FREYA: A RECONSTRUÇÃO

Capítulo 24 – O Complexo

Freya: A Reconstrução

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


 

Capítulo 24 – O Complexo

— Que merda está acontecendo? Por que pararam? 

Bridget olhava seu display, intrigada. Falava tão baixo quanto poderia. Kara, agoniada por não poder se comunicar, transmutou-se para seu corpo real. Estava nua em pelo. Oton virou de lado, incomodado.

— Volta pra vigilância, Oton. A louca foi ela. 

Bridget reclamou, aos sussurros, irritada com a atitude da noiva.

— Me escuta, Brid. Eles estão brigando. Eu ouvi tudo. 

— Como ouviu?

— A acuidade auditiva de um “scumar” é impressionante. Mas não importa agora. O fato é que Saga e Rurik estão parados no outro corredor e discutem. Saga está desconfiada de uma traição dele. Se quiserem pegá-los, a hora é agora!

Kara voltou à forma de um scumar e quando Bridget retornou o olhar para seu display, já era tarde.

Kara, transmutada no animal, saltou sobre o amigo para livrá-lo do machado que voava na direção dele. Oton sentiu seu corpo ser preso por braços fortes. Foi derrubado e, antes que se recuperasse, sentiu o impacto de um punho em seu rosto. A boca sangrou imediatamente e o gosto metálico do sangue o fez enjoar na mesma hora. 

O subcomandante não conseguia ver o que acontecia com Bridget ou Kara, mas os sons de gritos e rosnados eram ferozes. Sentiu novo impacto em seu rosto, atordoando-o. Tentava livrar seus braços, entretanto, Rurik os prendia forte com as coxas. 

Quando caíram, o companheiro de Saga se colocou de joelhos por cima do corpo de Oton, enganchado sobre o peito, imobilizando-o.  Outro soco o atingiu e sentia que perderia os sentidos.

Mais adiante, outra briga feroz era travada. Depois que Kara empurrou o amigo, Bridget reagiu sacando a sua pistola para tentar impedir que Rurik alcançasse o subcomandante. Foi seu erro. Saga aproveitou sua distração e pulou sobre ela com um punhal na mão. Reagiu para bloquear o braço da arma. Em segundos, as duas se atracavam no chão, na luta por uma vantagem sobre a outra.

O “scumar” saltou sobre Saga, mordendo o ombro do braço que segurava a arma. Saga berrou perante a dor e se transmutou num ser enorme, jogando o animal longe. Foi o tempo necessário para que Bridget apontasse a pistola para a assassina e disparasse um feixe elétrico, atordoando-a. Não poderia matar Saga. Ela era o passaporte para desmantelar toda a trama.

Kara, transmutada no scumar, sacudiu-se para se recuperar do impacto no solo e viu que Bridget conseguiu conter a oponente, mesmo que brevemente. Oton não estava com tanta sorte. Pulou sobre Rurik, cravando com força os dentes no pescoço do médico.

Ele levantou, com o animal preso em suas costas. A dor lancinante das presas afiadas o fez reagir, jogando-se de costas contra uma parede, para fazer com que o animal soltasse. Teve sucesso. O ar saiu dos pulmões de Kara, fazendo-a soltar as presas da carne e seu corpo resvalou para o chão. O médico traidor cambaleou com a mão sobre a ferida aberta da mordida e se surpreendeu ao ver o corpo do scumar tomar a forma de Kara. Ela tossia.

Era a oportunidade dele!

Ignorando a dor e o sangue que escorria por seu pescoço, avançou sobre ela para capturá-la. Sentiu uma dor profunda em suas costas. Era dilacerante. Virou-se para o agressor que, débil, tentava estocá-lo outra vez com um punhal. Oton quase não tinha forças, mas não deixaria que aquele homem colocasse as mãos na Ministra. 

Rurik o empurrou com força. Olhou rapidamente à volta e viu Kara se transmutar em um humanoide grande. Olhou mais adiante e Saga lutava com a comandante em sua forma natural. Percebeu que a companheira de crime já não tinha mais energias para a transmutação. Correu para longe, embrenhando-se na escuridão do labirinto do complexo. 

