local depois. Ela revida com um chute mirando na virilha dele, mas acerta a coxa, e continua subindo as escadas de costas, mantendo Scarlet atrás de si. O garoto tenta grudar mais em Crista e dar mais socos, mas ela consegue se manter numa distância razoável dele.

– O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?! – eles ouvem a voz de um adulto, provavelmente um professor ou zelador, vindo do corredor do andar debaixo.

– Sujou! – os garotos logo debandam da vista do monitor e Crista e Scarlet fogem para se esconder na sala. Ninguém vem atrás delas e logo as garotas podem respirar aliviadas.

– Ágata, não faz mais isso – pede Scarlet, num tom de voz firme e um tanto irritado – eu odeio brigas. Já falei.

– Desculpa.

Scarlet suspira e revira os olhos.

– Tudo bem, anjo – dessa vez, seu tom é bem mais gentil e carinhoso.

Às vezes Crista gostaria de saber controlar melhor seu temperamento.

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notas finais

Caso alguém ainda não tenha se ligado: a Scarlet é uma menina trans. Nunca defini a sexualidade dela, se lésbica, bi, pan, etc.

Restodontê = Restou de ontem



Notas:



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