Kara se transmutou, outra vez, para sua forma normal. Estava fraca. Ainda não dominava tão bem as habilidades dos alomares. Cambaleante, foi até Oton.  Ele estava desfalecido. Livrou-o da bolsa de roupas que carregava e das armas que estavam presas ao corpo. Queria deixá-lo mais à vontade para tentar reanimá-lo. Rurik havia pego o subcomandante desprevenido.

 — Merda. Merda! – Decrux vociferou. – Os sinais vitais de Oton estão fracos e não consigo saber o que está acontecendo.

— Tire-o de lá, Decrux. Tire todos. Bridget e Kara estão agitadas. Frequência cardíaca alta e volume de oxigênio descompensado. Todos os parâmetros fisiológicos apontam para…

— Para?… Fale logo, Kiara! É pra isso que está aqui comigo!

— Atividade física intensa. Uma luta talvez. 

Decrux tomou uma decisão. Transportou Oton direto para a enfermaria.

— Por que só ele? – Kiara perguntou, aflita. 

— Porque elas estão fazendo o que foram fazer. Brid me falou para acreditar em meu feeling e no conhecimento que tenho, já que não posso visualizá-las. E elas estão exatamente no lugar onde queriam estar. Veja se Fredrik está atendendo Oton.

Decrux foi incisiva.

Kara viu Oton sumir na sua frente. 

— Graças a Eiliv! 

Decrux havia extraído o rapaz e estava aliviada, por isso. Levantou-se para ajudar Bridget. Estava fraca e caminhava trôpega na direção das duas. Sua visão estava turva, contudo, conseguia ver que Saga também estava em seu estado natural.

Ela está desgastada, como eu… – Pensou 

Saga conseguiu desferir um golpe com a perna na face da comandante, fazendo-a desequilibrar, momentaneamente. Bridget agachou um pouco zonza, prevenindo-se de outro ataque, que veio pelo alto com a outra perna da criminosa. Ela desferiu um ataque nas pernas de Saga, derrubando-a de costas no chão. 

Embora estivesse desorientada, tinha que agir. Se perdesse essa oportunidade, Bridget sabia que perderiam a vantagem que tinham. Achavam que a nave Decrux estava há milhares de anos luz de distância. Não podia falhar em extrair Saga.

Pulou sobre a oponente, prendendo-a no chão com o braço sobre o pescoço. A visão se turvou mais, pelo sangue que escorria do corte no supercílio. Mal viu quando Kara jogou o transmissor sobre o peito de Saga. O botton cintilou e agarrou a oportunidade. Tocou em seu ouvido acionando o comunicador.

— Extrair Saga! 

O corpo sob ela se desvaneceu e ela desabou no solo. Virou-se de barriga para cima, ofegando e sentiu Kara se jogar a seu lado.

— Tô destruída. Tudo tá doendo. 

— Apanhou muito?

A ministra perguntou, recuperando seu fôlego também. 

— Igual milho triturado em moedor.

Virou seu rosto para ver a noiva. Kara não estava melhor que ela. Limpou o rosto com o dorso da mão, na tentativa de livrar a visão do líquido quente e pegajoso que gotejava sobre os olhos.

— E você? Está bem?

— Tenho certeza de que não consigo mais transmutar. Vou precisar de algumas horas de sono para me recuperar; e nós duas precisaremos de cuidados médicos – Kara virou seu rosto para Bridget. – Você está sangrando por todo o lado. Ela te esfaqueou?

— Todos são cortes superficiais, não se preocupe. Saga é boa de briga e quando transmutou naquela criatura… Achei que tinha chegado a minha hora. 

Bridget sorriu de lado, mostrando cansaço.

 — Eu não deixaria isso acontecer. Te garanto que os dentes que cravei nela, fizeram um bom estrago também. – Kara trançou sua mão na de Bridget. – Rurik escapou. Está ferido.

— Vamos combinar que, apesar da surpresa, saímos no lucro. A gente achava que só os pegaria no centro de controle. Foi azar e sorte, ao mesmo tempo. 

— Ainda não resgatamos Barns e não pegamos Rurik e Desmond, Brid. Isso vai nos complicar se conseguirem se comunicar com Kevin.

— E o que estamos fazendo deitadas aqui, então? E você está pelada, ainda por cima…

— Não gosta?

Kara perguntou jocosa, grata por poder retomar um pouco da energia.

— Que pergunta é essa? Por acaso é um fetiche seu, fazer amor no corredor do esconderijo dos nossos inimigos?

Bridget devolveu a resposta com outra pergunta bem-humorada, enquanto se levantava. Começou a recolher as armas espalhadas. Kara foi até a bolsa onde estavam suas roupas.

— Me pergunto se eu não tivesse livrado Oton da minha bolsa…

— Você seria uma mulher muito sexy, empunhando um fuzil phaiser. – Bridget riu. – Talvez pudéssemos usar isso para distrair nossos inimigos.

— Dar uma de objeto sexual para aqueles imbecis? Não, obrigada. Eu me mataria antes que isso acontecesse.

A comandante sorriu diante do sarcasmo da noiva. Esperou que ela retirasse todas as roupas da bolsa e vestisse. Pegou a sacola e colocou dentro dela as armas que eram de Oton, bem como as de Saga e Rurik. Um objeto chamou a atenção dela. O machado que Saga arremessara. 

A arma estava jogada há alguns metros delas e a comandante foi até lá para recolhê-lo. O corpo inteiro do machado era desenhado com símbolos que não conseguia definir. A ponta superior da lâmina estava quebrada e Bridget se lembrou quando viu Saga jogá-lo forte contra o chão ao lado de fora do complexo. 

— O que foi?

Kara perguntou, enquanto ajustava o coldre de sua pistola na cintura e intrigada por Bridget não estar com pressa.

— Esse machado de Saga. – Bridget se aproximou, mostrando o objeto. – Ele tem vários símbolos que parecem inscrições. Já vi armas parecidas em várias culturas e que são cerimoniais. 

— E é. Bom, não exatamente cerimonial, mas é um machado de clã. 

A comandante permaneceu calada, esperando que Kara explicasse. A ministra suspirou e passou a mão pelos cabelos loiros-prata.

— Há algumas centenas de anos, antes da guerra civil freyniana, o governo era composto por clãs. Famílias alomares tradicionais detinham o poder e freynianos típicos faziam parte da classe trabalhadora. Mesmo alomares que nasciam nessas classes, não podiam compor a cúpula do poder. Cada uma dessas famílias tradicionais tinha uma arma decorada com inscrições em dialetos falados no seu clã. Provavelmente, Saga é descendente de um deles, senão não teria uma arma dessas. Mas o que isso importa para nós agora?

— Para nós duas, não. Mas tenho certeza de que Helga fará um bom uso disso. 

Bridget tocou em seu comunicador auricular. 

— Decrux, vou colocar um transmissor num objeto. Quero que o transporte para a nave e dê à Helga. Diga que é da família de Saga e que é importante para ela. 

— Ok, Brid.

A comandante retirou do bolso da calça um dos transmissores, colocou o machado no chão e o equipamento sobre ele. 

— Pode transportar, Decrux. 

Viram o machado sumir.

— Agora vamos.

Começaram a caminhar e Kara passou a fazer o trabalho de Oton na vigilância, enquanto Bridget identificava as cargas e as neutralizava. 

— Devíamos procurar Rurik. Ele está por aí. 

— Ele conhece esse complexo muito melhor que nós, Kara. Pela quantidade de sangue que vi no corredor, ele não vai muito longe, fora que ele tem controle sobre as cargas explosivas. Tentará achar um lugar para se tratar, pois correu no sentido oposto ao centro de comando. 

— Parece que ele ouviu Saga, quando ela o confrontou. Saga falou para ele não traí-la e que Kevin e os outros não eram confiáveis.

— Então Saga não é tão louca quanto parece. Ela sabe que a descartariam na primeira oportunidade. Por isso se protege tanto.

Desativavam as cargas, uma a uma, até que chegaram na área em que os bloqueios não permitiam que Decrux mapeasse. Viram uma porta automática comum.

— Não será difícil abri-la. O que me preocupa é: quantos estão lá dentro?

— Não muitos. Talvez três ou quatro. – Bridget respondeu para a noiva. – Pelo que percebi de Saga, ela não se cercaria de pessoas que ela não confia. Uma coisa sabemos, Desmond está aí e, com certeza, o restante é alomar como ele. 

— Você não está me encorajando muito. Não estou podendo me transmutar, Brid.

— Então use as suas outras habilidades. Você é exímia lutadora e tem uma pontaria muito boa. Não há muito o que fazer. A gente entra e atira em qualquer coisa que se mova. Aí dentro, são todos inimigos.

— Barns está lá. 

— Barns não pulará sobre nós, tenha certeza; isso se ele não estiver morto.

— E por que nos arriscar para tentar resgatá-lo?

 — Porque tudo indica que ele é um dos nossos e, se ele estiver vivo, além de ser nossa obrigação salvá-lo, ele poderá nos dar informações, caso Saga não coopere. Não podemos deixar que Desmond descubra que estamos por perto e avise os seus comparsas.

— Tenho que salvar as informações do sistema de Saga também. Odeio quando você tem razão e a gente tem que seguir pelo caminho mais difícil.

Bridget se divertia com o falso desalento de Kara. Se aproximou da porta e viu a fechadura magnética.

— Acho que essa parte é com você, Kara. Pelo que estou vendo no display, ela está em modo de segurança.

Kara se aproximou intrigada. 

— Travas no modo de segurança revelam que ela está trancada unicamente por fora, Brid. 

— Saga os trancava quando saía. Que belo acordo que eles têm.

 — Divena, me dê uma posição dos comandos reflexores dos escudos!

— Calculando.

Edith tentava se livrar dos tiros aleatórios da nave freyniana. Conseguira atingir o comando dos canhões fásicos e os torpedos phaisers, mas ainda procurava se livrar dos phaisers de disparos aleatórios e, com suas manobras, impedia que a nave de guerra pudesse entrar em dobra. Também não conseguira se livrar dos escudos de diamante. 

— Merda! 

Se livrara, em uma manobra, de mais uma rajada de phaisers.  Seu caça era veloz, porém muito pequeno para conter a nave parada por muito tempo.

— Preciso desse cálculo agora, Divena!

— Transmitindo para o centro de comando, senhora.  

Edith teve que fazer outra manobra ousada, fazendo o caça girar sobre seu próprio eixo para se livrar de mais rajada de phaiser. Acionou sua mira e ativou, ao mesmo tempo em que foi atingida por uma carga de ampolas negativas.

— Merda! Perdi meus escudos.

Sentiu seu corpo formigar e segundos depois, estava a uma distância segura, longe dos tiros da nave de guerra. Desfaleceu.

A IA tirou a Edith da linha de tiro. Ela seria alvejada. Ainda não se recuperara dos saltos anteriores, fazendo o sistema fisiológico da Tenente-Brigadeiro entrar em colapso.  A IA conseguira desabilitar completamente a nave de guerra, atirando nos motores. A nave freyniana ficou à deriva. 

Helga olhava para a detenta, esperando que ela acordasse. Estava em uma cela ao lado de Knut, entretanto Decrux isolara o coordenador. Ele não podia ouvir e nem ver. O isolamento era uma espécie de solitária.

Saga começava a acordar. Ela havia sido tratada de seus ferimentos e deixaram água e comida para ela. Abriu completamente os olhos e começou a observar à sua volta até que, por fim, deparou-se com a Olaf na entrada da cela. Era uma mulher inteligente e percebeu de imediato o que havia acontecido.

— Vocês não foram para o planeta Terra… Como conseguiram desenvolver a T.I.M. tão rápido?

A Olaf pegou a cadeira que estava na frente da cela de Knut e a puxou para se sentar. Seria uma conversa longa. 

— Digamos que temos pessoas muito habilidosas na tripulação, Saga.

— Devo admitir que a comandante me surpreendeu. É uma mulher esperta para uma terráquea. 

Saga estava surpreendentemente calma. Helga acompanhava atenta às reações da prisioneira e expandia sua capacidade sensorial para captar cada mínima diferença de humor, mentiras, ou outro sentimento qualquer.

— Vocês me deram um bloqueador para não me transmutar. É assim que será daqui por diante?

— Ainda não sabemos. Muita coisa dependerá de você, Saga.

— Quer me fazer acreditar que negociará comigo? Em troca de quê? Matei gente de vocês, agredi a ministra, sequestrei um agente, atentei contra você e sua esposa, Olaf. – Saga sorriu, debochada. – Não creio que minha situação ficará melhor do que quando estava presa na antiga Freya.

— Quem sabe?! Primeiro, gostaria de compreender por que fazia parte da conspiração. – A Olaf se regozijou quando sentiu o eto da prisioneira. – Sim, nós sabemos da conspiração. Aliás, temos quase todos os nomes. Mesmo assim, queria compreender os seus motivos. 

Helga se levantou e foi até uma mesa. Pegou um objeto e o mostrou para Saga.

— Seria por conta disto? Você é descendente de um dos antigos clãs?

Finalmente Helga pode sentir uma mudança no estado de humor da prisioneira. Saga, apesar de incomodada e mantendo o olhar fixo no machado, nada falou.

— Eu já conhecia a história dos Jorn. Aliás, eu conheço toda a história dos clãs de Freya, antecedentes da guerra civil. 

— Estuda isso para se tornar Olaf? 

O deboche nas palavras da prisioneira era patente.

— Na verdade, sim. Eu já sabia que você era descendente de um dos clãs antigos desde a primeira vez que prendemos você. Seu sobrenome não negava. Entretanto, fui ingênua. Nunca imaginaria que, após novecentos anos, freynianos alomares ainda estariam presos a um passado tão sórdido.

— Sórdido para quem?

— Para a nossa sociedade! — Helga se irritou. – Vivíamos bem, Saga. Tínhamos um planeta evoluído, uma sociedade equilibrada, onde todos tinham voz. Por que destruir algo assim para retornar a um tempo em que parte dos cidadãos eram desprezados e tratados como servos?

— Porque somos superiores!

Helga não podia desviar seu foco. Estava irritada, todavia tinha que conduzir a prisioneira para onde queria, e não o contrário. 

— Opiniões diferentes; e eu não vou discutir com você por isto. – Mostrou novamente o machado. – Você sabe o que quer dizer as inscrições da arma de seu clã?

— É lógico que sei e vivo por elas.

Helga espremeu o olhar intrigada. 

— O que está escrito nele?

— “O sangue do coração Jorn nunca será derrotado”.

Helga mordeu o canto da boca para não se exasperar. Pegou um plate em seu bolso.

— Decrux! – Chamou a esposa que aglutinou imediatamente ao lado dela. – Abra uma pequena passagem na cortina magnética para eu entregar esse plate para a prisioneira. 

A IA fez o que a esposa pediu, mas antes dela entregar o objeto, advertiu a prisioneira.

— Se você tentar qualquer coisa, vou polarizar essa cela inteira para que irradie energia elétrica por tudo que é canto. Você vai virar um churrasquinho, em menos de três segundos.

Saga sorriu de lado, pegando o plate que foi passado para ela, através de uma abertura em que cabia a mão da Olaf.

— Gostei da sua esposa, Olaf…

— Poderia nos deixar agora, Decrux. Gostaria de continuar a minha conversa com Saga em particular.

Decrux fixou o olhar em Saga e antes de sumir falou:

— Estou a um grito de distância. É só chamar que estarei aqui. 

A IA sumiu deixando as duas a sós. 

— Esse plate contém livros sobre a língua antiga de Freya e os dialetos dos clãs. Eu pesquisei sobre as inscrições de seu machado e acho que se foi seu pai quem lhe falou isso sobre ele, estava enganado. – Helga suspirou. – De qualquer forma, não estou aqui para isso. Quero lhe fazer uma proposta.

— Então fale logo. Você está começando a me aborrecer e quero dormir um pouco. 

— Nós estamos juntando muitas provas contra Kevin, Knut e os outros, mas queremos que você deponha contra eles, contando exatamente tudo que aconteceu desde a antiga Freya. 

— Você quer ligar a destruição do antigo planeta a eles… Eu sou a única que conhece a história desde o início e quer limpar a sua barra como Olaf pelo que aconteceu. – Saga riu. – E por que eu lhe ajudaria?

— Porque eles serão executados, e você não. Essa é a minha proposta. Você irá viver.

— Freya não tem pena de morte. 

— Freya sempre teve pena de morte, porém somente em um caso: trair a nação. Não é uma lei que estou inventando agora. Ela sempre existiu, mesmo antes da guerra civil, só que caiu no esquecimento para a maioria.

— Ficar presa pelo resto da vida em um cubículo ou morrer? Mmm… O que será que eu quero?

Saga parecia não estar disposta a ceder e zombava da Olaf.

— Não ficará presa em um cubículo. Essa é a outra parte da minha proposta. Se aceitar, passará por um tratamento psicológico em um presídio-clínica, durante um tempo, para curar seus traumas e eu sei que os tem, principalmente pela morte de sua mãe. Você se livrará de um grande peso, Saga, acredite, voltará a dormir bem, sem pesadelos para lhe atormentar. Depois que receber alta, será alocada em uma colônia penal de segurança média. A princípio em uma cela individual, e trabalhará para se sustentar e ao sistema. Será reavaliada constantemente e se estiver indo bem, poderá ser transferida para uma casa só sua, dentro da própria colônia. Quem sabe um dia alcançará a indulgência penal?

— Você deve estar morrendo por dentro ao me propor isso, não é, Olaf?

— Sabe, Saga, você tem uma ideia distorcida a meu respeito, mas não vou tentar lhe convencer.

Helga pegou outro plate no bolso e começou a projetar um vídeo dentro da cela. Era a conversa de Kevin e Knut no dia do parque. 

— Vou deixar você para que veja com calma e pense na minha proposta.

Helga saiu e à medida que Saga via o vídeo, a raiva lhe subia à cabeça. 


Nota importante:

Como estão tod@s? Espero que bem. Pessoal, não deixem de se cuidar, pois os tempos estão difíceis e a nossa saúde está dependo de nós, também. Se o trabalho de vocês requer que saiam de casa, protejam-se usando máscara da forma correta. Sempre que puderem, lavem as mãos, e quando não puderem, usem álcool para fazer assepsia. Tentem ficar distante de outra pessoa, pelo menos um metro e meio e se o transporte que pegam estiver acima da lotação, procure ficar ao lado de pessoas que usam máscara e quando sair, passem álcool nas mãos. Ao chegarem em casa, higienizem os sapatos, troquem de roupa e tomem banho. Se o trabalho de vocês depender de sair e retornar para casa diversas vezes, sempre que entrarem em casa, pulverizem álcool nas roupas. Sempre que entrarem com um objeto em casa, que tenha vindo da rua, pulverizem álcool também.

Se receberem alguém em casa, tentem ficar em área aberta ou de janelas abertas. Evite contato físico e procure saber se a pessoa está tomando precauções também. Peça licença e pulverize álcool nos sapatos e roupas dessa pessoa. Evite que um numero grande de pessoas vá a sua casa ao mesmo tempo.   

Pode parecer extremado, mas são medidas que podem livrar você do vírus da covid-19. 

Tomando as medidas necessárias, não livrarão vocês totalmente de contrair a doença, mas terão 80% de chances de não tê-la ou de passar para entes queridos.

O sistema de saúde em todo o Brasil está colapsado. Isto quer dizer que, se alguém precisar ser hospitalização hoje, a probabilidade de encontrar vaga, mesmo em hospitais particulares, é mínima ou nula, dependendo da cidade ou região.

Peço que compreendam que não estou fazendo apologias ideológicas e sim, preocupada com o rumo dessa pandemia e preocupada com tod@s vocês. Sou da área de saúde, mas não atuo nesta área de enfrentamento, entretanto, entendo o que os médicos sanitaristas dizem e o que os profissionais de saúde da linha de frente estão passando. 

Cidades próximas de onde moro, hospitais estão empilhando corpos no necrotério, por não ter mais lugar.  Não falo isso por ver reportagens e sim, por ter uma amiga médica que trabalha em dois hospitais que atende covid. Ela é intensivista. Essa semana ela ligou para a namorada, (muito amiga minha) chorando, por ter perdido cinco pacientes num mesmo dia e vê-los sendo colocados, um sobre o outro, no necrotério. Ela está estafada, física e emocionalmente. As poucas horas de descanso que tem, dorme profundamente. Teme entrar em depressão e não conseguir mais atuar, assim como vários outros profissionais, aumentando o colapso no sistema de saúde.

Por favor, Cuidem-se, cuidem-se e cuidem-se. Quero tê-las como leitor@s e como amig@s virtuais, durante muitos anos. Tenho comorbidades e se acaso pegar covid, sei que não será “molinho” para mim, todavia se pegar, será por conta de 20%. Isso sim é que é destino e não estar exposta 100%.

Perdoem-me o grande texto, mas eu precisava falar sobre isso. 

Um grande e carinhoso abraço virtual para tod@s.

PS.: Não poderei responder aos comentários hoje, mas assim que puder, responderei a todos!

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